O
 QUARTO PODER (Mad city, 1997, Warner Bros, 115min) Direção: 
Costa-Gavras. Roteiro: Tom Matthews, história de Tom Matthews, Eric 
Williams. Fotografia: Patrick Blossier. Montagem: Françoise Bonnot. 
Música: Thomas Newman. Figurino: Deborah Nadoolman. Direção de 
arte/cenários: Catherine Hardwicke/Jan Pascale. Produção executiva: 
Stephen Brown, Wolfgang Glattes, Jonathan D. Krane. Produção: Anne 
Kopelson, Arnold Kopelson. Elenco: Dustin Hoffman, John Travolta, Alan 
Alda, Mia Kirschner, Blythe Danner, Robert Prosky. Estreia: 10/10/97
A
 nociva combinação entre a mídia e a ambição humana sempre encontrou nas
 telas de cinema vários exemplos e no mínimo um clássico indiscutível, o
 genial "A montanha dos sete abutres", de Billy Wilder. Essa receita 
explosiva pareceu irresistível para o cineasta grego Constatin 
Costa-Gavras, autor de filmes seminais do cinema político, como o 
oscarizado "Z" (69) e "Missing, o desaparecido" - estrelado por Jack 
Lemmon em 1982 - que viu na história de um homem comum sendo manipulado 
por um repórter sensacionalista em sua gana por audiência mais um 
potencial sucesso para sua bem-sucedida e provocativa carreira. Porém, 
ao contrário do que se poderia esperar, "O quarto poder" - a união da 
instigante trama com o talento para a polêmica do diretor - caiu no 
vazio das boas intenções. Fracasso de bilheteria e ignorado pela 
crítica, o filme estrelado por Dustin Hoffman e John Travolta peca pela 
superficialidade, pelo ritmo irregular e pasmem, pela direção apática de
 Costa-Gavras, que em nenhum momento consegue atingir a plateia com a 
contundência de suas obras anteriores.
O protagonista 
do filme é Max Brackett (Dustin Hoffman aparentemente no piloto 
automático), um repórter televisivo que já teve seus momentos de glória,
 mas que caiu em desgraça depois de um desentendimento com Kevin 
Hollander (Alan Alda), âncora de um famoso telejornal de alcance 
nacional que o relegou a um noticiário pouco visto em uma cidade do 
interior. Em constante conflito com seu chefe por buscar notícias mais 
empolgantes do que meros factoides de interesse restrito, ele vê cair em
 suas mãos, inesperadamente, uma situação que pode lhe render a grande 
chance dessa fase ruim de sua carreira. Durante uma entrevista tediosa 
em um museu da cidade, ele testemunha um funcionário demitido, Sam Baily
 (John Travolta com as mesmas caras e bocas de sempre), invadir o local 
armado com uma espingarda e exigindo seu emprego de volta. Raposa velha 
do jornalismo, ele fareja um furo na história, especialmente quando, por
 acidente, a arma dispara atingindo um segurança do museu - negro, o que
 atiça ainda mais os ânimos politicamente corretos que veem nisso um 
crime de ódio - e o atarantado Sam resolve manter como reféns todas as 
crianças que estão em visita ao prédio. Conquistando aos poucos a 
confiança de Sam, o repórter conta com a ajuda de sua assistente, a 
ambiciosa Laurie (Mia Kirschner), para chamar a atenção da mídia 
nacional e transformar o fato em circo, retomando o destaque de seus 
dias mais felizes.
Como
 nem sempre as coisas funcionam da maneira esperada, no entanto, Max se 
vê diante de um dilema moral quando seu arquirrival Kevin surge em cena,
 querendo a protagonização da história. Com ainda menos escrúpulos, o 
famoso âncora passa a manipular as entrevistas feitas por Laurie, com a 
intenção de transformar Sam de vítima das circunstâncias em um vilão 
desequilibrado capaz de matar um homem negro pai de família e manter um 
grupo de crianças como refém. Percebendo as artimanhas de Hollander, Max
 passa a questionar sua própria ambição e tenta ajudar Sam a sair da 
armadilha que ele mesmo preparou, chegando à conclusão de que talvez as 
coisas tenham saído demais do seu controle. Enquanto isso, a população é
 manipulada facilmente pelo noticiário e cerca o museu, à espera do 
desfecho do sequestro.
Costurando vários focos de 
narrativa ao mesmo tempo - a relação entre Max e Sam, a manipulação 
comandada por Hollander, as entrevistas de Laurie, a manifestação da 
plateia ávida por sangue - o roteiro acaba por não dar conta de uní-las 
de maneira satisfatoria, dando a impressão de buracos pouco confortáveis
 entre uma e outra que nem mesmo a direção consegue disfarçar. A trama 
central - instigante, inteligente - se perde diante de tantos desvios, 
esvaziando seu tom de denúncia quando resolve dedicar boa tarde de seu 
terço final à crise de consciência de Max, em uma reviravolta otimista e
 forçada que não condiz com o cinismo ácido de seu início promissor. Nem
 mesmo o final - que acaba sendo previsível e anti-climático - salva o 
show de virar o aborrecido e banal retrato de uma sociedade doentia e 
manipulável pela mídia. Não é uma desgraça total - Dustin Hoffman sempre
 vale uma espiada, mesmo quando não está em seus melhores dias - mas 
vindo de um diretor do porte de Costa-Gavras é bastante decepcionante.
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terça-feira
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