A RECRUTA BENJAMIN (Private Benjamin, 1980, Warner Bros, 109min) Direção: Howard Zieff. Roteiro: Nancy Meyers, Charles Shyer, Henry, Harvey Miller. Fotografia: David M. Walsh. Montagem: Sheldon Kahn. Música: Bill Conti. Figurino: Betsy Cox. Direção de arte/cenários: Robert Boyle, Jeffrey Howard/Arthur J. Parker. Produção executiva: Goldie Hawn. Produção: Nancy Meyers, Charles Shyer, Harvey Miller. Elenco: Goldie Hawn, Armand Assante, Harry Dean Stanton, Eileen Breenan, Albert Brooks, Craig T. Nelson, Robert Webber, Sam Wanamaker, Barbara Barrie, Mary Kay Place. Estreia: 07/10/80
3 indicações ao Oscar: Atriz (Goldie Hawn), Atriz Coadjuvante (Eileen Brennan), Roteiro Original
Em 1979, bem antes que as atrizes de Hollywood começassem a demonstrar seu descontentamento em relação à baixa quantidade de papéis femininos relevantes dentro da indústria - uma reclamação que vem de muito longe, mas nem sempre de forma assertiva - a jovem Goldie Hawn já havia percebido que o caminho mais efetivo para não depender exclusivamente dos grandes estúdios estava em produzir seus próprios filmes. Aos 34 anos e grávida de cinco meses de sua filha, Hawn, que já tinha em casa um Oscar de coadjuvante pelo filme "Flor de cacto" (69), resolveu assumir as rédeas de uma carreira já bem estabelecida e comprou a ideia da roteirista (e futura cineasta) Nancy Meyers para estrelar a comédia "A recruta Benjamin". Logo depois do nascimento de seu bebê (que se tornaria a atriz Kate Hudson) e passando por um processo de divórcio, ela já estava enfrentando um treinamento militar de seis semanas e supervisionando aquele que seria a sexta maior bilheteria de 1980 nos EUA e Canadá - e lhe daria uma surpreendente indicação ao Oscar de melhor atriz. Leve, agradável e com um viés feminista que combinava perfeitamente com o momento de seu lançamento, "A recruta Benjamin" permanece um passatempo divertido, mas é difícil entender porque concorreu ao Oscar de roteiro original e ganhou o prêmio do Sindicato de Roteiristas na categoria comédia: apesar de simpático, ele jamais atinge todas as possibilidades que apresenta em seu primeiro (e promissor) ato.
O filme começa muito bem: a jovem e mimada Judy Benjamin (interpretada com graça e timing perfeito por Hawn), uma socialite judia, acaba de se casar - pela segunda vez - com o bem-sucedido advogado Yale Goodman (Albert Brooks em participação especial). Seus problemas normalmente se resumem a encontrar os objetos corretos para decorar sua casa ou combinar roupas para eventos sociais, mas sua felicidade dura pouco: em plena noite de núpcias, Yale morre de um ataque do coração (durante o ato sexual). Deprimida e desorientada, ela encontra um caminho na figura de um excêntrico desconhecido, o sargento Jim Ballard (Harry Dean Stanton), que a convence dos benefícios de integrar as Forças Armadas americanas. Sem saber exatamente onde está se enfiando, Judy parte de malas e bagagens para o treinamento militar e acaba se tornando desafeto da Capitã Doreen Lewis (Eileen Brennan, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante), que não suporta a futilidade da nova recruta. Sofrendo com a nova rotina, ela entra em conflito com outros superiores e, transferida para a Europa, se apaixona pelo francês Henri Trémont (Armand Assante), que pode vir a ser seu terceiro marido.
O grande problema de "A recruta Benjamin" é sua brusca queda de ritmo e interesse no ato final. O romance entre Judy e Henri soa deslocado em um filme que, a princípio, parece ser basicamente uma comédia ligeira, repleta de piadas físicas e do humor deliciosamente ingênuo de Goldie Hawn. Se até então o desenvolvimento da história já deixava para trás a chance de brincar com muito mais contundência com as dificuldades da protagonista em encarar um mundo completamente oposto ao que vivia, seu desvio de rota em direção à comédia romântica o deixa ainda menos consistente. A trama que mais prometia - a rixa entre Judy e a Capitã Lewis - acaba sendo esquecida e enfraquecida assim que o roteiro se transfere para a Europa, quando o treinamento de Benjamin (os momentos mais inspirados do filme) é substituído por um discurso feminista que, apesar de pertinente, se torna cansativo e superficial. Nem mesmo o talento de Goldie Hawn é capaz de contornar tal problema, mas felizmente seu sorriso desarma qualquer espectador.
Com o talento de arrancar risadas sem precisar falar sequer uma linha de diálogo, Goldie Hawn é o corpo e a alma de "A recruta Benjamin". Não à toa, foi a principal responsável por sua realização, ciente de que tinha em mãos um veículo perfeito para seus dotes como humorista e atriz dramática. O Oscar - que perdeu para Sissy Spacek em "O destino mudou sua vida" - certamente seria um exagro absurdo, mas é seu imenso carisma que sustenta o filme, salvando-o de ser apenas uma sessão da tarde esquecível. Está longe de ser, como votou a revista Premiére, em 2006, "uma das 50 maiores comédias de todos os tempos", mas sai-se bem como um passatempo despretensioso - e até rendeu uma série de TV (sem Goldie), que ficou no ar entre 1981 e 1983, com direito a prêmios Emmy e Golden Globe. Definitivamente, um tiro certo na carreira da atriz.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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