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MATADOR EM CONFLITO

MATADOR EM CONFLITO (Grosse Pointe Blank, 1997, Hollywood Pictures/Caravan Pictures, 107min) Direção: George Armitage. Roteiro: Tom Jankiewicz, D.V. DeVincentis, Steve Pink, John Cusack, estória de Tom Jankiewicz. Fotografia: Jamie Anderson. Montagem: Brian Berdan. Figurino: Eugenie Bafaloukos. Direção de arte/cenários: Stephen Altman/Chris Spellman. Produção executiva: Jonathan Glickman, Lata Ryan. Produção: Susan Arnold, Roger Birnbaum, Donna Arkoff Roth. Elenco: John Cusack, Minnie Driver, Alan Arkin, Dan Aykroyd, Joan Cusack, Hank Azaria, Jeremy Piven. Estreia: 11/4/97

Em 1991, Tom Jankiewicz recebeu o convite de sua antiga turma de escola para uma reunião, comemorando os dez anos de formatura do ensino médio. Como bom aspirante a roteirista, logo surgiu em sua mente uma ideia mirabolante: e se um de seus colegas aparecesse na festa e, ao contrário dos antigos companheiros - então bancários, médicos, advogados e outras profissões mais tradicionais - se revelasse um bem-sucedido matador de aluguel? Essa foi a gênese de "Matador em conflito", um dos mais elogiados filmes da temporada 1997, que, a despeito de seu desempenho medíocre nas bilheterias, tornou-se cult instantâneo - em boa parte devido à presença do ator John Cusack, então um dos queridinhos do público fã de cinema alternativo de Hollywood. Dirigido por George Armitage - também cultuado, por seu "O anjo assassino" (90) - e recheado de humor negro e referências culturais pop, "Matador em conflito" é um antídoto perfeito para as fórmulas engessadas do cinemão americano, misturando gêneros e não se levando a sério nem mesmo diante de sequências surpreendentemente violentas.

Sua mistura de gêneros, aliás, quase foi um problema para sua realização: por volta de 1993, quando o conceito do filme já era cobiçado por vários produtores, Kiefer Sutherland mostrou-se realmente interessado em levá-lo às telas. O projeto esbarrou justamente na dificuldade que seria encontrar financiamento para um filme tão atípico, que fazia rir ao mesmo tempo em que mostrava pessoas sendo assassinadas, e que, de forma amoral, tinha como protagonista (e portanto, segundo as regras não escritas, o herói com quem o público deveria se identificar) um matador profissional - e o que é pior, um matador profissional simpático e carismático. Projeto cancelado, foi somente em 1996 que finalmente as coisas começaram a realmente andar, quando John Cusack entrou em cena e assumiu as rédeas da situação: juntamente com os amigos D.V. DeVincentis e Steve Pink (com quem também trabalharia na adaptação do livro "Alta fidelidade", de Nick Hornby), Cusack se aproximou de Jankiewicz e criou o roteiro daquele que seria um de seus trabalhos preferidos: uma absurda comédia de humor negro, violência e, por incrível que pareça, uma história de amor.


O próprio Cusack assumiu também o papel principal do filme, um assassino profissional que está passando por uma crise existencial. Descontente com sua rotina de violência, Martin Blank tenta acalmá-la com sessões de terapia com o dr. Oatman (Alan Arkin) - que só o atende por medo de também virar uma vítima sua. Recusando trabalhos e com pretensões de abandonar a vida criminosa, ele confia apenas em sua secretária, Marcella (Joan Cusack), para organizar sua confusa vida. Sua situação pouco invejável se torna ainda mais complicada quando ele aceita a missão de cometer um assassinato na pequena Grosse Point, nos subúrbios de Detroit: não apenas se trata de sua cidade natal como também o trabalho coincide com uma festa de reencontro com seus ex-colegas de classe, dez anos depois do baile de formatura em que ele deixou sozinha sua então namorada Debi (Minnie Driver). O reencontro com Debi e a ideia de ter de dar de cara com todos os seus amigos e desafetos do passado se combinam com a pressão de ter de cumprir seu objetivo profissional, escapar de dois agentes federais, um outro assassino que está em seu encalço, e, pior ainda, ter de livrar-se de Groce (Dan Aykroyd), que tenta convencê-lo a participar de um sindicato de matadores de aluguel.

O roteiro de "Matador em conflito" é um festival de citações pop: filmes de 007, Quentin Tarantino, games, música dos anos 80 (a trilha sonora é fantástica, com direito a Queen, Guns'n'Roses, Johnny Nash, The Clash, The Cure e A-ha, entre dezenas de outros) e até citações internas (Jenna Elffman faz sua estreia no cinema com uma homenagem à Joan Cusack no clássico "Gatinhas e gatões", de 1986) são facilmente detectáveis por toda a curiosa narrativa de Armitage. Sem espaço para a previsibilidade, o roteiro se transforma imperceptivelmente de cena para cena, pulando de uma comédia quase surreal para um romance nostálgico e então para um filme de ação com direito a tiroteios e explosões. John Cusack é o ator ideal para o papel principal, com sua aparência carente, e Minnie Driver demonstra um ótimo timing cômico, servindo também de equilíbrio entre todos os gêneros apresentados por Armitage e companhia, que não tem medo de ousar e fugir do lugar-comum. Desconcertante e surpreendente, "Matador em conflito" não é um filme para qualquer tipo de público - e tampouco escapa de um ritmo irregular em determinados momentos -, mas é uma refrescante opção para quem deseja fugir da mesmice hollywoodiana. Uma sessão da tarde apimentada e movimentada que é a cara de sua época.

2 comentários:

Paulo Alt disse...

Eu ainda não consigo ter uma opinião sobre esse filme mesmo depois de quase 1 mês. Pra mim algo faltou e eu ainda não consigo encontrar o quê. Mas todos os elementos bons (meio estranho, mas não encontrei outra forma de dizer) que tu escreveu me fizeram ir até o final. A trilha: amei. O problemas é que... não sei... eu queria ter gostado mais, entende? Zukm.t

Clenio disse...

Zukm.t

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