sexta-feira

BANANAS

BANANAS (Bananas, 1971, MGM/United Artists, 82min) Direção: Woody Allen. Roteiro: Woody Allen, Mickey Rose. Fotografia: Andrew M. Costykan. Montagem: Ron Kalish, Ralph Rosenblum. Música: Marvin Hamlish. Figurino: Gene Coffin. Direção de arte/cenários: Ed Wittstein/Herbert F. Mulligan. Produção executiva: Charles H. Joffe. Produção: Jack Grossberg. Elenco: Woody Allen, Louise Lasser, Carlos Montalbán, Natividad Abascal, Jacobo Morales, Sylvester Stallone.Estreia: 28/4/71

Antes de tornar-se uma griffe, com estilo próprio e facilmente reconhecível, prestigiado com o Oscar em várias ocasiões - a primeira delas em 1977, por "Noivo neurótico, noiva nervosa" - e um dos mais respeitados cineastas e roteiristas de Hollywood, o nova-iorquino de corpo e alma Woody Allen era considerado apenas mais um diretor de comédias ligeiras, surgido dos palcos de stand-up e capaz de rir de si mesmo e de suas origens judaicas. Seus dois primeiros filmes, "O que há, tigresa" (66) - na verdade um filme chinês dublado com diálogos nonsense - e "Um assaltante bem trapalhão" (69), mostravam de forma clara seu talento para um humor verbal impiedoso e inteligente, mas careciam de uma linha narrativa mais forte. Não foi o que aconteceu com sua terceira incursão às telas, como pode ser visto em "Bananas", lançado em 1971 e que mantém o estilo de suas primeiras produções. Com mais liberdade criativa do que antes - mas ainda preso a uma forma já testada e aprovada - Allen faz rir equilibrando com maestria (desde então) simplicidade e sofisticação.

A ideia central de "Bananas" surgiu quando Sam Katzman, produtor de filmes B, ofereceu à Allen e seu corroteirista Mickey Rose a adaptação de um livro sobre as ditaduras da América do Sul. Sofrendo com a mediocridade do material original, os dois resolveram começar do zero, criando a história (tênue, mas essencial) de um homem comum jogado no olho de um furacão político com o qual não tem a menor compatibilidade. Tal protagonista, perfeito para as limitações de Woody Allen como ator (que ele mesmo reconhece publicamente), é Fielding Mellish, que tem o emprego pouco empolgante de testar produtos para empresas comerciais - como uma mesa de escritório para executivos que querem manter a forma sem ir à academia. Desajeitado com as mulheres, ele se apaixona pela ativista política Nancy (Louise Lasser, a primeira mulher do diretor) e, para não perdê-la, resolve pedir demissão e seguí-la até San Marcos, um país da América do Sul que acaba de tornar-se vítima de um golpe de estado ditatorial. Sua intenção é juntar-se aos rebeldes e provar a ela seu potencial de líder, mas é claro que as coisas não acontecem como o previsto em seu caminho para o coração da amada.


Como já havia feito em "Um assaltante bem trapalhão", Woody Allen se utiliza dessa história quase simplória para servir de base de um filme que é, na verdade, uma série de sequências cômicas que exploram ao máximo seu talento em extrair o máximo de situações aparentemente imunes ao deboche. Desde as primeiras cenas, quando um repórter narra o assassinato do presidente de San Marcos e entrevista o novo ditador (vivido por Carlos Montalbán), o roteiro é uma sucessão de momentos histriônicos dos mais variados níveis. Há desde as piadas visuais - que mostram Fielding testando produtos bizarros e seu treinamento como revolucionário - até alguns momentos em que Allen pode exibir seus dotes de grande autor de diálogos absurdos. Mesmo que seus méritos como diretor de atores ainda não estivesse em alta (talvez até pela falta da força de seus personagens coadjuvantes, que servem basicamente de escada para seu show particular), é perceptível sua força em criar uma unidade narrativa e um arco dramático para seu protagonista, uma tentativa que culminaria em seu primeiro grande sucesso de crítica, o já citado "Noivo neurótico, noiva nervosa", que mantém suas características de comédia, mas unidas a um todo mais coeso e relevante.

"Bananas" é, na verdade, mais um excelente campo de treinamento para o grande cineasta que Woody Allen viria a tornar-se em poucos anos. Engraçado, inteligente e rápido como uma boa piada, está a anos-luz de seus maiores filmes, mas diverte sem fazer muito esforço ou exigir do espectador mais do que a disposição de se deixar levar por um humor inconsequente mas de grande qualidade. E de quebra, há ainda a participação de um ainda desconhecido Sylvester Stallone em uma cena no metrô - ninguém diria que dali a quatro anos, o ator estaria sendo consagrado pela Academia por seu "Rocky, um lutador" (antes mesmo do reconhecimento ao próprio Allen!). Coisas de Hollywood.

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