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TODAS AS NOITES ÀS NOVE

TODAS AS NOITES ÀS NOVE (Our mother's house, 1967, Filmways/Heron Film Productions, 104min) Direção: Jack Clayton. Roteiro: Jeremy Brooks, Haya Harareet, romance de Julian Gloag. Fotografia: Larry Pizer. Montagem: Tom Priestley. Música: Georges Delerue. Direção de arte/cenários: Reece Pemberton/Ian Whittaker. Produção executiva: Martin Ransohoff. Produção: Jack Clayton. Elenco: Dirk Bogarde, Margaret Lecrere, Pamela Franklin, Louis Sheldon Williams, John Gugolka. Estreia: 09/10/67

Em 1961, o cineasta britânico Jack Clayton honrou a prosa do escritor Henry James com um dos mais assustadores contos de terror da década, o impressionante "Os inocentes", baseado no conto "A volta do parafuso". Seis anos depois, mais uma vez voltou sua atenção para as possibilidades dramáticas e amedrontadoras da infância com um filme perturbador e desconfortável chamado "Todas as noites às nove". Baseado em romance de Julian Gloag e dessa vez sem apelar para o sobrenatural, Clayton construiu uma narrativa frequentemente incômoda, que mergulhava o espectador em um brutal suspense psicológico que tinha como protagonistas um grupo de órfãos excêntricos que, aos poucos, passam da inocência para a violência, catalisada pela presença inesperada de um estranho no ninho. Com uma trama sombria e imprevisível em mãos, Clayton nem precisou de grandes nomes internacionais em seu elenco - apenas Dirk Bogarde era conhecido do grande público, e mesmo assim dificilmente poderia ser considerado um astro de primeira grandeza - para prender a atenção da plateia até seus minutos finais. E boa parte desse êxito vem do elenco infantil, coeso e intenso como necessário.

A trama de "Todas as noites às nove" começa com a morte da religiosa e frágil matriarca da família Hook, que vive em uma espaçosa localizada em Londres. Sua morte, depois de um longo tempo de doença, não chega a surpreender suas sete crianças, que vivem sem a presença do pai, que as abandonou há muito tempo. Temendo que, sendo órfãos, sejam separados e levados para instituições diferentes, os irmãos resolvem, então, esconder a morte da mãe, enterrando seu corpo no jardim, demitindo a empregada, Sra. Quayle (Yootha Joyce), e fingindo levar uma vida normal. Falsificando a assinatura da responsável pela casa em seus cheques e frequentando rotineiramente as aulas, as crianças ainda conseguem comunicação com a falecida através de mensagens que ela manda por intermédio de uma das filhas mais velhas, Diana (Pamela Franklin). É lógico que algumas pessoas começam a desconfiar da situação, mas o inesperado retorno do pai da família, Charlie (Dirk Bogarde), põe tudo nos devidos lugares - ao menos externamente, já que sua volta irá acarretar ainda mais problemas e conflitos dentro do casarão. Inconsequente, beberrão e mulherengo, Charlie aos poucos passa a mandar no dia-a-dia do clã, o que passa a incomodar aos antigos líderes: os filhos mais velhos.


Competente em dirigir crianças - como bem comprovado em "Os inocentes" - Jack Clayton escolheu a dedo um elenco infanto-juvenil, sabendo que seriam os atores mirins que dariam consistência ao filme apesar da experiência e do nome de Bogarde. Dos sete atores principais, poucos seguiram uma carreira de sucesso na vida adulta, e mesmo assim, com sucesso apenas relativo - Pamela Franklin, que interpretou Diana, a irmã que conseguia comunicar-se com a mãe morta, marcou presença no elenco de produções importantes como "Primavera de uma solteirona" (69) e "A casa da noite eterna" (73), e Mark Lester, o gago Jiminee, que falsificava a assinatura da morta para descontar seus cheques, assumiu a protagonização do oscarizado "Oliver" (68), mas abandonou as telas no início da década de 80. Mesmo assim, é impressionante a coesão atingida por Clayton, que faz grandes intérpretes de todos os pequenos atores, tanto nos momentos mais emotivos quanto nas cenas de maior tensão: a primeira parte do filme, quando aparentemente as mensagens do além querem dominar a família, é repleta de uma tensão constante e sutil, e é surpreendente a entrega de todo o elenco.

Com um visual obviamente um tanto datado - desde a fotografia até o figurino deixam claro sua origem sessentista - "Todas as noites às nove" é um típico filme cult, capaz de agradar em cheio aos espectadores que procuram por obras de suspense que não se escoram em sangue ou vísceras. Mesmo que por vezes dê a impressão de parecer muito mais lento do que precisa, é uma produção inteligente e dotada de sutileza, além de abrir espaço para discussões sobre poder e submissão. Não é uma obra-prima como "Os inocentes", mas tem clima, tensão e uma dose extra de desconforto com que muitas produções atuais nem sequer pensam em transmitir, além de mais uma grande atuação de Dirk Bogarde, um dos atores mais subestimados de sua geração. Vale a pena a experiência!

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