HOUVE
UMA VEZ DOIS VERÕES (Houve uma vez dois verões, 2002, Casa de Cinema de
Porto Alegre, 75min) Direção e roteiro: Jorge Furtado. Fotografia: Alex
Sernambi. Montagem: Giba Assis Brasil. Música: Leo Henkin. Figurino:
Rosângela Cortinhas. Direção de arte/cenários: Ana Luiza Azevedo/Fiapo
Barth. Produção: Nora Goulart, Luciana Tomasi. Elenco: André Arteche,
Ana Maria Mainieri, Pedro Furtado, Júlia Barth, Marcelo Aquino, Jananína
Kremer Motta. Estreia: 2002
Bem-sucedido
roteirista de televisão e internacionalmente premiado com seu
curta-metragem "Ilha das flores", o gaúcho Jorge Furtado fez a escolha
certa quando resolveu estrear no comando de um longa: deixando de lado
toda e qualquer pretensão, ele escolheu um gênero querido pelo público
(a comédia romântica adolescente), abdicou de astros da telinha
carregados de vícios artísticos e resolveu cantar seu quintal - mais
especificamente, o litoral do Rio Grande do Sul e sua capital, Porto
Alegre - na história de idas e vindas de um amor juvenil embalada por
uma trilha sonora vibrante (também recheada de músicos do sul) e banhada
em um humor quase ingênuo. "Houve uma vez dois verões" - cujo sabor de
nostalgia já começa no título que homenageia o clássico "O verão de 42",
de Robert Mulligan - é um trunfo de simplicidade e delicadeza, capaz de agradar sua plateia sem fazer muito esforço.
Tudo
começa no final de um verão em uma praia do litoral gaúcho, quando o
adolescente Chico (André Arteche, ótimo), virgem, tímido e romântico,
conhece a extrovertida e sedutora Roza (Ana Maria Mainieri) em um
fliperama. De um flerte desajeitado surge sua primeira experiência
sexual, mas a menina desaparece assim como surgiu, deixando-o sem uma
única pista sobre sua localização. Alguns meses mais tarde, já em Porto
Alegre, o rapaz é procurado por sua ex-futura namorada, que lhe revela
estar grávida e pede dinheiro para realizar um aborto. Mesmo triste com a
situação, o rapaz lhe dá a grana, apenas para descobrir, logo em
seguida, que ela desapareceu novamente. Quando descobre, junto ao amigo
Juca (Pedro Furtado, filho do diretor), que ela deu o mesmo golpe em
vários outros homens, Chico decide procurá-la novamente para tirar
satisfações. É aí que tem início uma história repleta de idas e vindas,
em que seu amor será testado diversas vezes.
Enxuto
e de narrativa ágil - pouco mais de 75 minutos de projeção - "Houve uma
vez dois verões" usa e abusa da maior qualidade do Jorge Furtado
roteirista (diálogos afiados e inteligentes, com um senso de humor de
fácil assimilação mas nunca simplório) e demonstra a segurança do Jorge
Furtado diretor. Tirando interpretações espontâneas e simpáticas do
elenco jovem - em especial do iniciante André Arteche, que transmite sem
dificuldade toda gama de sentimentos de seu personagem, demonstrando
pleno domínio de seu ofício - o cineasta faz um pequeno inventário de
gírias, sotaques e costumes de seu estado, registrando com sua câmera
paisagens conhecidas dos gaúchos e apresentando-as a uma plateia mais
ampla, com carinho e sensibilidade. De comunicação direta com seu
público, Furtado faz rir de situações cotidianas e banais, ressaltando
sempre o ridículo de cada momento sem tirar-lhe a essência humana: até
mesmo personagens secundários são tratados com respeito por seu roteiro,
uma espécie de treino para seu filme posterior, o ótimo "O homem que
copiava", bem mais ambicioso e igualmente bem-sucedido em seus objetivos
de entreter sem compromisso.
Com uma trilha sonora que
mistura rock, pop, regravações de clássicos americanos e que une
músicos gaúchos e de projeção nacional (Pato Fu e Cássia Eller em sua
última gravação, uma releitura de "Nasci para chorar") para acompanhar
as aventuras e desventuras românticas de Chico e Roza, "Houve uma vez
dois verões" é uma espécie de excelente ensaio para Jorge Furtado antes
de afileirar-se entre os melhores cineastas brasileiros de sua geração.
Engraçado, leve e modesto, é também uma comédia de deixar qualquer um
com um sorriso estampado nos lábios. Seu único defeito é ser tão curto.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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