sexta-feira

ENTRE QUATRO PAREDES

ENTRE QUATRO PAREDES (In the bedroom, 2001, Good Machine/Standard Film Company, 130min) Direção: Todd Field. Roteiro: Rob Festinger, Todd Field, estória "Killings", de Andre Dubus. Fotografia: Antonio Calvache. Montagem: Frank Reynolds. Música: Thomas Newman. Figurino: Melissa Economy. Direção de arte/cenários: Josh Outerbridge. Produção executiva: Ted Hope, John Pennotti. Produção: Todd Field, Ross Katz, Graham Leader. Elenco: Sissy Spacek, Tom Wilkinson, Marisa Tomei, Nick Stahl, William Mapother, Celia Weston, Karen Allen. Estreia: 19/01/01 (Festival de Sundance)

5 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (Tom Wilkinson), Atriz (Sissy Spacek), Atriz Coadjuvante (Marisa Tomei), Roteiro Adaptado
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz /Drama (Marisa Tomei) 

Coadjuvante de filmes de grande bilheteria - "Twister" (96) - e de prestígio junto à crítica - "De olhos bem fechados" (99), de Stanley Kubrick - e experiente diretor de curtas-metragem (além de um episódio da telessérie "Once and again"), o ator Todd Field começou com o pé direito sua carreira como cineasta: ao adaptar para as telas um conto do escritor Andre Dubus sobre um casal de meia-idade abalado pela morte violenta do filho único, ele conseguiu a rara façanha de, logo em sua estreia, chegar à festa da Academia indicado em cinco importantes categorias, incluindo melhor filme, ator e atriz. Narrado em um tom minimalista que lembra o cinema europeu, "Entre quatro paredes" ainda deu à Sissy Spacek o Golden Globe de melhor atriz dramática - ela perdeu o Oscar para Hale Berry em "A última ceia", mas seu trabalho é um dos mais intensos de sua trajetória artística. Além dos elogios da crítica - e dos prêmios de melhor filme de estreia, melhor ator e melhor atriz na festa dos Independent Spirit Awards, o Oscar das produções independentes - a obra serviu também para dar uma nova chance à Marisa Tomei, que deixou de ser uma piada por sua estatueta de coadjuvante por "Meu primo Vinny" (92) para conquistar respeito como atriz dramática.

Em uma pequena cidade do Maine, o jovem estudante Frank Fowler (Nick Stahl) resolve dar um tempo na faculdade de arquitetura para manter o romance de verão que iniciou com a bela Natalia (Marisa Tomei, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante), uma mulher mais velha, separada e pai de dois filhos pequenos. Sua decisão não tem o apoio de seus pais, o médico Matt (Tom Wilkinson) e a professora de música Ruth (Sissy Spacek), que, no entanto, não se intrometem na relação para evitar maiores conflitos. A situação aparentemente resolvida sofre uma violenta reviravolta, porém, quando Richard Strout (William Mapother), ex-marido de Natalie, mata o jovem durante uma discussão e, por ser de uma família influente no local, é solto para aguardar o julgamento em liberdade. Torturados pela tristeza e pela culpa, Matt e Ruth precisam ainda lidar com o fato de cruzarem frequentemente com o assassino de seu filho pelas ruas da cidade e com a possibilidade de uma injustiça.


Enfatizando mais a opressão cotidiana da cidade onde se passa a história e os sentimentos de desespero dos protagonistas do que um roteiro frequentemente carente de grandes acontecimentos - até mesmo o homicídio é mostrado com uma discrição que afasta o filme da maioria das produções hollywoodianas - "Entre quatro paredes" é quase um estranho no ninho dentro do cinema dramático americano. Todd Field entra no lar da família Fowler como uma testemunha invisível e silenciosa, lendo seu pensamento e justificando suas drásticas decisões sem sublinhar de forma óbvia as consequências dos atos de seus personagens. A trilha sonora do veterano Thomas Newman é sutil, quase tênue, refletindo a opção de Field em tratar sua obra com o máximo de economia. Tal decisão, ao mesmo tempo em que dá personalidade ao filme, impede uma identificação maior do público, que pode estranhar tamanha frieza no tratamento tão distante de uma história capaz de despertar tantas emoções e revolta. A sorte do cineasta é que, a despeito da aparente frieza do roteiro, seus atores estão absolutamente fantásticos.

Capaz de dizer muito com apenas um olhar, Sissy Spacek está brilhante na pele de Ruth Fowler, uma mulher pacata e discreta que vê sua vida desmoronar de uma hora para outra e não consegue lidar com os meandros frequentemente cruéis da justiça. Tom Wilkinson (indicado ao Oscar de melhor ator) interpreta seu Matt como um animal domesticado que percebe estar voltando a suas origens quando é desafiado a conviver com uma dor que não se ameniza com o passar dos dias. E Marisa Tomei não precisa de muitas cenas para convencer o público de toda a complexidade de sentimentos de sua Natalie, a catalisadora involuntária de um desastre sem precedentes que destroi tudo a seu redor. A cena em que sua personagem reencontra Ruth depois da morte de Frank é uma das mais fortes do filme, mesmo que abdique de gritos e lágrimas em exagero.

Uma história contada em tom menor, "Entre quatro paredes" pode emocionar aos mais sensíveis, mas sofre de um ritmo lento em demasia que prejudica o envolvimento de um público maior - além de um desfecho anti-climático que apenas reitera sua opção em fugir dos clichês melodramáticos do cinemão ianque.

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