EPIDEMIA
(Outbreak, 1994, Warner Bros, 127min) Direção: Wolfgang Petersen.
Roteiro: Laurence Dworet, Robert Roy Pool. Fotografia: Michael Ballhaus.
Montagem: William Hoy, Lynzee Klingman, Stephen Rivkin, Neil Travis.
Música: James Newton Howard. Figurino: Erica Edel Phillips. Direção de
arte/cenários: William Sandell/Rosemary Brandenburg. Produção executiva:
Duncan Henderson, Anne Kopelson. Produção: Gail Katz, Arnold Kopelson,
Wolfgang Petersen. Elenco: Dustin Hoffman, Rene Russo, Morgan Freeman,
Kevin Spacey, Cuba Gooding Jr., Donald Sutherland, Patrick Dempsey.
Estreia: 06/3/95
Um filme sobre um ameaçador vírus
capaz de matar em poucas horas - e que está perigosamente se espalhando
pelos EUA - dirigido por Ridley Scott, estrelado por Robert Redford e
Jodie Foster e chamado "Hot zone" estava em preparação na Fox quando a
notícia de que uma produção similar estava em andamento na Warner. O
fato de dois filmes semelhantes estarem em desenvolvimento nem é tão
raro em uma terra de poucas ideias realmente originais quanto Hollywood,
mas tornou-se uma batalha aberta, com os dois estúdios ansiosos pela
primazia nas bilheterias. Porém, ao contrário do que acontece na maioria
das vezes (quando mais de um filme sobre o mesmo assunto realmente
chega a estrear e disputar público), "Epidemia", a produção da Warner,
dirigida por Wolfgang Petersen e estrelada por Dustin Hoffman e René
Russo acabou por abortar o trabalho de Scott, Redford e companhia e
chegar sozinho às telas. Embalado pela epidemia do vírus Ebola na África
poucos meses antes - um marketing macabro mas bastante eficiente - o
filme se deu bem nas bilheterias, rendendo quase 200 milhões de dólares
mundo afora.
Ficando com o papel que seria de Harrison
Ford em uma primeira versão do roteiro, Dustin Hoffman faz sua estreia
em um filme de ação na pele de Sam Daniels, um coronel do exército
norte-americano encarregado de investigar o surgimento de uma epidemia
de febre hemorrágica oriunda da África. Como responsável pelo USAMRIID
(Instituto de Pesquisa Médica para Doenças Infecciosas dos EUA), ele
alerta as autoridades sobre o possível alcance da doença em território
americano, mas vê seus conselhos ignorados por seu superior, o General
Billy Ford (Morgan Freeman), que afasta a possibilidade de uma epidemia
em seu país. O que Daniels não sabe é que o mesmo Ford, em conluio com
outro general, Donald McClintock (Donald Sutherland) já sabia da
existência de um vírus semelhante, surgido no Zaire em 1967 - e que
ambos juraram ter extinguido depois da ordem de explodir a aldeia que
apresentava a doença, em uma ação secreta do governo. Vinte e cinco anos
depois, porém, o vírus está de volta, transmutado, mais potente e
ameaçando o país, onde chegou através de um pequeno macaco
contrabandeado. Quando uma pequena cidade torna-se o centro da epidemia,
cabe a Daniels impedir que a mesma decisão seja tomada: com a ajuda do
jovem Major Salt (Cuba Gooding Jr.) e da ex-mulher Robby (René Russo) -
cientista por quem ainda é apaixonado - ele tem que localizar o
hospedeiro, encontrar uma cura e salvar a vida de centenas de pessoas.
Dividindo
seu foco entre as pesquisas científicas, a busca pelas causas da
epidemia, as conspirações governamentais de gabinete e as trágicas
consequências da epidemia, o filme de Wolfgang Petersen
surpreendentemente não se torna uma obra sem personalidade. O roteiro
equilibrado permite à plateia que se envolva com cada uma das histórias
contadas, que, unidas, formam um conjunto coeso e bastante interessante,
especialmente porque escapa do sensacionalismo quase inevitável do
tema. Petersen evita inclusive imagens muito gráficas, preferindo a
sugestão ao invés do óbvio: claro que há cenas que mostram as vítimas
agonizando e com o corpo perdendo sangue profusamente, mas até mesmo
nesses momentos há uma elegância e uma discrição que o afasta dos slasher movies sanguinolentos.
Não interessa ao diretor apavorar o público com imagens cruéis e sim
prendê-lo na poltrona com uma história de tensão e ação com inteligência
acima da média. E isso ele consegue sem fazer muita força.
A
maior qualidade de "Epidemia", no entanto, vem do fato de ele conseguir
ser um filme de puro entretenimento a respeito de um assunto sério e
assustador. Sem a intenção de ser didático, ele é apenas um filme de
ação, realizado com toda a competência de que um cineasta como Petersen é
capaz. Além do mais, apresenta um elenco de competência indiscutível -
além de Hoffman, Morgan Freeman e Donald Sutherland, há ainda um Kevin
Spacey pré-consagração - e um senso de ritmo dos mais felizes. O terço
final, quando Daniels está em vias de encontrar o macaco hospedeiro e o
governo já está mandando aviões acabarem com a pequena cidade onde a
epidemia está se descontrolando, é um primor de suspense, enfatizado
pela trilha sonora de James Newton Howard e pela edição soberba, capaz
de deixar qualquer espectador com a respiração suspensa. E, além de
tudo, não é sempre que o público tem a chance de testemunhar um dos
maiores atores do cinema - Dustin Hoffman - brincar de herói de filme de
ação. Um diferencial a mais em um filme que cumpre o que promete.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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