NA CORDA BAMBA (Sling blade, 1996, Shooting Gallery/Miramax, 135min) Direção: Billy Bob Thornton. Roteiro: Billy Bob Thornton, peça teatral homônima de sua autoria. Fotografia: Barry Markowitz. Montagem: Hughes Wainborne. Música: Daniel Lanois. Figurino: Douglas Hall. Direção de arte/cenários: Clark Hunter/Traci Kirshbaum. Produção executiva: Larry Meistrich. Produção: David L. Bushell, Brandon Rosser. Elenco: Billy Bob Thornton, Lucas Black, Dwight Yoakam, J.T. Walsh, John Ritter, Natalie Carneday, Robert Duvall. Estreia: 30/8/96 (Festival de Telluride)
2 indicações ao Oscar: Ator (Billy Bob Thornton), Roteiro Adaptado
Vencedor do Oscar de Roteiro Adaptado
Em 1997, o drama romântico "O paciente inglês" chegou à cerimônia de entrega do Oscar disposto a trucidar a concorrência. Conseguiu. Com o impressionante número de nove estatuetas - incluindo melhor filme e diretor - a adaptação do romance de Michael Ondaatje (antes considerado infilmável) tornou-se um dos maiores campeões da história da Academia. Mesmo assim, sendo premiado até mesmo em categorias técnicas (melhor som?), o Golias estrelado por Ralph Fiennes e Kristin Scott-Thomas caiu de joelhos diante de um Davi a quem poucos haviam dado atenção justamente em um dos prêmios mais importantes da noite: "Na corda bamba", escrito, dirigido e estrelado por Billy Bob Thornton deu uma rasteira em Anthony Minghella e saiu da festa com a cobiçada láurea de melhor roteiro adaptado - também disputada com gente de peso, como Arthur Miller ("As bruxas de Salem"), Kenneth Branagh ("Hamlet") e John Hodge ("Trainspotting"). Como ele conseguiu essa façanha? Só Deus, os eleitores da Academia e os votantes do sindicato de roteiristas, que haviam lhe conferido a mesma homenagem poucos dias antes, podem explicar.
Versão estendida de um curta-metragem do mesmo Thornton, lançado em 1994 - "Some folks called it a sling blade" - "Na corda bamba" teve o apoio nada modesto de Harvey Weinstein, então chefão da Miramax, a mais importante distribuidora independente de Hollywood à época, que desembolsou 10 milhões de dólares pelos direitos do filme. Com esse empurrão muito bem-vindo, o filme chamou a atenção da crítica e acabou sendo eleito um dos dez melhores do ano pela conceituada National Board of Review, o que pavimentou seu caminho para a disputa em terrenos mais arenosos. Na pele de Karl Childers, o protagonista de seu filme, Billy Bob também disputou o Oscar - mas assim como já havia acontecido com o prêmio do sindicato de atores, perdeu para Geoffrey Rush, por "Shine - brilhante". Nada mais justo, já que sua atuação soa perigosamente caricata, prejudicando bastante o resultado final de uma obra que, apesar dos louvores, não ultrapassa o limite do razoável.
Talvez seja a falta de carisma de Thornton, mas o personagem central de "Na corda bamba", apesar de sua inocência e caráter reto, jamais consegue conquistar a simpatia da plateia. Seus trejeitos - um trabalho de composição bastante elogiado mas que frequentemente esbarra na caricatura excessiva - dificultam a identificação junto ao público, transformando o que deveria ser um personagem trágico e melancólico em um tipo realizado com a clara intenção de comover audiências e arrancar prêmios. Mesmo que tenha sido cuidadosamente montado - modo de andar, falar, a voz, o corpo - Karl Childers não envolve como poderia, e isso acaba destruindo a estrutura relativamente sólida do roteiro, que além de tudo, é bastante previsível. Não é preciso ser estudante de cinema nem vidente para adivinhar com léguas de distância como toda a história vai ser encerrada.
Karl Childers, o personagem de Billy Bob, é um homem com sérios problemas de retardamento mental que ficou décadas preso em uma instituição depois de ter assassinado sua mãe e o amante. Tido como uma pessoa dócil e recuperada depois de todo esse tempo, ele é libertado e volta para a cidade do interior onde vivia quando criança. Com a ajuda de alguns moradores, ele arruma trabalho consertando máquinas agrícolas e, inocente como um menino, faz amizade com Frank Wheatley (Lucas Black), um garoto órfão de pai que mora com a mãe, Linda (Natalie Carneday), e sofre com a violência do namorado dela, o cruel Doyle (Dwight Yoakam). O relacionamento entre Karl - um homem com mente de criança - e Frank - um menino obrigado a lidar com problemas que sua idade ainda não lhe ensinou - é, de certa forma, o ponto forte o filme, mas ainda assim sofre de uma superficialidade inegável. O ator mirim Lucas Black - que depois faria um dos episódios da cinessérie "Velozes e furiosos" - sai-se muito bem no papel, enfrentando de frente um ator mais experiente e que é também o diretor e roteirista do filme. É ele, e não Billy Bob Thornton, o maior destaque de "Na corda bamba", um filme superestimado que, não fosse um inesperado Oscar, passaria batido pelas videolocadoras da vida.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
segunda-feira
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3 comentários:
ótima crítica. a notar-se também participação no filmes de músicos importantes como o cantor e compositor paraplégico Vic Chesnutt (morto em 2009, após longa luta contra o alcoolismo e a dificuldade financeiras para tratar-se adequadamente) e Colonel Hampton, excêntrico cantor country "experimental", que participou de alguns discos do Zappa.
Ney, não sabia dessas informações. Obrigado.
Como ganhou o Oscar de roteiro adapatado? Tanto o Paciente Inglês como Na Corda Bamba eram da Miramax. Como o Paciente Inglês já estava garantido com os prêmios de Filme e Direção, a Miramax fez campanha para Na Corda Bamba ganhar o de roteiro em cima do próprio Paciente Inglês! Mas realmente não tem o menor sentido um filme sequer indicado para melhor filme ganhar o oscar de roteiro em cima do vencedor do melhor filme
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