OLHO
POR OLHO (Eye for an eye, 1996, Paramount Pictures, 104min) Direção:
John Schlesinger. Roteiro: Amanda Silver, Rick Jaffa, romance de Erika
Holzer. Fotografia: Amir Mokri. Montagem: Peter Honess. Música: James
Newton Howard. Figurino: Bobbie Read. Direção de arte/cenários: Stephen
Hendrickson/Jan K. Bergstrom. Produção: Michael I. Levi. Elenco: Sally
Field, Ed Harris, Kiefer Sutherland, Joe Mantegna, Philip Baker Hall,
Keith David, Beverly D'Angelo, Charlayne Woodard. Estreia: 12/01/96
Desde
que Charles Bronson vingou a morte da família no cultuado "Desejo de
matar", de 1972, a justiça pelas próprias mãos tornou-se um assunto
recorrente no cinema americano, mas normalmente como tema de filmes de
orçamento limitado, com atores do segundo time e diretores pouco afeitos
a objetivos outros que não lucrar com o desejo ilimitado da plateia em
saborear o sangue marginal de vilões cruéis e dotados de todo o
maniqueísmo de que um roteirista é capaz. Por isso não deixa de ser
surpreendente ver uma atriz do nível de Sally Field e um diretor como
John Schlesinger - ambos respeitados e vencedores do Oscar - envolvidos
em "Olho por olho", um drama de suspense que, no fundo e apesar de
contar com nomes de prestígio nos créditos, não passa de uma versão
menos trash das dezenas de filmes do estilo. O fato de ser baseado em um
livro não impede o roteiro de tropeçar em todos os clichês possíveis e
só mesmo a presença da sempre carismática Sally Field impede a produção
de soar como mais um telefilme barato.
Dirigido no
piloto automático por John Schlesinger - que no passado comandou o
clássico moderno "Perdidos na noite" (69) - "Olho por olho" peca
principalmente por não acrescentar nada ao que já é quase um subgênero
do cinema norte-americano. Seu filme não é um drama marcante, nem
tampouco um suspense aterrorizante. Não desperta discussões a respeito
de seu tema ou permanece na mente do espectador após o final da sessão. E
é justamente essa falta de ousadia ou personalidade que joga no lixo
todas as possibilidades da história, já não tão original. Karen McCann
(Sally Field, boa atriz mas desperdiçada em um papel sem grandes
nuances) leva uma vida pacata e feliz ao lado do marido, Mack (Ed
Harris) e das duas filhas, Julie (Olivia Burnette) - do seu primeiro
casamento - e Megan (Alexandra Kyle). Essa vida normal sofre um violento
baque quanto Julie é estuprada e morta em casa, praticamente diante dos
olhos de sua mãe, que ouve tudo pelo celular. A dor da perda logo é
amenizada quando a polícia prende o criminoso, Robert Doob (Kiefer
Sutherland, exercitando mais uma vez seu lado maligno), mas tudo vai por
terra quando ele é absolvido por questões técnicas. Revoltada, Karen
entra em um grupo de ajuda a pais na mesma situação e, escondida do
marido, resolve vingar-se por conta própria do assassino.
Contando
com a ajuda de dois colegas do grupo, Karen arruma uma arma, entra em
aulas de defesa pessoal e tiro, enquanto inicia uma relação de confiança
e amizade com outra integrante, Angel (Charlayne Woodard), que perdeu
um filho pequeno em um assalto. Quando Doob passa a desconfiar das
ideias de Karen - que ronda sua vizinhança como forma de planejar sua
morte - as coisas ficam ainda piores: sentindo que o marginal também não
hesitará em atacar a pequena Megan como represália, ela abre mão dos
conselhos do marido e do bom-senso para vingar-se em grande estilo. Nem
mesmo uma surpresa na sua relação com Angel a demove da ideia, que toma
forma definitiva quando ela manda a família passar uma noite fora da
casa onde vivem.
Sem grandes surpresas que justifiquem
sua realização - o desfecho é anti-climático e a forma encontrada por
Karen de sair da história de mãos limpas não chega a ser exatamente
original - "Olho por olho" é o tipico filme que vale exclusivamente por
seu elenco, repleto de talentos isolados que valorizam o produto final.
Sally Field substituiu Jamie Lee Curtis e não precisa provar seu talento
dramático no mínimo desde seu primeiro Oscar, por "Norma Rae" (79) e,
apesar de ser subaproveitado como o marido da protagonista - que faz
pouco mais do que ficar a seu lado durante seus momentos de crise
emocional - Ed Harris segura com competência o nível de interpretação de
Field, e Kiefer Sutherland mostra mais uma vez porque era um dos vilões
preferidos de Hollywood antes de virar o herói Jack Bauer na série
televisiva "24 horas". É o trabalho dos três que faz de um filme apenas
médio uma sessão razoavelmente interessante.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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