segunda-feira

ESQUEÇA PARIS

ESQUEÇA PARIS (Forget Paris, 1995, Castle Rock Entertainment, 101min) Direção: Billy Crystal. Roteiro: Billy Crystal, Lowell Ganz, Babaloo Mandel. Fotografia: Don Burgess. Montagem: Kent Beyda. Música: Marc Shaiman. Figurino: Judy Ruskin. Direção de arte/cenários: Terence Marsh/Michael Seirton. Produção executiva: Peter Schindler. Produção: Billy Crystal. Elenco: Billy Crystal, Debra Winger, Joe Mantegna, Cynthia Stevenson, Richard Masur, Julie Kavner, William Hickey, Cathy Moriarty. Estreia: 19/5/95

Levando-se em consideração que um dos maiores sucessos da carreira de Billy Crystal foi a comédia romântica "Harry & Sally, feitos um para o outro", que ele estrelou ao lado de Meg Ryan em 1989, não é de estranhar que ele tenha tentado repetir a façanha quinze anos depois. Em "Esqueça Paris" ele não apenas aparece como protagonista masculino de uma história de amor recheada de sarcasmo e ironia: ele também é o diretor, o produtor e um dos roteiristas, ao lado dos então festejados Lowell Ganz e Babaloo Mandel. Vindo do sucesso modesto de "Mr. Saturday Night, a arte de fazer rir" (92), o cineasta Crystal mostra-se dotado de ritmo, inteligência, sensibilidade e seu tradicional bom humor, mas nada disso ajudou na carreira nacional e internacional do filme. Azar de quem perdeu. Seu filme é uma deliciosa comédia que, assim como "Harry & Sally", analisa de forma carinhosa/ácida/romântica, as relações amorosas em geral ao concentrar-se em uma única tram: a história de idas e voltas do casal Mickey Gordon (vivido pelo próprio Crystal) e Ellen Andrews (Debra Winger, esbanjando um insuspeito timing cômico).

Mickey é um voluntarioso árbitro de basquete que vive em Nova York. Ellen é funcionária de uma empresa de aviação e vive em Paris. O destino os apresenta quando ele precisa viajar até a França para enterrar o corpo do pai - um veterano de guerra com quem ele não mantinha a melhor das relações - e a companhia onde ela trabalha envia o caixão, por engano, para outro país. Afastado de suas funções devido a uma confusão em uma partida, Mickey resolve passar uma semana na capital francesa e Ellen se oferece para servir de guia em seus passeios. Não demora muito e logo eles estão apaixonados como nas melhores produções do gênero, com direito à música romântica, citações cinematográficas e paisagens deslumbrantes - além de, como não poderia de ser em se tratando de um filme de Billy Crystal, diálogos brilhantes e engraçadíssimos. Acontece que ela tem um grave impedimento para a continuidade do romance - além da distância física que os separa na vida cotidiana - e eles irão viver uma história de amor das mais atribuladas pelos anos seguintes.


Quanto menos se souber a respeito dos desdobramentos de "Esqueça Paris" melhor - ainda que ele continue saboroso mesmo quando revisto. Todos os empecilhos à felicidade entre Mickey e Ellen que surgem no desenrolar da trama soam orgânicos e realistas, apesar do tom cômico imposto pelo roteiro, que muitas vezes se sobressai aos elementos dramáticos. Carreira, família e dificuldades diversas se interpõem entre eles e o final feliz dos seus sonhos, mas sempre de forma leve e divertida, permitindo ao público um equilíbrio perfeito entre risadas e reflexões - equilíbrio muito ajudado pela química excelente entre o casal protagonista. Se Crystal já tinha mostrado seu lado conquistador/cínico ao lado de Meg Ryan quase uma década e meia antes, é Debra Winger quem se destaca, revelando uma faceta nova a seus fãs: solar e encantadora, ela brinca de Katharine Hepburn - uma mulher independente, batalhadora, de língua afiada - com uma classe e um carisma raros em sua carreira recheada de personagens dramáticos e densos. Talvez seja ela a maior qualidade de um filme repleto delas.

E entre as várias qualidades de "Esqueça Paris" está, sem dúvida, a estrutura com que o roteiro é montado: a história de Mickey e Ellen é contada ao público ao mesmo tempo em que é narrada à Liz (Cynthia Stevenson), que está prestes a casar-se com um dos melhores amigos de Mickey, o vendedor de carros Andy (Joe Mantegna). No decorrer do filme, não apenas Andy mas outros casais amigos - e conhecedores da complicada relação - vão acrescentando detalhes à deliciosa narração, com pontos de vista díspares e observações argutas sobre a vida social, a instituição do casamento e até mesmo sobre suas próprias vidas. Como prova da capacidade incrível de Crystal em criar personagens interessantes, até mesmo o garçom que serve a mesa dos personagens - vivido pelo ótimo Robert Constanzo - tem seus momentos de brilho, diante de um elenco coadjuvante excepcional que inclui Cathy Moriarty, Julie Kavner e Joe Mantegna em dias inspirados.

"Esqueça Paris" é um filme que merece ser descoberto e cultuado. Assim como "Harry & Sally", é inteligente, sensível, engraçado e dotado de um realismo sofisticado e banhado em delicadeza. Um dos melhores e mais subestimados filmes românticos dos anos 90.

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