BELEZA
ROUBADA (Stealing beauty, 1996, Fiction Films/France 2 Cinéma, 118min)
Direção: Bernardo Bertolucci. Roteiro: Susan Minot, estória de Bernardo
Bertolucci. Fotografia: Darius Khondji. Montagem: Pietro Scalia. Música:
Richard Hartley. Figurino: Louise Stjernsward. Direção de
arte/cenários: Gianni Silvestri/Cinzia Sleiter. Produção executiva: Yves
Attal. Produção: Jeremy Thomas. Elenco: Liv Tyler, Jeremy Irons, Sinéad
Cusack, Rachel Weisz, Joseph Fiennes, Jason Flemyng, Jean Marais,
Stefania Sandrelli. Estreia: 29/3/96
Durante as
entrevistas de divulgação de "O pequeno Buda", estrelado por Keanu
Reeves, o cineasta Bernardo Bertolucci não se cansava de dizer que seu
filme seguinte teria que ser, necessariamente, um projeto pequeno,
familiar, que não envolvesse as dificuldades logísticas de suas últimas
obras - entre elas, o ambicioso "O céu que nos protege". Quando "Beleza
roubada" estreou no Festival de Cannes de 1996, dois meses de ter
chegado aos cinemas italianos, o mundo todo percebeu que ele falava
muito sério. Simples e minimalista, a história da bela e inocente Lucy
Harmon em busca da verdade sobre sua mãe suicida e do primeiro amor
mostra um Bertolucci em registro discreto, a anos-luz do gigantismo de
coisas como "O último imperador", que lhe rendeu 9 Oscar em 1988. Essa
bem-vinda despretensão conquistou a simpatia da crítica e do público,
que aprovou, entre outras coisas, a escolha acertadíssima de Liv Tyler
para interpretar o papel principal. Com uma aura de pureza e inocência
ao redor de um rosto deslumbrante, Liv - filha do vocalista da banda de
rock Aerosmith, Steven Tyler - se desincumbe com graça e segurança de
sua primeira protagonista, seduzindo o espectador logo nas primeiras
cenas.
Ao som de Lizzy Phair e sua "Rocket song", o
público acompanha a chegada da bela Lucy, uma jovem americana de 19
anos, a uma afastada vila italiana de propriedade de Ian (Donald
McCann), um artista plástico inglês que refugiou-se do mundo para levar uma existência tranquila ao lado da
esposa, Diana (Sinéad Cusack) e dos amigos que frequentemente os
visitam, como o poeta Alex (Jeremy Irons), que, contaminado pelo vírus
da AIDS, passa seus últimos meses na companhia do casal. A visita de
Lucy, porém, não é apenas um acontecimento social corriqueiro: com a
desculpa de posar para uma escultura de Ian, a bela jovem tem também
interesse em descobrir a verdade sobre sua paternidade, que ela sabe ter
relação com um verão passado por sua mãe, uma recente suicida, no mesmo
local da Toscana. Enquanto busca pistas que a levem à identidade de seu
pai, ela passa a ter contato com o grupo de convidados excêntricos de
Ian e Diana, que aproveitam ao máximo o calor da Itália e sua atmosfera
altamente sensual. Envolvida pelo clima erótico do lugar, Lucy espera
ansiosamente pelo reencontro com Niccólo (Roberto Zibetti), um flerte de
adolescência que ela espera converter em seu primeiro homem.
Fotografada
com extrema luminosidade por Darius Khondji - em um trabalho oposto ao
que realizou no soturno "Seven, os sete crimes capitais" - a Toscana de
Bernardo Bertolucci surge soberana diante dos olhos do público em cada
cena de "Beleza roubada". As paisagens deslumbrantes combinam
magistralmente com a beleza espectral de Liv Tyler, em uma composição
irresistível que ilustra com perfeição os temas essenciais do filme: a
busca pelo prazer, pelo amor e pela identidade. Narrado de forma poética
- através de trechos de escritos da protagonista, do visual arrebatador
e da relação estabelecida entre sexo e arte, com mostrado na festa da
qual os personagens participam - o filme ressente-se apenas de um rimo
pouco atraente. Ainda que seja bem mais ágil que muitos outros filmes do
diretor, "Beleza roubada" empresta das produções europeias sua
velocidade discreta em contar sua história, o que pode incomodar os
espectadores mais afoitos.
Apoiado basicamente no
trabalho de Liv Tyler - ainda inexperiente mas dotada de um carisma que
ameniza suas falhas como atriz - "Beleza roubada" consegue alcançar seu
maior objetivo (ser um filme pequeno, leve, discreto) sem maiores
esforços. Experiente na direção de seus atores, Bernardo Bertolucci
conduz a trama com mão leve, deixando que a ação transcorra sem pressa
como um verão na Toscana. Tal clima transparece em cada sequência,
mergulhando o espectador em uma história de gente normal passando por
acontecimentos normais - que se engrandecem apenas graças ao visual
estonteante imposto pela fotografia impecável. É um filme comum, capaz
de agradar a quem procura se ver retratado nas telas. Se é que a beleza de Liv pode ser considerada comum.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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