RICARDO
III (Richard III, 1995, Mayfair Entertainment International, 104min)
Direção: Richard Loncraine. Roteiro: Ian McKellen, Richard Loncraine,
peça teatral de William Shakespeare. Fotografia: Peter Biziou. Montagem:
Paul Green. Música: Trevor Jones. Figurino: Shuna Harwood. Direção de
arte/cenários: Tony Burrough. Produção executiva: Maria Apodiacos, Ellen
Dinerman Little, Ian McKellen, Joe Simon. Produção: Stephen Bayly, Lisa
Katselas Paré. Elenco: Ian McKellen, Annette Bening, Robert Downey Jr.,
Jim Broadbent, Kristin Scott Thomas, Nigel Hawthorne, John Wood, Maggie
Smith, Jim Carter, Dominic West. Estreia: 20/8/95 (Brasil)
2 indicações ao Oscar: Figurino, Direção de Arte/Cenários
De
todas as polêmicas que envolvem o dramaturgo inglês William Shakespeare
- desde sua sexualidade até a autoria verdadeira de suas obras - duas
certezas emergem soberanas sempre que um filme baseado em alguma peça
sua chega aos cinemas: a perenidade de sua percepção da alma humana e a
estrutura sempre moderna de seus textos, que permite que qualquer
adaptação mantenha o espírito do original intocado. Um perfeito exemplo
dessa afirmação é "Ricardo III", que o ator Ian McKellen levou dos
palcos para as telas em 1995. Baseado em uma montagem ousada que
alterava a data da ação para os primórdios da ascensão do nazismo
(incutindo assim uma crítica política que em nada diminui o impacto da
trama) e enxugava o texto em cerca de 50%, o filme de Richard Loncraine é
um triunfo artístico, mas peca em ditar o ritmo necessário que poderia
fazer dele uma das mais excitantes transposições do bardo para o cinema.
McKellen,
também autor do roteiro, está espetacular como o personagem-título -
reza a lenda que ele perdeu uma indicação ao Oscar 96 por apenas dois
votos - o deformado e vil irmão caçula do Rei Edward (John Wood) que, na
Europa dos anos 30, cobiça o trono da Inglaterra a ponto de urdir
intrigas e assassinatos para alcançá-lo. Frio e cruel, ele não hesita em
incluir até mesmo outro irmão, Clarence (Nigel Hawthorne), entre as
vítimas que faz rumo ao poder. Sua trajetória sangrenta, porém, encontra
firme resistência na Rainha Elizabeth (Annette Bening) - tornada
americana na adaptação de Loncraine - e no irmão dela, Lord Rivers
(Robert Downey Jr.), a quem ele considera dois arrivistas sociais.
Casado com a bela Lady Anne (Kristin Scott Thomas), viúva de uma suas
vítimas, Richard não medirá esforços em atingir seu objetivo e tornar-se
um monarca ditatorial e fascista.
Com
cuidadosa reconstituição de época - foi indicado aos Oscars de figurino
e direção de arte - "Ricardo III" é uma produção que enche os olhos,
conquistando o espectador logo de cara com uma sequência de ação
empolgante que apresenta seu protagonista já mostrando seu lado maligno -
no que muito colabora o olhar ensandecido de McKellen, um dos grandes
atores de seu tempo. Conforme a história avança, no entanto, algo parece
sair do lugar. Talvez os cortes no texto original de Shakespeare tenham
sido exagerados, pois em vários momentos fica a impressão clara de que
algo aconteceu e não foi explicado à plateia. Esse sentimento de
confusão permanece até o final, e essa confiança do cineasta no
conhecimento prévio do público da história que está sendo contada acaba
por prejudicar sua narrativa. Não fica claro, por exemplo, os motivos
que levam o protagonista a odiar tanto a Lord Rivers - exceto, lógico,
pelo fato de ele ser o cunhado do rei. Tampouco é explicado o motivo que
leva Lady Anne a aceitar desposar Ricardo, a despeito de ele ser o
assassino de seu marido.
Essas falhas no roteiro de
"Ricardo III" terminam por ser o calcanhar de Aquiles da obra, de resto
um trabalho exemplar de grandes atuações e um texto poderoso enfatizado
por um desenho de produção impecável e luxuoso. Shakespeare sabia como
ninguém burilar as ambições e desejos humanos e poucos personagens seus
são tão absurdamente apavorantes em sua sinceridade quanto o rei
Ricardo, que encontra na atuação do monstro Ian McKellen a
personificação ideal. Nem seu ritmo um tanto irregular apaga o brilho de
seu desempenho.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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