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OTHELLO

OTHELLO (Othello, 1995, Castle Rock Entertainment, 123min) Direção: Oliver Parker. Roteiro: Oliver Parker, peça teatral de William Shakepeare. Fotografia: David Johnson. Montagem: Tony Lawson. Música: Charlie Mole. Figurino: Caroline Harris. Direção de arte/cenários: Tim Harvey. Produção executiva: Jonathan Olsberg. Produção: David Barron, Luc Roeg. Elenco: Laurence Fishburne, Kenneth Branagh, Irène Jacob, Nathaniel Parker, Michael Maloney, Anna Patrick, Michael Sheen, Nicholas Farrell, Indra Ové. Estreia: 15/12/95

Os anos 90 redescobriram Shakespeare. Ao menos no cinema, a metade da década presenteou os cinéfilos com várias adaptações da obra do bardo, que iam desde versões clássicas - como aquelas comandadas por Kenneth Branagh, que deu início ao movimento com seu "Henry V" ainda em 1989 - até subversões bem-sucedidas - caso da lisérgica visão de "Romeu + Julieta" dirigida pelo australiano Baz Luhrmann e que deu o empurrão definitivo na carreira de Leonardo DiCaprio. Dentre tantas opções, porém, um dos maiores destaques foi o lançamento de "Othello", dirigido por Oliver Parker. Menos por suas inúmeras qualidades, porém, o que mais chamou a atenção da crítica e do público foi o fato de, pela primeira vez na história do cinema, o protagonista - o famoso mouro de Veneza - ter sido interpretado por um ator negro, Laurence Fishburne. Até então, nomes consagrados como Orson Welles já haviam emprestado seu talento para o papel, mas por melhores atores que fossem, nenhum deles injetou ao trágico soldado tanta verdade quanto Fishburne, que parece ter nascido para interpretá-lo.

Vindo de uma indicação ao Oscar por seu desempenho como Ike Turner em "Tina" (92), Laurence Fishburne empresta a seu Othello uma fúria visceral e uma ternura apaixonada que somente um ator de grandes recursos consegue transmitir sem parecer inverossímil ou incoerente. Sua transformação de doçura em ira homicida acontece diante dos olhos do espectador de forma orgânica, ainda que seja extremamente difícil a qualquer roteirista de cinema fazer com que todas as intrigas criadas por Shakespeare - que funcionam às mil maravilhas em um palco - soem críveis a um público tão acostumado às modernidades do cinema hollywoodiano. Por isso, não deixa de ser louvável também o trabalho de Oliver Parker - que depois adaptaria Oscar Wilde em "O marido ideal" (99), "Armadilhas do coração" (01) e "O retrato de Dorian Gray" (09) - em não deixar que o ritmo de teatro clássico afugente a plateia. Temperando a história de ciúme, inveja e violência com algumas doses de sensualidade e dirigindo seu elenco com segurança, ele consegue melhores resultados, por exemplo, que Richard Loncraine, que apesar do trabalho irretocável de Ian McKellen, deixou sua versão de "Ricardo III" um tanto confusa para a audiência do século XX.


E o roteiro de Oliver Parker não tem nada de confuso, deixando tudo o mais simples possível sem fugir do texto original. Othello (Laurence Fishburne) é um general de Veneza valorizado por seus talentos e sua seriedade profissional. Porém, quando ele promove o jovem Cássio (Nathaniel Parker, irmão do diretor) a seu braço-direito em detrimento de Iago (Kenneth Branagh), que ambicionava o cargo, ele sem querer arma sua própria derrota pessoal. Consumido pela inveja de Cássio e pelo ódio pelo chefe - que vê nele um homem de absoluta confiança - Iago dá início a uma bem urdida intriga que põe em dúvida a fidelidade da esposa de Othello, a bela Desdêmona (a francesa Irène Jacob em seu primeiro filme em língua inglesa). Torturado pela desconfiança de um caso de sua mulher - branca, nobre, de boa família e boa educação - com Cássio, o imponente Othello se deixa levar pelas mentiras de Iago, o que conduz todos a uma tragédia.

Traduzindo em belas imagens um dos textos mais poderosos de Shakespeare, Oliver Parker tem também como seu maior trunfo no trabalho espetacular de Kenneth Branagh, o irlandês que substituiu Laurence Olivier como o embaixador não-oficial das obras do dramaturgo no cinema. Às vésperas de lançar uma versão definitiva de "Hamlet" - com o texto integral e quase quatro horas de duração - Branagh está absolutamente brilhante na pele do invejoso Iago, um dos papéis mais complexos do teatro mundial. Sua experiência nos palcos permite a ele que transforme em suas as palavras do vilão, dando a cada uma delas o peso próprio, a intenção adequada e o ritmo correto. Assim como é Iago quem comanda a ação da história, é o ator quem conduz o filme, apesar das grandes atuações de Fishburne e Jacob. Toda vez que está em cena ele mostra porque o bardo ainda é tão essencial, atual e imprescindível.

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