UM
DRINK NO INFERNO (From dusk till dawn, 1996, Dimension Films, 104min)
Direção: Robert Rodriguez. Roteiro: Quentin Tarantino. Fotografia:
Guillermo Navarro. Montagem: Robert Rodriguez. Música: Graeme Revell.
Figurino: Graciela Mazón. Direção de arte/cenários: Cecilia
Montiel/Felipe Fernandez del Paso. Produção executiva: Lawrence Bender,
Robert Rodriguez, Quentin Tarantino. Produção: Gianni Nunnari, Meir
Teper. Elenco: Harvey Keitel, George Clooney, Juliette Lewis, Quentin
Tarantino, Ernest Liu, Salma Hayek, Cheech Marin, John Hawks, Danny
Trejo, Tom Savini, Kelly Preston, Michael Parks. Estreia: 19/01/96
Em
1995, o ator George Clooney estava começando a sentir o gostinho da
fama: graças ao charmoso pediatra Doug Ross, seu personagem na
telessérie "ER - Plantão médico", o sobrinho da cantora Rosemary Clooney
finalmente era reconhecido nas ruas e era festejado pelo público -
coisas que outros trabalhos em seu currículo anterior, como o trash "A volta dos tomates assassinos" (88), não havia permitido até então. Sabendo
que o próximo passo em direção ao reconhecimento artístico seria fazer a
difícil transição para o cinema, ele demonstrou um raro senso de
oportunidade durante as gravações do último episódio da primeira
temporada, "Maternidade", fazendo amizade com seu diretor. O diretor,
que havia sido incensado em seu filme de estreia, estava a caminho de
ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes com seu novo trabalho - que
também lhe daria o Oscar de roteiro original - e não demorou para que
uma nova oportunidade de parceria surgisse entre eles. O diretor era
Quentin Tarantino e quando um de seus futuros projetos ficou sem ator
principal - depois que John Travolta, Tim Roth, Steve Buscemi e
Christopher Walken o recusaram por problemas de agenda - o nome de
Clooney surgiu como uma possibilidade a ser considerada.
Deixando
de lado a ideia de dirigir seu roteiro de "Um drink no inferno" - o tal
novo projeto no qual ele acumularia os créditos de roteirista e ator -
Tarantino passou a bola para seu amigo Robert Rodriguez, outro prodígio
que a indústria hollywoodiana incorporou depois do sucesso de um filme
feito com apenas sete mil dólares ("El mariachi"). Entusiasta do cinema
trash, feito com poucos recursos e muita imaginação, Rodriguez comprou a
ideia de ter Clooney como protagonista e, com base em um roteiro que
misturava bandidos cruéis e vampiros ainda mais sanguinolentos, criou um
cult movie instantâneo, que tornou-se, guardadas as devidas proporções,
o primeiro grande sucesso do galã da televisão em sua carreira
cinematográfica - que, a partir daí, seria uma das mais sólidas e
respeitadas de Hollywood. Já Tarantino, na ocasião da estreia do filme,
já estava consagrado com o sucesso incontestável de "Pulp fiction, tempo
de violência".
Na
verdade, se olharmos com atenção, "Um drink no inferno" é uma espécie
de prévia do que Tarantino e Rodriguez fariam em 2010, com o fracassado
"Grindhouse" - uma sessão dupla de filmes baratos que naufragou nas
bilheterias americanas e foi distribuído pelo resto do mundo como
produtos isolados: é um filme que muda radicalmente de gênero, estilo de
narrativa e heróis a partir de sua segunda metade, pegando o público de
surpresa de uma tal forma que não lhe permite nem ao menos pensar a
respeito. É como se a primeira parte fosse dirigida por Tarantino -
estão ali muitas de suas características, desde longos diálogos até a
forma politicamente incorreta de tratar seus personagens - e a segunda
conduzida pelo insano Rodriguez - também facilmente reconhecível com sua
tendência ao kitsch, à violência gráfica mas claramente fictícia e a
escalação de nomes como Cheech Marin e o mestre da maquiagem Tom Savini.
O melhor de tudo, porém, é que o que poderia se tornar um samba do
criolo doido funciona que é uma beleza. "Um drink no inferno" é uma
deliciosa viagem bagaceira ao deserto americano, com direito a muitos
tiros, sangue e um humor pra lá de negro.
Mas o que
pode ser dito a respeito da trama de "Um drink no inferno" sem que
aqueles que nunca o assistiram percam o sabor de surpresa? Bem, a trama
começa apresentando os irmãos Gecko, dois assaltantes de banco pouco
afeitos a sutilezas na hora de cometer seus crimes: Seth (Clooney) ainda
é menos violento, mas Richard (Quentin Tarantino) é um psicopata
estuprador que não pensa duas vezes antes de deixar que seus instintos
assassinos aflorem. A caminho do México, onde vão entregar o produto de
seu último trabalho a um sócio, eles sequestram a família de Jacob
Fuller (Harvey Keitel), pastor que abandonou o ministério após a morte
da esposa. Prometendo libertar a ele e seus dois filhos - incluindo a
jovem Kate (Juliette Lewis), por quem Richard sente-se inevitavelmente
atraído - assim que chegarem à fronteira, Seth acaba entrando, junto com
todos, no Titty Twister, um bar de aparência decadente com shows
eróticos e frequentadores com cara de poucos amigos. E é justamente
nesse bar que uma reviravolta - no roteiro e na trajetória de todos -
transforma a viagem em uma aventura das mais bizarras.
Engraçado,
violento, exagerado e mostrando uma Salma Hayek nos limites da
sensualidade, "Um drink no inferno" é um deleite para quem busca
entretenimento e diversão atípicos. É só deixar o senso crítico de lado e
se entregar à competente bobagem orquestrada por Tarantino e Rodriguez.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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