Sempre ansiosos por filmes de terror que podem tornar-se franquias, os estúdios de Hollywood devem ter ficados salivando com o sucesso surpreendente de “Jogos mortais”: feito com pouco mais de um milhão de dólares, o filme, criado por dois jovens amigos, rendeu mais de 55 milhões somente em território americano, abrindo um caminho milionário para uma série que não parece ter intenção de acabar tão cedo. Utilizando alguns clichês do gênero e adicionando a eles um visual menos sutil e mais violento, o primeiro capítulo de “Jogos mortais” dá o pontapé inicial a uma série de pesadelos cinematográficos que fazem a festa dos fãs de filmes sanguinolentos.
“Jogos mortais” começa quando dois estranhos acordam acorrentados em um banheiro sujo e isolado. O médico Lawrence Gordon (Cary Elwes, péssimo como sempre) e o fotógrafo Adam (Leigh Whanell, o roteirista do filme) aparentemente não se conhecem e não tem a menor idéia dos motivos que os levaram até a situação onde se encontram. Tampouco conhecem a identidade do homem suicida que jaz a seu lado, com a cabeça envolta em sangue. Um gravador e duas fitas cassetes lhe contam o que está acontecendo: um psicopata conhecido como Jigsaw os sequestrou e lhes dá seis horas para cumprir suas instruções, ou seja, Gordon precisa matar Adam, ou então sua mulher e filha serão assassinadas. Enquanto tenta encontrar uma saída, o médico explica ao fotógrafo que o criminoso arma jogos violentos para matar suas vítimas, que na verdade acabam morrendo por suas próprias mãos. O próprio Gordon já foi suspeito de ser o assassino, e é perseguido por um obcecado ex-policial (Danny Glover) que tenta provar sua culpa.
Dois elementos cruciais diferenciam “Jogos mortais” dos filmes de horror comuns: primeiro, a violência explícita, que não poupa o público de presenciar mortes atrozes e graficamente realistas – o que ficaria ainda mais evidente em suas continuações – e depois, o clima claustrofóbico impresso pelo cineasta James Wan, que encontra uma parceria ideal na fotografia de David A. Armstrong, escura, úmida, sem espaço para a luz natural ou qualquer tipo de amenidade visual. Se não houvesse a divisão entre duas histórias – os dois estranhos presos a um destino cruel e o sequestro de mãe e filha investigado por um detetive incansável – provavelmente seria uma experiência ainda mais angustiante. Como está, é um filme forte, tenso e que não destrói suas boas idéias com um desnecessário final feliz, o que faz toda a diferença em uma época em que o humor dilui a tensão e a violência, deixando todos os filmes do gênero com cara de pastiches.
Um comentário:
Jogos mortais é um dos filmes mais inteligentes que eu já vi.
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