Mostrando postagens com marcador SAMANTHA MORTON. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador SAMANTHA MORTON. Mostrar todas as postagens

quinta-feira

O MENSAGEIRO


O MENSAGEIRO (The messenger, 2009, Oscilloscope Laboratories, 113min) Direção: Oren Moverman. Roteiro: Oren Moverman, Alessandro Camon. Fotografia: Bobby Bukowski. Montagem: Alex Hall. Música: Nathan Larson. Figurino: Catherine George. Direção de arte/cenários: Stephen Beatrice/Cristina Casanas. Produção executiva: Steffen Aumuller, Claus Clausen, Ben Goldhirsh, Christopher Mapp, Shaun Redick, Glenn M. Stewart, Matthew Street, David Whealy, Bryan Zuriff. Produção: Mark Gordon, Lawrence Inglee, Zach Miller. Elenco: Ben Foster, Woody Harrelson, Jena Malone, Samantha Morton, Eamonn Walker, Steve Buscemi, Brendan Sexton III. Estreia: 19/01/09 (Festival de Sundance)

2 indicações ao Oscar: Ator Coadjuvante (Woody Harrelson), Roteiro Original

Nas semanas que antecederam o Oscar 2010, a briga entre a superprodução "Avatar" e o pequeno "Guerra ao terror" pouca - ou nenhuma - atenção foi dada a outros filmes que, embora elogiados pela crítica, não chegaram a ser incensadas com um número generoso de indicações. Aqueles cinéfilos que sabem o que é bom, porém, descobriram uma pérola entre os farelos. Indicado a apenas duas estatuetas (duas indicações merecidíssimas, diga-se de passagem), "O mensageiro", do estreante Oren Moverman, é muito mais tocante e honesto do que muitos dramalhões que apelam para sentimentalismos fáceis - caso de "Um sonho possível", estrelado por Sandra Bullock e que chegou a ser indicado (pasmem!) ao Oscar de Melhor Filme. E talvez  seja justamente sua sobriedade que tenha atrapalhado seu caminho rumo a prêmios, uma vez que é um filme discreto, sem astros milionários e nem foi adotado por formadores de opinião. "O mensageiro" é o tipo de filme que tem que ser descoberto aos poucos, para conquistar os fãs de bom cinema.

 O tema de "O mensageiro" é, de certa forma, a guerra do Iraque. No entanto, ela não aparece em nenhum fotograma. Ela é, isso sim, um fantasma que assombra suas personagens, afetadas direta ou indiretamente por sua aura violenta e absurda. O protagonista do filme é o jovem Sargento Will Montgomery (em uma assombrosa atuação de Ben Foster, injustamente esquecido em cerimônias de premiação). Depois de um acidente em combate - que lhe prejudica a visão - ele recebe a missão dolorosa de, ao lado do Capitão Tony Stone (Woody Harrelson, indicado ao Oscar de coadjuvante), ser o responsável por dar as trágicas notícias de baixas na guerra aos familiares das vítimas. Sem saber como lidar friamente com todas as cenas tristes que passa a testemunhar e trocado pela namorada (Jena Malone), ele acaba se envolvendo emocionalmente com Olivia Pitterson (a sempre ótima Samantha Morton), viúva de um soldado e mãe de um filho pequeno. Enquanto luta com essa questão ética, não percebe que seu colega voltou a se entregar ao alcoolismo.


Como dito anteriormente, "O mensageiro" é um filme de guerra sem cenas de batalha. As únicas guerras mostradas na obra são aquelas travadas dentro da cabeça de seus protagonistas, que, humanamente, não sabem como acostumar-se à dor e ao desespero. A luta pela sanidade é quase inglória, que os leva ao álcool, à auto-destruição e à carência extrema. É um filme de silêncios, de dramas íntimos, construído em detalhes e grandes atuações. As cenas em que os dois protagonistas dão as tristes notícias às famílias são exemplos de sutileza e elegância. Emocionam e nunca caem no piegas.

E o elenco merece um capítulo à parte. Enquanto Woody Harrelson tenta dar um novo impulso à carreira vivendo uma personagem distante de seus adoráveis bobalhões e Samantha Morton mais uma vez mostra porque é uma atriz ainda subaproveitada, é Ben Foster que domina o filme, com um trabalho impecável. Seu olhar, seu jeito de andar, sua voz, tudo é instrumento para que ele assuma a personalidade de Will Montgomery, um jovem envelhecido pelas atrocidades de uma guerra desnecessária e cruel e que tenta encontrar uma razão para seguir a vida.

quarta-feira

POUCAS E BOAS

POUCAS E BOAS (Sweet and lowdown, 1999, Sweetland Films, 95min) Direção e roteiro: Woody Allen. Fotografia: Fei Zhao. Montagem: Alisa Lepselter. Figurino: Laura Cunningham Bauer. Direção de arte/cenários: Santo Loquasto/Jessica Lanier. Produção executiva: J.E. Beaucaire. Produção: Jean Doumanian. Elenco: Sean Penn, Samantha Morton, Uma Thurman, Anthony LaPaglia. Estreia: 04/9/99

2 indicações ao Oscar: Ator (Sean Penn), Atriz Coadjuvante (Samantha Morton)

No livro "Conversas com Woody Allen" o cineasta nova-iorquino repete inúmeras vezes que fala pouquíssimo com os atores de seus filmes durante as filmagens, acreditando que, com o talento que eles acrescentam à obra, não é preciso dirigi-los, no sentido literal da palavra. Se tudo não passa de uma série crise de modéstia, é preciso então louvar a forma com que Sean Penn - talvez o melhor ator americano de sua geração - entregou-se de corpo e alma a seu trabalho em "Poucas e boas", um projeto de estimação do diretor que, mesmo não estando entre seus trabalhos mais populares é fascinante, inteligente e emocionante como suas obras-primas mais conhecidas.

Em uma atuação impecável que equilibra com precisão a insanidade e a insegurança próprias dos gênios, Penn vive Emmet Ray, um dos mais intensos e talentosos violinistas dos anos 30 (que fica atrás apenas de Django Reinhardt, a quem idolatra a ponto de desmaiar sempre que se vê frente a ele). Excêntrico, com conexões no submundo, portador de uma certa ingenuidade disfarçada de indiferença e mulherengo, Ray tem sua vida contada em forma de semi-documentário, sendo analisado e narrado por fãs de jazz como o próprio Woody Allen. A pegadinha é que Ray nunca existiu, sendo apenas fruto da imaginação do diretor/roteirista, fã confesso de Reinhardt e que sempre sonhou em criar um filme que recriasse a era de ouro do gênero musical, com seus principais ícones como protagonistas. Levando-se em conta de que seus filmes não são exatamente máquinas de fazer dinheiro, pode-se concluir que "Poucas e boas" é a versão econômica de sua ambição. E ainda assim é muito, muito bom.


O roteiro de Allen não segue o padrão de uma cinebiografia, mostrando uma infância complicada ou problemas da adolescência e juventude de seu protagonista. Ele prefere focar-se em um período específico da vida de Ray, cujo talento imenso não o impede de ser obrigado a tocar para públicos que não sabem reconhecer o tamanho de sua arte - mas ao mesmo tempo o aproxima da alta sociedade de sua época, em especial da escritora Blanche (Uma Thurman), que vê nele a inspiração para um novo livro e acaba se casando com ele, em um romance destinado a fracassar graças ao gênio do músico - e seu narcisismo flagrante. Seduzida pelo estilo de vida aparentemente fascinante do violinista (que tem por hábito dar tiros nos ratos que vivem no lixão e ver trens passando por ele), Blanche é o oposto de Hattie (Samantha Morton), uma jovem lavadeira muda que, apaixonada por Ray, sofre com sua incapacidade de amar.

Se a forma com que Allen conduz sua narrativa imprime um ritmo ágil e mágico à época em que se passa a história (bem reconstituída visualmente, graças à direção de arte, ao figurino e à fotografia em tons neutros), muito dos méritos de sua qualidade vem de dois de seus atores centrais. Enquanto Penn usa e abusa de seus dons histriônicos, chegando a tocar violão de verdade em várias cenas e saindo-se extremamente bem tanto em sequências de humor quanto nos momentos mais comoventes (em especial no terço final da projeção), a maior revelação é a novata Samantha Morton, que rouba a cena com a silenciosa Hattie, capaz de quebrar a barreira do coração de Ray sem dizer uma única palavra, em uma ironia mestra que acrescenta uma camada a mais de profundidade ao filme. Morton - criada no interior rural da Inglaterra e que nem sabia quem era Woody Allen quando foi fazer o teste para o filme - foi indicada ao Oscar de coadjuvante por seu desempenho, que lhe abriu as portas de Hollywood para outros trabalhos igualmente poderosos.

Um filme quase atípico na carreira de Woody Allen, "Poucas e boas" merecia uma recepção mais calorosa e justa. É comovente, é engraçado, é sutil e é inteligente. Se nada disso fosse o bastante, ainda tem Sean Penn, que transforma qualquer filme em uma obra imperdível.

quinta-feira

ELIZABETH: A ERA DE OURO


ELIZABETH, A ERA DE OURO (Elizabeth: The Golden Age, 2007, Universal Pictures, 114min) Direção: Shekar Kapur. Roteiro: William Nicholson, Michael Hirst. Fotografia: Remi Adefarasin. Montagem: Jill Bilcock. Música: Craig Armstrong, A.R. Rahman. Figurino: Alexandra Byrne. Direção de arte/cenários: Guy Hendrix Dyas/Richard Roberts. Produção executiva: Liza Chasin, Debra Hayward, Michael Hirst. Produção: Tim Bevan, Jonathan Cavendish, Eric Fellner. Elenco: Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Clive Owen, Samantha Morton, Abbie Cornish. Estreia: 12/10/07

2 indicações ao Oscar: Atriz (Cate Blanchett), Figurino
Vencedor do Oscar de Figurino

Se existe uma prova de que em Hollywood um raio dificilmente cai duas vezes no mesmo lugar - ao menos quando não se trata de franquias milionárias - essa prova é "Elizabeth, a era de ouro". Dando seguimento ao eletrizante primeiro capítulo sobre a filha de Henrique VIII e Ana Bolena que o indiano Shekar Kapur dirigiu em 1998 - e que concorreu a Oscars importantes como melhor filme e atriz - essa continuação não teve a mesma sorte. Massacrada pela crítica e rechaçada pelo público, essa segunda parte não conseguiu ser salva nem mesmo pelo trabalho mais uma vez esplêndido de Cate Blanchett no papel central. Arrastado, confuso e com uma história bem menos interessante, serve, no entanto, para provar que em certas coisas não é bom mexer.

Ao contrário do primeiro filme, que equilibrava com maestria os dramas pessoais de Elizabeth - sua paixão proibida pelo homem errado, a polêmica em torno de seu nome para assumir o trono - com as intrigas palacianas que tentavam derrubá-la do poder, o segundo volume da vida da monarca esbarra em uma falta de foco quase constrangedora. Enquanto narra de forma preguiçosa as batalhas engendradas pela Espanha católica com o intuito de acabar com o reinado da herege Elizabeth - com algumas cenas de ação bem fraquinhas e de gosto estético duvidoso - o roteiro também conta mais uma história de amor equivocada da rainha, que se apaixona perdidamente pelo misterioso e pouco confiável Walter Raleigh (Clive Owen tentando arrancar leite de pedra), que, por sua vez, encanta-se com uma protegida da corte.


Quando direciona sua trama para as guerras marítimas e para a história política da Inglaterra, o filme de Kapur derrapa em cenas sonolentas e pouco ágeis - que chegam inclusive a ser confusas. Quando vira seu foco para o romance hesitante entre Elizabeth e Raleigh, porém, o filme cresce. Não por obra e graça do roteiro - que soa como uma pálida cópia do primeiro exemplar - mas devido ao talento imenso de Cate Blanchett. Repetindo o papel que quase lhe deu o Oscar (que perdeu de forma absolutamente injusta para Gwyneth Paltrow), a irlandesa demonstra que é capaz de transformar um filme que poderia ser uma comédia de erros em um produto memorável. É quando Blanchett está em cena que tudo faz sentido, que tudo se ilumina, que tudo é engolido. Novamente indicada à estatueta por seu trabalho (no mesmo ano em que concorreu como coadjuvante na pele de Bob Dylan em "Não estou lá") e novamente derrotada (dessa vez de forma justa, para Marion Cottilard em "Piaf, um hino ao amor"), ela é o corpo e a alma do filme de Kapur.

Mas, no final das contas, Cate Blanchett consegue salvar o filme da desgraça total? Sim e não. Sim, porque ela é extraordinariamente capaz. Mas não é a única qualidade do filme, afinal de contas. O Oscar de figurino foi justo, a trilha sonora ainda é impactante, a direção de arte é impecável e o elenco coadjuvante também não faz feio (e Geoffrey Rush reprisa seu papel de Sir Francis Walsingham). Se não tivesse um original tão bom com o qual ser comparado até não seria tão ruim assim. Mas é, sem dúvida, o patinho feio da família.

terça-feira

CONTROL



CONTROL (Control, 2007, 3 dogs and a Pony, 122min) Direção: Anton Corbjin. Roteiro: Matt Greenhalgh, livro "Touched from a distance", de Deborah Curtis. Fotografia: Martin Ruhe. Montagem: Andrew Hulme. Figurino: Julian Day. Direção de arte/cenários: Chris Roope/Philip Elton. Produção executiva: Iain Canning, Lizzie Franckle, Akira Ishii, Korda Marshall. Produção: Anton Corbjin, Tod Eckert, Orian Williams. Elenco: Sam Riley, Samantha Morton, Alexandra Maria Lara, Joe Anderson, Craig Parkinson. Estreia: 17/5/07 (Festival de Cannes)

O semi-documentário "A festa nunca termina", de Michael Winterbottom falava sobre a efervescente cena musical de Manchester, na Inglaterra, a partir do empresário Tony Wilson, proprietário da casa noturna Factory - que deu nome também a seu selo. Uma das histórias contadas no filme de Winterbottom era a de uma banda de rock chamada Joy Division, que teve seu final bruscamente interrompido pelo suicídio de seu líder, o melancólico e tímido Ian Curtis - e que depois renasceu como a bem-sucedida New Order. Essa contundente trama paralela clamava por um filme só seu. E não demorou para ele surgisse. Dirigido por Anton Corbjin - conhecido por videoclipes de bandas como U2, Metallica e Depeche Mode - "Control" é uma homenagem honesta, comovente e forte, que faz jus à memória de seu biografado na mesma medida em que conta uma história interessante até mesmo para quem nunca ouviu falar na banda.

Contando sua história de forma linear - o que exclui ousadias narrativas para concentrar-se nos conflitos pessoais de seu protagonista - Corbjin utiliza o roteiro, baseado no livro da viúva de Curtis, Deborah, como guia para tentar entender a alma torturada do cantor, um rapaz introvertido, que sofria de epilepsia e que não soube lidar com todas as pressões exercidas pela fama repentina, pelo casamento precoce e por um caso extraconjugal que lhe pesava na consciência. Interpretado com excelência por Sam Riley - que dá à personagem a fragilidade e a tensão necessárias - Ian Curtis surge diante da plateia com todos os seus problemas, todas as suas idiossincrasias e principalmente seu talento em criar canções que falavam sobre dor, tristeza e amor. Recriando na tela o gestual bizarro do artista, assim como sua rotina esmagadora de um trabalho que não lhe satisfazia (e que o levou à música) e o amor por David Bowie e posteriormente Sid Vicious (da banda Sex Pistols), Riley não está nunca aquém de brilhante, e encontra em Samantha Morton uma parceira à altura.


Conhecida como a vidente Agatha do sucesso "Minority report" e indicada ao Oscar em duas ocasiões - como coadjuvante por "Poucas e boas" e protagonista por "Terra de sonhos" - Morton dá nuances bastanta intensas à sua Deborah, uma jovem presa a um casamento fracassado (ainda que apaixonada pelo marido) e a uma vida sem maiores alegrias. A presença silenciosa da atriz contrasta com o ruído da música de seu companheiro, que em pouco tempo se tornaria um ícone do movimento roqueiro não só inglês, mas mundial - e que encerrou-se de forma estúpida e chocante. Quando estão juntos em cena, Morton e Sam Riley tem uma química fascinante - que contrasta com a frieza do relacionamento entre suas personagens mas serve lindamente ao filme de Corbjin.

Fotografado em espetacular preto-e-branco, "Control" é acertadamente pontuado pela música da Joy Division, que comenta a ação com propriedade e inteligência. Sem ceder à tentação de dramatizar excessivamente a história, o cineasta estreante demonstra elegância ao evitar as lágrimas fáceis e filmar uma trama perturbadora com delicadeza e respeito. Um belo e imprescindível filme para os fãs do eterno roque dos anos 70.

sexta-feira

TERRA DE SONHOS


TERRA DE SONHOS (In America, 2003, Fox Searchlight Pictures, 105min) Direção: Jim Sheridan. Roteiro: Jim Sheridan, Naomi Sheridan, Kirsten Sheridan. Fotografia: Declan Quinn. Montagem: Naomi Geraghty. Música: Gavin Friday, Maurice Seezer. Figurino: Eimer Ní Mhaoldomhnaigh. Direção de arte/cenários: Mark Geraghty/Johnny Byrne. Produção: Arthur Lappin, Jim Sheridan. Elenco: Samantha Morton, Paddy Considine, Djimon Houson, Sarah Bolger, Emma Bolger. Estreia: 26/11/03

3 indicações ao Oscar: Atriz (Samantha Morton), Ator Coadjuvante (Djimon Houson), Roteiro Original

A julgar pelos furiosos trabalhos anteriores do diretor Jim Sheridan a chegar ao grande público – em especial os premiados “Meu pé esquerdo” e “Em nome do pai” – a última coisa que se poderia esperar a seu respeito é que ele fosse realizar um filme como “Terra de sonhos”, uma ode a uma América justamente em um dos momentos mais cruciais de sua auto-estima. Inspirado em fatos reais – em tese ocorridos com a família do próprio diretor, que escreveu o roteiro juntamente com suas filhas Naomi e Kirsten – seu novo filme é uma declaração de amor à família, ao amor e aos EUA enquanto terra das oportunidades

O filme começa com a chegada de uma família irlandesa a Nova York, no início dos anos 80. O aspirante a ator Johnny (o ótimo Paddy Considine) logo arruma emprego como taxista noturno enquanto luta por um lugar ao sol. Sua mulher, Sarah (Samantha Morton, em uma atuação esplêndida, indicada ao Oscar) começa a trabalhar como garçonete e suas duas filhas, Christy e Ariel (as encantadoras irmãs na vida real Sarah e Emma Bolger) não demoram a acostumar-se com a vizinhança, repleta de travestis e traficantes de drogas, apesar de não se darem tão bem assim na escola. A vida cheia de dificuldades da família logo se transforma quando eles ficam amigos do artista plástico Matteo (uma interpretação poderosa de Djimon Hounson, também concorrente ao Oscar), um imigrante africano que sofre de AIDS. Justamente nesse momento, Sarah se descobre grávida novamente, o que pode ajudar seu marido a superar a trágica morte de seu filho pequeno, ocorrida pouco antes de sua chegada à América.



Quando ainda tinha o título de "East of Harlem", o filme de Sheridan tinha como prováveis protagonistas oa ótimos Ewan McGregor e Kate Winslet, mas não há como negar que a escalação de Considine (um ator pouco conhecido pelo grande público) e Morton (revelada por Woody Allen em "Poucas e boas" e que roubou a cena de Tom Cruise em "Minority report, a nova lei") provou-se mais do que acertada. Longe do visual glamouroso de Hollywood, os atores ganham a audiência justamente por serem normais e verossímeis, o que seria bem menos fácil com a inclusão dos conhecidos McGregor e Winslet. Na pele de Johnny e Sarah, Considine e Morton mostram-se entregues, sofridos e esperançosos na medida certa e essa qualidade intangível é que eleva "Terra de sonhos" a um patamar dramático absolutamente fascinante.
  
 Escrito com sensibilidade e exalando carinho e esperança em cada cena, “Terra de sonhos” é um filme para ser assistido com o coração aberto, uma vez que apresenta cenas de grande apelo emocional, sem que apele para cenas desnecessariamente chorosas. A encantadora química que une os atores centrais transforma o que poderia ser um filme comum em uma experiência rica e devastadora, que seduz pela simplicidade e pela poesia de um trabalho inesquecível de um homem contando uma experiência pessoal sem ranços panfletários ou discursivos. Um filme a ser descoberto!

quinta-feira

MINORITY REPORT, A NOVA LEI

MINORITY REPORT, A NOVA LEI (Minority report, 2002, 20th Century Fox/Dreamworks SKG, 145min) Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Scott Frank, Jon Cohen, conto de Philip K. Dick. Fotografia: Janusz Kaminski. Montagem: Michael Kahn. Música: John Williams. Figurino: Deborah L. Scott. Direção de arte/cenários: Alex McDowell/Anne Kuljian. Produção executiva: Gary Goldman, Ronald Shusett. Produção: Bonnie Curtis, Gerald R. Molen, Walter F. Parkes. Elenco: Tom Cruise, Colin Farrell, Max Von Sydow, Samantha Morton, Lois Smith, Tim Blake Nelson, Peter Stormare. Estreia: 17/6/02

Indicado ao Oscar de Edição de Som

É o ano de 2054, e o índice de criminalidade da cidade de Washington despencou vertiginosamente. O responsável por esse milagre é um projeto chamado "Pré-crime", que permite à força policial antecipar-se aos homicídios premeditados e evitar os crimes graças às premonições de três poderosos videntes, mantidos em constante cuidado pelo departamento de polícia. O chefe da equipe "Pré-crime" é o detetive John Anderton (Tom Cruise), um homem assombrado pelo desaparecimento do filho pequeno anos antes e que encontra no vício em drogas uma forma de escapar da depressão. Às vésperas de uma votação popular que irá consagrar definitivamente o projeto e torná-lo nacional, Anderton - um policial de extrema competência e ética - se vê envolvido em um apavorante pesadelo kafkiano: em menos de 36 horas ele será o responsável pelo assassinato de um homem cuja existência ele nem mesmo tem conhecimento. Desesperado para provar sua inocência (em um crime ainda não cometido), ele sequestra Agatha (Samantha Morton), a mais dotada das videntes e parte em busca da verdade. Atrás dele está principalmente Danny Witwer (Colin Farrell), que quer encontrar falhas no sistema.

Baseado em um conto do escritor Philip K. Dick - cuja mente fértil deu ao cinema as histórias de "Blade Runner" e "O vingador do futuro" - "Minority report, a nova lei" marca o reencontro de Steven Spielberg com a ficção científica, gênero do qual estava afastado desde seu megasucesso "ET", de 1982 - isso se "Jurassic Park" não for considerado como tal. Nos vinte anos que separam os dois filmes, a tecnologia do cinema alterou-se drasticamente - boa parte devido aos filmes do próprio cineasta - e Spielberg tornou-se um diretor respeitado, vencedor de 2 Oscar. Portanto, é lógico que exista uma diferença abissal entre a ingenuidade oitentista da clássica história da amizade entre o menino Elliot e seu extra-terrestre de estimação e a distópica visão de mundo do filme estrelado por Cruise. Realizado a um custo altíssimo - mais de cem milhões de dólares - "Minority report" é uma ficção científica noir, ao estilo de "Blade runner", mas sem espaço para a filosofia melancólica do filme de Ridley Scott.



Se dá para comparar "Minority report" com algum outro filme baseado em Dick, este é "O vingador do futuro", estrelado por Arnold Schwarzenegger em 1990, mas mesmo assim o trabalho de Spielberg ganha pontos em não se deixar contaminar pelo certo ar cafona da produção dirigida pelo holandês Paul Verhoeven. Seus efeitos especiais são mais discretos, dando espaço bem mais à história complexa (bastante modificada do conto original, diga-se de passagem) do que a mirabolantes pirotecnias visuais, que estão presentes mas em um nível muito mais sutil. A fotografia espetacular do premiado Janusz Kaminski é estourada, dando à imagem um aspecto feio e descuidado que combina à perfeição com o objetivo do cineasta de passar ao público uma sensação de angústia. E angústia é o que não falta: durante suas mais de duas horas e meia de duração, "Minority report" não dá tréguas ao espectador, levando-o como testemunha do calvário de seu protagonista em direção à verdade. O roteiro cria transplantes de olhos, aranhas que dão choque, propagandas personalizadas, caixas de cereais animadas e tudo que um escritor criativo pode imaginar, mas não se deixa nunca fugir do mais importante: a história empolgante e surpreendente.

Muito mais inteligente do que a maioria dos filmes de ação com pretensões comerciais que aportam nos cinemas americanos na temporada de verão - bem na época em que foi lançado - "Minority report" tem a seu favor também o carisma de Tom Cruise, ainda no auge de seu sucesso. Ainda que não explore como poderia as possibilidades dramáticas de sua complexa personagem, Cruise é competente o bastante para conquistar a simpatia do público, fator essencial para o êxito do filme, mesmo porque seu rival em cena é o irlandês Colin Farrel - que, em 2002 era considerado a grande promessa do início do século. É Cruise quem sustenta toda a mirabolante trama - que envolve até mesmo o veterano Max Von Sydow - e mantém a atenção da plateia suspensa até os minutos finais. O equilíbrio exato entre cenas da mais alta ação (inclusive com uma sequência que Hitchcock declarou certa vez que sonhava fazer, em uma fábrica de automóveis) com o misterioso homicídio a ser perpetrado por John Anderton é que faz com que o filme seja mais do que um simples entretenimento passageiro.

E seria injusto elogiar "Minority report" sem citar Samantha Morton. Na pele de Agatha, a talentosa vidente que desencadeia todo o drama (e cujo nome é uma homenagem à escritora Agatha Christie), a jovem atriz nem precisa falar muito para transmitir toda a vasta gama de emoções que permeia sua personalidade. Vinda de uma indicação ao Oscar de coadjuvante (pelo ótimo "Poucas e boas", de Woody Allen), Morton consegue roubar a cena e ser tão memorável quanto os inventivos efeitos visuais e a rocambolesca trama central.

JADE

  JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...