Uma pista para se descobrir o que se pode esperar da comédia dramática "Terapia do sexo" é o nome de seu diretor e corroteirista Stuart Blumberg. Indicado ao Oscar de roteiro original por "Minhas mães e meu pai" - que escreveu com a diretora do filme, Lisa Cholodenko - Blumberg parece ter com seus personagens um carinho e um respeito que torna quase impossível à plateia ser-lhes indiferente. Ao construir sua trama em torno de três viciados em sexo em estágios diferentes do problema, ele não apenas fala de um assunto ainda pouco explorado no cinema como humaniza os protagonistas, aproximando cada um deles, com seus erros e acertos, de qualquer espectador. Esse cuidado é que faz toda a diferença: seu filme de estreia pode não ser uma obra-prima, mas é agradável, despretensioso e, o que não é nada desprezível, conta com um elenco acima de qualquer suspeita.
Mark Ruffalo - que concorreu ao Oscar de coadjuvante por "Minhas mães e meu pai" - é, de certa forma, o centro da história. Ele interpreta Adam, um viciado em sexo que comemora o quinto aniversário de sobriedade mantendo absoluto controle sobre as tentações que o cercam (não assiste televisão, não tem acesso à Internet e ainda frequenta as reuniões de seu grupo de apoio). Seu padrinho é Mike (Tim Robbins), que superou os vícios em sexo e álcool mas não consegue manter uma relação saudável com o filho Danny (Patrick Fugit), que se afastou da família por causa das drogas e retorna afirmando estar limpo há oito meses. Ao contrário dos dois, porém, o jovem Neil (Josh Gad) ainda está nos primeiros passos do tratamento: médico que tem sua carreira prejudicada por seu vício, ele tem dificuldades de abandonar sua rotina de masturbação compulsiva e assédios no metrô. Seguindo esses três personagens, a trama acompanha também suas vitórias e derrotas pessoais, sem esquecer de outras personagens que lhes servem de apoio.
Sentindo-se confiante em recomeçar sua vida, Adam conhece e se apaixona por Phoebe (Gwyneth Paltrow), sobrevivente de um câncer de mama que dedica seus dias à alimentação saudável e aos treinos para um triatlo. Mike conta com a compreensão incondicional de Katie (Joely Richardson), a esposa que o perdoou pelos erros do passado e tenta lidar com sua dificuldade de expressar afeto pelo único filho. E Neil encontra em outra paciente do grupo de apoio, Dede (a cantora Pink, creditada como Alecia Moore), uma relação calcada na amizade e no companheirismo que ajuda a ambos a superar seus problemas e descobrir uma nova forma de viver com eles. Todas essas relações - familiares, amorosas, de amizade - mostram que é a ajuda dos outros que faz de cada um uma pessoa melhor. E é esse otimismo outro ponto positivo de "Terapia do sexo".
Optando por fugir da densidade psicológica de "Shame" - dirigido por Steve McQueen, estrelado por Michael Fassbender e que também tinha o vício em sexo como tema central - Stuart Blumberg tempera seu filme com pitadas de humor (em especial na relação entre Josh Gad e Pink), referências à cultura popular contemporânea e um visual claro e ensolarado que contrasta com o peso que o drama de seus personagens exige. O elenco acerta o tom proposto pelo diretor - nem um dramalhão sofrido nem uma comédia rasgada - e tira de letra todas as nuances dos protagonistas, que, como afirmado anteriormente, soam como pessoas reais, com todas as idiossincrasias a que tem direito. Não é um grande filme - nem tem pretensões quanto a isso - mas é um entretenimento honesto e bem realizado, que demonstra o talento de Blumberg em contar histórias sobre gente como a gente. Que venham as próximas!