Mostrando postagens com marcador IRMÃOS COEN. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador IRMÃOS COEN. Mostrar todas as postagens

terça-feira

ARIZONA NUNCA MAIS


ARIZONA NUNCA MAIS (Raising Arizona, 1987, 20th Century Fox/Circle Films, 94min) Direção: Joel Coen. Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen. Fotografia: Barry Sonnenfeld. Montagem: Michael R. Miller. Música: Carter Burwell. Figurino: Richard Hornug. Direção de arte/cenários: Jane Musky/Robert Kracik. Produção executiva: James Jacks. Produção: Ethan Coen. Elenco: Nicolas Cage, Holly Hunter, John Goodman, William Forsythe, Frances McDormand, Trey Wilson, Randall "Tex" Cobb. Estreia: 06/3/87

O que fazer depois que seu filme de estreia - uma produção independente barata e sem astros hollywoodianos - se torna queridinho da crítica e coloca seu nome dentre as maiores promessas do novo cinema norte-americano? Se a pergunta fosse feita a Joel e Ethan Coen, os irmãos responsáveis pela direção, roteiro e produção do desconcertante "Gosto de sangue" (1984), a resposta certamente revelaria seu desejo de realizar o oposto de seu primeiro filme. Muito mais leve, solar e otimista do que seu antecessor - mas ainda com generosas doses de um humor todo particular -, "Arizona nunca mais" pegou crítica e público de surpresa quando estreou e apresentou, sem nenhum traço de pudor, uma história de amor doce, engraçada e familiar - e que, para deixar tudo ainda mais alto-astral, com um risonho e louro bebê fazendo as vezes de catalisador da ação. Diferindo radicalmente do suspense pesado e violento que marcou sua impactante chegada ao mundo do cinema, "Arizona nunca mais" demonstrou, para quem estivesse disposto a ver e ouvir, que os irmãos Coen não tinham se beneficiado da famigerada sorte de principiante - e que tinham muito, mas muito talento e criatividade a oferecer.

Escrito em três meses e meio (depois que o projeto de "Na roda da fortuna" foi adiado indefinidamente devido a seu orçamento milionário), o roteiro de "Arizona nunca mais" surgiu, segundo os próprios diretores, da vontade de ambos em escrever um bom papel para Holly Hunter, então começando o que viria a ser uma carreira vitoriosa. Desse desejo nasceu Edwina (ou Ed), uma policial dedicada e sensível que sonha em casar e ter uma família - mesmo que seja com alguém tão disfuncional quanto Herbert McDunnough (ou H.I.), um bandido pé-de-chinelo que se apaixona por ela quando é preso pelo assalto a uma loja de conveniências. Seduzida pela atenção que lhe é dispensada por H.I. - que lhe enche de gentilezas a cada vez que é capturado pela polícia -, Ed aceita seu pedido de casamento. Sua nova vida, em um trailer no deserto do Arizona, só não é completa pela falta de um filho - um problema aparentemente insolúvel depois que Ed se descobre estéril e o casal percebe que, graças à extensa ficha criminal de H.I., adoção tampouco é uma opção. A luz no fim do túnel que reacende a esperança de felicidade dos ansiosos pais de família surge em uma notícia de jornal: e se o casal roubasse um dos recém-nascidos quintulos do milionário Nathan Arizona (Trey Wilson)? Afinal de contas, segundo o raciocínio de H.I. e Ed, o magnata e sua esposa "tem mais do que podem cuidar".


O sequestro do pequeno Nathan Jr., logicamente, não é visto com tranquilidade por Arizona, que divulga uma recompensa de 10 mil dólares a quem lhe ajudar a recuperar o filho - um desdobramento que, no entanto, não afeta a consciência do novo núcleo familiar. Encantados com a nova rotina, Ed e H.I. tentam levar uma vida normal, socializando com outros casais (Sam MacMurray e uma impagável Frances McDormand) e fugindo de seu passado - algo complicado, especialmente quando recebem a visita de dois ex-colegas de crime de H.I, os pouco sutis Gale (John Goodman) e Evelle (William Forsythe), que não demoram a descobrir a identidade do bebê e se sentem bastante tentados pela recompensa oferecida. Não bastasse tantas ameaças à felicidade familiar, o apavorante Leonard Smalls (Randal "Tex" Cobb) surge como uma bomba no caminho dos protagonistas: a bordo de sua potente moto e com uma aparência assustadora, o imenso mercenário decide que, se não conseguir convencer Arizona a lhe pagar cinco vezes mais do que a recompensa oferecida, irá recuperar o sorridente e simpático bebê e vender no mercado negro. Como se não bastasse tantos problemas, H.I. é demitido - depois de recusar uma troca de casais com o patrão - e recomeça a flertar com o crime.

Em um papel feito sob medida para seu histrionismo por vezes exagerado - e para o qual Kevin Costner foi testado três vezes -, Nicolas Cage está na medida certa. Com seu cabelo rebelde - que fica mais e mais arrepiado conforme o nível de estresse de seu personagem vai aumentando - e o eterno olhar descrente diante de tanta confusão em uma vida que sonhava fácil, o ator (que mais tarde seria conhecido tanto por seu Oscar por "Despedida em Las Vegas", de 1995, quanto por suas incursões no cinema de ação) faz o contraponto perfeito à atuação quase meiga de Holly Hunter - que, no entanto, apresenta um timing cômico impecável. Com movimentos de câmera criativos (herança dos tempos em que Joel Coen foi assistente de direção de Sam Raimi em seu clássico trash "Uma noite alucinante: a morte do demônio", de 1981) e personagens no limite do surreal, "Arizona nunca mais" parece um desenho animado em live action: suas sequências de ação brincam com o público de forma a enfatizar a falta de compromisso com a realidade. Exatamente como desejavam - fugir de qualquer comparação com "Gosto de sangue" -, os irmãos Coen fizeram de sua primeira comédia um marco e uma influência no cinema independente norte-americano. Um feito e tanto para quem ainda precisava chegar aos sets com storyboards completos como forma de economizar o orçamento tímido de apenas cinco milhões de dólares. Definitivamente talento não tem preço!

quinta-feira

A BALADA DE BUSTER SCRUGGS

A BALADA DE BUSTER SCRUGGS (The ballad of Buster Scruggs, 2018, Netflix, 133min) Direção: Ethan Coen, Joel Coen. Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen, contos "All gold canyon", de Jack London, e "The gall who got rattled", de Stewart Edward White. Fotografia: Bruno Delbonnell. Montagem: Roderick Jaynes. Música: Carter Burwell. Figurino: Mary Zophres. Direção de arte/cenários: Jess Gonchor/Nancy Haigh. Produção executiva: Jillian Longnecker. Produção: Ethan Coen, Joel Coen, Megan Ellison, Robert Graf, Sue Naegle. Elenco: Tim Blake Nelson, James Franco, Liam Neeson, Zoe Kazan, Brendan Gleeson, Harry Melling, Clancy Brown, David Krumholtz, Stephen Root, Tom Waits, Sam Dillon, Grainger Hines, Saul Rubinek. Estreia: 31/8/2018 (Festival de Veneza)

3 indicações ao Oscar: Roteiro Adaptado, Figurino, Canção Original ("When the cowboy trades his spurs for wings"

Quando foi anunciado que os irmãos Coen estavam desenvolvendo um trabalho para a Netflix, de imediato todos imaginaram uma série - especialmente quando ficou revelado que seu projeto consistia de seis pequenas histórias que tinham em comum a ambientação no Velho Oeste. A ansiedade em relação ao que dois dos cineastas mais festejados de Hollywood apresentariam teve fim no Festival de Veneza de 2018: "A balada de Buster Scruggs" é um filme digno de figurar entre os destaques da carreira da dupla e em nenhum momento parece amarrado a qualquer tipo de limitação que porventura poderia cercear sua criatividade. Mesclando histórias próprias e duas adaptações literárias, os vencedores do Oscar (roteiro por "Fargo", de 1996, e filme, direção e roteiro em 2007, por "Onde os fracos não tem vez") apresentaram a seu fiel público - e a uma extasiada crítica - uma produção caprichadíssima, que consegue equilibrar belas situações dramáticas com seu particular senso de humor. Em "A balada de Buster Scruggs", ironia e delicadeza caminham lado a lado, para deleite do espectador mais exigente.

O filme já começa de forma heterodoxa, em forma de musical: o protagonista da primeira história - e que empresta seu nome para o título da produção - chega a um vilarejo típico do velho oeste cantando e se apresentando como um dos mais procurados pela lei. Consciente de seus talentos como atirador e cantor, ele faz pouco caso do fato de estar sendo caçado e resolve descansar e beber na cantina local. Logo que chega, portanto, ele arruma confusão com um valentão do lugar, o assustador Joe (Clancy Brown) - e, em consequência, transforma o bar no palco de um quebra-quebra generalizado, até ser desafiado em duelo por outro autoconfiante atirador (Willy Watson). O segmento acaba com mais uma canção - a indicada ao Oscar "When the cowboy trades his spurs for wings" - e se destaca pelo inusitado do humor bizarro, pela agilidade e pela atuação impecável de Tim Blake Nelson, que já havia percorrido o musical e a comédia pelas mãos dos Coen no ótimo "E aí, meu irmão, cadê você?", de 2000. A segunda história tem o titulo de "Near algodones" e apresenta um jovem cowboy (James Franco) tentando assaltar a agência bancária do destemido (Stephen Root) e descobrindo, da pior forma possível, que o aparentemente frágil veterano não irá se submeter facilmente à situação. Mais uma vez é o equilibrio entre dois gêneros - faroeste e comédia - que sustenta a ágil narrativa.


O terceiro conto, "Meal ticket", conta as desventuras de um empresário irlandês (Liam Neeson) que percorre as cidades pequenas para apresentar à população o show de Horatio Edwin Harrison (Harry Melling, da série de filmes "Harry Potter", irreconhecível), que, desprovido de pernas e braços, declama uma série de textos célebres. Aos poucos, no entanto, o empresário começa a ver o público rarear - e descobre um outro (e surreal) talento para cuidar. É, sem dúvida, o conto mais tocante, sustentado pelo belo visual e pela interpretação de Melling, que consegue conquistar a plateia mesmo que não fale nenhuma palavra própria - todo o texto declamado por ele vem de outras fontes, como a Bíblia, Shakespeare e Abraham Lincoln, misturados em um monólogo memorável. O quarto segmento, "All gold canyon", é baseado em uma história de Jack London e mostra um experiente garimpeiro, interpretado por Tom Waits, buscando, incansavelmente, o ouro que o deixará rico. Seus esforços, porém, encontram um revés inesperado - e que pode destruir suas chances de entregar-se à aposentadoria. Talvez seja a mais fraca das histórias, mas ainda assim consegue surpreender.

O conto seguinte, "The gal who got rattled", é inspirado na obra de Stewart Edward White, e é a única história protagonizada por uma mulher - no caso, a inocente e tímida Alice Longabaugh (Zoe Kazan), que parte em direção ao Oregon em companhia do irmão, Gilbert (Jefferson Mays) - que lhe arrumou um casamento que também beneficia a seus negócios. O longo trajeto de sua caravana, no entanto, lhes reservas algumas surpresas - capazes de mudar completamente seu destino. Nesse episódio quem se sobressai é a atriz Zoe Kasdan: neta do lendário cineasta Elia Kazan, ela entrega uma performance acima da média, vivendo uma personagem repleta de nuances. O segmento final é o mais, digamos assim, surreal. "The mortal remains" apresenta cinco personagens em uma viagem de diligência em direção a uma cidade do Colorado. No diálogo que sustenta a trama, eles se revelam completamente diferentes um do outro - seja em vivência ou atitudes. E é preciso prestar atenção em cada palavra dita: há uma reviravolta em seus minutos finais, que o deixa ser a conclusão perfeita para o filme. Tal reviravolta é o trunfo da história, assim como seus intérpretes - que incluem os veteranos Brendan Gleeson e Saul Rubinek.

O melhor de "A balada de Buster Scruggs" é que, apesar de ser um filme construído em um formato episódico, ele jamais cai na armadilha da irregularidade. Claro que alguns segmentos chamam mais a atenção que outros - mas isso é de cada espectador. Todas as seis histórias apresentam características da filmografia de seus diretores/roteiristas/produtores e é evidente a qualidade ímpar de cada uma delas. O capricho do filme - independente se visto em uma sala de cinema ou via streaming - chamou a atenção da Academia de Hollywood, que lhe indicou em três categorias do Oscar: roteiro adaptado, figurino e canção original. O preconceito contra plataformas como a Netflix foi maior, entretanto, e essa pequena pérola da carreira de Joel e Ethan Coen acabou ficando de fora da lista de vencedores - sem falar em outras categorias em que ele poderia facilmente ter sido indicado, como direção de arte, fotografia e coadjuvantes: tudo é sensacional em "A balada de Buster Scruggs", que não fica nada a dever aos outros trabalhos da dupla. Um grande pequeno filme!

quarta-feira

UM HOMEM SÉRIO

UM HOMEM SÉRIO (A serious man, 2009, Focus Features, 106min)  Direção e roteiro: Ethan Coen, Joel Coen. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Roderick Jaynes. Música: Carter Burwell. Figurino: Mary Zophres. Direção de arte/cenários: Jess Gonchor/Nancy Haigh. Produção executiva: Tim Bevan, Eric Fellner, Robert Graf. Produção: Ethan Coen, Joel Coen. Elenco: Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed, Sari Lennick, Aaron Wolff, Jessica McManus, David Kang, Amy Landecker, Simon Helberg. Estreia: 12/9/09 (Festival de Toronto)


2 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Roteiro Original

A princípio, "Um homem sério" pode parecer o mais simples dentre os filmes dos irmãos Coen: é barato (custou cerca de míseros sete milhões de dólares), não tem grandes astros em seu elenco (ao contrário de seu antecessor, "Queime depois de ler", de 2008, e seu filme seguinte, "Bravura indômita", de 2010), e sua temática é explicitamente restrita: como nunca antes em sua brilhante filmografia, Joel e Ethan assumem sem medo sua origem judaica e mergulham seu protagonista em um pesadelo kafkiano que flerta com filosofia, religião e um humor intelectual dos mais inspirados.A aparente simplicidade do filme, porém, esconde um trabalho de inteligência acima da média - e se o público não comprou sua ideia, a crítica foi bastante generosa, e até a Academia rendeu-se à sua ousadia, lhe indicando a duas importantes categorias do Oscar: melhor filme e roteiro original. Perdeu ambas as estatuetas para "Guerra ao terror" - mas demonstrou que, de vez em quando, há espaço para a criatividade no tedioso universo dos filmes "oscarizáveis".

A trama de "Um homem sério" se passa em 1967, em um subúrbio de Minneapolis, e tem como protagonista Larry Gopnick, um professor de física judeu e ciente de suas obrigações e deveres morais e éticos. Sua vida em família é razoavelmente comum, dividida entre as brigas com a filha, Sarah (Jessica McManus), adolescente que sonha em fazer uma cirurgia plástica no nariz, a relação distante com Danny (Aaron Wolff), o filho prestes a realizar seu bar-mitzvah e que passa os dias chapado de maconha e os cuidados com o irmão, Arthur (Richard Kind), mentalmente perturbado depois de um acidente que o fez perder a memória. Sua rotina começa a virar do avesso quando sua esposa, Judith (Sari Lennick), anuncia que está apaixonada por outro homem - e pede a ele que saia de casa para que eles possam se divorciar dentro dos ritos judaicos. A partir daí, Larry entra em um turbilhão de problemas, que vão desde uma chantagem feita pelo pai de um aluno em vias de ser reprovado, cartas anônimas escritas para a diretoria de sua escola lhe difamando, conflitos com o vizinho a respeito dos limites de suas propriedades e a crise financeira oriunda da separação. Desesperado e sem alternativas óbvias, Larry passa a questionar sua fé e busca ajuda com rabinos e estudiosos - que, ele acredita, irão fazê-lo compreender a amplitude de sua situação.


Criado a partir de uma ideia isolada - Danny chapado em seu bar-mitzvah e sua conversa com um rabino logo em seguida - e desenvolvido de forma a preencher as lacunas que poderiam cercá-la, "Um homem sério" é brilhante em diversas camadas. Como comédia religiosa é um achado - especialmente junto ao público judeu, normalmente restrito aos filmes de Woody Allen, cada vez menos dedicado ao tema. Como comédia em geral, é hilariante - o protagonista, interpretado com brilhantismo por Michael Stuhlbarg, é uma vítima involuntária de um destino (Deus/acaso) nitidamente sádico e o tom surreal do mundo que o rodeia só encontra paralelos em outros filmes dos irmãos Coen - como "O grande Lebowski" (2000) ou "Arizona nunca mais" (87). Como discussão filosófica, é surpreendentemente acessível à plateia - ainda que muitas referências possam passar incólumes ao espectador médio, levanta questões interessantes (e o que é melhor, evita dar respostas). Como cinema, é genial. Desde a fotografia de Roger Deakins até a reconstituição de época (um meio-termo entre o realismo e a fantasia criativa que é marca dos cineastas), tudo funciona como um relógio, seja no panorama geral seja nos detalhes - e a opção dos Coen em buscar um elenco de atores desconhecidos apenas reafirma sua intenção de dar mais importância à trama do que a qualquer marketing milionário (uma diferença crucial em tempos onde a criatividade normalmente sucumbe a números e cifras): é impossível pensar em outro protagonista que não Stuhlbarg, por exemplo - seu Larry Gopnick é um dos melhores personagens já inventados pelos roteiristas, e seu desempenho nunca está abaixo de exemplar.

Como uma espécie de Jó - personagem bíblico testado por Deus através de uma série de desgraças financeiras e familiares -, Larry Gopnick tenta manter a sanidade mental diante de uma avassaladora sucessão de acontecimentos que se equilibram entre o bizarro e o dramático. A resiliência do protagonista frente à implosão da família, às incertezas profissionais e às dúvidas teológicas é retratada com delicadeza e inteligência - impõe um distanciamento da plateia em relação à trama, mas ao mesmo tempo a convida a um olhar de empatia e compaixão com o personagem. Da primeira sequência - que dá uma pequena mostra do que espera o público nas horas seguintes, ao contar uma história sem solução aparente - até a cena final - a ameaça da natureza frente ao drama pessoal que se desenrola até então -, tudo em "Um homem sério" funciona à perfeição. Com o tempo, será devidamente reconhecido como um dos melhores filmes dos irmãos Coen - uma referência nada desprezível diante da filmografia frequentemente genial dos realizadores. Uma pérola que poucos descobriram - mas que devem descobrir e se deleitar.

sexta-feira

AVE, CÉSAR

AVE, CÉSAR! (Hail, Caesar!, 2016, Working Title Films, 106min) Direção e roteiro: Ethan Coen, Joel Coen. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Roderick Jaynes. Música: Carter Burwell. Figurino: Mary Zophres. Direção de arte/cenários: Jess Gonchor/Nancy Haigh. Produção executiva: Robert Graf. Produção: Tim Bevan, Ethan Coen, Joel Coen, Eric Fellner. Elenco: George Clooney, Josh Brolin, Channing Tatum, Ralph Fiennes, Scarlett Johansson, Alden Ehreinreich, Tilda Swinton, Frances McDormand, Jonah Hill, Alison Pill, David Krumholtz. Estreia: 01/02/16

Indicado ao Oscar de Direção de Arte/Cenários

Não é a primeira vez que os irmãos Coen brincam com os bastidores do cinema: em 1992 eles realizaram "Barton Fink: delírios de Hollywood", onde o dramaturgo interpretado por John Turturro (melhor ator no Festival de Cannes) se via diante de um inédito bloqueio criativo justamente quando é contratado para escrever o roteiro de um filme. Em "Ave, César", porém, eles vão ainda mais longe em seu retrato do mundo de ilusões construído pela capital do entretenimento - mais especificamente aquele erguido dentro do sistema dos grandes estúdios na década de 50. Sem deixar de lado seu humor cáustico e a preferência por personagens à margem do sistema (mesmo quando inserido nele), a dupla de cineastas faz uma das mais consistentes homenagens à indústria realizadas nos últimos anos, repleta de citações a astros e gêneros de um dos períodos mais ricos de Hollywood. Injustamente esquecido pelo Oscar e demais cerimônias de premiação da temporada (concorreu a uma única estatueta, por sua impecável direção de arte), "Ave, César" pode até ser considerado por muitos críticos como uma obra menor da dupla de diretores e roteiristas, mas jamais deixa de ser uma excelente opção para quem procura diversão inteligente.

Apesar de George Clooney ser o maior astro do elenco - e parceiro frequente dos cineastas, tendo trabalhado em "E aí, meu irmão, cadê você?" (2001), "O amor custa caro" (2003) e "Queime depois de ler" (2008) - o protagonista da história é interpretado por Josh Brolin, em mais uma atuação inspiradíssima. Ele interpreta Eddie Mannix, que vive de resolver crises nos bastidores de um grande estúdio da Hollywood dos anos 50, a Capitol Pictures. A trama se passa em um único dia, em que Mannix parece sobrecarregado de problemas alheios: o maior nome do estúdio, Baird Whitlock (George Clooney) - que está no final das filmagens de um milionário épico religioso - acaba de ser sequestrado por um grupo chamado "Nós somos o futuro" (na verdade, um grupo de roteiristas comunistas frustrados com o pagamento pífio que recebem por seu trabalho); a atriz DeeAnna Moran (Scarlett Johansson) está grávida e precisa esconder a situação dos fãs e da imprensa (que também não podem saber de sua vasta coleção de ex-maridos); o jovem astros de westerns Hobie Doyle (Alden Ehrenreich) está com dificuldades em fazer a transição para filmes dramáticos, para desespero do diretor Laurence Laurentz (Ralph Fiennes); e a dupla de irmãs colunistas de fofocas Thora e Thessaly Thacker (Tilda Swinton) ameaça por a boca no trombone e publicar uma história que em nada beneficia Whitlock. Sua única forma de escapar é aceitar a proposta de investir em uma companhia aérea que lhe oferece uma tentadora opção de vida.


Sem uma trama forte o bastante para sustentar seus 106 minutos, "Ave, César" (título do filme religioso estrelado por Baird Whitlock) constrói sua narrativa através da jornada de Mannix em busca da solução para os problemas que lhe são apresentados. Costura-se, assim, de forma orgânica e ágil, uma seleção de sequências fascinantes que vão formando um rico e empolgante panorama do cinema americano dos anos 50, com suas estrelas cintilantes e suas produções gigantescas. Nitidamente apaixonados por sua arte, os irmãos Coen conduzem o espectador por cenas que remetem diretamente aos espetáculos aquáticos de Esther Williams - através da personagem de Scarlett Johansson - e aos musicais de Gene Kelly - Channing Tatum mostra todo o seu dom de dançarino em uma bela sequência que em nada fica a dever aos clássicos do período. Até mesmo o épico produzido pelo estúdio fictício tem ecos de "Ben-hur"- e é hilariante a cena em que Mannix se reune com lideranças de várias religiões tentando encontrar um denominador comum que não ofenda a ninguém. Josh Brolin brilha com uma performance ao mesmo tempo irônica e desesperada, encontrando o tom exato de um personagem típico da dupla de diretores, que cutucam desde o poder dos estúdios sobre seus contratados até a histeria comunista que tomava conta do país no período. Contando ainda com participações especiais de Frances McDormand e Jonah Hill e uma reconstituição de época primorosa, "Ave, César" é uma comédia que substitui as gargalhadas pelo sorriso, mas é difícil não considerá-la uma das melhores produções do gênero na temporada.

Repleto de uma ironia deliciosa que se mistura com naturalidade à sincera homenagem à era de ouro de Hollywood, "Ave, César" conquista os fãs de cinema justamente por oferecer-lhes uma visão tanto romântica quanto satírica de suas entranhas. Enquanto o protagonista caminha pelos desvãos da indústria, o público acompanha, fascinado, os bastidores de um mundo à parte, construído por trás das câmeras e que move milhares de pessoas, muitas vezes anônimas. Ao virar sua câmera para o lado menos glamouroso do showbizz, o filme desmascara, com bom humor e sarcasmo, as aparências de um universo milimetricamente forjado para agradar um público ainda muito conservador, que rejeitava mães solteiras e galãs homossexuais mas consumia vorazmente qualquer fofoca a seu respeito. A força irresistível de tanto poder fica clara nas cenas finais, que parecem dizer que, apesar dos pesares, a arte sempre vale a pena. Uma comédia iluminada e sofisticada, "Ave, César" é um dos trabalhos mais fascinantes dos irmãos Coen. E, de quebra, um dos mais divertidos relatos sobre os bastidores do cinema.

domingo

INSIDE LLEWYN DAVIS - BALADA DE UM HOMEM COMUM

INSIDE LLEWYN DAVIS - BALADA DE UM HOMEM COMUM (Inside Llewyn Davis, 2013, CBS Films/StudioCanal, 104min) Direção e roteiro: Ethan Coen, Joel Coen. Fotografia: Bruno Delbonnel. Montagem: Roderick Jaynes. Figurino: Mary Zophres. Direção de arte/cenários: Jess Gonchor/Susan Bode Tyson. Produção executiva: Olivier Courson, Robert Graf, Ron Halpern. Produção: Ethan Coen, Joel Coen, Scott Rudin. Elenco: Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, Ethan Phillips, Max Casella, Adam Driver, John Goodman, Garrett Hedlund, F. Murray Abraham. Estreia: 19/5/13 (Festival de Cannes)

2 indicações ao Oscar: Fotografia, Mixagem de Som

Não adianta. Entra ano e sai ano, os irmãos Coen continuam sendo uma voz única (por mais paradoxal que seja a afirmação, uma vez que eles são dois) dentro da mesmice do cinema americano. Mesmo que por vezes aceitem fazer o jogo da indústria - com filmes mais comerciais, como "O amor custa caro" e "Queime depois de ler", que ainda assim tem um quê de rebeldia disfarçada pelos elencos estelares - eles nunca abrem mão de imprimir em cada trabalho uma personalidade que os diferenciam do mainstream. Mais uma prova disso - se é que precisa de mais uma - é o melancólico "Inside Llewyn Davis, balada de um homem comum", injustamente ignorado pela mesma Academia que encheu de louvores o fraco e previsível "Clube de compras Dallas". Repleto das qualidades que fazem da filmografia dos Coen uma das mais consistentes do cinema ianque desde sua estreia com a revisita ao filme noir "Gosto de sangue" (84), a odisseia do músico folk do título, vivido com intensidade crua pelo ótimo Oscar Isaac, é uma pérola de sensibilidade, humor negro e boa música, capaz de envolver a audiência sem precisar de grandes eventos dramáticos para isso.

Llewyn Davis, o protagonista, é um cantor folk sem lar, sem lenço e sem documento que transita pelo Greenwich Village de 1961, buscando uma chance de firmar-se na carreira depois do suicídio do parceiro artístico. Seguindo o vento, ele conta com a ajuda dos amigos para sobreviver sem um endereço fixo - mesmo que em várias ocasiões surjam conflitos sérios entre eles, especialmente com Jean (Carey Mulligan, mais uma vez ameaçando roubar a cena), namorada e parceira musical do talentoso Jim (o cantor Justin Timberlake acertando mais uma vez em sua carreira cinematográfica), que lhe revela estar grávida depois de um rápido e traumático caso. Sua vida itinerante o faz questionar frequentemente sua opção em tentar a vida artística, mas seu amor pela música sempre fala mais alto, mesmo quando tudo parece lhe gritar o contrário. Solitário e melancólico, ele vaga sem destino pelas ruas de Nova York - e Chicago - acompanhado apenas por um gato do qual nem sabe o nome e de seu violão, sua arma contra a mediocridade e a agressividade de um mundo hostil à sua presença quase invisível.





Tendo sua trajetória ilustrada pela excepcional trilha sonora supervisionada por T Bone Burnett (que fez o mesmo com "Coração louco", que deu o Oscar de melhor ator a Jeff Bridges em 2010) e iluminada magistralmente pela câmera do francês Bruno Delbonnell (merecidamente indicada a uma estatueta da Academia), que transforma cada cena em uma pequena obra de arte que reflete seu estado de espírito atormentado mas sempre inquebrantável, Llewyn Davis é mais um anti-heroi criado pelos irmãos Coen, um homem que, conforme destaca o desnecessário subtítulo nacional, é comum em seus sentimentos mas brilhante em sua tenacidade artística. Seus expressivos silêncios, seu olhar triste e a força de sua música - passional e potente - falam mais do que seus diálogos, repletos de um desamparo e de uma desesperança que contrastam com sua resiliência. Exímios roteiristas, os irmãos Coen preenchem seu filme ora com ataques agressivos ao protagonista - em especial quando se trata de Jean e sua metralhadora de ofensas - ora com um senso de humor negro sutil e inteligente. Em uma jogada de mestre, eles ainda dão a seu protagonista uma revelação bombástica, que pode (ou não) mudar drasticamente seu destino e fazem a escolha certa em relação à sua decisão de encará-la.


Brilhantemente interpretado por Oscar Isaac - ator nascido na Guatemala e que já foi visto mas pouco notado em filmes como "Drive" (onde fazia o marido de Carey Mulligan) e "W/E, o romance do século" (dirigido por Madonna) - Llewyn Davis passa o filme inteiro lutando contra os obstáculos de um cotidiano opressor e preto-e-branco contando apenas com sua quase implacável confiança em seu talento quase nunca devidamente reconhecido (e é diferente na vida real?). Passando por momentos ora surreais - como a carona com um desagradável John Goodman, colaborador habitual dos cineastas - ora de um tristeza quase tangível, o filme conquista pela sofisticação de sua narrativa e pela delicadeza estonteante de seu visual. É um pequeno grande filme que merece ser reconhecido como tal - nem que seja para provar que nem só de elaborados efeitos especiais vive o cinema americano.

quarta-feira

BRAVURA INDÔMITA

BRAVURA INDÔMITA (True grit, 2010, Paramount Pictures, 110min) Direção: Joel Coen, Ethan Coen. Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen, romance de Charles Portis. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Roderick Jaynes. Música: Carter Burwell. Figurino: Mary Zophres. Direção de arte/cenários: Jess Gonchor/Nancy Haigh. Produção executiva: David Ellison, Megan Ellison, Robert Graf, Paul Schwake, Steven Spielberg. Produção: Ethan Coen, Joel Coen, Scott Rudin. Elenco: Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper, Domhnall Gleeson. Estreia: 14/12/10

10 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção (Ethan Coen, Joel Coen), Ator (Jeff Bridges), Atriz Coadjuvante (Hailee Steinfeld), Roteiro Adaptado, Fotografia, Figurino, Direção de Arte/Cenários, Edição de Som, Mixagem de Som

“Onde os fracos não tem vez”, que conquistou a Academia em 2007, já tinha os dois pés cravados em alguns dos mais fortes cânones do western, mas os irmãos Coen – que já haviam brincado com sucesso com vários gêneros caros ao cinema americano – ainda não tinham assinado um faroeste tradicional, daqueles com cavalos, tiroteios heróicos, xerifes, mocinhas valentes e crepúsculos espetaculares. “Bravura indômita”, lançado em 2010, acabou com essa falha. Baseado no romance de Charles Portis que também foi a base do filme de mesmo nome que deu o Oscar de melhor ator a John Wayne, o remake da dupla que já havia revirado os elementos do cinema noir (“Gosto de sangue” e “O homem que não estava lá”), das comédias malucas(“Arizona nunca mais”), dos filmes de gângsters (“Ajuste final”), dos musicais (“E aí, meu irmão cadê você?”) e das comédias românticas (“O amor custa caro”) é um exemplo típico do melhor que o cinemão hollywoodiano pode oferecer ao público quando se trata de narrativas clássicas. Bem escrito – com diálogos inteligentes e salpicados do humor típico dos diretores – e dirigido com extrema competência, é um filme capaz de agradar aos mais exigentes fãs do gênero e, de quebra, arrebanhar cinéfilos que nunca foram muito entusiastas de duelos ao sol.
Indicado a dez Oscar na cerimônia de 2011 dominada pela mediocridade de “O discurso do rei”, “Bravura indômita” mereceu cada uma de suas indicações. Com uma realização impecável – a mais requintada da carreira dos diretores – o filme transcende tanto o livro no qual é baseado quanto o original lançado em 1960. Dotada de uma irreverência e um sarcasmo apenas ensaiado no filme anterior, essa nova versão oferece ao espectador uma trama cujos conceitos de heroísmo, vingança e justiça são bem mais elásticos e coerentes com uma geração que certamente rejeitaria o maniqueísmo inerente aos gloriosos tempos do gênero, onde as mulheres normalmente eram relegadas a segundo plano. Só por ter como protagonista uma mulher – ou melhor dizendo, uma adolescente de 14 anos – “Bravura indômita” já mostra que tem mais a dizer do que a maioria de seus pares. Indicada inexplicavelmente ao Oscar de atriz coadjuvante – já que sua Mattie Ross é a personagem central da trama – a novata Hailee Steinfeld se mostra à altura do desafio, encarando sem medo a oportunidade de enfrentar, logo em sua estreia nas telas, nomes como Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Brolin.
Mattie Ross, a personagem de Steinfeld, é uma jovem que chega a uma pequena cidade do interior para reclamar o corpo do pai, covardemente assassinado por um empregado, Tom Chaney (Josh Brolin, assustador). Dotada de uma coragem sem igual, ela quer, na verdade, caçar o criminoso e entregá-lo à justiça. Para isso, ela chega até o lendário Rooster Cogburn (Jeff Bridges), que há muito já deixou para trás seus melhores dias como caçador de recompensas. Aceitando a proposta da menina – teimosa e pouco afeita às delicadezas femininas que ele, bêbado e acostumado com o violento universo masculino de carteados e assassinatos – de buscar Chaney, Cogburn acaba se surpreendendo quando a própria contratante resolve acompanhá-lo na missão. Depois de uma série de discussões, os dois iniciam a jornada, juntamente com o xerife LaBoeuf (Matt Damon), também com razões de sobra para querer por as mãos no fora-da-lei.

Com essa história simples em mãos, Ethan e Joel Coen apagam a má impressão que deixaram com sua experiência anterior em remakes – quando transformaram “Quinteto da morte” no sem graça “Matadores de velhinhas” – e realizam um de seus melhores filmes. Normalmente acostumados a trabalhar com material próprio, eles acabam por transformar a história de Charles Portis em um território fértil para seu jeito particular de fazer cinema, salpicando de humor e uma certa estranheza uma trama aparentemente banal. Juntamente com cenas de estonteante beleza – cortesia da fotografia excepcional de Roger Deakins, que se aproveita dos cenários naturais para construir sequências de encher os olhos – os diretores apresentam uma visão ao mesmo tempo carinhosa e irônica a um gênero constantemente em processo de mutação e redescoberta pelo público. Avessos à violência explícita, eles não hesitam em mostrar corpos em putrefação quando necessário, mas evitam utilizá-la como artifício narrativo primordial, concentrando seu foco na relação entre o trio de personagens principais – uma relação calcada em um misto de admiração, desprezo e solidariedade que somente um roteiro tão repleto de nuances é capaz de apresentar sem parecer esquizofrênico ou incoerente. E além do senso de ritmo invejável – quando a história parece querer esfriar o temido Chaney entra em cena para agitar as coisas – os irmãos Coen também dão a Jeff Bridges mais um personagem dos melhores em sua carreira.
Brigão, ranzinza e politicamente incorreto, Rooster Cogburn deu  John Wayne seu único Oscar e quase deu a Bridges sua segunda estatueta apenas um ano depois de sua primeira vitória pelo cantor country de “Coração louco”. Sem medo das comparações com a clássica interpretação de um dos atores mais fortemente vinculados ao western americano, Bridges injetou a Cogburn um senso de humor ácido que combina com exatidão com a visão quase iconoclasta dos cineastas, que respeitam os elementos do faroeste sem precisar, para isso, ater-se à visão normalmente preconceituosa com que os filmes do gênero apresentavam de mulheres, indígenas e afins. O “Bravura indômita” do século XXI não entra em discussões sexistas ou raciais, preferindo abster-se de polêmicas e apenas contar, da melhor forma possível, uma boa história. Contando com a ajuda de um grande orçamento – e a produção executiva de Steven Spielberg – os oscarizados irmãos cineastas/roteiristas juntaram uma equipe técnica impecável, um elenco acima de qualquer suspeita, uma trama já testada e aprovada por várias gerações de cinéfilos e seu talento imenso para criar um novo clássico. Mesmo tendo perdido todos os Oscar a que concorria – injustamente, diga-se de passagem – “Bravura indômita” é um filme a ser lembrado como um perfeito exemplo do cinemão que só Hollywood é capaz de fazer.

JADE

  JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...