X-MEN: PRIMEIRA CLASSE (X-Men: First Class, 2011, 20th Century Fox/Marvel Entertainment, 132min) Direção: Matthew Vaughn. Roteiro: Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Jane Goldman, Matthew Vaughn, estória de Sheldon Turner, Bryan Singer. Fotografia: John Mathieson. Montagem: Eddie Hamilton, Lee Smith. Música: Henry Jackman. Figurino: Sammy Sheldon. Direção de arte/cenários: Chris Seagers/Erin Boyd, Sonja Klaus. Produção executiva: Stan Lee, Josh McLaglen, Tarquin Pack. Produção: Gregory Goodman, Simon Kinberg, Lauren Shuller Donner, Bryan Singer. Elenco: Michael Fassbender, James McAvoy, Kevin Bacon, Jennifer Lawrence, Rose Byrne, Nicholas Hoult, January Jones, Oliver Platt, Zoe Kravitz, Jason Flemyng, Lucas Till, James Remar, Matt Craven, Ray Wise. Estreia: 25/5/11
Não é preciso ser fã de HQ para se divertir assistindo a "X-Men: Primeira Classe", que traz de volta aos cinemas a trupe de mutantes da
Marvel que devolveu qualidade e bilheteria às adaptações de comic books
à sétima arte. Desde que Bryan Singer lançou o primeiro "X-Men", em
2000, personagens como Homem-aranha, Homem-de-ferro e afins lotaram
salas de cinema e redimiram muitas transposições que anteriormente se equivocaram e quase sepultaram o que se tornaria um dos mais importantes gêneros cinematográficos do século XXI. Quando se trata de X-Men, porém, nem é necessário
gostar do estilo para curtir as duas horas do filme de Matthew Vaughn.
Basta pegar refrigerante e pipoca e se deixar ser levado por uma trama
que, a despeito de versar sobre heróis mutantes, fala também, sutilmente
(ou nem tanto, às vezes), sobre a tolerância às diferenças.
Para quem não sabe, esse primeiro filme do que promete ser uma nova série não é uma continuação da primeira
trilogia - cujo segundo capítulo é tudo aquilo que se pode esperar de um
filme de ação e um pouco mais: seguindo uma tendência cada vez maior, o
que se mostra aqui é a gênese de toda a história contada antes, ou
seja, não se pode esperar Ciclope, ou Jean Gray, ou Tempestade, ou
Wolverine (ops, será que não??). A trama dessa nova investida da Marvel
nas telas apresenta o início da relação de amizade/admiração/rivalidade
entre duas das personagens mais interessantes do universo dos
quadrinhos: Charles Xavier e Erik Lehnsherr, também conhecido como
Magneto.
Vividos pelo inglês James McAvoy e pelo alemão Michael Fassbender,
Xavier e Erik são a base de um roteiro que é valorizado pela seriedade
(ainda que nunca deixe de lado o senso de humor). A inteligência da
audiência jamais é desrespeitada, principalmente pela coragem dos
produtores em situar toda a trama na famigerada crise dos mísseis de
Cuba, momento crucial do governo Kennedy e que quase jogou o mundo em uma terceira guerra. É nesse momento, essencial
para a história mundial, que a raça dos mutantes tem sua primeira cisão:
de um lado, aqueles que acreditam em uma política de tolerância,
liderados por Xavier. De outro, o grupo que vislumbra na guerra absoluta
a solução para os problemas de discriminação e preconceito. Tem como
não gostar de um filme que trata de assuntos tão sérios de forma tão
comercial e popular?
"X-Men: Primeira Classe" começa em um campo de concentração polonês em
1944 (assim como o primeiro filme), quando Erik começa a perceber seus
poderes de manipular metais. No mesmo ano, o jovem Charles Xavier também
tem ciência de seus grandes poderes e assume a jovem Raven (também uma
mutante) como sua irmã de criação. Em 1962, os caminhos dos dois jovens
irão se cruzar na busca de Erik pela vingança contra Sebastian Shaw
(Kevin Bacon), que matou sua mãe e na tentativa da CIA (na figura de
Moira MacTaggert, vivida pela australiana Rose Byrne) em impedir a III
Guerra Mundial, que está prestes a acontecer devido ao embargo americano
ao país de Fidel Castro. Juntos, Xavier e Erik iniciam o recrutamento
de jovens mutantes.
Resumir um filme de "X-Men" não é tarefa das mais fáceis, uma vez que
sempre acontece tanta coisa - e de forma tão orgânica e natural - que é
mais fácil realmente apertar o botão de relaxar e curtir cada cena, cada
momento, cada diálogo. Sim, em toda a série - talvez com a possível
exceção do fraco "Wolverine: Origens" - há o cuidado com a relação entre as
personagens e a maneira com que os acontecimentos se conectam. E aqui, o
público é brindado com duas aparições-relâmpago muito divertidas e com
algumas cenas que explicam muito do que está por vir (ou já veio,
depende de como se vê as coisas). E é por isso que a escolha do elenco,
mais uma vez, mostrou-se extremamente acertada. James McAvoy é um dos
melhores jovens atores do momento, e Jennifer Lawrence (já então indicada ao
Oscar por "Inverno da alma" e no caminho para vencer a estatueta por "O lado bom da vida") se sai muito bem como a
adolescente Mística. Nicholas Hoult (o ator de "Um grande garoto",
irreconhecível) e Kevin Bacon também não deixam a peteca cair (Bacon,
aliás, parece se divertir muito no papel de vilão). Mas é inegável que o
maior destaque é Michael Fassbender. Na ausência de Wolverine, é ele
quem tem as melhores cenas, é por ele que o público torce mais
fervorosamente e é ele que é o responsável por empolgar a audiência (até
mesmo na esperada sequência que explica o motivo de Xavier estar preso
em uma cadeira de rodas nas continuações). E honra o papel, vivido
majestosamente por Ian McKellen nas primeiras partes.
Em suma, "X-Men: Primeira Classe" não decepciona os fãs dos primeiros
filmes - ao menos àqueles que nunca leram uma linha sequer dos
quadrinhos - e nem de longe é tão decepcionante quanto "Wolverine: Origens". É um
exemplo a ser seguido por quem preza unir qualidade e sucesso
financeiro. Vida longa aos mutantes!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
terça-feira
A DAMA DE FERRO
A DAMA DE FERRO (The Iron Lady, 2011, Pathé/Film4/UK Film Council, 100min) Direção: Phillyda Lloyd. Roteiro: Abi Morgan. Fotografia: Elliot Davis. Montagem: Justine Wright. Música: Thomas Newman. Figurino: Consolata Boyle. Direção de arte/cenários: Simon Elliott/Annie Gilhooly. Produção executiva: Françoise Ivernel, Adam Kulick, Cameron McCracken, Tessa Ross. Produção: Damian Jones. Elenco: Meryl Streep, Jim Brodabent, Olivia Collman, Richard E. Grant. Estreia: 30/12/11
Vencedor de 2 Oscar: Melhor Atriz (Meryl Streep), Maquiagem
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator/Drama (Meryl Streep)
Uma das principais características de um grande ator é a sua
possibilidade de transformar qualquer filme, por pior que ele seja, em
uma experiência menos dolorosa. Jack Nicholson faz isso como ninguém.
Kevin Spacey idem. E é exatamente isso que Meryl Streep faz com "A dama
de ferro". A cinebiografia de Margareth Thatcher, primeira-ministra
britânica que esteve no poder entre 1979 e 1990 é de uma mediocridade
tão grande que chega a fazer com que o trabalho anterior de sua
diretora, o musical "Mamma Mia" - que era divertido e solar mas só isso!
- soe como um "Cantando na chuva". No entanto, Streep é tão, tão soberana em
seu ofício que é a única coisa que impede o filme de naufragar
solenemente sem deixar sobreviventes.
Quando o filme começa Thatcher já está aposentada e apresentando alguns sinais de demência, chegando a conversar com Denis (Jim Broadbent, subaproveitado), o marido que já morreu. Enquanto se prepara para doar suas roupas, ela relembra sua trajetória política, desde a juventude - quando, filha do humilde dono de uma mercearia era humilhada pelas colegas - até a maturidade, passando por sua eleição para o Parlamento inglês e por todos os momentos mais importantes de seu mandato. O problema maior do roteiro (que utiliza de forma preguiçosa o batido recurso do flashback) é que tudo é muito confuso e superficial, não se detendo satisfatoriamente a nenhum aspecto da vida de sua protagonista. Pontos importantes da carreira de Thatcher (como sua firmeza durante a Guerra das Malvinas e seu confronto com os atentados do IRA, que tiraram a vida de seu porta-voz) passam pela tela de forma desordenada, sem dar ao público nem a oportunidade de conhecer um pouco melhor a história política do país durante essa fase tão importante nem de travar conhecimento com o ser humano por trás da persona política engendrada pela primeira-ministra. Ao tentar equilibrar esses dois pontos, Phillyda Lloyd tropeça em sua falta de experiência.
Enquanto "Mamma Mia" não precisava mais do que o carisma de seu elenco e das canções conhecidas desde sempre do grupo ABBA, "A dama de ferro" necessitava de uma mão mais firme em seu comando. Ao contrário do que Stephen Frears fez em "A rainha" - dar à sua protagonista um senso de humanidade quase desconhecido do grande público ao narrar um período específico de seu reinado - Lloyd tenta abraçar uma trajetória de vida inteira em um filme de menos de duas horas e se perde em suas pretensões. Sua Margaret Thatcher não é nem a bruxa que muitos pintam nem a idealista que seus correligionários sempre tentaram vender, mas não é questão de equilíbrio e sim de um roteiro esquizofrênico e sem foco que dá pouco espaço até mesmo para o brilho de sua atriz central. Mas mesmo assim, com todos os problemas, Streep brilha avassaladora no papel que lhe deu o esperado terceiro Oscar (felizmente o politicamente correto não foi mais forte e Viola Davis, apesar de ótima em "Histórias cruzadas", não tirou o prêmio da veterana atriz).
Ajudada por uma maquiagem competente (que deveria servir de exemplo aos profissionais de "J. Edgar"), a mais respeitada atriz americana em atividade faz o possível e o impossível para dar credibilidade ao filme, convencendo em todas as fases da personagem, com um sotaque perfeito e todas as qualidades que fazem dela o mito vivo que é. Mesmo trabalhando em cima de um material quase oco - e o artifício dramático de contar a história através de suas conversas com o fantasma do marido morto não ajuda em nada - Streep dá vida e consistência à sua personagem e salva o filme de ser absoluta e irremediavelmente esquecível. Salve Meryl!
Vencedor de 2 Oscar: Melhor Atriz (Meryl Streep), Maquiagem
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator/Drama (Meryl Streep)
Quando o filme começa Thatcher já está aposentada e apresentando alguns sinais de demência, chegando a conversar com Denis (Jim Broadbent, subaproveitado), o marido que já morreu. Enquanto se prepara para doar suas roupas, ela relembra sua trajetória política, desde a juventude - quando, filha do humilde dono de uma mercearia era humilhada pelas colegas - até a maturidade, passando por sua eleição para o Parlamento inglês e por todos os momentos mais importantes de seu mandato. O problema maior do roteiro (que utiliza de forma preguiçosa o batido recurso do flashback) é que tudo é muito confuso e superficial, não se detendo satisfatoriamente a nenhum aspecto da vida de sua protagonista. Pontos importantes da carreira de Thatcher (como sua firmeza durante a Guerra das Malvinas e seu confronto com os atentados do IRA, que tiraram a vida de seu porta-voz) passam pela tela de forma desordenada, sem dar ao público nem a oportunidade de conhecer um pouco melhor a história política do país durante essa fase tão importante nem de travar conhecimento com o ser humano por trás da persona política engendrada pela primeira-ministra. Ao tentar equilibrar esses dois pontos, Phillyda Lloyd tropeça em sua falta de experiência.
Enquanto "Mamma Mia" não precisava mais do que o carisma de seu elenco e das canções conhecidas desde sempre do grupo ABBA, "A dama de ferro" necessitava de uma mão mais firme em seu comando. Ao contrário do que Stephen Frears fez em "A rainha" - dar à sua protagonista um senso de humanidade quase desconhecido do grande público ao narrar um período específico de seu reinado - Lloyd tenta abraçar uma trajetória de vida inteira em um filme de menos de duas horas e se perde em suas pretensões. Sua Margaret Thatcher não é nem a bruxa que muitos pintam nem a idealista que seus correligionários sempre tentaram vender, mas não é questão de equilíbrio e sim de um roteiro esquizofrênico e sem foco que dá pouco espaço até mesmo para o brilho de sua atriz central. Mas mesmo assim, com todos os problemas, Streep brilha avassaladora no papel que lhe deu o esperado terceiro Oscar (felizmente o politicamente correto não foi mais forte e Viola Davis, apesar de ótima em "Histórias cruzadas", não tirou o prêmio da veterana atriz).
Ajudada por uma maquiagem competente (que deveria servir de exemplo aos profissionais de "J. Edgar"), a mais respeitada atriz americana em atividade faz o possível e o impossível para dar credibilidade ao filme, convencendo em todas as fases da personagem, com um sotaque perfeito e todas as qualidades que fazem dela o mito vivo que é. Mesmo trabalhando em cima de um material quase oco - e o artifício dramático de contar a história através de suas conversas com o fantasma do marido morto não ajuda em nada - Streep dá vida e consistência à sua personagem e salva o filme de ser absoluta e irremediavelmente esquecível. Salve Meryl!
segunda-feira
JOVENS ADULTOS
JOVENS ADULTOS (Young adult, 2011, Paramount Pictures, 98min) Direção: Jason Reitman. Roteiro: Diablo Cody. Fotografia: Eric Steelberg. Montagem: Dana E. Glauberman. Música: Rolfe Kent. Figurino: David Robinson. Direção de arte/cenários: Michael Ahern/Carrie Stewart. Produção executiva: Helen Estabrook, Nathan Kahane, John Malkovich, Steven Rales. Produção: Diablo Cody, Lianne Halfon, Mason Novick, Jason Reitman, Russell Smith. Elenco: Charlize Theron, Patrick Wilson, Patton Oswalt, Elisabeth Reaser, Mary Beth Hurt, Collette Wolff. Estreia: 09/12/11
Quando Mavis chega à sua cidade natal, Mercury, dotada de toda a prepotência de alguém que se considera superior a todo o resto da humanidade, o público ainda não sabe do que ela é capaz para atingir seus objetivos – e talvez nem mesmo ela saiba. É somente quando ela encontra um antigo colega de escola, Matt Freulach (o ótimo Patton Oswaldt) que sua personalidade real começa a aflorar diante da plateia. Vítima de um espancamento na adolescência – que deixou de ser um crime de ódio quando descobriu-se que na verdade ele não era gay como se pensava – Matt vive com a irmã, carrega sequelas pesadas da surra e é o típico nerd que coleciona bonequinhos e faz bebida artesanal na garagem. Por uma certa ironia do destino, é justamente ele quem irá se tornar o confidente e o grilo falante de Mavis quando ela começar sua cruzada romântico/kamikaze pelo amor do pacato Buddy Slade (Patrick Wilson, simpático e apático como sempre). Casado, feliz e sem ter a menor ideia dos planos nefastos de sua ex-namorada, Buddy a recebe de braços abertos – e dá início a um processo que abrirá antigas feridas há muito cicatrizadas.
Mavis Gary é uma escritora de
sucesso. Quer dizer, em termos: ela é a ghost-writer uma série de livros
adolescentes (mercado que nos EUA recebe o nome pomposo de “literatura para
jovens adultos”) que está com os dias contados. Passa os dias curando ressacas
fenomenais à base de litros homéricos de Diet Coke e programas ruins de
televisão. É arrogante, egoísta e imatura. Vive em Minneapolis mas não consegue
esquecer que saiu de uma pequena cidade do interior, onde ainda moram os pais –
com quem mal se comunica. Um dia, curtindo uma depressão rotineira e
pressionada pelos editores que cobram o último livro da série, Mavis recebe um
email de um antigo namorado, feliz e realizado com a chegada de seu primeiro
bebê. É o que basta para acordá-la do marasmo: munida da certeza de que o rapaz
é o grande amor de sua vida e que está insatisfeito com a vida medíocre que
leva, Mavis pega a estrada na companhia de seu fiel cachorrinho Dolce com o
objetivo de declarar-se a ele e juntos recomeçarem sua história de amor
interrompida anos antes.
Mavis Gary não é exatamente uma
pessoa das mais agradáveis. Mas, apesar de ser perigosamente parecida com muita
gente, é apenas uma personagem criada pela mente de Diablo Cody, a ex-stripper
que ganhou um Oscar pelo roteiro de “Juno”, em 2008. Dona de características
bem pouco afáveis e um caráter não exatamente dos melhores, Mavis só não é
francamente repulsiva porque é interpretada com veracidade e inteligência por
Charlize Theron, uma atriz tão dotada que consegue o impossível: dar-lhe alma e
uma série de nuances que, em mãos outras, jamais seriam tão exploradas.
Injustamente esquecida pela Academia por seu desempenho irretocável, Theron
carrega nas costas o filme de Jason Reitman, uma comédia amarga, melancólica
mas bastante ácida que faz um retrato pouco elogioso do american way of life sem que, para isso, precise apelar para o riso
fácil ou a caricatura. Assim como nos trabalhos anteriores de Reitman – em
especial “Obrigado por fumar” (06) e “Amor sem escalas” (09) – o humor se faz
pela ironia e pelo desenho dos personagens, tão reais que poderiam estar
sentados ao lado do espectador.
Quando Mavis chega à sua cidade natal, Mercury, dotada de toda a prepotência de alguém que se considera superior a todo o resto da humanidade, o público ainda não sabe do que ela é capaz para atingir seus objetivos – e talvez nem mesmo ela saiba. É somente quando ela encontra um antigo colega de escola, Matt Freulach (o ótimo Patton Oswaldt) que sua personalidade real começa a aflorar diante da plateia. Vítima de um espancamento na adolescência – que deixou de ser um crime de ódio quando descobriu-se que na verdade ele não era gay como se pensava – Matt vive com a irmã, carrega sequelas pesadas da surra e é o típico nerd que coleciona bonequinhos e faz bebida artesanal na garagem. Por uma certa ironia do destino, é justamente ele quem irá se tornar o confidente e o grilo falante de Mavis quando ela começar sua cruzada romântico/kamikaze pelo amor do pacato Buddy Slade (Patrick Wilson, simpático e apático como sempre). Casado, feliz e sem ter a menor ideia dos planos nefastos de sua ex-namorada, Buddy a recebe de braços abertos – e dá início a um processo que abrirá antigas feridas há muito cicatrizadas.
Apesar de fazer de Mavis uma
adorável vilã – com diálogos que de tão ácidos tornam-se muito engraçados – o
roteiro de “Jovens adultos” não a trata com condescendência. Mesmo que ela
tenha seus motivos para destilar tanta amargura (motivos que são explicados na
melhor cena do filme, quando ela toma um porre na festa de batizado do bebê de
Buddy), Cody e Reitman fogem da tentação de engendrar um final bonitinho e
redentor para sua protagonista, que tampouco aprende, em seu caminho, aquelas
lições de vida que tanto agradam aos produtores hollywoodianos. Como a vida das
pessoas de Mercury, a existência de Mavis não deixa de ser medíocre como todo
mundo pensa, e nem ela é tão famosa quanto gostaria de ser. Sua arrogância –
que desfila diante da recepção do hotel em que se hospeda, nos bares
pasteurizados onde encontra Buddy e até nas lojas de departamento onde procura
roupas “para reconquistar meu namorado” (em uma sequência impagável) – é fruto
de um profundo senso de inferioridade, que se revela frequentemente em seu
desespero em parecer importante. No fundo, Mavis é a personagem mais digna de
pena do filme – mas nem por isso menos passível de críticas. E é aí, nessa
complexidade, que reside o brilhantismo de Charlize Theron.
Linda como sempre, Theron deita e
rola como Mavis Gary. Sem medo de despertar a antipatia do público, ela entrega
uma interpretação desprovida de maneirismos, equilibrando o tom quase surreal
de seus objetivos com um naturalismo espantoso que deixa verossímil até mesmo
um inesperado encontro sexual que, de certa forma, ilumina o verdadeiro tema do
filme de Reitman: a solidão. “Jovens adultos” – um título apropriado e dotado
de um duplo sentido bastante feliz – fala sobre o medo de ficar só, sobre a
desorientação de uma geração e sobre
falso dourado da fama e da glória sem cair em pregações morais ou
sentimentalismo barato. É mordaz e realista dentro de suas limitações de gênero
cinematográfico. E mais uma prova do talento de Reitman em fazer o espectador
rir de si mesmo e de suas mazelas interiores. Um belo (e subestimado) filme.
domingo
AS CANÇÕES
AS CANÇÕES (As canções, 2011, Videofilmes Produções Artísticas, 90min) Direção: Eduardo Coutinho. Fotografia: Jacques Cheuiche. Montagem: Jordana Berg. Produção: João Moreira Salles, Maurício Andrade Ramos. Estreia: 09/12/11
Se não houvesse músicas, como as pessoas se lembrariam de partes de sua vida? Essa é a questão levantada por Queimado, um dos participantes do belo documentário "As canções", dirigido pelo experiente Eduardo Coutinho, e de certa forma é uma razão para que o filme tenha sido feito: com seu talento incomum de arrancar de seus entrevistados depoimentos emocionantes e verdadeiramente humanos, Coutinho apresenta ao público 18 histórias comoventes sobre amor, tendo como elo de ligação o fato de todas terem uma canção-tema. São pessoas desconhecidas, simples e muitas vezes sem maior instrução que dão um show de sinceridade e até bom-humor. Mais uma vez o cineasta veterano de "Cabra marcado para morrer" acerta em cheio.
A estrutura de "As canções" lembra um pouco a de "Jogo de cena", brilhante documentário que contou com Andrea Beltrão, Marília Pêra e Fernanda Torres, entre outras: o entrevistado entra em um cenário escuro, sem nada mais do que uma cadeira e conta sua história, intercalando-a com a música que a marcou. Desfilam pela tela histórias trágicas e felizes, entre maridos e esposas, entre pai e filho, entre amantes... Em todas elas existe o elemento da paixão, do arrependimento, do amor quase irracional. Em todas elas a audiência se reconhece (se não ao todo ao menos em parte). Em todas elas o ser humano (material de supremo interesse do documentarista) é o astro central, dividindo o palco com sua trilha sonora particular. Em todas elas há aquilo que faz da obra de Coutinho tão especial: seu carinho pelo ser humano.
É esse carinho que abraça as histórias registradas pela câmera do cineasta, que interfere o mínimo possível nos depoimentos escolhidos, todos regidos principalmente pela emoção. Entre os inúmeros talentos de Coutinho está aquele essencial a um bom documentarista: garimpar sentimentos genuínos, personagens cativantes e histórias universais e ao mesmo tempo muito particulares. É fascinante a forma com que os entrevistados se entregam à emoção sem hesitação, seja por saudade, por remorso, por amor puro e deslavado. Talvez o mais emblemático de todos os depoimentos seja o de dona Maria Aparecida, uma mineira que foi expulsa de casa pelos pais ao ficar grávida quando ainda era solteira: em sua narrativa surge drama, humor, romance, preconceito e uma ferrenha paixão pela vida e pela família. Assim como ela, os outros convidados desfilam diante da câmera adultérios, mortes, malandragem, amores imortais, saudade e um sentimento palpável de conformismo em relação ao fim de uma história de amor. É a vida como ela é, sob o olhar compreensivo e neutro de um dos maiores diretores de documentários que o país já teve.
Característica central da filmografia de Eduardo Coutinho, sua paixão pelas pessoas fica patente em "As canções": enquanto suas "personagens" estão em cena é difícil não se envolver, não ser tocado, não compreender cada história, por mais distante que esteja do universo do espectador. Tudo é responsabilidade da capacidade do diretor em despertar a confiança absoluta do interlocutor, que sente-se como em um terapeuta. Lágrimas são constantes nos depoimentos, mas ninguém parece se incomodar com esse devassar sentimental. Todos estão ali para dividir suas experiências. E esse jogo de compartilhamento de vida é arrebatador. Entre as músicas de Roberto Carlos, Jorge Benjor, Chico Buarque e Noel Rosa que são trilha sonora de vidas de gente como a gente, fica a certeza de que o amor não escolhe sexo, classe social ou idade para aparecer e fazer seus estragos. E é isso que faz de "As canções" um filme tão especial e caloroso. Imperdível!
Se não houvesse músicas, como as pessoas se lembrariam de partes de sua vida? Essa é a questão levantada por Queimado, um dos participantes do belo documentário "As canções", dirigido pelo experiente Eduardo Coutinho, e de certa forma é uma razão para que o filme tenha sido feito: com seu talento incomum de arrancar de seus entrevistados depoimentos emocionantes e verdadeiramente humanos, Coutinho apresenta ao público 18 histórias comoventes sobre amor, tendo como elo de ligação o fato de todas terem uma canção-tema. São pessoas desconhecidas, simples e muitas vezes sem maior instrução que dão um show de sinceridade e até bom-humor. Mais uma vez o cineasta veterano de "Cabra marcado para morrer" acerta em cheio.
A estrutura de "As canções" lembra um pouco a de "Jogo de cena", brilhante documentário que contou com Andrea Beltrão, Marília Pêra e Fernanda Torres, entre outras: o entrevistado entra em um cenário escuro, sem nada mais do que uma cadeira e conta sua história, intercalando-a com a música que a marcou. Desfilam pela tela histórias trágicas e felizes, entre maridos e esposas, entre pai e filho, entre amantes... Em todas elas existe o elemento da paixão, do arrependimento, do amor quase irracional. Em todas elas a audiência se reconhece (se não ao todo ao menos em parte). Em todas elas o ser humano (material de supremo interesse do documentarista) é o astro central, dividindo o palco com sua trilha sonora particular. Em todas elas há aquilo que faz da obra de Coutinho tão especial: seu carinho pelo ser humano.
É esse carinho que abraça as histórias registradas pela câmera do cineasta, que interfere o mínimo possível nos depoimentos escolhidos, todos regidos principalmente pela emoção. Entre os inúmeros talentos de Coutinho está aquele essencial a um bom documentarista: garimpar sentimentos genuínos, personagens cativantes e histórias universais e ao mesmo tempo muito particulares. É fascinante a forma com que os entrevistados se entregam à emoção sem hesitação, seja por saudade, por remorso, por amor puro e deslavado. Talvez o mais emblemático de todos os depoimentos seja o de dona Maria Aparecida, uma mineira que foi expulsa de casa pelos pais ao ficar grávida quando ainda era solteira: em sua narrativa surge drama, humor, romance, preconceito e uma ferrenha paixão pela vida e pela família. Assim como ela, os outros convidados desfilam diante da câmera adultérios, mortes, malandragem, amores imortais, saudade e um sentimento palpável de conformismo em relação ao fim de uma história de amor. É a vida como ela é, sob o olhar compreensivo e neutro de um dos maiores diretores de documentários que o país já teve.
Característica central da filmografia de Eduardo Coutinho, sua paixão pelas pessoas fica patente em "As canções": enquanto suas "personagens" estão em cena é difícil não se envolver, não ser tocado, não compreender cada história, por mais distante que esteja do universo do espectador. Tudo é responsabilidade da capacidade do diretor em despertar a confiança absoluta do interlocutor, que sente-se como em um terapeuta. Lágrimas são constantes nos depoimentos, mas ninguém parece se incomodar com esse devassar sentimental. Todos estão ali para dividir suas experiências. E esse jogo de compartilhamento de vida é arrebatador. Entre as músicas de Roberto Carlos, Jorge Benjor, Chico Buarque e Noel Rosa que são trilha sonora de vidas de gente como a gente, fica a certeza de que o amor não escolhe sexo, classe social ou idade para aparecer e fazer seus estragos. E é isso que faz de "As canções" um filme tão especial e caloroso. Imperdível!
sábado
CAVALO DE GUERRA
CAVALO DE GUERRA (War horse, 2011, DreamWorks SKG/Reliance Entertainment, 146min) Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Lee Hall, Richard Curtis, romance de Michael Morpurgo, peça teatral de Nick Stafford. Fotografia: Janusz Kaminski. Montagem: Michael Kahn. Música: John Williams. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Rick Carter/Lee Sandales. Produção executiva: Revel Guest, Frank Marshall. Produção: Kathleen Kennedy, Steven Spielberg. Elenco: Jeremy Irvine, Emily Watson, Peter Mullan, Niels Arestrup, David Thewlis, Tom Hiddleston, Benedict Cumberbatch, David Kross, Celine Buckens, Eddie Marsan. Estreia: 04/12/11
6 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Fotografia, Trilha Sonora Original, Direção de Arte/Cenários, Edição de Som, Mixagem de Som
6 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Fotografia, Trilha Sonora Original, Direção de Arte/Cenários, Edição de Som, Mixagem de Som
Se existe uma qualidade que não pode
ser negada ao cineasta Steven Spielberg – dentre dezenas de outras óbvias para
qualquer um que tenha acompanhado sua vasta e vitoriosa carreira dentro da
indústria hollywoodiana – é sua capacidade de utilizar a linguagem clássica do
cinema de massa (consagrada desde tempos imemoriais e frequentemente descartada
pelas novas gerações como obsoleta e cafona) para, vez ou outra, pegar todo
mundo de surpresa com um filme, que nadando contra a corrente dos efeitos
visuais milionários e protagonistas com poderes sobre-humanos, fala direto ao
coração utilizando-se apenas de uma boa história e seu talento irrepreensível
de narrador. É o que ele faz com “Cavalo de guerra”, um épico à moda antiga,
tanto em valores morais e éticos – retidão, honestidade, amor puro e ingênuo entre
homem e animal - quanto no visual arrebatador – repleto de crepúsculos
deslumbrantes e de cores vibrantes como o mais autêntico faroeste em
Technicolor. Indicado a seis Oscar (incluindo Melhor Filme) no ano em que a
Academia lançou um carinhoso olhar para o passado da sétima arte (com obras
como “O artista”, que homenageava os filmes mudos, e “A invenção de Hugo
Cabret”, que tinha o pioneiro Georges Mèlies como personagem), a adaptação do
romance de Michael Morpurgo – posteriormente transformada em peça de teatro
pelas mãos de Nick Stafford – serviu como material ideal para que Spielberg
brincasse de John Ford. Poucas vezes em sua carreira ele foi tão feliz em
transportar para as telas um sentimento de nostalgia.
Uma nostalgia lacrimosa, por certo,
quase sentimentaloide em alguns momentos (uma característica inarredável do
estilo spielberguiano de fazer cinema), mas ainda assim brilhantemente
executada e capaz de emocionar, sem muito esforço, a plateias que há muito
tempo substituíram a compaixão pela apatia. É preciso embarcar no mundo
proposto pelo cineasta sem a bagagem pesada do individualismo e do cinismo que
vem caracterizando a humanidade desde as últimas décadas do século XX. Para
melhor compreender as entranhas da narrativa do diretor – linear, simples, a um
passo do maniqueísmo que o aproxima com tanta facilidade do coração do
espectador – é imprescindível que, junto com a disponibilidade de tempo (como
todo épico o filme é bastante longo, com duas horas e meia de duração), haja a
disposição de abandonar a realidade dura e fria: em “Cavalo de guerra” o mundo
é visto através dos olhos de um contador de histórias cujo otimismo é ainda
maior que sua conta bancária e sua estante de prêmios e nem mesmo a crueldade
inerente ao tema à primeira vista sangrento é capaz de fazer frente à poesia
impressa em cada fragmento de celuloide.
“Cavalo de guerra” começa em Devon,
uma pequena cidade rural da Inglaterra, onde vive a família Narracot, que
mantém, a muito custo, uma pequena propriedade agrária sempre em vias de passar
às mãos de seu impiedoso senhorio (David Thewliss). É nesse cenário – bucólico,
de vastas pradarias fotografadas com um colorido quase irreal pelo brilhante
Janusz Kaminski – que nasce o protagonista do filme, o potro puro-sangue Joey,
que, a despeito de suas patentes dificuldades de ser utilizado como animal de
fazenda, torna-se a obsessão do filho único do fazendeiro, o jovem Albert
(Jeremy Irvine), que faz dele seu melhor amigo. Sem a pressa habitual do cinema
comercial americano, Spielberg leva quarenta minutos para estabelecer a relação
de lealdade e paixão entre Albie e Joey, que sofre um abalo inesperado com a
entrada da Inglaterra na I Guerra Mundial. Impossibilitado pela pouca idade de
juntar-se às tropas do país, a Albert não resta alternativa senão deixar que
seu companheiro seja incorporado ao Exército – com a promessa do compreensivo
Comandante (Tom Hiddleston) de que será tratado com todo o respeito possível.
Acaba, então, o primeiro ato do
filme, e junto com ele, desaparece da narrativa os tons róseos e leves de seu
começo – em que Spielberg encontra espaço até mesmo para uma breve sequência de
humor desnecessária mas fiel a seu estilo “família”. A guerra surge em cena,
mas, coerente, o cineasta não faz dela um espetáculo de vísceras, suor e
lágrimas, como em seu fabuloso “O resgate do soldado Ryan”. Mais sugerindo do
que mostrando, a câmera de Spielberg conduz o espectador pelo conflito sem
exigir dele o mergulho incondicional e quase desagradável de seu filme de
guerra mais famoso. A primeira batalha de Joey não tem um resultado dos mais
felizes, mas o público fica ciente disso sem que seja preciso sair respingado
de sangue. E é partir daí que entra em cena outro personagem crucial na
trajetória do herói equino: o jovem soldado alemão Gunter Schroeder (David
Kross, o jovem amante de Kate Winslet em “O leitor”), que, para proteger o
irmão caçula conforme prometido ao pai, deserta da guerra apenas para encontrar
um final trágico e deixar Joey no caminho da frágil Emilie Bonnart (Celine
Buckens), uma órfã que vê no belo animal uma forma de felicidade que ela
desconhece desde sempre.
A entrada de Joey na vida de Emilie
acontece em uma sequência de puro lirismo e inventividade: é através dos olhos
do cavalo que primeiro a plateia tem contato com a menina, que vive em uma
pequena fazenda com o avô (Niels Arestrup), que vive do comércio de geleias.
Portadora de uma doença que a impede de viver uma infância comum, Emilie se
apega a Joey com a paixão de que somente as crianças são capazes, mas mais uma
vez a face negra da guerra não permite o final feliz. O cavalo é reivindicado
pelo exército alemão e novamente o público é conduzido ao campo de batalha –
onde Joey, dotado de um heroísmo que falta a muitos humanos à sua volta, se
mostrará indispensável. E, ao mesmo tempo em que a plateia se encanta com as
belas sequências em que Joey consegue fugir da morte certa e torna-se objeto de
disputa entre um soldado inglês e um alemão – que deixam de lado a inimizade
bélica para soltá-lo do arame farpado onde prendeu-se em sua fuga – seu
verdadeiro dono está mais perto dele do que ambos poderiam esperar: já mais
velho, Albie está no front, e tem ainda viva a esperança de encontrar seu mais
querido amigo.
Tudo é grandiloquente e poderoso em
“Cavalo de guerra”: a fotografia de Kaminski se intercala entre um colorido de
ferir os olhos e que homenageia os crepúsculos de filmes como “...E o vento
levou” e um tom sóbrio e cinzento que retrata as batalhas com o teor apropriado
de dor e pessimismo. A trilha sonora de John Williams igualmente brinca entre o
grandioso e o minimalista (com uma preferência óbvia para o gigantesco). Ambos
foram indicados para o Oscar. Steven Spielberg sabe cercar-se de gente que
entende sua visão de cinema como escapismo – da mesma forma que também o
acompanham quando ele fala com mais seriedade e angústia. Em “Cavalo de guerra”
ele atinge o ápice de seu estilo sentimental/familiar/heroico. Os detratores
podem encontrar nele inúmeras razões para críticas a respeito de seu estilo
adocicado – que nem mesmo em “A lista de Schindler”, com toda a sua crueza,
ficou de fora. Da mesma forma, os entusiastas não terão dificuldades em ver em
sua obra tudo aquilo que fez de Hollywood a fábrica de sonhos que tanto
ofereceu ao cinema mundial. É um tanto piegas? Sim, sem dúvida. É talvez
ingênuo demais? Certamente. Mas é, também, um filme tecnicamente impecável, que
carrega a nobreza de sentimentos em cada cena. De vez em quando todo mundo
precisa de uma boa dose de poesia e sensibilidade.
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