2 indicações ao Oscar: Fotografia, Direção de arte/cenários
Depois do empolgante - e merecidíssimo - sucesso financeiro e de crítica de "O fabuloso destino de Amélie Poulain", o time reuniu-se novamente: o diretor Jean-Pierre Jeunet, o roteirista Guillaume Laurant, a estrela Audrey Tautou e a equipe técnica da inesquecível comédia romântica realizada em 2001 são os responsáveis por "Eterno amor", em que o visual acachapante, o roteiro repleto de camadas e o senso de humor sutil mas eficaz voltam a marcar presença. No entanto, dessa vez o público não abraçou com tanto entusiasmo essa nova empreitada do grupo. Injustamente, sem dúvida, mas plenamente compreensível: se em "Amelie" o clima era de constante alto-astral e bom humor, com um final feliz apontando em cada minuto de celulóide, a adaptação do livro de Sebastien Japrisot aposta em uma melancolia e uma tristeza palpáveis, misturadas com uma violência que, ainda que belissimamente fotografada, ainda é violência. E a plateia, que delirou com as aventuras românticas de Amelie Poulain não se encantou tanto assim com a nova personagem de Tautou, a esperançosa Mathilde.
"Eterno amor" começa depois da I Guerra Mundial. Há anos separada do seu grande amor - o jovem Manech (Gaspard Ulliel, que depois faria o protagonista de "Hannibal"), dado como morto em uma batalha - a romântica Mathilde não deixa de ter esperanças de que ele na verdade ainda está vivo. Utilizando todo o dinheiro que possui graças à herança deixada por seus pais, ela contrata detetives, põe a própria mão na massa e vai à luta em sua busca quase obsessiva. Devido a suas investigações, ela toma contato com diversas histórias quase insanas do conflito mundial, que envolvem desde prostitutas vingativas (a excelente Marion Cottilard antes da fama) até militares egoístas e um trágico triângulo amoroso (cujo vértice é uma surpreendente Jodie Foster falando um fluente francês).
Ficar indiferente a "Eterno amor" é missão quase impossível. A espetacular fotografia de Bruno Delbonnell faz de cada quadro uma obra de arte de tirar o fôlego e a reconstituição de época é um trabalho impecável. O roteiro, que utiliza elementos quase idênticos aos de "Amelie" - a saber: a visualização de todos os detalhes citados pelos diálogos - nunca deixa de ser extremamente interessante, ainda que por vezes chegue a ser confuso, devido ao número quase excessivo de personagens importantes à narrativa. Aliás, são esses coadjuvantes que acabam roubando a cena: em seu caminho em direção à verdade sobre o destino de Manech, Mathilde cruza com pessoas bem mais interessantes do que ela, que vivem histórias mais comoventes, irônicas ou trágicas. Essa importância dada às personagens secundárias - vividas por um elenco extraordinário com seus rostos expressivos - empalidece a protagonista, que não tem o mesmo carisma de Amélie, ainda que tenha motivações bem mais nobres.
O fato é que "Eterno amor" é um filme que cresce a cada revisão, tamanho é o número de informações impressas pelo diretor Jean-Pierre Jeunet em cada cena. Capaz de emocionar e encantar um público mais adulto e sofisticado do que seu antecessor, o novo trabalho da equipe de "Amelie" mantém o mesmo nível de qualidade, acrescentando-lhe profundidade e uma bem-vinda dose de beleza e tristeza.