quarta-feira

MAMMA MIA! LÁ VAMOS NÓS DE NOVO


MAMMA MIA! LÁ VAMOS NÓS DE NOVO (Mamma Mia: Here we go again, 2018, Universal Pictures, 114min) Direção: Ol Parker. Roteiro: Ol Parker, estória de Richard Curtis, Ol Parker, Catherine Johnson, personagens de Catherine Johnson. Fotografia: Robert D. Yeoman. Montagem: Peter Lambert. Música: Benny Andersson, Anne Dudley, Bjorn Ulvaeus. Figurino: Michele Clapton. Direção de arte/cenários: Alan MacDonald/Anita Dujic. Produção executiva: Benny Andersson, Nicky Kentish Barnes, Richard Curtis, Tom Hanks, Phyllida Lloyd, Bjorn Ulvaeus, Rita Wilson. Produção: Claudia Balboa, Judy Craymer, Raphael Benoliel, Gary Goetzman, Anna Sofia Morck. Elenco: Amanda Seyfried, Pierce Brosnan, Lilly James, Stellan Skarsgaard, Colin Firth, Dominic Cooper, Meryl Streep, Julie Walters, Christine Baranski, Andy Garcia, Cher, Jeremy Irvine, Alexa Davies, Jessica Keenan Wynn, Hugh Skinner, Josh Dylan, Celia Imrie. Estreia: 20/7/2018

Quando surgiu a ideia - aparentemente estapafúrdia - de uma continuação do musical "Mamma Mia!",  pouca gente levava fé no projeto. Não apenas porque todo mundo sabia que seria quase impossível repetir o impressionante êxito do primeiro filme - que arrecadou assombrosos 700 milhões de dólares em sua carreira nos cinemas -, mas porque havia a dificuldade extra de encontrar-se um roteiro coerente com o desfecho do original e, mais ainda, de encaixar nele canções do ABBA não utilizadas no primeiro capítulo. Porém, nenhum desafio é grande o bastante para um estúdio em busca de um sucesso de bilheteria, e poucos repertórios são tão fortes quanto o do grupo sueco - em que até mesmo as músicas menos conhecidas são capazes de empolgar. Com isso, "Mamma Mia: lá vamos nós de novo" não chegou a surpreender quando, dez anos depois da estreia do primeiro filme, encerrou sua carreira nas salas de exibição com uma respeitável renda de 365 milhões - nada mal para uma produção sem efeitos visuais dispendiosos, super-heróis devidamente testados e aprovados e uma campanha de marketing maciça. Mesmo com a ousadia de abdicar da presença marcante de Meryl Streep - aqui apenas em uma rápida participação especial -, o filme do britânico Ol Parker é divertido o bastante para não fazer feio diante da memória afetiva das plateias. 

De certa forma aprisionados pelo final redondinho do primeiro filme - cujo desfecho não abria espaço para novos desdobramentos -, os roteiristas de "Mamma Mia: lá vamos nós de novo" (dentre os quais está o experiente Richard Curtis) encontraram uma solução interessante ao intercalar presente e passado: Sophie (Amanda Seyfried) está passando por dias conturbados, já que a reinauguração do hotel de sua mãe, Donna (Meryl Streep), morta há um ano, está ameaçado por questões naturais (uma tempestade que pode atrapalhar as festividades) e por situações mais prosaicas, como uma possível crise em seu relacionamento com Sky (Dominic Cooper) e a ausência de dois de seus pais afetivos, envolvidos em projetos profissionais. Enquanto lida com tais atribulações, nunca deixa de lembrar da encorajadora história de Donna, que em 1979 (e vivida por Lilly James), saiu de sua zona de conforto para realizar seu sonho de viajar pelo mundo - e de quebra, viveu uma surpreendente história de amor/desejo/paixão/liberdade com o romântico Harry (Hugh Skinner), o sexy Bill (Josh Dylan) e o misterioso Sam (Jeremy Irvine). Contando com a ajuda de Rosie (Julie Walters) e Tanya (Christine Baranski) - fiéis escudeiras de sua mãe - e com o apoio do novo gerente do hotel, o charmoso Fernando Cienfuegos (Andy Garcia), Sophie descobre que o legado de Donna é maior do que simplesmente a bela propriedade na Grécia... e até mesmo sua excêntrica avó reaparece, para sua surpresa.

 

Com uma direção mais ágil e segura do que a do primeiro filme - e apresentando coreografias mais elaboradas que tornam as canções ainda mais energéticas - "Mamma Mia: lá vamos nós de novo" faz uso inteligente de flashbacks, que disfarçam o fiapo de história e a falta de conflitos relevantes. Cientes de que o mais importante do projeto eram as músicas e as personagens amadas pelo público, os roteiristas se dedicaram a criar uma nova trama de acordo com a trilha sonora - e acertaram em cheio ao dar prioridade à juventude de Donna em detrimento aos pouco interessantes problemas sentimentais e profissionais de Sophie: mesmo que Amanda Seyfried seja talentosa o suficiente para sustentar uma produção (como já fez em outras ocasiões), sua personagem quase desaparece diante da energia de Lilly James - mesmo que elas não dividam nenhuma cena, por razões óbvias. Centro do filme, James tira de letra o desafio de dividir um papel com Meryl Streep - e sua química com o elenco jovem aponta o talento do diretor Ol Parker, em sua primeira grande produção, depois dos pouco ambiciosos "Imagine eu e você" (2005) e "Agora e para sempre" (2012): sem o objetivo de aprofundar um estilo ou aparecer mais do que a história que deseja contar, Parker oferece ao público duas horas de diversão escapista, leve e alto-astral, que em nada mancha o legado do filme original - cujos maiores atrativos eram, a rigor, a trilha sonora e a presença ensolarada e rara (em um musical) de Streep. Se há algo a reclamar é apenas o pouco tempo em cena dos veteranos do "Mamma Mia!" original - em especial as excelentes Julie Walters e Christine Baranski. Mas, em compensação, há a surpresa da presença da sempre luminosa Cher, aqui no papel da apoteótica (como não poderia deixar de ser) Ruby, a bissexta avó de Sophie.

"Mamma Mia: lá vamos nós de novo" cumpre o que promete. É divertido, é despretensioso e é, acima de tudo, uma ode à alegria, ao amor e à amizade. Não tem o frescor do primeiro filme - e nem o carisma de Meryl Streeep a não ser em poucos minutos, no final -, mas não deixa a peteca cair em termos de energia e honestidade. Para o seu público-alvo é uma festa: dançante, contagiante e sem contra-indicações. Não é uma obra-prima e nem mudou a história do cinema, mas é um filme conforto dos mais agradáveis - exceto para quem busca produções cabeça ou repletas de testosterona pura e simples.

 

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