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sábado
SCARFACE
SCARFACE (Scarface, 1983, Universal Pictures, 170min) Direção: Brian DePalma. Roteiro: Oliver Stone. Fotografia: John A. Alonzo. Montagem: Jerry Greenberg, David Ray. Música: Giorgio Moroder. Figurino: Patricia Norris. Direção de arte/cenários: Ed Richardson/Bruce Weintraub. Casting: Alixe Gordin. Produção executiva: Louis A. Stroller. Produção: Martin Bregman. Elenco: Al Pacino, Michelle Pfeiffer, Steven Bauer, Mary Elizabeth Mastrantonio, Robert Loggia, F. Murray Abraham. Estreia: 01/12/83
Em 1932, nos primórdios do cinema como o conhecemos hoje, Howard Hawks dirigiu o violento “Scarface, a vergonha de uma nação”, estrelado por Paul Muni. Na versão original, o protagonista tornava-se milionário durante a Lei Seca vigente na Chicago dos anos 20. Sinal dos tempos, a nova versão, dirigida por Brian de Palma e sua câmera nervosa, se passa na Miami dos anos 80 e faz uma radiografia tensa e sanguinolenta de um anti-herói que sobe na vida graças ao tráfico de cocaína. Se perde em charme, que Hawks imprimia em cada trabalho, ganha em realismo e ultraviolência.
Al Pacino, ainda que com muitos dos trejeitos de seu Michael Corleone, de “O Poderoso chefão”, brilha soberano como Tony Montana, um cubano que chega à Miami fugindo do regime totalitário de Fidel Castro. Insatisfeito com a vida quase marginal que vive, ele une-se a seu conterrâneo Manolo (o ótimo Steven Bauer) em um ambicioso negócio de tráfico de drogas que, mesmo dando errado – em uma sequência especialmente angustiante – o apresenta ao poderoso Frank (Robert Loggia), que logo o toma como homem de confiança. Apaixonado pela mulher de Frank, a bela e viciada Elvira (Michelle Pfeiffer, com pouca coisa a fazer a não ser desfilar sua figura esbelta pelas mansões do cenário), não demora muito para que Montana resolva pegar o negócio e o casamento de Frank. Enquanto enriquece vertiginosamente, vai perdendo a confiança em todos a seu redor, inclusive seu amigo Manolo, que, pra piorar ainda mais as coisas, se envolve com a única irmã de Tony, a jovem Gina (Mary Elizabeth Mastrantonio). Sua paranóia crescente e a violência que o cerca o acaba encurralando e o levando a um final trágico.
Não há como negar que Brian de Palma teve coragem em contar a história de Tony Montana sem rodeios nem firulas. O protagonista não é simpático nem tampouco coitadinho. Pacino se entrega furiosamente ao papel, especialmente nas seqüências finais, quando sua paranóia o leva ao isolamento em sua fortaleza, tal qual um personagem shakespereano. Nem o cenário propositalmente cafona consegue, no entanto, disfarçar a competência do diretor em realizar tomadas insuspeitas e criativas, principalmente nas cenas mais violentas e dramáticas. A trilha sonora de Giorgio Moroder, adequada mas quase irritante também cumpre seu papel, localizando o espectador nos aspectos mais regionais e temporais da trama. A edição alucinante - que acompanha a entrega de Montana ao vício - consegue ser impactante sem chamar atenção demasiada a si, o que sempre é sinal de competência. E o roteiro de Oliver Stone - que o escreveu lutando contra uma dependência de cocaína - não brinca em serviço, entregando à audiência um dos mais trágicos retratos do gangsterismo do cinema - e que quase levou um selo "X" à época de seu lançamento.
É notável, também, a coragem dos realizadores em quase explicitar o clima incestuoso entre Montana e Gina. O ciúme exagerado do protagonista em relação à irmã é bastante óbvia aqui, ao contrário do filme original - afinal, ele foi realizado em 1932!!!! E, como prova do talento de Stone como roteirista e polemista, ele aproveita para fazer severas críticas ao regime cubano, mesmo que estas passem batidas para quem se concentra única e exclusivamente à trama central, por si só já forte o bastante para manter a atenção durante suas longas três horas de duração.
Aliás, pode-se dizer que a duração excessiva é o pecado maior de "Scarface", um dos melhores "filmes de gângster" já realizados em Hollywood. Em nenhum momento essa nova versão mancha o nome da original, cujo diretor é devidamente homenageado com uma dedicatória no final. Vinte minutos a menos não trariam prejuízo à história e ajudaria no ritmo, mas mesmo assim é um filme obrigatório, mesmo porque Al Pacino e seu imenso talento sempre valem uma espiada.
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