LISBELA E O PRISIONEIRO (Brasil, 2003, Globo Filmes,106min) Direção: Guel Arraes. Roteiro: Guel Arraes, Pedro Cardoso, Jorge Furtado, peça teatral de Osman Lins. Fotografia: Uli Burtin. Montagem: Paulo Henrique Farias. Música: João Falcão, André Moraes. Figurino: Emilia Duncan. Direção de arte: Claudio Amaral Peixoto. Produção executiva: Tereza Gonzalez, Mauro Lima, Ivan Teixeira. Produção: Paula Lavigne. Elenco: Selton Mello, Débora Falabella, Marco Nanini, Virginia Cavendish, Bruno Garcia, Tadeu Mello, André Mattos, Lívia Falcão. Estreia: 22/8/03
Empolgado com a gigantesca receptividade de seu “O auto da Compadecida” – que nasceu como minissérie de TV e foi parar nas telas de cinema com igual sucesso – o diretor Guel Arraes não quis se arriscar em seu trabalho seguinte. Utilizando-se dos mesmos elementos que consagraram “Compadecida”, a comédia romântica “Lisbela e o prisioneiro” atinge um grau bastante louvável de acertos, ainda que seu diretor não tenha conseguido livrar-se totalmente dos tiques que traem sua inconfundível origem televisiva.
Baseado em uma peça de teatro escrita por Osman Lins – e que Arraes já havia adaptado para a TV na década de 90 em formato de especial – “Lisbela e o prisioneiro” conta a divertida história de amor entre Leléu (o sempre ótimo Selton Mello) e Lisbela (a bela e delicada Débora Falabella) no Nordeste brasileiro. Ele é um mascate que freqüenta cidades do interior enganando moradores e seduzindo esposas alheias. Ela é a filha única de um delegado viúvo (vivido com graça por André Mattos) e que sonha em viver um grande amor como os dos filmes a que assiste no cinema ao lado do noivo, o arrogante Douglas (Bruno Garcia, impagável). Quando os dois se encontram logo caem de amores um pelo outro, mas terão muitos obstáculos pela frente até poderem viver felizes para sempre.
Na verdade, gostar de “Lisbela e o prisioneiro” não é difícil. O roteiro – co-escrito pelo diretor, pelo cineasta Jorge Furtado e pelo ator Pedro Cardoso – é engraçado, ágil e esperto, valorizando sempre o que há de mais divertido em cada cena; a trilha sonora é uma personagem à parte, ainda que Arraes exagere em sua utilização em determinados momentos – a bela “Você não me ensinou a te esquecer”, gravada por Caetano Veloso tornou-se hit – e Guel é, sem dúvida, um diretor criativo e inteligente, que explora com sabedoria um elenco exemplar. Enquanto Selton Mello mais uma vez se mostra um dos melhores atores de sua geração e Débora Falabella encanta com a meiguice de sua personagem, a galeria de coadjuvantes ameaça roubar a qualquer cena em que aparecem, e isso serve tanto para intérpretes de papéis verdadeiramente pequenos – como Tadeu Mello, engraçadíssimo como um guarda em vias de consumar seu casamento fajuto – quanto para monstros sagrados como Marco Nanini, que engole tudo à sua volta na pele do matador Frederico Evandro, que busca limpar sua honra assassinando Leléu.
O problema de “Lisbela e o prisioneiro” – e pode-se dizer que é o único, ainda que bastante grande – é que ele ainda se demonstra muito preso à estética da televisão. Em inúmeros momentos, a impressão que se dá é que o público está diante de um especial global, tal a sucessão de assinaturas do veículo, como o excesso de closes e a trilha sonora que, apesar de bem produzida, acentua a impressão de ter sido criada apenas com a intenção de vender CDS. O exagero em tramas paralelas – o que inclui a desnecessária personagem de Virginia Cavendish como uma apaixonada por Leléu – tampouco ajuda o filme, trancando o desenvolvimento da história central e estendendo a duração sem que haja necessidade para tanto.
“Lisbela e o prisioneiro” é um típico produto de seu diretor. Para bem ou para o mal, Guel Arraes consolida uma maneira de filmar que aproxima o Brasil dos brasileiros de forma leve, engraçada e leve, sem o peso – necessário, por vezes – de obras sisudas e aclamadas como “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”. É uma vertente das mais populares da retomada do cinema nacional, mas corre o risco de repetir-se indefinidamente.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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2 comentários:
Gosto desse filme. É divertido e tem um bom humor muito agradável.
http://cinelupinha.blogspot.com.br/
Concordo que o filme peca em alguns pontos, principalmente nessa coisa de parecer especial da Globo, mas é um filme bacana! rs
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