Se você fosse uma jovem de 23 anos com um sub-emprego, um marido amoroso mas sem maiores ambições, duas filhas pequenas, morasse em um trailer e descobrisse que tem uma doença que a matará em poucos meses, o que você faria? Contar à família e aproveitar os últimos momentos com as pessoas que ama? Entregar-se ao destino com uma boa dose de auto-indulgência? Não se seu nome for Ann e você for a protagonista de “Minha vida sem mim”, belo drama dirigido pela espanhola Isabel Coixet e produzido pela El Deseo, dos irmãos Almodovar. Vivida por Sarah Polley, a personagem central do filme, baseado em um conto de Nanci Kincaid não apenas esconde sua doença da famíllia como decide resolver as vidas das pessoas a sua volta antes do fim da sua própria. No meio do caminho, claro, também tem como objetivos experimentar o que nunca teve a oportunidade de viver.
Além de fravar fitas para serem entregues a suas filhas até que completem 18 anos, Ann ainda quer reencontrar o pai presidiário (Alfred Molina em participação pequena mas importante), resolver seu problemático relacionamento com a mãe (a ótima Deborah Harris, vocalista da banda oitentista Blonde), consertar a autoestima de sua colega de trabalho (Amanda Plummer fantástica) e arrumar uma subsituta para as filhas e o marido, o esforçado Don (Scott Speedman) - tarefa que lhe parece simples quando conhece a enfermeira que vai morar ao lado de seu trailer (Leonor Watling, de "Fale com ela", dona de uma cena avassaladora). No meio tempo em que vai trabalhando para alcançar seus objetivos, ela se envolve com o romântico Lee (Mark Ruffalo, em um trabalho doce e delicado), mesmo sabendo que seu caso de amor tem data marcada para acabar.
Se “Minha vida sem mim” foge do padrão lacrimoso dos filmes sobre doença deve muito à direção segura e criativa de Isabel Coixet. Ao intercalar cenas do mais absoluto nonsense em meio a outras de partir o coração, Coixet dá tempo ao espectador para que ele se recupere das lágrimas enquanto se envolve e entende os sentimentos da protagonista, que teve a juventude interrompida por um casamento precoce e a criação de uma família feliz mas longe da idealizada. Nem mesmo o seu questionável romance extra-conjugal consegue atrapalhar a empatia do público, principalmente porque a atuação sensível da canadense Sarah Polley - revelando-se uma atriz de grande alcance – torna seus atos aceitáveis e compreensíveis.
Não dá para fugir das inevitáveis lágrimas ao final de "Minha vida sem mim". Mas ao menos elas são provocadas por sentimentos realmente humanos e viscerais, sem o apelo de uma trilha sonora exagerada ou um roteiro forçado. O choro que o filme de Isabel Coixet desperta é devido à beleza da história e de suas personagens, tão reais quanto a vida.
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