DIÁRIOS DE MOTOCICLETA (Diarios de motocicleta, 2004, FilmFour, 126min) Direção: Walter Salles. Roteiro: José Rivera, livros "De moto pela América Latina", de Ernesto Che Guevara e "Com Che pela América Latina", de Alberto Granado. Fotografia: Eric Gautier. Montagem: Daniel Rezende. Música: Gustavo Santaolalla. Figurino: Beatriz de Benedetto, Marisa Urruti. Direção de arte/cenários: Carlos Conti. Produção executiva: Robert Redford, Paul Webster, Rebecca Yeldham. Produção: Michael Nozik, Edgar Tenenbaum, Karen Tenkhoff. Elenco: Gael Garcia Bernal, Rodrigo de La Serna, Mia Maestro, Jean Pierre Noher. Estreia: 15/01/04 (Festival de Sundance)
2 indicações ao Oscar: Roteiro Adaptado, Canção ("Al otro lado del rio")
Vencedor do Oscar de Melhor Canção ("Al otro lado del rio")
Che Guevara já virou pop. Sua imagem, já desgastada pela superexposição, não tem a mesma força que tinha nos anos 60, quando era praticamente a encarnação da rebeldia contra as desigualdades sociais. Por que, então, o diretor Walter Salles escolheu justamente Guevara para protagonizar seu projeto seguinte à consagração de “Central do Brasil”? Vai ver porque nas páginas do livro autobiográfico “De moto pela América Latina” esteja a essência do rebelde, a gênese daquele que se tornaria um ícone. E principalmente porque a trama mais uma vez põe as personagens na estrada, assim como acontecia em “Terra estrangeira” e “Central do Brasil”, em que seus protagonistas amadureciam no processo de viajar de um lugar a outro.
A trama de “Diários de motocicleta” começa quando o estudante de medicina Ernesto Guevara (Gael Garcia Bernal) e seu melhor amigo, Alberto Granado (Rodrigo de La Serna) resolvem viajar pela América Latina a bordo de uma motocicleta velha, a que dão o carinhoso nome de A Poderosa. Enquanto seguem seu caminho e se divertem com suas aventuras e as pessoas com quem cruzam, os dois acabam tomando conhecimento de vários problemas sociais que assolam seu continente e, uma vez chegando a seu destino, um leprosário na Colômbia, descobrem também que não podem continuar de braços cruzados perante tanta desigualdade.
Longe do panfletarismo quase mandatório em filmes com “consciência social”, a obra de Walter Salles ganha justamente por não tentar mudar o mundo. Em momento algum de sua narrativa o roteiro de José Rivera deixa de lado sua intenção em contar uma história para forçar uma idéia política. Salles comanda a aventura com mão leve, alternando cenas de extrema beleza plástica – cortesia da fotografia de Eric Gautier – com momentos de excelente bom-humor, principalmente graças ao trabalho sensacional do ótimo Rodrigo de La Serna. Também consegue emocionar, sem apelar, no entanto, para lágrimas fáceis ou cenas piegas. A bela trilha sonora de Gustavo Santaolalla – que inclui a canção vencedora do Oscar “Do otro lado del rio” – colabora para o tom informal e quase documental do filme, que além de tudo conta com uma atuação nada menos do que perfeita do mexicano Gael Garcia Bernal.
Na pele de um Che Guevara ainda jovem e idealista, mas sem nenhum ranço político e socialista, Bernal dá um salto gigantesco em sua carreira, em um trabalho minucioso e delicado, nunca tentando ser maior do que seu personagem. Sua química invejável com Rodrigo de La Serna e seu carisma fazem de seu jovem Guevara um personagem inesquecível e quase dá pra vislumbrar, em suas cenas finais, a grande figura histórica que ele viria a ser em poucos anos. “Diários de motocicleta” pode não ser tão emocional quanto “Central do Brasil”, mas é um grande passo em frente de um cineasta talentoso e que tem o maior de todos os dons que um profissional de cinema precisa ter: sabe contar uma história com personagens humanos.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
Filme que mostra como se desenvolveu o sangue revolucionário que mais tarde culminou na revolução cubana, além de ser um belo road movie. No Aguardo para On The Road agora.
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