A PASSAGEM (Stay, 2005, 20th Century Fox, 99min) Direção: Marc Forster. Roteiro: David Benioff. Fotografia: Roberto Schaefer. Montagem: Matt Chesse. Música: Asche & Spencer. Figurino: Frank L. Fleming. Direção de arte/cenários: Kevin Thompson/George De Titta Jr. Produção executiva: Bill Carraro, Guymon Casady. Produção: Eric Kopeloff, Tom Lassally, Arnon Milchan. Elenco: Ewan McGregor, Naomi Watts, Ryan Gosling, Janeane Garofalo, Bob Hoskins. Estreia: 21/10/05
Hollywood é um lugar muito estranho. Filmes de suspense onde roteiros servem apenas para indicar às personagens em que hora gritar e bater no vilão clichê levam multidões às salas de cinema, e obras interessantes e criativas como "A passagem" - título nacional meio bobo - são praticamente ignoradas, apesar do elenco com nomes populares. Dirigido pelo mesmo Marc Forster que comandou os celebrados "A última ceia" e "Em busca da Terra do Nunca", o filme estrelado por Ewan McGregor e Naomi Watts - além de um ainda desconhecido Ryan Gosling - é um suspense inteligente e intrigante, que mantém o público preso em sua trama até os minutos finais. E se Forster consegue fazer do roteiro do escritor David Benioff um belíssimo filme é de se imaginar as misérias que David Fincher - primeiro nome a ser cotado para a direção - conseguiria fazer.
Diretor competente mas jamais brilhante, Forster extrapola todos os seus limites em "A passagem", que lhe dá base para fugir do naturalismo e do academicismo de seus trabalhos anteriores ao contar uma história que, a princípio, soa absolutamente surreal - mas que faz todo sentido do mundo em seus minutos finais. Brincando de David Lynch (porém sem a profundidade psicológica de suas personagens), Forster mergulha sem medo em um mundo bizarro e esquisito que embaralha realidade e alucinação na medida certa - e que conta com o mais apurado visual de seu currículo até então.
O filme começa quando o terapeuta Sam Foster (Ewan McGregor) é chamado para substituir uma colega que está em depressão e atender ao jovem Henry Letham (Ryan Gosling já mostrando o monstro de ator que se revelaria em poucos anos), um rapaz melancólico e problemático que lhe promete cometer suicídio em poucos dias. Na tentativa de evitar tal desenlace - que lhe remete à tentativa feita por sua namorada (Naomi Watts) - Foster corre para investigar a vida e a rotina de Letham, que utiliza seu talento como pintor para expressar sua tristeza e suas dúvidas existenciais. Conforme o tempo vai passando - e a data da morte programada do jovem se aproximando - o psiquiatra começa a questionar sua própria sanidade mental.
O melhor a se fazer em relação a "A passagem" é saber o menos possível a seu respeito antes do início da projeção. As pistas deixadas pelo roteiro de Benioff - e que serão encaixadas mais tarde em uma sequência editada com perfeição - parecem confusas e sem sentido a maior parte do tempo, lembrando muito os pesadelos em forma de celulóide perpetrados por David Lynch, mas permitem a Marc Forster demonstrar que ainda é um exímio diretor de atores. Se Ewan McGregor e Naomi Watts não precisam mais provar nada a ninguém - mesmo que dela pouco seja exigido no filme - Ryan Gosling rouba a cena como o desajustado Henry Letham e as participações pequenas mas cruciais de Bob Hoskins e Janeane Garofalo deixam tudo ainda mais intrigante e tenso - isso sem falar na angustiante sequência em que Sam precisa lidar com a mãe e o cachorro de Letham.
"A passagem" é um filme que não fez o barulho que merecia. Mas que precisa ser descoberto como um dos suspenses mais criativos e inteligentes de sua época.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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2 comentários:
Nem conhecia o filme, mas achei super interessante. Vou ver =]
Eu também não conhecia o filme e teu texto me deixou muito curioso em relação a ele, gosto deste tipo de suspense, que infelizmente tem se tornado tão raro.
http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2012/12/batman-o-cavaleiro-das-trevas-ressurge.html
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