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O INCRÍVEL HULK


O INCRÍVEL HULK (The Incredible Hulk, 2008, Universal Pictures/Marvel Enterprises, 112min) Direção: Louis Leterrier. Roteiro: Zak Penn, personagens criados por Stan Lee, Jack Kirby. Fotografia: Peter Menzies Jr.. Montagem: Rick Shaine, Vincent Tabaillon, John Wright. Música: Craig Armstrong. Figurino: Denise Cronenberg. Direção de arte/cenários: Kirk M. Petrucelli/Monica Delfino, Carolyn "Cal" Loucks, Monica Rochlin. Produção executiva: Stan Lee, David Maisel, Jim Van Wyck. Produção: Avi Arad, Kevin Feige, Gale Anne Hurd. Elenco: Edward Norton, Liv Tyler, William Hurt, Tim Roth, Tim Blake Nelson, Ty Burrell. Estreia: 08/6/08

Em 2003 os fãs de quadrinhos foram surpreendidos com "Hulk", um olhar bastante peculiar sobre um dos personagens mais queridos e populares da Marvel: sob a direção do premiado Ang Lee (acostumado a assinar produções mais artísticas, como "Razão e sensibilidade", de 1995, e "O tigre e o dragão", de 2000, pelo qual levou seu primeiro Oscar), o super-herói verde tornou-se protagonista de um filme de ação com tendências existencialistas e, apesar da bilheteria mundial acima de 245 milhões de dólares, não chegou a entusiasmar o público e dividiu a crítica. As chances de uma sequência no mesmo tom cerebral, escrita por James Schamus - colaborador habitual de Lee - acabaram sendo abandonadas em 2005, no entanto, quando a Universal Pictures devolveu os direitos do personagem à Marvel. Já dedicada a criar seu Universo Cinematográfico, a Marvel aproveitou a oportunidade para dar uma nova chance ao cientista Bruce Banner e seu monstruoso alterego - com um viés mais próximo de suas pretensões comerciais e possibilidades mais concretas de fazer dele parte de um projeto maior. Para isso, não apenas Ang Lee foi dispensado da função de diretor - em uma estratégia corajosa, o estúdio aproveitou a recusa de Eric Bana em retornar ao papel-título para, ao invés de recomeçar do zero, fazer de "O incrível Hulk" uma mistura entre um reboot e uma continuação. Pode não ter repetido o êxito de "Homem de ferro" (2008) - primeiro filme do ambicioso plano da Marvel e sucesso imenso de bilheteria -, mas marcou presença de forma nada desprezível.

A saída de Bana do projeto abriu a porta para perspectivas interessantes - e nomes como Matthew McConaughey, David Duchovny (da série "Arquivo X") e Dominic Purcell (astro de "Prision break") foram cogitados para assumir a liderança do elenco. Em uma espécie de clarividência, o novo diretor, o cineasta francês Louis Leterrier, chegou a propor, sem sucesso, o nome de Mark Ruffalo para o papel principal, mas foi voto vencido junto aos executivos da Marvel: poucos anos depois Ruffalo tornou-se o mais celebrado intérprete do personagem mesmo sem ter um filme-solo. A recusa da Marvel em aceitar Ruffalo em "O incrível Hulk" tinha uma razão, no entanto, e bem forte: sua preferência por Edward Norton, fã dos quadrinhos e um ator de prestígio o suficiente para garantir a boa vontade da crítica e de parte do público avesso a filmes-evento. Apesar de conhecido por seu gênio forte - e por sua interferência nas decisões criativas dos filmes dos quais participava -, Norton já tinha duas indicações ao Oscar no currículo e não era um ator que se prestava facilmente a produções comerciais: sua presença seria um belo chamariz e deixaria bastante claro a todos a intenção da Marvel em ser levada muito a sério.

 

Como era de se esperar, Norton não apenas fez sua parte como ator - reescreveu várias cenas do roteiro de Zak Penn e dirigiu algumas sequências para ajudar a manter o cronograma de filmagens. Com locações no Rio de Janeiro e Toronto fazendo o papel de Manahattan (por questões de concessões comerciais oferecidas pelo prefeito local, David Miller, fã do personagem), "O incrível Hulk" sofreu várias alterações em relação a seu primeiro filme. Não apenas no visual escolhido pelo novo diretor (um verde mais escuro e um tamanho fixo para a criatura, por exemplo), mas também em sua tentativa de fazer dele um herói trágico sem abandonar seu propósito de entreter a plateia, ávida pelos melhores efeitos visuais que um orçamento de 150 milhões de dólares podem comprar. Para isso, a trama não perde tempo em estabelecer as origens do personagem - e conta com um vilão bastante interessante, interpretado pelo sempre ótimo (e frequentemente subestimado) Tim Roth. Da mesma forma, a relação entre Banner e Betty Ross (Liv Tyler substituindo Jennifer Connelly com competência e elegância) não precisa ser estabelecida desde o princípio - seu reencontro se dá em uma cena que resume perfeitamente o equilíbrio entre drama e ação que faltou ao primeiro filme. E é claro que ter William Hurt na pele do general Ross não atrapalha em nada: fã de Hulk, assim como seu filho e Edward Norton, Hurt é mais um elemento a emprestar prestígio à produção.

"O incrível Hulk" começa nas favelas do Rio de Janeiro, onde Bruce Banner está escondido depois dos catastróficos eventos do primeiro capítulo. Buscando incessantemente uma cura para sua condição, o cientista ainda precisa lidar com o fato de que forças militares lideradas pelo General Ross estão à sua procura, já que não pretendem abandonar o resultado de anos em estudos para a criação de um super soldado. Quando Banner retorna aos EUA, conta com o apoio da namorada, Betty (que, por caprichos do destino e dos roteiristas, é filha do general), para aproximar-se de um antídoto - uma questão que o colocará em rota de colisão com um monstro de poderes similares, criado justamente para enfrentá-lo e impedir sua deserção. O embate ente os dois é o centro do filme de Leterrier - que herdou a direção do filme depois que o comando de "Homem de ferro" foi parar nas mãos de Jon Favreau - e é bastante superior, em termos técnicos e emotivos, ao trabalho de Ang Lee, além de, é claro, deixar um espaço em aberto para as inevitáveis continuações ao lado de seus colegas vingadores. "O incrível Hulk" pode não ser um filme perfeito - mas funciona às mil maravilhas como entretenimento de qualidade.

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