O JOVEM FRANKENSTEIN (Young Frankenstein, 1974, 20th Century Fox, 105min) Direção: Mel Brooks. Roteiro: Mel Brooks, Gene Wilder, livremente inspirado no romance de Mary Shelley. Fotografia: Gerald Hirschfeld. Montagem: John C. Howard. Música: John Morris. Figurino: Dorothy Jeakins. Direção de arte/cenários: Dale Hennesy/Bob De Vestel. Produção: Michael Gruskoff. Elenco: Gene Wilder, Teri Garr, Marty Feldman, Peter Boyle, Madeline Kahn, Cloris Leachman, Gene Hackman. Estreia: 15/12/74
2 indicações ao Oscar: Roteiro Adaptado, Som
Publicado em 1818 e considerado um clássico absoluto da literatura de terror, "Frankenstein", obra-prima da escritora britânica Mary Shelley. rendeu diversas versões cinematográficas, tornando-se um ícone incontestável do gênero. Por incrível que pareça, no entanto, uma de suas mais bem-sucedidas adaptações não surgiu da Universal Pictures (onde James Whale praticamente criou os cânones visuais que se tornaram referência no cinema) e nem da reimaginação de Roger Corman, lançada em 1990. Foi Mel Brooks, conhecido por suas comédias iconoclastas e por vezes quase grosseiras, quem assinou aquela que entrou para a história como uma das mais bem-sucedidas releituras do romance gótico: "O jovem Frankenstein" chegou aos cinemas no final de 1974, conquistou a crítica, o público (com uma renda quase quarenta vezes maior que seu custo) e entrou para diversas listas de melhores comédias de todos os tempos - da revista Premiere ao prestigiado American Film Institute. Como se não fosse o bastante, ultrapassou a barreira de preconceito da Academia de Hollywood contra seu gênero e concorreu ao Oscar de roteiro adaptado - que perdeu para o grande vencedor da noite, "O poderoso chefão: parte II". Considerado pelo próprio Mel Brooks como o seu melhor filme - ainda que considere outros trabalhos seus mais engraçados -, "O jovem Frankenstein" é, sem nenhuma dúvida, aquele que consegue com mais facilidade equilibrar o humor nonsense do diretor com uma história mais bem estruturada e uma técnica apurada. É ouro puro!
Inicialmente planejado como uma produção da Columbia Pictures, "O jovem Frankenstein" acabou indo parar nas mãos da 20th Century Fox quando Brooks insistiu em sua ideia de filmar em preto-e-branco e, com isso, manter-se fiel à atmosfera gótica do romance de Shelley - ainda que fosse mais brincar em cima dela do que reverenciá-la. Com medo de um possível fracasso comercial e sem querer aumentar o orçamento de apenas 1,75 milhões de dólares, o estúdio acabou por ver o filme se tornar um estrondoso sucesso de crítica e público. Dirigida com uma surpreendente sobriedade, que jamais ameniza o tom debochado do roteiro e das inspiradas atuações do elenco, a comédia de horror (bem mais comédia do que um filme de horror) ofereceu a Gene Wilder um dos papéis mais icônicos de sua carreira (ao lado de Willy Wonka de "A fantástica fábrica de chocolates", lançado dois anos antes), revelou um senso de humor inesperado em Cloris Leachman (vinda de um Oscar de atriz coadjuvante por "A última sessão de cinema") e apresentou um grau de sofisticação inesperado à filmografia do diretor. Filmando com o estilo do próprio James Whale (planos abertos, poucos closes e com o mínimo de efeitos de câmera) e inspirado também em obras dos expressionistas alemães Fritz Lang e F.W. Murnau, o iconoclasta criador de "Banzé no Oeste" (lançado pouco antes, no mesmo 1974) e "Primavera para Hitler" (1967) faz, ao mesmo tempo, uma sincera homenagem e uma divertida sátira - que funcionam na mesma medida.
Gene Wilder - naquele que considera o filme favorito de sua carreira - parece ter nascido para interpretar Frederick Frankenstein, um dedicado e talentoso neurocirurgião cujo sucesso não impede que tenha seu nome eternamente ligado ao do avô, o infame Victor Frankenstein. Seu desejo de disassociar-se do nome da família cai por terra quando ele descobre que, sendo o único herdeiro do clã, pode tomar propriedade do castelo que lhe pertence, na Transilvânia. Tão logo chega no local - e passa a ser assessorado pelo corcunda Igor (Marty Feldman) e pela exuberante Inga (Teri Garr) - o jovem médico encontra um caderno com instruções de como continuar as experiências para a criação de um novo ser vivo. Excitado com a possibilidade de marcar seu nome na história, ele segue tudo passo-a-passo (dentro do possível, uma vez que seus colaboradores não são exatamente inteligentes) e consegue criar seu próprio monstro (Peter Boyle). Porém, o monstro escapa dos limites do castelo e provoca uma série de situações que põem em xeque as capacidades de Frederick - e a segurança do vilarejo, nada disposto a conviver com um potencial perigo.
Repleto de gags geniais - visuais, verbais e de referências ao clássico de James Whale -, "O jovem Frankenstein" é a síntese perfeita da filmografia de Mel Brooks (que teve o luxo de contar com as máquinas do filme da Universal, criadas por Ken Strickfaden): piadas quase escatológicas que se equilibram com diálogos inteligentes, um elenco afiadíssimo (que conta com um não-creditado Gene Hackman em uma sequência hilariante) e a coragem de tentar fazer rir sem pisar em ovos. A química entre os atores - tão precisa que as filmagens se estenderam por um calendário maior para que pudessem ficar mais tempo juntos e tão profícua que a versão original do filme passava de três horas de duração - e seu casamento perfeito com o roteiro deu origem a uma das comédias mais incríveis dos anos 1970 capaz de agradar aos fãs do gênero independente de suas preferências de estilo. É Mel Brooks em sua melhor forma!
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