quarta-feira

ENTRANDO NUMA FRIA

 


ENTRANDO NUMA FRIA (Meet the parents, 2000, Universal Pictures/DreamWorks Pictures, 108min) Direção: Jay Roach. Roteiro: Jim Herzfeld, John Hamburg, estória de Greg Glienna, Mary Ruth Clarke. Fotografia: Peter James. Montagem: Greg Hayden, Jon Poll. Música: Randy Newman. Figurino: Daniel Orlandi. Direção de arte/cenários: Rusty Smith/Karen Wiesel. Produção: Robert DeNiro, Jay Roach, Jane Rosenthal, Nancy Tenenbaum. Elenco: Robert DeNiro, Ben Stiller, Teri Polo, Blythe Danner, Owen Wilson, Nicole DeHuff, Jon Abrahams, James Rebhorn, Tom McCarthy, Phyllis George. Estreia: 06/10/2000

Indicado ao Oscar de Canção Original ("A fool in love")

Sétima maior bilheteria de 2000 - com uma renda global de mais de 300 milhões de dólares -, "Entrando numa fria" deu continuidade a uma nova fase da trajetória cinematográfica do ator Robert DeNiro, explorando seu - até então raramente demonstrado - timing cômico depois do sucesso de "A máfia no divã" (1999). Brincando mais uma vez com sua imagem de durão (conquistada por décadas interpretando criminosos das mais variadas estirpes e homens pouco loquazes), DeNiro encontrou em Jack Byrnes - um ex-agente secreto da CIA em confronto com o atrapalhado futuro genro - um dos personagens mais populares de sua carreira, em uma dupla de química impecável com Ben Stiller. O inusitado, porém, é que nem ele nem Stiller foram as primeiras escolhas para serem os astros do filme, um projeto que esteve nas mãos de ninguém menos que Steven Spielberg.

O caminho de "Entrando numa fria" em direção a tornar-se um êxito comercial que rendeu duas continuações começou em 1991, com um média-metragem independente escrito pelos ilustres desconhecidos Greg Glienna (também diretor) e Mary Ruth Clarke: incapazes de encontrarem distribuição para seu filme, rodado a um custo ínfimo de 100 mil dólares, os dois acabaram por vender seus direitos à Universal Pictures, ciente de seu potencial. No final da década de 1990, já com Spielberg interessado no projeto, o filme parecia estar a caminho das telas - e depois de nomes como Christopher Walken, Harrison Ford e Anthony Hopkins terem sido considerados para o papel principal, Al Pacino já estava confirmado como o imprevisível sogro do enfermeiro que seria interpretado por Jim Carrey. A demora na produção, no entanto, mudou tudo. Tanto Spielberg quanto Carrey pularam fora para dar seguimento a outros trabalhos - o cineasta para começar "A.I.: Inteligência Artificial" (2001) e o ator para fazer ""Eu, eu mesmo e Irene" (2000) e "O Grinch" (2000) - e Pacino aceitou a proposta de Oliver Stone para liderar o elenco de seu "Um domingo qualquer" (2000), substituindo... Robert DeNiro, mais disposto a fazer rir do que encarar um drama sobre futebol americano. Com Ben Stiller escolhido para viver o atrapalhado Greg Focker, e alterações no roteiro para melhor aproveitar seu tipo de humor (menos físico do que o consagrado por Carrey), a escolha do diretor não poderia ter sido mais feliz: vindo dos de uma carreira basicamente na comédia, o cineasta Jay Roach deu ao filme o tom certo de uma comédia familiar sem o ranço do politicamente correto.

 

Sempre ótimo em papéis que exploram o constrangimento, Ben Stiller vive Greg Focker, um sensível e romântico enfermeiro de Chicago que, apaixonado pela namorada, a doce professora Pam (Teri Polo), descobre que, antes de pedí-la em casamento, precisa da aprovação de seu pai, um homem rígido e conservador que trabalhava como estudioso de flores exóticas. A oportunidade de conhecê-lo surge com uma reunião familiar para o casamento da futura cunhada - mas as coisas não saem nem um pouco como esperadas. Não apenas Focker se envolve em uma série de incidentes - que envolvem desde as cinzas da matriarca da família até o mimado gato de raça - como descobre, da pior maneira possível, que o sisudo Jack Byrnes (Robert DeNiro) era, na verdade, um agente secreto da CIA, dado a espionar desafetos e controlar todos os movimentos da casa. Não bastasse isso, quem aparece nas comemorações do matrimônio é Kevin (Owen Wilson), ex-namorado de Pam que ainda frequenta a casa dos Byrnes e não esconde seus sentimentos em relação a ela.

Calcado principalmente no humor que surge da vergonha alheia - e equilibrando com presteza piadas verbais com momentos de uma irresistível comédia física -, "Entrando numa fria" se beneficia muito do comando de Jay Roach, experiente no gênero graças aos filmes estrelados de Austin Powers (o espião inglês vivido por Mike Meyers em três produções). Conduzindo a trama com um ritmo ligeiro mas nunca superficial, que explora as relações entre seus personagens de forma inteligente e (por que não?) sensível, o diretor acerta em cheio ao deixar espaço de sobra para o feliz encontro entre a suposta seriedade de DeNiro e o talento histriônico de Stiller: são nos momentos de interação entre eles que o filme cresce e conquista de vez o espectador. O roteiro, que acumula situações hilárias, expande o filme original e aprofunda as diferenças radicais entre os protagonistas de forma orgânica, oferecendo ao elenco - que conta ainda com Blythe Danner e Tom McCarthy (indicado ao Oscar de direção por "Spotlight: segredos revelados", de 2015) - sequências que já nasceram antológicas. E é justamente o encontro entre bons atores, um roteiro esperto e uma direção que imprime ritmo e consistência que faz de "Entrando numa fria" uma comédia acima da média - e que, não à toa, deu origem a duas sequências que desenvolvem ainda mais as relações entre o apaixonado Greg (ou Gaylord) Focker e a família disfuncional de sua amada Pam.

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