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quarta-feira
CONFIDÊNCIAS À MEIA-NOITE
CONFIDÊNCIAS À MEIA-NOITE (Pillow talk, 1959, Universal Pictures, 102min) Direção: Michael Gordon. Roteiro: Stanley Shapiro, Maurice Richlin. Fotografia: Arthur E. Arling. Montagem: Milton Carruth. Música: Frank De Vol. Produção: Ross Hunter, Martin Melcher. Elenco: Rock Hudson, Doris Day, Tony Randall, Thelma Ritter. Estreia: 07/10/59
5 indicações ao Oscar: Atriz (Doris Day), Atriz Coadjuvante (Thelma Ritter), Roteiro Original, Trilha Sonora Comédia/Musical, Direção de Arte em Cores
Vencedor do Oscar de Roteiro Original
Em 1985, pouco antes de sua morte decorrente de complicações relacionadas ao então desconhecido vírus HIV, o ator Rock Hudson foi a público revelar o que não era mais novidade nenhuma nos bastidores de Hollywood: sua homossexualidade. A notícia pegou de surpresa o mundo todo, que não conseguia acreditar que aquele mesmo Rock Hudson másculo, viril, bonito, charmoso e enorme (1,93m) que frequentava os mais lúbricos sonhos femininos, era gay. O choque da revelação apenas atesta sem sombra de dúvidas o talento do ator, que em nenhum momento de sua carreira - repleta de sucessos - deixou de ser, aos olhos do público, o que eles gostariam que ele fosse. Seja em épicos grandiosos, dramas familiares ou comédias românticas, Rock Hudson sempre foi o Rock Hudson construído pelos estúdios e agentes, nunca suscitando, entre sua audiência, a menor suspeita sobre sua conduta por trás das câmeras - nem que para isso fosse preciso casar-se com uma secretária. Uma prova disso é a comédia "Confidências à meia-noite", uma deliciosa sessão da tarde que marcou o início de uma bem-sucedida série de filmes que ele fez com a atriz Doris Day - que seria sua amiga até o fim de seus dias.
"Confidências à meia-noite" fez um grande sucesso de bilheteria e levou o Oscar de roteiro original, o que foi praticamente inacreditável na época, uma vez que os próprios estúdios não apostavam que o gênero pudesse chamar público às salas de exibição, por achar que era um estilo ultrapassado de fazer cinema - e pensar que hoje em dia nomes como Meg Ryan, Sandra Bullock e Jennifer Aniston devam sua fama em grande parte àquela que, louvada nos anos 60, foi execrada décadas depois como "a eterna virgem", tornando-se motivo de chacota universal: Doris Day.
Day já tinha 37 anos à época do lançamento de "Confidências" e em nenhum momento do filme é feita qualquer referência ao estado de seu hímen, de onde depreende-se que a sua fama refere-se muito mais a seus sentimentos nobres de envolver-se apenas com os homens certos do que a uma parte específica de sua anatomia. No filme, escrito por Stanley Shapiro e Maurice Richlin, ela vive Jan Morrow, uma decoradora de interiores solteira - hum, provavelmente daí surgiu o boato sobre sua virgindade!! - que, apesar de ser cortejada incansavelmente por um cliente milionário, Jonathan Forbes (Tony Randall), ainda acredita que somente por amor se deve envolver-se em um relacionamento. Enquanto fica trabalhando e sonhando com um príncipe encantado, ela precisa lidar com Brad Allen (Hudson, no auge de seu charme), um compositor com quem divide a linha telefônica. Para sua ira, Jan é obrigada a ouvir as cantadas que ele passa em um número abundante de mulheres, o que a leva a entrar em uma guerra declarada contra ele. O que ela não imagina é que Allen é o melhor amigo de Forbes e, ao descobrir que ela é a sua ranzinza parceira de telefone, resolve seduzi-la. Para isso, inventa uma personagem, o texano sensível e de bons modos Rex Stetson. Logicamente, Jan cai de amores pelo turista, mas o plano do músico passa a ser ameaçado pelo amor que seu amigo sente por sua decoradora.
Talvez hoje em dia, para um público acostumado com comédias românticas que usam e abusam de corpos seminus e diálogos repletos de palavrões e piadas vulgares, o roteiro de "Confidências à meia-noite" seja de uma ingenuidade quase inacreditável. No entanto, sob a aparente superfície de um passatempo ligeiro e familiar, o texto de Shapiro e Richlin brinca, ainda que de forma velada, com assuntos que, em tese, incorreriam na fúria do Código Hayes. Diluídas em meio a piadas engraçadas mas bastante puras, estão brincadeiras sobre homossexualismo (a cena em que Allen tenta incutir na cabeça de Jan dúvidas sobre a masculinidade de Stetson é particularmente hilária) e sobre o futuro da medicina genética (em curtíssimas mas geniais cenas no consultório de um obstetra). Isso sem falar em alguns diálogos de duplo sentido que fazem rir e não ofendem ninguém - nem o fez em seu lançamento, provavelmente porque nada vindo de Doris Day e Rock Hudson poderia ofender a alguém.
"Confidências à meia-noite" é, repito para não deixar dúvidas, uma delícia de filme. Apesar do visual um tanto datado e da premissa inicial que hoje soa quase inverossímil, é uma comédia romântica que cumpre o que promete, além de registrar de forma indelével a invejável química entre Hudson (com um timing cômico admirável) e Doris Day (que era adorada pelas mulheres principalmente por não representar uma ameaça séria a seus relacionamentos, como era o caso de Marilyn Monroe - que por sua vez, era adorada por outras razões).
Em 2003, o filme "Abaixo o amor", dirigido por Peyton Reed e estrelado por Renee Zelwegger e Ewan McGregor prestou uma sincera e divertida homenagem aos filmes da dupla Hudson/Day, mas foi ignorado nas bilheterias. Merece uma segunda chance!
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2 comentários:
Muito bom, seu blog...e suas idnicações me matam de inveja já que nem tenho tempo para lhes assistir. ABraço
Os filmes de Doris Day são uma delícia de assistir.Muito engraçados e como vc disse,sem precisar recorrer á piadas vulgares ou corpos seminus.
O Rock Hudson era lindo demais e a Doris...Nossa,adoro essa mulher!
Não posso deixar de dizer que ela é uma cantora maravilhosa,detalhe não pequeno e nunca lembrado.
Obrigada por lembrar dessa dupla querida.
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