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sábado
A COR PÚRPURA
A COR PÚRPURA (The color purple, 1985, Warner Bros, 154min) Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Menno Meyjes, romance de Alice Walker. Fotografia: Allen Daviau. Montagem: Michael Kahn. Música: Quincy Jones. Figurino: Aggie Guerard Rodgers. Direção de arte/cenários: J. Michael Riva/Linda DeScenna. Produção executiva: Peter Guber, Jon Peters. Produção: Quincy Jones, Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Steven Spielberg. Elenco: Whoopi Goldberg, Danny Glover, Margaret Avery, Oprah Winfrey, Willard Pugh, Akosua Busia. Estreia: 16/12/85
11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz (Whoopi Goldberg), Atriz Coadjuvante (Margaret Avery, Oprah Winfrey), Roteiro Adaptado, Fotografia, Trilha Sonora, Canção ("Miss Celie's blues"), Figurino, Direção de arte/cenários, Maquiagem
Vencedor do Golden Globe: Melhor Atriz/Drama (Whoopi Goldberg)
No mesmo ano em que produziu duas pérolas do entretenimento escapista e comercial – “Os Goonies” e “De volta para o futuro” – Steven Spielberg iniciou também seu namoro com o cinema sério e adulto. Aclamado com 13 indicações ao Oscar, o belo “A cor púrpura” acabou decepcionando quando não levou nenhuma estatueta, dando início também a um esnobismo da Academia em relação ao cineasta, finalmente quebrado com “A lista de Schindler”, nove anos depois.
Baseado no romance homônimo de Alice Walker, premiado com o Pulitzer, o filme de Spielberg - que aqui deixa de lado sua parceria com o músico John Williams pela primeira e até agora única vez na carreira para ter a colaboração do experiente Quincy Jones, um dos produtores da obra – conta a dolorosa e sofrida trajetória de Celie, uma negra que, com apenas 14 anos de idade e mãe de dois filhos tidos com seu próprio pai, é praticamente vendida a um viúvo violento e cruel (vivido com maestria por Danny Glover). Separada dos filhos quando eles ainda estão no berço e de sua irmã, afastada por recusar-se a dividir a cama com o cunhado, Celie passa humilhações e sofrimentos durante mais de 30 anos, sendo obrigada a ver-se como uma mulher feia, burra e inútil. As únicas pessoas que lhe dão valor são justamente duas mulheres que também sofrem o preconceito da sociedade: a cantora Sugar (Margareth Avery, indicada ao Oscar de coadjuvante), amante de seu marido e tratada pela cidade como uma prostituta, e Sofia (Oprah Winfrey, antes da fama e do sucesso, também indicada ao Oscar como coadjuvante), casada com o atrapalhado Harpo, enteado de Celie. Sem papas na língua e com o pensamento libertário, Sofia acaba passando anos na cadeia por ousar manter seu lugar no mundo com honra e dignidade.
Visto à luz dos anos, “A cor púrpura”, ainda que um belo e comovente filme, mostra alguns defeitos que, se não chegam a estragá-lo talvez tenham atrapalhado seu caminho rumo ao Oscar (mesmo que seja melhor e mais marcante do que o vencedor do ano, “Entre dois amores”). A opção do roteirista e do diretor em elevar o espírito feminino é louvável, mesmo porque os sofrimentos que as personagens passam são palpáveis e genuínos. Daí a relegar os homens a papéis pequenos, cruéis e unidimensionais são outros quinhentos. Tirando o personagem de Danny Glover – espetacular, diga-se de passagem -, que de vez em quando deixa transparecer algum sentimento, em especial em relação a Sugar, todos os outros personagens masculinos são maus, manipulados ou indiferentes. Esse maniqueísmo pode ser proposital, mas acaba sendo quase um tiro no pé nas intenções de Spielberg em fazer um filme sério.
A duração excessiva da obra (mais de duas horas e meia) também não ajuda. Mais uma vez a impressão que é passada é a que o filme queria ter a duração de um épico. No entanto, para preencher o tempo, Spielberg coloca em cena situações que, em outros filmes até seriam engraçadas, se não fossem tão fora de propósito em um filme com possibilidades tão nobres e sérias. Uns bons vinte minutos a menos e o ritmo do filme não seria tão prejudicado (e vindo do sujeito que bolou as duas aventuras alucinantes de Indiana Jones isso não deixa de ser irônico).
No entanto, mesmo com seus pequenos defeitos e qualidades inegáveis, “A cor púrpura” tem do seu lado um fator que a maioria esmagadora dos cineastas sonha: uma protagonista repleta de carisma e talento. Ao escalar a estreante Whoopi Goldberg para o papel de Celie dos vinte e poucos aos quarenta e muitos anos, Spielberg tirou a sorte grande. Em nenhuma cena Goldberg está menos do que exemplar, em uma atuação que foi merecidamente indicada ao Oscar. Só a cena em que, depois de muitos anos a sofrida Celie finalmente vê seu sorriso refletido em um espelho já vale as quase três horas de duração. Por Whoopi, pelos méritos da produção e pela vontade de Spielberg de fazer um filme de conteúdo depois de inúmeros sucessos financeiros “A cor púrpura” merece ser assistido. E tente não se comover!
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3 comentários:
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