CONTATO (Contact, 1997, Warner Bros, 150min) Direção: Robert Zemeckis. Roteiro: James V. Hart, Michael Goldenberg, romance de Carl Sagan, história de Carl Sagan, Ann Druyan. Fotografia: Don Burgess. Montagem: Arthur Schmidt. Música: Alan Silvestri. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Ed Verreaux/Michael J. Taylor. Produção executiva: Joan Bradshaw, Lynda Obst. Produção: Steve Starkey, Robert Zemeckis. Elenco: Jodie Foster, Matthew McConaughey, David Morse, Jena Malone, William Fichtner, Rob Lowe, Tom Skerritt, Angela Bassett, John Hurt. Estreia: 11/7/97
Indicado ao Oscar de Som
Um dos mais populares escritores e astrônomos do mundo, Carl Sagan, autor da famosa série "Cosmos", morreu no final de 1996, quando as filmagens de um de seus mais estimados projetos ainda em andamento. Concebido no início dos anos 80 já em formato de filme e posteriormente transformado em romance, "Contato" chegou às telas alguns meses depois da morte de Sagan, arrancando elogios unânimes da crítica e amealhando nada desprezíveis 100 milhões de dólares somente no mercado doméstico americano. Levando-se em consideração que seu diretor é Robert Zemeckis - que fez com que "Forrest Gump", a história simples de um rapaz com problemas mentais se tornasse uma das maiores bilheterias da história - não chega a ser surpresa o sucesso do filme. Surpresa é o fato de o filme ter alcançado tamanho êxito sem apelar para efeitos visuais desnecessários nem tampouco descaracterizar a trama criada por Sagan. Apesar de classificar-se, sim, como uma ficção científica, "Contato" expande os limites do gênero ao tratar a busca por vida em outros planetas de uma maneira completamente diferente do mostrado até então.
A principal preocupação do roteiro de "Contato" não é levar o espectador à Marte ou planetas outros ao lado de personagens engraçadinhos e forjados sem a menor sutileza. A conversa aqui é bem outra, graças à inteligência da história criada por Sagan. A protagonista do filme é Ellie Arroway (vivida por uma Jodie Foster madura e sempre competente), uma astrônoma dedicada a sua busca por provas de vida fora da Terra. Lutando contra seus financiadores, que acreditam que ela está perdendo dinheiro com suas pesquisas, ela conta com a ajuda de seus colegas para manter viva a esperança de fazer a grande descoberta de sua vida. Um dia, finalmente ela ouve ruídos em seu rádio e descobre, sem sombra de dúvida, que tais sons são a prova da existência de alienígenas inteligentes. Ainda através de contatos sonoros, tais seres enviam instruções para a construção de uma máquina que permitirá a um terráqueo viajar até eles. Quando tal nave fica pronta, porém, uma dúvida surge: quem é realmente digno de representar o planeta?
É a partir desse questionamento filosófico/religioso que "Contato" sai do lugar-comum dos filmes de ficção científica e penetra em um nível bem mais superior de entretenimento. Sem nunca descuidar do desenvolvimento dramático da história - que inclui a interessante relação entre a intelectual Ellie e o teólogo Joss Palmer (Matthew McConaughey) - o roteiro dá ao público um vasto material para discussões sem, por causa disso, confundí-lo com complexidades inúteis. Está tudo acomodado de forma sutil e convincente, principalmente porque, além de tudo, Zemeckis tem o dom de sempre escalar um elenco preciso. Logicamente, a dona da festa é Jodie Foster, que conduz toda a história com a majestade de sempre, mas seus coadjuvantes não podem jamais ser acusados de ficarem eclipsados por seu enorme talento.
Enquanto Matthew McConaughey aproveita seu status de "novo galã da hora em Hollywood" - foi seu primeiro trabalho após o sucesso de "Tempo de matar" - William Fichtner tem a maior chance de sua carreira ao interpretar o braço direito de Ellie, Kent, um cientista cego de importância fundamental na narrativa e John Hurt quase rouba a cena na pele de S.R. Hadden, o excêntrico milionário que possibilita à protagonista realizar seu sonho - em uma sequência belíssima realizada com extremo bom-gosto. Não bastasse isso, ainda fazem pequenas participações Tom Skerritt, Angela Bassett, Rob Lowe e até mesmo o presidente Bill Clinton, cujo discurso foi utilizado sem prévia permissão e causou controvérsia. E é inadmissível não lembrar das ótimas participações de Jena Malone e David Morse nas cenas iniciais, como a menina Ellie e seu pai, cuja morte tem ressonância em todo o filme.
"Contato" é, portanto, uma ficção científica com os dois pés na realidade. Não é um filme para o público que lotou as salas de cinema para assistir a bobagens indescritíveis como "Independence Day", mas para aquela plateia que gosta de ter seu cérebro bem tratado por duas horas e meia.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
CONTATO
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7 comentários:
Não assisti esse filme. Mas, ontem assisti pela terceira vez "Acusados". Atuação de Jodie Foster, espetacular, na minha opinião.
Na época eu gostei muito do filme...mas hoje em dia já tenho outra opinião. O que um par de décadas nas costas e o bom gosto não fazem com a pessoa.
Eu só vi os 10 primeiros minutos desse filme e a luz caiu no meu prédio (bizarro, não é mesmo?). De lá pra cá não tive a devida curiosidade de baixá-lo para ver todo. Quem sabe agora não tomo coragem!
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
O que não coube no Jukebox (textos, poemas, matérias, pensamentos):
http://baudenotas.blogspot.com
Tá na lista de filmes pra assistir esse ano!
Abraço,
Thomás
http://brazilianmovieguy.blogspot.com
Uma pequena obra-prima esse filme, sinceramente!
É um ótimo filme para que gosta de ficção científica! Esse filme foi mt marcante para mim... Me fez refletir sobre muitas coisas, como a existência de outras civilizações... Como o amigo acima falou, é uma obra prima... melhor dizendo, uma obra de arte.
Um belíssimo e inteligente filme. Coloca o telespectador à refletir sobre ciência, fé e o oportunismo político. Não é um filme para quem gosta de cenas imediatas com criaturas monstruosas e sem sentido. Um provável contato com uma inteligência superior será definitivamente algo que mudará para sempre nossas convicções.
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