quinta-feira

O PACIENTE INGLÊS

O PACIENTE INGLÊS (The English patient, 1996, Miramax Films, 162min) Direção: Anthony Minghella. Roteiro: Anthony Minghella, romance de Michael Ondaatje. Fotografia: John Seale. Montagem: Walter Murch. Música: Gabriel Yared. Figurino: Ann Roth. Direção de arte/cenários: Stuart Craig/Aurelio Crugnola, Stephenie McMillan. Produção executiva: Scott Greenstein, Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Saul Zaentz. Elenco: Ralph Fiennes, Kristin Scott-Thomas, Juliette Binoche, Willem Dafoe, Colin Firth, Naveen Andrews, Jurgen Prochnow. Estreia: 06/11/96

12 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Anthony Minghella), Ator (Ralph Fiennes), Atriz (Kristin Scott-Thomas), Atriz Coadjuvante (Juliette Binoche), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original/Drama, Figurino, Direção de arte/cenários, Som
Vencedor de 9 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Anthony Minghella), Atriz Coadjuvante (Juliette Binoche), Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original/Drama, Figurino, Direção de arte/cenários
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Trilha Sonora Original
Festival de Berlim: Melhor Atriz (Juliette Binoche)

Em 1962, o inglês David Lean viu seu épico histórico "Lawrence da Arábia" sair da cerimônia de entrega do Oscar com sete estatuetas, incluindo as principais - Melhor Filme e Direção. Trinta e quatro anos depois, outro cineasta da terra da rainha promoveu um arrastão na festa da Academia, acumulando nove prêmios (e mais uma vez, entre eles, os de filme e direção). Ao contrário da obra-prima de Lean, no entanto, que narrava a trajetória de um dos mais controversos líderes militares britânicos, o filme de Anthony Minghella concentra-se em uma devastadora história de amor que utiliza a II Guerra Mundial como mero pano de fundo. "O paciente inglês", baseado em um livro considerado infilmável de Michael Ondaatje, é um poderoso drama romântico que não deixou chance para os demais indicados de 1996. E, apesar de muita gente torcer o nariz para suas pretensões épicas - e sua receita para ganhar Oscar - é um filme que mereceu todo o auê que causou.

De produção complicada - inicialmente financiado pelos estúdios Fox e depois encampado pela Miramax e pelo produtor Saul Zaentz - "O paciente inglês" é um filme que foge dos tradicionais romances hollywoodianos ao exigir de seu público um pouco mais de atenção e dedicação do que o normal. Não apenas é mais longo do que o corriqueiro (tem mais de duas horas e meia de duração) mas também tem um ritmo próprio e delicado, além de ser narrado de forma não-linear, o que muitas vezes afugenta à plateia cuja única intenção é ocupar-se em duas horas de entretenimento fácil. No fim das contas, porém, é um romance tipicamente hollywoodiano com um verniz europeu, o que provavelmente ajudou a encantar os eleitores da Academia - e todo o público que fez com que fechasse suas contas no mercado americano com quase 80 milhões de dólares de arrecadação, um sucesso inquestionável, principalmente se levarmos em conta que não tem, em seu elenco, nenhum grande nome da época - a Fox, por exemplo, insistia em Demi Moore no principal papel feminino, desejo esse que, para sorte de todos os envolvidos, nunca foi levado a sério por ninguém.

O filme começa em 1944, na Itália, quando a jovem enfermeira canadense Hana (Juliette Binoche), depois da morte do namorado soldado e de uma de suas colegas de profissão, resolve isolar-se em um castelo abandonado ao lado de seu paciente, um homem desfigurado por queimaduras e que não tem lembrança de seus dias passados. Tido como de nacionalidade inglesa desde que foi resgatado dos destroços de um avião, ele na verdade é um conde húingaro e se chama Almasy (Ralph Fiennes). Enquanto cuida de seu desmemoriado paciente, Hana lida com seus sentimentos em relação a Kip (Naveen Andrews, que anos depois faria sucesso com a série "Lost"), um indiano cuja função é desarmar bombas deixadas pelos inimigos. Se auto-considerando destinada a perder a todos que ama, Hana ainda aceita hospedar em sua villa o misterioso Caravaggio (Willem Dafoe), que tem as respostas sobre a vida pregressa do "paciente inglês". Almasy, na verdade, tem uma trágica história de amor no passado: apaixonado perdidamente por Katharine Clifton (Kristin-Scott Thomas), uma mulher casada, ele envolveu-se, por causa dela, em um jogo de intrigas e mal-entendidos que culminou com sua desoladora morte.

 

Contado em forma de flashbacks que em seu final, monta todo um quebra-cabeças melancólico e desesperado, "O paciente inglês" tem a seu favor o talento de seu diretor Anthony Minghella em criar sequências de invulgar beleza: em vários momentos sua câmera deixa a plateia com a respiração suspensa, tamanha sua sensibilidade. É assim com a cena em que Kip mostra os desenhos de uma igreja abandonada à Hana ou na belíssima sequência inicial em que o deserto do Saara parece ter as formas de um corpo feminino graças ao ângulo com que o diretor de fotografia John Seale posiciona a câmera. É notável o carinho com que Minghella trata seus atores, entregando a eles cenas fortes e diálogos memoráveis (não foi à toa que seus três protagonistas foram indicados ao Oscar, e Juliette Binoche, excepcional, levou a estatueta pra casa, ainda que de coadjuvante ela não tenha nada...)

O tempo fez bem a "O paciente inglês". Na época de seu lançamento, foi considerado por alguns críticos como um filme "frio" e "sem alma". Hoje, à luz do tempo, pode-se perceber melhor suas qualidades: a bela trilha sonora de Gabriel Yared, a fotografia deslumbrante de John Seale, o roteiro complexo mas repleto de sinceridade, e as atuações extremamente emocionais de seu elenco. Ralph Fiennes abandona o ar psicótico de seu nazista de "A lista de Schindler" para assumir de vez seu papel de herói romântico; Juliette Binoche rouba todas as cenas em que aparece, com uma expressividade arrasadora; e Kristin Scott-Thomas mostra que, por debaixo da frieza britânica mostrada em "Lua de fel" e "Quatro casamentos e um funeral", há um vulcão de sensualidade e passionalidade. Também não atrapalha em nada ter em seu elenco coadjuvante nomes como os de Colin Firth e Willem Dafoe, que dão o tom exato em suas interpretações.

"O paciente inglês" não tinha, em seu ano, nenhum concorrente digno de estragar seus planos de vitória: disputou o prêmio com o simpático "Jerry Maguire", o irônico "Fargo", o chatíssimo "Segredos e mentiras" e o super-apreciado "Shine". Mas o fato de não ter reais rivais em seu caminho não tira sua glória: é um filme que mereceu os prêmios que ganhou e que vai permanecer na memória do público como um dos mais belos romances da história do cinema.

6 comentários:

Silvano Vianna disse...

O Paciente inglês é o filme mais chato da história a ganhar muitos Oscars...até hoje eu não entendo...e lembro que tinham alguns bons filmes na época concorrendo.

Cristiano Contreiras disse...

Eu acho que ele é um filme chatinho também, nem eu compreendo como ganhou esses premios todos - e você, espantosamente, gosta?!

abraço rs

Alan Raspante disse...

Binoche e Scott-Thomas. Bem, eu preciso ver... enho que vê-las em cena em um mesmo filme!

[]s

Thomás R. Boeira disse...

Quando assisti esse filme achei bem chato. Preciso revê-lo, porque não sei se o clima que eu estava no dia interferiu na minha apreciação do filme. Lembro de ter gostado bastante de Juliette Binoche.

Mas ainda assim, acho que os Oscars da época deveriam ter sido para Fargo ou para Jerry Maguire.

Abraço,
Thomás
http://www.brazilianmovieguy.blogspot.com/

V.L.M.F disse...

simplesmente não me canso de ver, torço sempre para o amor do conde e kat,Revi em 2015 e agora em 2016 sempre com emoções

Anônimo disse...

Achei um bom filme, bem típico do padrão do Oscar. Sinceramente, não entendo porque alguns falam como se fosse o pior ganhador da história. Houve ganhadores controversos antes e depois disso, à exceção de Shakespeare Apaixonado e Crash, não despertam tanta aversão. O Oscar de O Paciente Inglês foi mais injusto que o de Conduzindo Miss Daisy, que bateu três filmes muito mais populares, Nascido em 4 de Julho, Sociedade dos Poetas Mortos e Meu Pé Esquerdo? Ou o de Carruagens de Fogo, que venceu Os Caçadores da Arca Perdida, Reds e Num Lago Dourado, o último filme de Henry Fonda, e o tipo de drama intimista que Hollywood sempre gostou de premiar?

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