A SOMA DE TODOS OS MEDOS (The sum of all fears, 2002, Paramount Pictures, 124min) Direção: Phil Alden Robinson. Roteiro: Paul Attanasio, Daniel Pyne, romance de Tom Clancy. Fotografia: John Lindley. Montagem: Nicholas de Toth, Neil Travis. Música: Jerry Goldsmith. Figurino: Marie-Sylvie Deveau. Direção de arte/cenários: Jeannine Oppewall/Cindy Carr. Produção executiva: Tom Clancy, Sttarton Leopold. Produção: Mace Neufeld. Elenco: Ben Affleck, Morgan Freeman, James Cromwell, Ken Jenkins, Ron Rifkin, Bridget Monayhan, Liev Schreiber, Philip Baker Hall, Bruce McGill. Alan Bates, Colm Feore. Estreia: 31/5/02
Jack Ryan, fictício analista da CIA criado pelo escritor Tom Clancy apareceu pela primeira vez nas telas de cinema na pele de Alec Baldwin. Era 1990 e o filme "A caçada ao Outubro Vermelho" fez um enorme sucesso. Não demorou para que outros livros de Clancy protagonizados por Ryan chegassem às telas, mas como quem manda em Hollywood é o dinheiro, em "Jogos patrióticos" (1992) e "Perigo real e imediato" (1994) ele tinha o rosto ainda mais popular de Harrison Ford. Em 2002, porém, Ford estava um pouco velho demais para voltar à personagem e saiu de fininho de um novo filme estrelado pela personagem, sem divulgar os seus motivos. A despeito das qualidades e carisma de Ford, porém, sua substituição pelo bem mais jovem Ben Affleck mostrou-se acertada. "A soma de todos os medos" é um belo thriller de ação que joga com os temores de uma guerra nuclear de grandes proporções a seu favor. E é também uma das poucas vezes em que Affleck não consegue estragar um filme com sua costumeira apatia.
Quando a empolgante trama criada por Clancy - que queixou-se depois de inúmeros erros técnicos cometidos pelo roteiro - começa, os EUA estão em sério conflito com a Rússia a respeito da Chechênia. Quando o presidente russo morre repentinamente e é substituído pelo discreto Nemerov (Ciaran Hinds), a paranoia se instala em todos os setores do governo americano. O presidente, Robert Fowler (James Cromwell) logo passa a ser aconselhado por seus assessores diretos, que insistem no fato de que uma guerra nuclear é iminente. Quem não compartilha dessa opinião é o jovem analista Jack Ryan (Ben Affleck), mas quando uma bomba explode em Baltimore ele precisa provar que sua teoria - a de que uma facção terrorista tenciona iniciar uma guerra entre os dois países - é correta, antes que o mundo corra o risco de um holocausto nuclear.
O maior acerto de "A soma de todos os medos" seja justamente o de privilegiar o suspense em detrimento da ação pura e simples. As intrigas político-governamentais assumem relevância crucial na história, assim como as sequências extremamente bem realizadas de explosões e destruição que fazem a glória do gênero. Para isso, é louvável a escalação de um elenco coadjuvante repleto de atores excepcionais como Morgan Freeman, James Cromwell e Liev Schreiber, bem como a escolha certeira do irlandês Ciarán Hinds para o central papel do presidente russo Nemerov. Com seu olhar misterioso e sua voz aterrorizante, o ator rouba as cenas em que aparece e até faz a audiência esquecer que o pretenso protagonista (Jack Ryan) aparece bem menos do que nos outros filmes da série. E para quem questiona o fato de Affleck viver Ryan mesmo sendo bem mais jovem do que Harrison Ford a resposta parece ser uma só: assim como acontece volta e meia no cinema, "A soma de todos os medos" não é nem uma continuação nem um prequel e sim uma espécie de novo início (como aconteceu com "Superman" nos anos 2000).
"A soma de todos os medos" pode não ser o melhor filme do gênero realizado em Hollywood, mas é inegável que tem qualidades redentoras e uma tensão quase palpável. Convenhamos, é muito mais do que se pode esperar de produções comerciais que normalmente só oferecem violência e piadinhas infames.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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