Mostrando postagens com marcador PAUL BETTANY. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador PAUL BETTANY. Mostrar todas as postagens

domingo

HOMEM DE FERRO 2


HOMEM DE FERRO 2 (Iron Man 2, 2010, Paramount Pictures/Marvel Studios, 124min) Direção: Jon Favreau. Roteiro: Justin Theroux, personagens criados por Stan Lee, Don Heck, Larry Lieber, Jack Kirby. Fotografia: Matthew Libatique. Montagem: Dan Lebental. Música: John Debney. Figurino: Mary Zophres. Direção de arte/cenários: J. Michael Riva/Lauri Gaffin. Produção executiva: Louis D'Esposito, Susan Downey, Jon Favreau, Alan Fine, Stan Lee, David Maisel, Denis L. Stewart. Produção: Kevin Feige. Elenco: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Mickey Rourke, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson, Jon Favreau, Don Cheadle, Sam Rockwell, John Slattery, Clark Gregg, Paul Bettany, Kate Mara. Estreia: 26/4/2010

Indicado ao Oscar de Efeitos Visuais

Não foi surpresa para ninguém quando, mesmo com o primeiro "Homem de ferro" ainda em cartaz, um segundo capítulo foi confirmado pela Marvel. Com uma renda doméstica superior a 300 milhões de dólares (e uma bilheteria mundial de quase o dobro), a adaptação das aventuras de Tony Stark, o bilionário tornado super-herói, deu o pontapé inicial para a criação de um universo cinematográfico próprio, que daria origem a uma série de filmes extremamente bem-sucedidos em termos comerciais e de crítica. Confirmando a regra de quem em time que está ganhando não se mexe, o estúdio manteve Jon Favreau na direção, Robert Downey Jr. no papel-título (dessa vez com um salário compatível com sua importância no projeto) e Gwyneth Paltrow na pele de sua secretária/interesse amoroso Pepper Potts. A única baixa foi a substituição de Terrence Howard por Don Cheadle - uma intriga de bastidores que foi assunto por um bom tempo em publicações sobre o tema. Com um orçamento um pouco mais generoso que o primeiro filme e as expectativas nas alturas, "Homem de ferro 2" chegou às telas na primavera norte-americana de 2010 e, novamente para nenhuma surpresa, transformar-se em um dos campeões de bilheteria do ano. A boa notícia é que, apesar de seguir quase à risca o manual de roteiros de Hollywood, o filme de Favreau conseguiu manter o frescor do material original e revelou-se um entretenimento à altura, graças, em boa parte, ao enxuto e bem estruturado roteiro de Justin Theroux

Indicado por Downey Jr., com quem havia trabalhado no script da comédia "Trovão tropical" (2009), Theroux teve a vantagem de não precisar voltar às origens do personagem, tão bem contadas no primeiro capítulo. Dessa vez, a história se ampara em três frentes: na primeira, Stark precisa lidar com a pressão do governo norte-americano que insiste para que ele compartilhe de sua tecnologia para colaborar na defesa do país. Na segunda, ele se vê frente a frente com o desgaste de sua saúde, prejudicada por sua exposição ao material radoiativo que o mantém vivo. E, por fim, uma parte do passado de sua família vem à tona quando o físico russo Ivan Vanko - filho de um cientista que fora sócio de seu pai nas indústrias Stark - chega ao país para unir-se a Justin Hammer, seu principal rival nos negócios, e vingar-se do fato de ter sido deportado do país, acusado de traição. As três tramas caminham paralelamente durante o filme, para se encontrarem no ato final - que consegue ser mais empolgante que o original graças aos efeitos indicados ao Oscar e por sua integração natural ao enredo.


 E se a saída de Terrence Howard por questões salariais e artísticas - o estúdio sugeriu um corte de 80% do seu cachê, em relação ao primeiro filme, quando o ator teve um pagamento maior que o de Robert Downey Jr., e diminuição de seu personagem devido à insatisfação do diretor com seu desempenho - os acréscimos a essa segunda parte da saga do Homem de Ferro fizeram a festa para os espectadores.Na pele do principal vilão, Ivan Vanko, o primeiro acerto: em alta depois de sua indicação ao Oscar de melhor ator por "O lutador" (2008), Mickey Rourke entrou no elenco como um grande atrativo - mas depois da estreia reclamou a quem quisesse ouvir que suas melhores cenas haviam sido cortadas, e que tal situação havia tornado inútil toda a sua preparação anterior às filmagens (o que incluiu uma viagem à Rússia e treinamento físico específico). Para viver o rival de Stark, o empresário Justin Hammer, a escolha inicial de escalar Al Pacino foi substituída pela presença de Sam Rockwell, mais jovem e de maior diálogo com a plateia juvenil. E por fim, o melhor da festa: a presença de Scarlett Johansson como Natasha Romanov - que, como todo fã dos quadrinhos sabe, é o nome civil da Viúva Negra, personagem cuja importância vai se tornando cada vez maior no decorrer do lançamento dos outros filmes da Marvel. Anteriormente reservado para Emily Blunt, o papel ficou vago quando a atriz não conseguiu conciliar o trabalho com as filmagens de "As viagens de Gulliver", e não faltaram nomes cogitados para seu lugar: Angelina Jolie, Jessica Biel, Gemma Arterton e Jessica Alba estavam entre os boatos - assim como Natalie Portman (que depois estrelaria "Thor", de Kenneth Branagh) e Brie Larson (a Capitã Marvel em pessoa). Johansson tingiu os cabelos de ruivo, envolveu-se em treinamentos físicos antes e durante as filmagens, e surgiu como mais um elo do Homem de Ferro com a S.H.I.E.L.D. - que se tornará ponto crucial nos filmes seguintes da série.

Mais do que apenas um filme realizado para encher os cofres da Marvel - a esta altura já bem recheado -, "Homem de ferro 2" é, mais do que tudo, uma produção que estabelece ainda mais as fundações do universo cinematográfico da produtora, oferecendo ao público tudo que uma superprodução escapista e milionária pode oferecer. Tem bons momentos de humor (em boa parte graças ao carisma de Downey Jr., cada vez mais à vontade no papel principal), cenas de ação caprichadas e personagens coadjuvantes que não estão em cena como meros figurantes. Para quem gosta do gênero é um programa dos mais satisfatórios - em compensação, os detratores do cinemão comercial hollywoodiano continuarão torcendo o nariz para seus efeitos mirabolantes, piadas irônicas e mitologia própria. É uma questão de gosto - e os mais de 620 milhões de dólares arrecadados ao redor do mundo deixa bem claro que muita gente aprova as aventuras de Tony Stark.

terça-feira

HOMEM DE FERRO


HOMEM DE FERRO (Iron Man, 2008, Paramount Pictures/Marvel Studios, 125min) Direção: Jon Favreau. Roteiro: Mark Fergus, Hawk Ostby, Art Marcum, Matt Holloway, personagens criados por Stan Lee, Don Heck, Larry Lieber, Jack Kirby. Fotografia: Matthew Libatique. Montagem: Dan Lebental. Música: Ramin Djawadi. Figurino: Rebecca Bentjen, Laura Jean Shannon. Direção de arte/cenários: J. Michel Riva/Lauri Gaffin. Produção executiva: Avi Arad, Peter Billingsley, Louis D''Esposito, Ross Fanger, Jon Favreau, Stan Lee, David Maisel. Produção: Avi Arad, Kevin Feige. Elenco: Robert Downey Jr., Jeff Bridges, Gwyneth Paltrow, Terrence Howard, Jon Favreau, Paul Bettany, Leslie Bibb, Shaun Toub, Faran Tahir, Clark Gregg, Samuel L. Jackson. Estreia: 14/4/2008 (Sydney)

2 indicações ao Oscar: Edição de Som, Efeitos Visuais

No mundo do cinema, assim como na vida, há males que vem pra bem. Se tivesse sido realizado lá em 1990, quando surgiram as primeiras notícias a respeito, um filme estrelado pelo Homem de Ferro provavelmente não repetiria o sucesso de "Batman" (1989), dirigido por Tim Burton. Primeiro porque o super-herói da Marvel não tinha o mesmo impacto do homem morcego, e segundo - e mais importante - seu intérprete ideal ainda não estava pronto para o desafio. No começo da década de 1990, Robert Downey Jr. tateava em busca de uma personalidade artística própria e estrelava desde comédias românticas inócuas - como "O céu se enganou" (1989) - até filmes de ação pouco inspirados - a exemplo de "Air America: loucos pelo perigo" (1990), ao lado de Mel Gibson. Na década seguinte, conheceria a glória do prestígio - com uma indicação ao Oscar de melhor ator, por "Chaplin" (1992), e o início de um período em que quase sucumbiu às drogas. Foi somente depois de provar que seu talento estava intacto apesar dos altos e baixos que Downey Jr. finalmente encontrou o papel de sua vida: depois de ver o ator na comédia policial "Beijos e tiros" (2005), o ator/diretor Jon Favreau, escolhido para finalmente tocar adiante o projeto estrelado pelo multimilionário Tony Stark, encontrou nele o intérprete ideal. Era 2007, e a carreira de Downey Jr. nunca mais seria a mesma - assim como a história da Marvel no cinema.

Primeiro filme totalmente financiado da Marvel Studios - e o primeiro de um acordo com a Paramount Pictures - e rodado a um custo estimado de 140 milhões de dólares, "Homem de ferro" foi beneficiado pelo destino. Tivesse realmente sido produzido pela Universal Pictures em 1990, teria sido dirigido por Stuart Gordon, não exatamente um cineasta acostumado a grandes produções. Se mais tarde, em 1996, quando a 20th Century Fox assumiu o projeto, ele tivesse ido adiante, a presença de Nicolas Cage no papel principal poderia tanto ser um pró (ele recém havia recebido um Oscar por "Despedida em Las Vegas" e "A rocha" era um sucesso prestes a acontecer) quanto um contra (não demoraria para que Cage se tornasse um ator de apelo duvidoso nas bilheterias). Dois anos depois, foi a vez de Tom Cruise demonstrar interesse no personagem, mas novamente nada aconteceu. Em 1999, para a feliz ilusão dos cinéfilos, ninguém menos que Quentin Tarantino se viu envolvido na concepção de um roteiro e em um possível contrato como diretor, mas em seguida os direitos foram transferidos para a New Line Cinema e, com eles tal possibilidade. Joss Whedon, fã do personagem e diretor de episódios de séries de televisão, como "Buffy: a caça-vampiros", chegou perto de finalmente dar uma cara a Stark e companhia - mas só se uniria de vez ao universo Marvel com "Os vingadores" (2012). A última tentativa da New Line em levar "Homem de ferro" adiante foi com Nick Cassavetes - conhecido por dramas como "Loucos de amor" (1998) e "Diário de uma paixão" (2004), porém foi somente com a retomada da Marvel que as coisas finalmente aconteceram.

 

De posse dos direitos do personagem, a Marvel percebeu que, a menos que ela mesma tomasse as rédeas, seu tão estimado projeto jamais veria a luz dos refletores. Foi assim que Jon Favreau - mais conhecido como ator - ganhou sua tão sonhada chance de assumir o comando do filme: escalado para dirigir "Capitão América: o primeiro vingador" (que só chegaria às telas em 2011), Favreau optou por contar a história do multimilionário Tony Stark em direção à glória como o aclamado Homem de Ferro, e levou o desafio a sério. Com a Industrial Light & Magic contratada para supervisionar os efeitos visuais (acabou sendo o último trabalho do mestre Stan Winston, indicado ao Oscar da categoria) e vários escritores das revistas do personagem chamados para evitar discrepâncias em relação a suas origens, Favreau acertou em mesclar um tom mais sério a uma atmosfera leve e atualizar a história. Nos quadrinhos, Stark se torna o Homem de Ferro durante sua participação na Guerra do Vietnã, mas o roteiro do filme fez uma alteração crucial para uma maior comunicação com as plateias do século XXI, e transferiu parte da ação para o Afeganistão. Acertando em cheio em aproximar protagonista e público, Favreau teve ainda mais sorte em contar com Downey Jr. na pele de Tony Stark, um milionário filantropo, mulherengo, amante de aventuras e inventor - baseado no empresário Howard Hughes - que, depois de escapar por pouco de ser morto por um grupo terrorista, passa a se dedicar a aprimorar sua armadura de Homem de Ferro com o objetivo de lutar contra o mal.

Downey Jr. - que recebeu módicos 500 mil dólares por seu trabalho, menos inclusive do quanto foi pago a Terrence Howard, seu colega de elenco - é o corpo e a alma de "Homem de ferro". Mesmo ao lado de nomes fortes como Jeff Bridges, ele conduz o ritmo e o tom quase debochado do filme, conquistando o público sem fazer muito esforço. Clive Owen e Hugh Jackman - que chegaram a ser cogitados para o papel - podem ser excelentes atores, mas Downey nasceu para viver o Homem de Ferro, segundo palavras de seu próprio criador, Stan Lee. Seu talento não apenas para dar vida ao personagem, mas também para improvisar boa parte de suas falas durante as filmagens - para desespero do ortodoxo Bridges e da premiada Gwyneth Paltrow, que interpreta Pepper Potts, secretária e interesse romântico do herói - justifica o sucesso do filme junto à crítica e às mais exigentes plateias. O roteiro pode não apresentar nada de novo (em especial aos fãs dos quadrinhos) e os efeitos visuais não chegam a surpreender, mas o desempenho do ator, que teve sua carreira retomada com gás total, é motivo mais que suficiente para que até mesmo o espectador menos interessado no gênero dê uma conferida. É entretenimento de primeira, e o pontapé inicial da vitoriosa criação do Universo Cinematográfico Marvel!

domingo

MARGIN CALL - O DIA ANTES DO FIM

MARGIN CALL, O DIA ANTES DO FIM (Margin call, 2011, Before the Door Pictures, 107min) Direção e roteiro: J.C. Chandor. Fotografia: Frank G. DeMarco. Montagem: Pete Beaudreau. Música: Nathan Larson. Figurino: Caroline Duncan. Direção de arte/cenários: John Paino/Robert Covelman. Produção executiva: Joshua Blum, Michael Corso, Kirk D'Amico, Cassian Elwes, Rose Ganguzza, Anthony Gudas, Randy Manis, Laura Rister. Produção: Robert Ogden Barnum, Michael Benaroya, Neal Dodson, Joe Jenckes, Corey Moosa, , Zachary Quinto. Elenco: Kevin Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons, Zachary Quinto, Demi Moore, Simon Baker, Mary McDonnell, Stanley Tucci, Penn Badgley. Estreia: 25/01/11 (Festival de Sundance)

Indicado ao Oscar de Roteiro Original

Pode até parecer chato, mas não é. "Margin Call - O dia antes do fim". escrito e dirigido por J.C. Chandor, apesar de tratar de um assunto relativamente inacessível à maioria do público - finanças, negociatas e afins - consegue surpreendentemente evitar os bocejos que filmes com essa temática normalmente despertam na audiência (vide o aborrecido "Wall Street, o dinheiro nunca dorme", que apesar de Michael Douglas não escapava da chatice). Focalizando sua atenção mais na tensão de uma provável hecatombe monetária do que exatamente em tentar explicar didaticamente suas causas, Chandor marcou um gol de placa logo em seu primeiro filme, levando pra casa os prêmios de melhor diretor estreante tanto pelo National Board of Review quanto pela Associação de Críticos de Nova York, além de uma surpreendente indicação ao Oscar de roteiro original. A boa notícia? Ele mereceu.

"Margin Call" se passa em tensas 24 horas que precedem o que promete ser - segundo as personagens, todas especialistas no assunto - uma das mais graves crises financeiras já vistas pelos EUA (e consequentemente pelo mundo todo). Tudo começa com a demissão em massa de inúmeros funcionários de um milionário banco de investimentos nova-iorquino. Entre os infelizes desempregados está Eric Dale (Stanley Tucci, excepcional), que, na hora de sair do prédio, deixa nas mãos de um de seus assistentes, o jovem Peter Sullivan (Zachary Quinto, um dos produtores do filme) um pen-drive com informações aterradoras sobre os negócios da empresa. Assustado com o que descobre, Peter e seu colega mais próximo Seth Bregman (Penn Badgley) entram em contato com seu superior imediato, Will Emerson (Paul Bettany), que também se choca com o que vê. A partir daí, o pânico passa a fazer parte da equação, principalmente quando entram em jogo figuras de um escalão muito maior da firma, como o experiente Sam Rogers (Kevin Spacey em um dos melhores momentos de sua carreira), a ambiciosa Sarah Robertson (Demi Moore) e o especialista Jared Cohen (Simon Baker). Juntos, todos eles se reunirão com aquele que irá decidir seus destinos, o poderoso John Tuld (Jeremy Irons, também magnífico).


Apesar de muitas vezes deixar o espectador perdido (em especial por não fazer questão de esclarecer a crise de maneira explícita), o ótimo roteiro de Chandor tem a sorte de contar com um dos mais espetaculares elencos reunidos nos últimos anos. É graças aos trabalhos repletos de silêncios reveladores de Spacey, Tucci, Irons e até mesmo Demi Moore que a trama do filme se sustenta. Se as cenas que se referem a dólares e percentuais passam batidos pela vasta maioria da audiência, os diálogos onde a humanidade de suas personagens se revela dá à obra um tom dramático irresistível (mesmo que exagero de espécie alguma passe pela tela). E são particularmente fascinantes as atuações de Kevin Spacey (relembrando a todos o porquê de ser um dos melhores atores americanos de sua geração) e Stanley Tucci (que merecia ter sido lembrado com uma indicação ao Oscar de coadjuvante).

Tendo passado despercebido pelos cinemas brasileiros - em boa parte por seu tema específico demais - "Margin call" é um filme de filigranas. A forma como Chandor equilibra todos os detalhes de seu roteiro sem nunca perder o fio da meda é admirável, especialmente quando se percebe que até mesmo subtramas aparentemente desnecessárias - caso da doença do cachorro do personagem de Spacey - tem razão de ser dentro do imenso quadro geral. Escrever um roteiro assim não é tarefa das mais fáceis. Dirigir um elenco com tantos nomes poderosos idem. Mas Chandor tira de letra o desafio em um filme que, a despeito de seu assunto, pode surpreender até ao menos interessado em finanças.

quarta-feira

O CÓDIGO DA VINCI


O CÓDIGO DA VINCI (The Da Vinci Code, 2006, Columbia Pictures, 149min) Direção: Ron Howard. Roteiro: Akiva Goldsman, romance de Dan Brown. Fotografia: Salvatore Totino. Montagem: Dan Henley, Mike Hill. Música: Hans Zimmer. Figurino: Daniel Orlandi. Direção de arte/cenários: Allan Cameron/Richard Roberts. Produção executiva: Dan Brown, Todd Hallowell. Produção: John Calley, Brian Grazer, Ron Howard. Elenco: Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Ian McKellen, Paul Bettany, Alfred Molina, Jurgen Prochnow. Estreia: 19/5/06

E alguém duvidava que o décimo-primeiro livro mais vendido do mundo (ao toque de 80 milhões de cópias contabilizadas) chegaria às telas de cinema? É claro que não. A grande questão, respondida na abertura do Festival de Cannes de 2006 era bem outra: conseguiria o roteiro do oscarizado Akiva Goldsman fazer justiça ao romance do americano Dan Brown e repetir junto aos ávidos frequentadores de cinema o interesse do livro? Afinal de contas, o que fazia do thriller de Brown um produto acima da média em termos de literatura de ficção era justamente a mistura bem azeitada entre suspense, história, arte e religião que fazia com que os consumidores simplesmente devorassem a obra vorazmente. Porém, esse equilíbrio, que consistia em páginas e mais páginas de explanações sobre segredos do Vaticano divididos com momentos de ação e mistério e funcionava à perfeição nas páginas, tropeça nas telas. A versão para o cinema de "O código Da Vinci" é tecnicamente perfeita, mas não cumpre tudo que promete.

Tudo começa já na escolha do ator principal. Por mais talentoso que seja, Tom Hanks talvez não seja a opção mais adequada para viver Robert Langdon, o simbologista que é jogado de uma hora pra outra em uma arriscada aventura que põe sua própria vida em jogo: a apatia do ator é perceptível em cada cena, tirando muito do entusiasmo que a trama poderia suscitar e nem mesmo as inspiradas atuações de Ian McKellen, Paul Bettany e Jean Reno conseguem apagar a má impressão. Somado a um roteiro que para a ação em momentos cruciais para a inserção de longos monólogos explicativos - fato que não chega a ser exatamente culpa de Goldsman, uma vez que tais cenas são imprescindíveis para a compreensão da história - o trabalho quase medíocre de Hanks tira muito o brilho do filme.



Filmado com locações dentro do Museu do Louvre, em Paris - onde a trama tem início de forma violenta - "O código Da Vinci" é uma produção caprichada, como se espera de um filme com o orçamento gigantesco de 125 milhões de dólares. Fotografado e editado com cuidado e precisão, ele não consegue, no entanto, deixar a impressão de que é mais longo do que seus demorados 149 minutos de duração. Enquanto o livro passava rapidamente diante dos olhos dos leitores, que viravam suas páginas enlouquecidamente para saber o que viria a seguir, a versão live-action dirigida quase no piloto automático por Ron Howard (vindo do Oscar por "Uma mente brilhante") nunca chega a empolgar, conduzindo o público a uma intriga bastante interessante revelada de forma preguiçosa. É surpreendente que um roteirista tarimbado como Akiva Goldsman não saiba transformar o livro em um produto cinematográfico adequado, ficando preso em demasia à sua estrutura em detrimento a dotá-lo de um ritmo próprio.

Por outro lado, nem tudo são pedras. Quem não leu o romance de Dan Brown - cuja continuação "Anjos e demônios", que se passa antes deste também virou filme nas mãos da mesma equipe - provavelmente irá se surpreender com a história criada pelo escritor, que causou polêmica junto à Igreja católica graças às teorias que levantou. Segundo o livro, o artista plástico Leonardo Da Vinci deixou, escondidas em suas obras, inúmeras pistas relativas a um ancestral segredo que diz respeito à linhagem sagrada de Jesus Cristo e Maria Madalena. São essas pistas que levam o simbologista vivido por Hanks - em papel disputado quase a tapa pelos maiores astros de Hollywood - a correr atrás do assassino de um velho amigo, assassinado no Museu do Louvre e que lhe deixou mensagens criptografadas. Ao lado da neta da vítima, Sophie Neveu (Audrey Tautou), ele parte em busca de respostas a questões que nem sabia existir e encontra pelo caminho o assustador monge Silas (Paul Bettany).

É inegável que a história engendrada por Dan Brown é inteligente, intrigante e bastante relevante. Mas é visível também que sua adaptação para o cinema não chegou nem perto de suas imensas possibilidades. Mesmo assim, é acima da média no gênero e, assistido com paciência e boa vontade, pode render uma bela sessão, principalmente pela história e pelas atuações de Ian McKellen e Paul Bettany.

sábado

DOGVILLE

DOGVILLE (Dogville, 2003, Zentropa Entertainment, 178min) Direção e roteiro: Lars Von Trier. Fotografia: Anthony Dod Mantle. Montagem: Molly Marlene Stensgaard. Figurino: Manon Rasmussen. Direção de arte/cenários: Peter Grant/Simone Grau. Produção: Vibeke Windelov. Elenco: Nicole Kidman, Paul Bettany, Chloe Sevigny, Lauren Bacall, Patricia Clarkson, James Caan, Hariett Andersson, Jean-Marc Barr, Jeremy Davies, Ben Gazzarra, Philip Baker Hall, Zeljko Ivanek, John Hurt, Stellan Skarsgaard, Udo Kier. Estreia: 19/5/03 (Festival de Cannes)

Um diretor que assina filmes como “Ondas do Destino”, “Os Idiotas” e “Dançando no Escuro” não pode ser considerado alguém com muita fé na bondade inerente ao ser humano. Dito isto, é possível entender ainda mais as implicações sociais, psicológicas e religiosas de outra de suas obras consideradas de difícil digestão.“Dogville”, de Lars Von Trier, é possivelmente a mais radical e desconcertante experiência cinematográfica de 2003. E por mais de uma razão.

Pode-se começar pela total e absoluta ruptura de linguagem cinematográfica, que se afasta abruptamente do normal, do mainstream, do comercial... O termo “suspensão da realidade” talvez seja a palavra de ordem aqui. Não há cenários elaborados, não há truques corriqueiros de cinema hollywoodiano, não há deuses ex-machina salvadores. Há Atores (assim mesmo, com A maiúsculo), há a total crença no texto e nas ideias revolucionárias (na falta de palavra melhor), há a história forte e de importante ressonância política, ainda que mal disfarçada por uma metáfora facilmente decodificável. Quem é Grace (Nicole Kidman, ainda em sua fase de boa atriz) senão a representação de povos menos favorecidos que são escravizados pelos colonizadores donos da bola? Quem são os moradores do lugarejo chamado Dogville senão os próprios donos da bola, os colonizadores que exploram aqueles que precisam incondicionalmente de sua ajuda? Nem Michael Moore faria melhor e seria mais incisivo.



A história é simples como convém: uma pequena cidade do Colorado, chamada Dogville, recebe, com suspeitas, a jovem Grace (Nicole Kidman), que se esconde de um grupo de gângsters por motivos que não quer revelar. Influenciados por Tom (Paul Bettany), o intelectual do lugar, os habitantes da cidade aceitam a presença da bela jovem, que, agradecida, passa a ajudar a todos os moradores com suas rotinas diárias. Apaixonado por Grace, Tom não percebe, porém, que a moça começa a ser cada vez mais explorada por todos conforme mais dúvidas vão surgindo a respeito de seu passado. Abusada fisicamente, sexualmente e psicologicamente, Grace se submete a tudo em um resignado silêncio, até que a verdade a seu respeito finalmente aparece e ameaça destruir toda a cidade.

“Dogville” pode ser considerado a colação de grau do Dogma 95, criado por Trier e seus contemporâneos para manter a pureza do cinema enquanto sétima arte. Ao reunir teatro e cinema em um mesmo pacote, o diretor incorreu na ira dos puristas, que não conseguem render-se ao novo, ao experimental. Não é um filme fácil, em nenhuma hipótese.  O ritmo é lento, a ação é psicológica e não física (o que a falta de cenários só corrobora) e pode aborrecer os mais ansiosos por barulhos e correrias. Se o objetivo é diversão, é mais garantido recorrer aos blockbusters que abarrotam as videolocadoras. Ao menos, eles têm finais felizes e produções mais caras e elaboradas. E as imagens finais do grande filme de Lars Von Trier, ao som de “Young Americans”, uma das mais críticas canções de David Bowie são a prova inconteste de que finais felizes não podem ser mais anacrônicos do que em um mundo à mercê de grandes e auto-centradas potências.

segunda-feira

UMA MENTE BRILHANTE

UMA MENTE BRILHANTE (A beautiful mind, 2001, Universal Pictures/Dreamworks SKG, Imagine Entertainment, 135min) Direção: Ron Howard. Roteiro: Akiva Goldsman, livro de Sylvia Nasar. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Dan Hanley, Mike Hill. Música: James Horner. Figurno: Rita Ryack. Direção de arte/cenários: Wynn Thomas/Leslie Rollins. Produção executiva: Todd Hallowell, Karen Kehela. Produção: Brian Grazer, Ron Howard. Elenco: Russell Crowe, Jennifer Connelly, Ed Harris, Christopher Plummer, Paul Bettany, Josh Lucas, Adam Goldberg, Judd Hirsch. Estreia: 13/12/01

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Ron Howard), Ator (Russell Crowe), Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly), Roteiro Adaptado, Montagem, Trilha Sonora Original, Maquiagem
Vencedor de 4 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Ron Howard), Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly), Roteiro Adaptado
Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Ator/Drama (Russell Crowe), Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly), Roteiro

Grande vencedor do Oscar 2001 em quatro categorias - Filme, Diretor, Roteiro Adaptado e Atriz Coadjuvante - "Uma mente brilhante" conta a história do matemático John Nash causou polêmica em seu lançamento, o que em nada atrapalhou seu sucesso também nas bilheterias, com uma arrecadação de mais de 170 milhões de dólares somente no mercado americano (o que, se for levado em conta que não é um típico produto para consumo imediato é um estrondoso sucesso). O celeuma foi causado pela revelação de que o protagonista do filme tinha ideias antissemitas, o que foi convenientemente deixado de lado pelo premiado roteiro de Akiva Goldsman, assim como suas tendências homossexuais. O que os polemistas talvez não tenham percebido é que tais características da personagem não fazem muita diferença para o centro da história contada no filme. O que importa na obra de Ron Howard - um diretor até então de filmes comerciais sem maiores ambições artísticas - é a luta de Nash contra a esquizofrenia, travada durante décadas, e sua história de amor com a esposa Alicia - história essa bastante enfeitada na transposição para celulóide da extensa biografia escrita por Sylvia Nasar.

Vivido com um misto de garra e delicadeza surpreendente por um Russell Crowe provando seu imenso talento, John Nash é mostrado pela primeira vez em 1947, ainda na faculdade e buscando uma maneira de destacar-se de seus colegas, todos matemáticos brilhantes e um tanto arrogantes. Já professor, Nash conhece e se apaixona por uma aluna, a bela Alicia (Jennifer Connelly, linda e excelente no papel), com quem se casa, apesar de suas dificuldadades em relacionamentos sociais. Às vésperas de seu reconhecimento profissional, no entanto, ele é diagnosticado como esquizofrênico e, com a ajuda de Alicia e do psiquiatra Dr. Rosen (Christopher Plummer), ele tenta superar a doença e voltar a ser o gênio que prometia.



Russell Crowe foi injustiçado quando perdeu o Oscar de Melhor Ator para Denzel Washington. Seu trabalho como John Nash é infinitamente superior não somente ao de Denzel mas principalmente à sua própria atuação vencedora do prêmio da Academia pelo épico "Gladiador". Repleta de nuances e sutilezas que só os grandes atores conseguem, sua atuação comove, intriga e angustia na medida certa, impedindo a compaixão fácil e fazendo com que cada cena seja especial pelo simples fato de ele estar presente nela. Sua química exemplar com Jeniffer Connelly, seja em cenas românticas (criadas para agradar às plateias mais convencionais) ou nas mais dramáticas eleva o filme a um patamar de excelência que provavelmente foi o que conquistou o público sedento por um drama adulto de qualidade. É de questionar apenas os motivos que levaram Connelly a vencer na categoria de coadjuvante, uma vez que sua personagem é quase tão protagonista quanto a de Crowe. Somado a sua trama de superação - que além de tudo é verdadeira, apesar da supressão de fatos importantes e da simplificação de outros - o romance entre Nash e Alicia também seduziou os eleitores do Oscar que lhe deram quatro importantes estatuetas (e deveriam ter dado no mínimo mais uma, a Crowe, que acabou prejudicado pela mania do Oscar de corrigir injustiças fazendo outras....).

Além dos trabalhos exemplares de Crowe e Connelly, porém, seria injusto deixar de citar a maior qualidade de "Uma mente brilhante": o roteiro irretocável de Akiva Goldsman. Apesar das licenças poéticas (que incorreram na fúria dos puristas), seu script é capaz de conquistar pela delicadeza dos diálogos e pela reviravolta espetacular que proporciona depois de sua primeira hora de projeção e além de tudo, funciona como drama médico, como romance e como thriller de espionagem, sem nunca atropelar o ritmo e as personagens, sejam elas protagonistas ou coadjuvantes - e nessa categoria encontra-se atores de primeira linha, como Christopher Plummer, Paul Bettany e um arrepiante Ed Harris, perfeito em sua tétrica caracterização como um misterioso agente da CIA.

Com todas essas qualidades, não é de estranhar que "Uma mente brilhante" tenha passado incólume pelas polêmicas a seu respeito. Afinal, verdadeiras ou não, as acusações feitas são contra a personalidade de seu protagonista e não interferem no produto cinematográfico, dirigido com precisão por Ron Howard, até então mais afeito a produções mais lineares e menos, com o perdão do trocadilho, brilhantes. É aqui, com a parceria de Russell Crowe e Akiva Goldsman que ele atinge seu ápice, em um filme forte e que, apesar de parecer esquemático, consegue surpreender e emocionar.

JADE

  JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...