TRÊS MULHERES, TRÊS AMORES (Mystic Pizza, 1988, The Samuel Goldwyn Company, 104min) Direção: Donald Petrie. Roteiro: Amy Jones, Perry Howze, Randy Howze, Alfred Uhry, estória de Amy Jones. Fotografia: Timothy Suhrstedt. Montagem: Don Brochu, Marion Rothman. Música: David McHugh. Figurino: Jennifer Von Meyerhauser. Direção de arte/cenários: David Chapman/Clay Griffith. Produção executiva: Samuel Goldwyn Jr.. Produção: Mark Levinson, Scott Rosenfelt. Elenco: Annabeth Gish, Julia Roberts, Lily Taylor, Vincent D'Onofrio, Conchata Ferrell, William R. Moses, Adam Storke, Matt Damon. Estreia: 21/10/88
Kat está em vias de iniciar a faculdade em Yale, mas aceita um trabalho extra de babá - até que não consegue controlar seus sentimentos e se envolve em uma relação destinada ao fracasso; sua irmã, Daisy, sensual e extrovertida, inicia um namoro com um rapaz de classe social superior à sua, surda aos avisos de que seu final não tem como ser feliz; e Jojo, que acabou de abandonar o noivo no altar, tenta reconquistá-lo a despeito de seu medo de compromissos e de sua libido à flor da pele serem problemas a superar para que a relação vingue. As três jovens trabalham como garçonetes em uma pizzaria de uma pequena cidade de Connecticut chamada Mystic e, além de lutarem por sua felicidade, são as protagonistas de um adorável pequeno filme chamado "Três mulheres, três amores", primeiro longa-metragem do cineasta Donald Petrie e responsável pelos primeiros papéis de destaque de um trio de atrizes que iria se destacar na década de 90 - sem falar que uma delas iria se tornar um dos maiores nomes do cinema americano do final do século XX: lançado no final de 1988, foi um dos filmes que chamaram a atenção do público e da crítica para uma bela e sorridente candidata a estrela: Julia Roberts.
Às vésperas de ser indicada pela primeira vez ao Oscar - como coadjuvante de "Flores de aço" (89) - e conhecer o estrelato absoluto com "Uma linda mulher" (90) - que lhe colocou novamente no páreo por uma estatueta que só viria uma década mais tarde -, Roberts já demonstrava, em "Três mulheres, três amores", o carisma e o talento que o público estava em vias de celebrar. Mérito também dos produtores, que a testaram para o papel da doidivanas Jojo mas resolveram acertadamente escalá-la para viver a voluptuosa Daisy, uma personagem capaz de explorar todas as facetas de sua capacidade dramática, e deixar Jojo nas mãos de Lily Taylor, também dando seus primeiros passos no cinema e se encaminhando para ser uma das queridinhas do cenário independente. Seu desempenho é repleto de uma jovialidade e de uma energia quase palpáveis, especialmente quando ao lado de Vincent D'Onofrio, que, na pele de seu atônito noivo católico, Bill - que não entende a fixação da noiva em sexo e seu medo de compromissos: juntos, Taylor e D'Onofrio proporcionam ao filme o toque de humor apropriado, que equilibra a determinação de Daisy e o romantismo de Kat - a personagem mais centrada e, justamente por isso, a mais surpreendente das três protagonistas.
Sensível e responsável, Kat resolve se dividir entre o emprego de garçonete na pizzaria e um trabalho de babá para a filha pequena do arquiteto Tim (William R. Moses), cuja esposa está viajando a trabalho. Enquanto aguarda o momento de embarcar para a universidade, ela começa a passar tempo demais com a menina e, por consequência, com seu pai, o que a leva a um romance inesperado e pouco recomendável - especialmente para alguém tão romântica e responsável. Nem mesmo sua irmã, Daisy, é tão inconsequente: apesar de namorar um rapaz rico, Charlie (Adam Storke), Daisy jamais se permite ser magoada ou inferiorizada, e usa de sua personalidade forte para impor seu ponto de vista mesmo que isso arrisque seu relacionamento. Juntas, as três se completam e dão força umas às outras - uma espécie de família abençoada pela dona do restaurante, Leona (Conchata Ferrell), cujo ingrediente secreto de seu molho unanimemente elogiado ela insiste em manter apenas para si.
Leve e despretensioso, "Três mulheres, três amores" (que quase ganhou uma sequência nos anos 90) se tornou o cartão de visitas de Donald Petrie, um diretor que especializou-se em comédias e episódios de séries de televisão até que, em 2000, tirou a sorte grande com "Miss Simpatia", um enorme sucesso de bilheteria estrelado por Sandra Bullock - e que redefiniu os rumos de sua carreira, levando-o para a seara das comédias românticas ("Como perder um homem em dez dias", de 2003, também surpreendeu positivamente). Já em seu primeiro filme, ele demonstra um bom senso de ritmo, de carinho pelos personagens e, ainda mais importante, a capacidade de criar identificação entre público e a história a ser contada. Pode parecer pouco, mas quando os créditos finais sobem e a plateia se despede das três moçoilas que lhe fizeram companhia nos últimos 100 minutos, pode-se perceber que nem todo cineasta consegue causar tanta simpatia e leveza. Uma ótima sessão da tarde adulta!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Mostrando postagens com marcador VINCENT D'ONOFRIO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador VINCENT D'ONOFRIO. Mostrar todas as postagens
sábado
quarta-feira
SETE HOMENS E UM DESTINO
SETE HOMENS E UM DESTINO (The magnificent seven, 2016, MGM/Columbia Pictures, 132min) Direção: Antoine Fuqua. Roteiro: Nic Pizzolatto, Richard Wenk, roteiro original de Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto, Hideo Oguni. Fotografia: Mauro Fiore. Montagem: John Refoua. Música: James Horner. Figurino: Sharen Davis. Direção de arte/cenários: Derek R. Hill/Bradford Johnson, Melissa Lombardo. Produção executiva: Bruce Berman, Antoine Fuqua, Walter Mirisch, Ben Waisbren. Produção: Roger Birnbaum, Todd Black. Elenco: Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke, Haley Bennett, Vincent D'Onofrio, Peter Sarsgaard, Matt Bomer, Byung Hu-Lee, Manuel Garcia-Rulfo, Martin Seinsmeier, Luke Grimes, Cam Gigandet. Estreia: 08/9/16 (Festival de Toronto)
Não deixou de ser irônica a gritaria em torno da refilmagem de "Sete homens e um destino", quando ela foi anunciada pelo cineasta Antoine Fuqua. Primeiro porque o filme de 1960, dirigido por John Sturges, foi uma decepção de bilheteria quando estreou nos EUA, tornando-se cult somente anos mais tarde, depois do sucesso comercial na Europa. E segundo porque ele mesmo não era uma ideia original, e sim o remake americano do japonês "Os sete samurais" (54), de Akira Kurosawa, este sim um êxito internacional incontestável e atemporal. Estrelado por um elenco de astros do gabarito de Yul Brinner, Steve McQueen e Charles Bronson, a versão de Sturges acabou se transformando em um clássico do western americano, uma espécie de patrimônio intocável - o que resultou na série de questionamentos a respeito dos motivos que levariam Fuqua (um diretor apenas razoável, cujo maior cartão de visita é "Dia de treinamento", que deu o Oscar de melhor ator a Denzel Washington em 2002) a mexer com tal vespeiro. A boa notícia é que, apesar das alterações em pequenos detalhes da trama (ou talvez justamente por causa delas), a versão século XXI de "Sete homens e um destino" - politicamente correta, representativa e multicultural - é um faroeste à moda antiga filmado com os recursos da moderna Hollywood. Em resumo, o melhor dos dois mundos em um resultado final que agrada aos neófitos (aqueles que jamais assistiram a nenhum dos originais) e não ofende aos fãs dos clássicos.
Como não poderia deixar de ser ao tratar-se de um filme dirigido por um cineasta afro-americano engajado e militante, a principal mudança de "Sete homens e um destino" em relação à versão de Sturges foi eleger como protagonista um ator negro (algo impensável em uma Hollywood que somente no final da década de 60 começaria a dar os primeiros e tímidos passos em direção ao assunto, com a presença de Sidney Poitier em sucessos de bilheteria e crítica). Na pele do destemido oficial de justiça Sam Chilsom - que anda pelo país à caça de bandidos procurados pela polícia - está Denzel Washington, um dos mais representativos astros negros dos EUA, respeitado e admirado tanto pelo público quanto pela indústria. Sua imponência física e seu ar de autoconfiança cai como uma luva na história, reescrita por Nic Pizzolatto e Richard Wenk de acordo com os tempos modernos: não apenas o grupo de protagonistas é liderado por um negro, mas conta também com um oriental, um indígena, um mexicano e, surpresa das surpresas, tem até mesmo uma forte presença feminina na figura de Emma Cullen (Haley Bennett), a responsável por pedir ajuda a Chilsom na sua batalha para livrar sua pequena cidade, Rose Creek, dos desmandos do implacável e truculento Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard, assustadoramente magro e cruel). É Emma, que acaba de perder o marido pelas mãos sanguinárias de Bogue, quem contrata os serviços de Chilsom - mas, como manda o figurino do cinema do século XXI, não se faz de rogada e não foge à luta, encarando em pé de igualdade (ou quase) o batalhão de capangas que aceita o desafio de invadir a cidade e tomá-la a custo de sangue.
A primeira parte do filme, como não poderia deixar de ser, serve para que Fuqua apresente seus personagens e mostre como cada um dos sete homens do título é recrutado. Assim, surge em cena o falastrão e carismático Josh Faraday (Chris Pratt em papel sob medida para seu talento em roubar cenas), o traumatizado e famoso atirador Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke) - junto com seu associado Billy Rocks (Byung-hun Lee) - e o veterano e excêntrico Jack Horner (Vincent D'Onofrio). O grupo é completo pelo mexicano fora-da-lei Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo em papel que quase ficou com o brasileiro Wagner Moura) e o indígena Red Harvest (Martin Seinsmeier), que partem em direção à Rose Creek com o objetivo de resolver a questão definitivamente. Além deles, estão Emma e seu amigo Teddy Q (Luke Grimes), que tem razões mais do que suficientes para odiar Bogue e o que ele representa - algo que os une à Chilsom, que também tem questões mal-resolvidas com o ambicioso latifundiário. Depois de um tiroteio que anuncia sua chegada à cidade, o bando de Chilsom então marca o duelo com seu antagonista - e é aí que Fuqua surpreende positivamente.
Dirigindo com firmeza longas sequências de ação, o cineasta não apenas consegue o feito de não soar tedioso ou repetitivo como ainda vai mais longe, orquestrando uma coreografia milimetricamente criada para manter o público de olhos grudados na tela. Para isso, colabora a edição de John Refoua - que mantém mais de uma linha narrativa ao mesmo tempo - e o trabalho de sonorização, impecável e eficiente. Se até então o maior mérito do filme era desenvolver os personagens com a maior clareza possível em tão pouco tempo (a duração mal passa de duas horas, um milagre em tempos de obras que chegam a 180 minutos sem necessidade), a partir do começo da briga entre mocinhos e bandidos ,"Sete homens e um destino" se apresenta como um legítimo representante do western moderno - sem complexidades existenciais ou autoparódia, mas como um filme que deixa bem claro a linha que separa o bem do mal, a luz das trevas, a honra da traição. Seus protagonistas - por mais falíveis que sejam -, carregam a aura de heróis, uma aura que forjou um dos gêneros mais queridos e influentes da indústria hollywoodiana. Ao respeitar os cânones de tal gênero e filtrá-lo sob uma luz moderna, Fuqua criou seu melhor trabalho, um filme que encanta pelos valores de produção - como a bela fotografia de Mauro Fiore e a trilha sonora de James Horner, que homenageia a clássica composição de Elmer Bernstein para a produção de 1960 nos letreiros finais - e pela capacidade de contar uma velha e conhecida história lhe dando ares de novidade e inteligência. Um belo filme, uma bela surpresa e um dos raros remakes dignos já feitos em Hollywood!
Não deixou de ser irônica a gritaria em torno da refilmagem de "Sete homens e um destino", quando ela foi anunciada pelo cineasta Antoine Fuqua. Primeiro porque o filme de 1960, dirigido por John Sturges, foi uma decepção de bilheteria quando estreou nos EUA, tornando-se cult somente anos mais tarde, depois do sucesso comercial na Europa. E segundo porque ele mesmo não era uma ideia original, e sim o remake americano do japonês "Os sete samurais" (54), de Akira Kurosawa, este sim um êxito internacional incontestável e atemporal. Estrelado por um elenco de astros do gabarito de Yul Brinner, Steve McQueen e Charles Bronson, a versão de Sturges acabou se transformando em um clássico do western americano, uma espécie de patrimônio intocável - o que resultou na série de questionamentos a respeito dos motivos que levariam Fuqua (um diretor apenas razoável, cujo maior cartão de visita é "Dia de treinamento", que deu o Oscar de melhor ator a Denzel Washington em 2002) a mexer com tal vespeiro. A boa notícia é que, apesar das alterações em pequenos detalhes da trama (ou talvez justamente por causa delas), a versão século XXI de "Sete homens e um destino" - politicamente correta, representativa e multicultural - é um faroeste à moda antiga filmado com os recursos da moderna Hollywood. Em resumo, o melhor dos dois mundos em um resultado final que agrada aos neófitos (aqueles que jamais assistiram a nenhum dos originais) e não ofende aos fãs dos clássicos.
Como não poderia deixar de ser ao tratar-se de um filme dirigido por um cineasta afro-americano engajado e militante, a principal mudança de "Sete homens e um destino" em relação à versão de Sturges foi eleger como protagonista um ator negro (algo impensável em uma Hollywood que somente no final da década de 60 começaria a dar os primeiros e tímidos passos em direção ao assunto, com a presença de Sidney Poitier em sucessos de bilheteria e crítica). Na pele do destemido oficial de justiça Sam Chilsom - que anda pelo país à caça de bandidos procurados pela polícia - está Denzel Washington, um dos mais representativos astros negros dos EUA, respeitado e admirado tanto pelo público quanto pela indústria. Sua imponência física e seu ar de autoconfiança cai como uma luva na história, reescrita por Nic Pizzolatto e Richard Wenk de acordo com os tempos modernos: não apenas o grupo de protagonistas é liderado por um negro, mas conta também com um oriental, um indígena, um mexicano e, surpresa das surpresas, tem até mesmo uma forte presença feminina na figura de Emma Cullen (Haley Bennett), a responsável por pedir ajuda a Chilsom na sua batalha para livrar sua pequena cidade, Rose Creek, dos desmandos do implacável e truculento Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard, assustadoramente magro e cruel). É Emma, que acaba de perder o marido pelas mãos sanguinárias de Bogue, quem contrata os serviços de Chilsom - mas, como manda o figurino do cinema do século XXI, não se faz de rogada e não foge à luta, encarando em pé de igualdade (ou quase) o batalhão de capangas que aceita o desafio de invadir a cidade e tomá-la a custo de sangue.
A primeira parte do filme, como não poderia deixar de ser, serve para que Fuqua apresente seus personagens e mostre como cada um dos sete homens do título é recrutado. Assim, surge em cena o falastrão e carismático Josh Faraday (Chris Pratt em papel sob medida para seu talento em roubar cenas), o traumatizado e famoso atirador Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke) - junto com seu associado Billy Rocks (Byung-hun Lee) - e o veterano e excêntrico Jack Horner (Vincent D'Onofrio). O grupo é completo pelo mexicano fora-da-lei Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo em papel que quase ficou com o brasileiro Wagner Moura) e o indígena Red Harvest (Martin Seinsmeier), que partem em direção à Rose Creek com o objetivo de resolver a questão definitivamente. Além deles, estão Emma e seu amigo Teddy Q (Luke Grimes), que tem razões mais do que suficientes para odiar Bogue e o que ele representa - algo que os une à Chilsom, que também tem questões mal-resolvidas com o ambicioso latifundiário. Depois de um tiroteio que anuncia sua chegada à cidade, o bando de Chilsom então marca o duelo com seu antagonista - e é aí que Fuqua surpreende positivamente.
Dirigindo com firmeza longas sequências de ação, o cineasta não apenas consegue o feito de não soar tedioso ou repetitivo como ainda vai mais longe, orquestrando uma coreografia milimetricamente criada para manter o público de olhos grudados na tela. Para isso, colabora a edição de John Refoua - que mantém mais de uma linha narrativa ao mesmo tempo - e o trabalho de sonorização, impecável e eficiente. Se até então o maior mérito do filme era desenvolver os personagens com a maior clareza possível em tão pouco tempo (a duração mal passa de duas horas, um milagre em tempos de obras que chegam a 180 minutos sem necessidade), a partir do começo da briga entre mocinhos e bandidos ,"Sete homens e um destino" se apresenta como um legítimo representante do western moderno - sem complexidades existenciais ou autoparódia, mas como um filme que deixa bem claro a linha que separa o bem do mal, a luz das trevas, a honra da traição. Seus protagonistas - por mais falíveis que sejam -, carregam a aura de heróis, uma aura que forjou um dos gêneros mais queridos e influentes da indústria hollywoodiana. Ao respeitar os cânones de tal gênero e filtrá-lo sob uma luz moderna, Fuqua criou seu melhor trabalho, um filme que encanta pelos valores de produção - como a bela fotografia de Mauro Fiore e a trilha sonora de James Horner, que homenageia a clássica composição de Elmer Bernstein para a produção de 1960 nos letreiros finais - e pela capacidade de contar uma velha e conhecida história lhe dando ares de novidade e inteligência. Um belo filme, uma bela surpresa e um dos raros remakes dignos já feitos em Hollywood!
terça-feira
JURASSIC WORLD: O MUNDO DOS DINOSSAUROS
JURASSIC WORLD: O MUNDO DOS DINOSSAUROS (Jurassic World, 2015, Universal Pictures/Amblin Entertainment/Legendary Pictures, 124min) Direção: Colin Trevorrow. Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver, Colin Trevorrow, Derek Connolly, estória de Rick Jaffa, Amanda Silver, personagens criados por Michael Crichton. Fotografia: John Schwartzman. Montagem: Kevin Stitt. Música: Michael Giacchino. Figurino: April Ferry, Daniel Orlandi. Direção de arte/cenários: Ed Verreaux/Ronald R. Reiss. Produção executiva: Steven Spielberg, Thomas Tull. Produção: Patrick Crowley, Frank Marshall. Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan, Vincent D'Onofrio, Ty Simpkins, Omar Sy, BD Wong, Judy Greer, Nick Robinson, Jake Johnson. Estreia: 2/5/15 (Paris)
Em 1993, o que parecia uma aposta arriscada - lançar um filme de verão sem grandes astros no elenco e calcado basicamente em efeitos visuais e na garantia de qualidade com que o nome de Steven Spielberg acenava - transformou-se rapidamente em um dos maiores sucessos da história do cinema, batendo até mesmo o idolatrado "E.T, o extra-terrestre" (82) na bilheteria. O impressionante êxito, os três Oscar - efeitos visuais, som, efeitos sonoros - e o burburinho em torno de "Jurassic Park: parque dos dinossauros" não deixava dúvidas de que uma sequência viria em seguida. Em 1997, ela veio - com o título "Jurassic Park: O Mundo Perdido" - e voltou a fazer estardalhaço nos cofres da Universal Pictures, ainda que praticamente repetisse a trama do primeiro capítulo. Foi somente em 2001 que a série começou a dar sinais de cansaço: com Joe Johnston na direção, "Jurassic Park III" foi o episódio com menor renda (e ainda assim chegou perto de 200 milhões de arrecadação só nos EUA) e não entusiasmou ninguém, apesar de marcar o retorno de um dos atores do original, Sam Neil. Quatorze anos se passaram até que Spielberg, já com dois Oscar de melhor diretor na prateleira, voltasse a demonstrar interesse nos bichanos: acreditando que já estava na hora de apresentá-los a uma nova geração, assumiu a cadeira de produtor executivo de "Jurassic World: O mundo dos dinossauros", entregou a direção nas mãos do praticamente desconhecido Colin Trevorrow - do praticamente ignorado "Sem segurança nenhuma" (2012) - e correu para contar os dividendos. Não deu outra: logo em seu lançamento, o filme tornou-se a maior bilheteria no fim-de-semana da estreia de toda a história do cinema, com uma arrecadação de 208,8 milhões de dólares contra um custo estimado de 150 milhões. Como ficou bastante claro, o público ainda se mantém fascinado pelo universo criado pelo escritor Michael Crichton.
Um pirralho de treze anos de idade na ocasião da estreia do primeiro filme - a que assistiu na primeira sessão do primeiro dia - o ator Chris Pratt acabou com o principal papel masculino dessa nova incursão às aventuras jurássicas. Seu personagem, Owen Grady, é um jovem veterano do Exército contratado pelos novos donos do Jurassic World - que ao contrário do parque original abrange também shows aquáticos de dinossauros marinhos ao lado de outras atrações inéditas, criadas geneticamente pelo cientista Henry Wu (BD Wong) - para treinar velociraptors e mantê-los sob controle. O talento de Grady é percebido pelo ambicioso Vic Hoskins (Vincent D'Onofrio), que vê a possibilidade de utilizar os animais como armas militares. Enquanto isso, o parque temático, supervisionado pelas empresas do milionário Simon Masrani (Irrfan Khan) se prepara para revelar ao público sua nova atração, o temível Indominus Rex, cuja mistura genética é mantida em segredo de estado, e a gerente do local, a dedicada Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), recebe a visita de seus dois sobrinhos - que estão passando por uma severa crise doméstica. Como não poderia deixar de ser, o imprevisível Indominus acaba fugindo de sua cerca de segurança máxima, obrigando Grady e Claire (que já tiveram um relacionamento problemático) a se unirem para salvar as crianças e impedir uma nova tragédia de grandes proporções.
Praticamente uma reedição do primeiro filme - com crianças em perigo, dinossauros assustadores e fora de controle atacando sem dó nem piedade e efeitos especiais de primeira categoria - "Jurassic world" acrescenta algumas poucas novidades à receita. A primeira é o tom de tensão sexual entre Grady e Claire, valorizando a juventude e a química entre Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. A segunda é a violência bem mais radical em relação ao original: dessa vez o diretor não hesita em mostrar sangue e tornar os ataques bem mais realistas, ao contrário do tom quase censura livre da produção de 1993. Talvez ciente de que a molecada de hoje em dia está mais do que acostumada à exposição a vísceras e mutilações - em filmes, games e quadrinhos - Colin Trevorrow usa e abusa de sequências bem pouco prováveis de resistir aos cortes na versão dirigida por Spielberg (sempre preocupado em realizar obras para toda a família). É óbvio que não há exagero, mas é perceptível que Trevorrow é partidário assumido de mostrar mais do que sugerir, ao contrário do que fez Spielberg na primeira parte da franquia - e isso faz toda a diferença, já que em "Jurassic world" não há nenhuma cena marcante ou exatamente inovadora. Até mesmo o clímax, que reúne os velociraptors, o Tiranossauro Rex e o infame Indominus Rex, chega com certo sabor de dèja-vu, ainda que seja tecnicamente impecável. Mas faz falta a tensão crescente impressa por Spielberg em "Jurassic Park", quando elevou a curiosidade da plateia a níveis insuportáveis com artifícios simples e certeiros, como um copo d'água sentindo a chegada do gigantesco vilão - momento inesquecível da magia do entretenimento puro e simples.
Utilizando-se da música inconfundível de John Williams apenas como apoio - a trilha sonora é assinada por Michael Giacchino - e explorando sem pudor todos os clichês possíveis herdados dos primeiros filmes da série, "Jurassic world" é uma sessão da tarde de extrema competência. Apresenta tudo aquilo que fez a fama de Spielberg como Midas do cinema-pipoca (famílias em crise, redenções finais, senso de humor adequado, sequências de ação alternadas com cenas dramáticas) e as reinventa de maneira respeitosa e um tantinho modernizada. Conquista a plateia adolescente e infantil com os personagens de sua faixa etária - donos de uma das melhores cenas - e chama o público jovem com o carisma de Chris Pratt, um ídolo do cinema de ação que tem mais talento e mais cérebro do que seus colegas de gênero. Não à toa, tem uma continuação engatilhada para estrear em 2018. Alguém duvida que novamente fará o chão tremer?
Em 1993, o que parecia uma aposta arriscada - lançar um filme de verão sem grandes astros no elenco e calcado basicamente em efeitos visuais e na garantia de qualidade com que o nome de Steven Spielberg acenava - transformou-se rapidamente em um dos maiores sucessos da história do cinema, batendo até mesmo o idolatrado "E.T, o extra-terrestre" (82) na bilheteria. O impressionante êxito, os três Oscar - efeitos visuais, som, efeitos sonoros - e o burburinho em torno de "Jurassic Park: parque dos dinossauros" não deixava dúvidas de que uma sequência viria em seguida. Em 1997, ela veio - com o título "Jurassic Park: O Mundo Perdido" - e voltou a fazer estardalhaço nos cofres da Universal Pictures, ainda que praticamente repetisse a trama do primeiro capítulo. Foi somente em 2001 que a série começou a dar sinais de cansaço: com Joe Johnston na direção, "Jurassic Park III" foi o episódio com menor renda (e ainda assim chegou perto de 200 milhões de arrecadação só nos EUA) e não entusiasmou ninguém, apesar de marcar o retorno de um dos atores do original, Sam Neil. Quatorze anos se passaram até que Spielberg, já com dois Oscar de melhor diretor na prateleira, voltasse a demonstrar interesse nos bichanos: acreditando que já estava na hora de apresentá-los a uma nova geração, assumiu a cadeira de produtor executivo de "Jurassic World: O mundo dos dinossauros", entregou a direção nas mãos do praticamente desconhecido Colin Trevorrow - do praticamente ignorado "Sem segurança nenhuma" (2012) - e correu para contar os dividendos. Não deu outra: logo em seu lançamento, o filme tornou-se a maior bilheteria no fim-de-semana da estreia de toda a história do cinema, com uma arrecadação de 208,8 milhões de dólares contra um custo estimado de 150 milhões. Como ficou bastante claro, o público ainda se mantém fascinado pelo universo criado pelo escritor Michael Crichton.
Um pirralho de treze anos de idade na ocasião da estreia do primeiro filme - a que assistiu na primeira sessão do primeiro dia - o ator Chris Pratt acabou com o principal papel masculino dessa nova incursão às aventuras jurássicas. Seu personagem, Owen Grady, é um jovem veterano do Exército contratado pelos novos donos do Jurassic World - que ao contrário do parque original abrange também shows aquáticos de dinossauros marinhos ao lado de outras atrações inéditas, criadas geneticamente pelo cientista Henry Wu (BD Wong) - para treinar velociraptors e mantê-los sob controle. O talento de Grady é percebido pelo ambicioso Vic Hoskins (Vincent D'Onofrio), que vê a possibilidade de utilizar os animais como armas militares. Enquanto isso, o parque temático, supervisionado pelas empresas do milionário Simon Masrani (Irrfan Khan) se prepara para revelar ao público sua nova atração, o temível Indominus Rex, cuja mistura genética é mantida em segredo de estado, e a gerente do local, a dedicada Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), recebe a visita de seus dois sobrinhos - que estão passando por uma severa crise doméstica. Como não poderia deixar de ser, o imprevisível Indominus acaba fugindo de sua cerca de segurança máxima, obrigando Grady e Claire (que já tiveram um relacionamento problemático) a se unirem para salvar as crianças e impedir uma nova tragédia de grandes proporções.
Praticamente uma reedição do primeiro filme - com crianças em perigo, dinossauros assustadores e fora de controle atacando sem dó nem piedade e efeitos especiais de primeira categoria - "Jurassic world" acrescenta algumas poucas novidades à receita. A primeira é o tom de tensão sexual entre Grady e Claire, valorizando a juventude e a química entre Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. A segunda é a violência bem mais radical em relação ao original: dessa vez o diretor não hesita em mostrar sangue e tornar os ataques bem mais realistas, ao contrário do tom quase censura livre da produção de 1993. Talvez ciente de que a molecada de hoje em dia está mais do que acostumada à exposição a vísceras e mutilações - em filmes, games e quadrinhos - Colin Trevorrow usa e abusa de sequências bem pouco prováveis de resistir aos cortes na versão dirigida por Spielberg (sempre preocupado em realizar obras para toda a família). É óbvio que não há exagero, mas é perceptível que Trevorrow é partidário assumido de mostrar mais do que sugerir, ao contrário do que fez Spielberg na primeira parte da franquia - e isso faz toda a diferença, já que em "Jurassic world" não há nenhuma cena marcante ou exatamente inovadora. Até mesmo o clímax, que reúne os velociraptors, o Tiranossauro Rex e o infame Indominus Rex, chega com certo sabor de dèja-vu, ainda que seja tecnicamente impecável. Mas faz falta a tensão crescente impressa por Spielberg em "Jurassic Park", quando elevou a curiosidade da plateia a níveis insuportáveis com artifícios simples e certeiros, como um copo d'água sentindo a chegada do gigantesco vilão - momento inesquecível da magia do entretenimento puro e simples.
Utilizando-se da música inconfundível de John Williams apenas como apoio - a trilha sonora é assinada por Michael Giacchino - e explorando sem pudor todos os clichês possíveis herdados dos primeiros filmes da série, "Jurassic world" é uma sessão da tarde de extrema competência. Apresenta tudo aquilo que fez a fama de Spielberg como Midas do cinema-pipoca (famílias em crise, redenções finais, senso de humor adequado, sequências de ação alternadas com cenas dramáticas) e as reinventa de maneira respeitosa e um tantinho modernizada. Conquista a plateia adolescente e infantil com os personagens de sua faixa etária - donos de uma das melhores cenas - e chama o público jovem com o carisma de Chris Pratt, um ídolo do cinema de ação que tem mais talento e mais cérebro do que seus colegas de gênero. Não à toa, tem uma continuação engatilhada para estrear em 2018. Alguém duvida que novamente fará o chão tremer?
quarta-feira
O JUIZ
O JUIZ (The judge, 2014, Warner Bros/Team Downey, 141min) Direção: David Dobkin. Roteiro: Nick Schenck, Bill Dubuque, estória de David Dobkin, Nick Schenck. Fotografia: Janusz Kaminski. Montagem: Mark Livolsi. Música: Thomas Newman. Figurino: Marlene Stewart. Direção de arte/cenários: Mark Ricker/Rena DeAngelo. Produção executiva: Bruce Berman, Robert Downey Jr., Herb Gains, Jeff Kleeman. Produção: David Dobkin, Susan Downey, David Gambino. Elenco: Robert Downey Jr., Robert Duvall, Billy Bob Thornton, Vera Farmiga, Vincent D'Onofrio, Jeremy Strong, Balthazar Getty, David Krumholtz, Grace Zabriskie, Denis O'Hare. Estreia: 04/9/14 (Festival de Toronto)
Indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante (Robert Duvall)
Para marcar a estreia de sua produtora em sociedade com a esposa, Susan, o ator Robert Downey Jr. deixou de lado os heróicos personagens que vinham marcando sua carreira nos últimos anos - Sherlock Holmes e Homem de Ferro - para viver um homem comum, rodeado de problemas pessoais e que se vê, inesperadamente, diante de circunstâncias que não apenas o desafiam no lado profissional mas principalmente o obrigam a lidar com fatos familiares de um passado pouco agradável. Primeiro filme dramático do cineasta David Dobkin - que tem no currículo as comédias "Penetras bons de bico" e "Eu queria ter a sua vida" - e um filme de tribunal com todos os ingredientes necessários para conquistar a atenção do público, "O juiz" estreou sem muito alarde nos EUA, mas recobrou o fôlego com a indicação de Robert Duvall ao Oscar de coadjuvante. Mesmo que o veterano ator tenha tido poucas chances de faturar sua segunda estatueta - a primeira veio em 1983 por "A força do carinho" - seu desempenho como Joseph Palmer, o rígido juiz de uma pequena cidade do interior que é acusado de assassinato e passa a ser defendido pelo filho com quem mantém uma relação de estranhamento, é o maior destaque de um filme correto, mas que sofre de uma narrativa simples e esquemática ao extremo.
Downey Jr., bom ator como sempre, vive Hank Palmer, um bem-sucedido advogado de Chicago, nem sempre afeito às regras éticas que deveriam reger sua profissão. No meio de um caso importante, ele recebe a notícia da morte de sua mãe, a quem não vê há anos, e viaja para acompanhar seu funeral. Passando por um complicado caso de divórcio, Hank não tem a menor intenção de ficar com sua família, mas vê seus planos mudarem radicalmente quando seu pai - respeitado e, sem que ninguém saiba, morrendo de câncer - é acusado de matar um homem a quem havia condenado no passado. Mesmo contra a vontade do veterano jurista, com quem tem uma relação complicada que remete à sua juventude rebelde, ele assume sua defesa, o que acaba por forçá-los a uma nova etapa de seu relacionamento.
Equilibrando - nem sempre com muito sucesso - o drama familiar com a trama policial que envolve o julgamento, "O juiz" peca em muitos momentos por desviar o foco da história com tramas paralelas pouco interessantes, como aquela que envolve Hank com uma namorada de adolescência, Samantha (Vera Farmiga). Esses desvios da rota central não apenas tornam o filme mais longo do que o necessário - quase duas horas e meia de projeção - como enfraquecem o que a obra tem de mais forte (ainda que um tanto clichê): o relacionamento entre pai e filho, afastados pelos temperamentos arredios e reunidos pela paixão pela lei e pelo direito. Robert Duvall dá mais um show como o independente e por vezes seco Joseph Palmer, um homem forte que, por forças das circunstâncias acaba dependendo justamente do filho com quem tem mais arestas a aparar, e Downey Jr. comprova o que todo mundo sempre soube: é um ator que sai-se bem tanto em blockbusters descerebrados quanto em dramas que exigem mais do que simplesmente efeitos visuais.
Um filme capaz de agradar a todos os tipos de público, "O juiz" não ofende a inteligência de ninguém e pode até emocionar aos mais sensíveis. Quando foca na relação familiar, apresenta um show de atuações, mas quando parte para o filme de tribunal não apresenta maiores novidades. No fim das contas, não é um grande filme, mas é um digno representante do gênero.
Indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante (Robert Duvall)
Para marcar a estreia de sua produtora em sociedade com a esposa, Susan, o ator Robert Downey Jr. deixou de lado os heróicos personagens que vinham marcando sua carreira nos últimos anos - Sherlock Holmes e Homem de Ferro - para viver um homem comum, rodeado de problemas pessoais e que se vê, inesperadamente, diante de circunstâncias que não apenas o desafiam no lado profissional mas principalmente o obrigam a lidar com fatos familiares de um passado pouco agradável. Primeiro filme dramático do cineasta David Dobkin - que tem no currículo as comédias "Penetras bons de bico" e "Eu queria ter a sua vida" - e um filme de tribunal com todos os ingredientes necessários para conquistar a atenção do público, "O juiz" estreou sem muito alarde nos EUA, mas recobrou o fôlego com a indicação de Robert Duvall ao Oscar de coadjuvante. Mesmo que o veterano ator tenha tido poucas chances de faturar sua segunda estatueta - a primeira veio em 1983 por "A força do carinho" - seu desempenho como Joseph Palmer, o rígido juiz de uma pequena cidade do interior que é acusado de assassinato e passa a ser defendido pelo filho com quem mantém uma relação de estranhamento, é o maior destaque de um filme correto, mas que sofre de uma narrativa simples e esquemática ao extremo.
Downey Jr., bom ator como sempre, vive Hank Palmer, um bem-sucedido advogado de Chicago, nem sempre afeito às regras éticas que deveriam reger sua profissão. No meio de um caso importante, ele recebe a notícia da morte de sua mãe, a quem não vê há anos, e viaja para acompanhar seu funeral. Passando por um complicado caso de divórcio, Hank não tem a menor intenção de ficar com sua família, mas vê seus planos mudarem radicalmente quando seu pai - respeitado e, sem que ninguém saiba, morrendo de câncer - é acusado de matar um homem a quem havia condenado no passado. Mesmo contra a vontade do veterano jurista, com quem tem uma relação complicada que remete à sua juventude rebelde, ele assume sua defesa, o que acaba por forçá-los a uma nova etapa de seu relacionamento.
Equilibrando - nem sempre com muito sucesso - o drama familiar com a trama policial que envolve o julgamento, "O juiz" peca em muitos momentos por desviar o foco da história com tramas paralelas pouco interessantes, como aquela que envolve Hank com uma namorada de adolescência, Samantha (Vera Farmiga). Esses desvios da rota central não apenas tornam o filme mais longo do que o necessário - quase duas horas e meia de projeção - como enfraquecem o que a obra tem de mais forte (ainda que um tanto clichê): o relacionamento entre pai e filho, afastados pelos temperamentos arredios e reunidos pela paixão pela lei e pelo direito. Robert Duvall dá mais um show como o independente e por vezes seco Joseph Palmer, um homem forte que, por forças das circunstâncias acaba dependendo justamente do filho com quem tem mais arestas a aparar, e Downey Jr. comprova o que todo mundo sempre soube: é um ator que sai-se bem tanto em blockbusters descerebrados quanto em dramas que exigem mais do que simplesmente efeitos visuais.
Um filme capaz de agradar a todos os tipos de público, "O juiz" não ofende a inteligência de ninguém e pode até emocionar aos mais sensíveis. Quando foca na relação familiar, apresenta um show de atuações, mas quando parte para o filme de tribunal não apresenta maiores novidades. No fim das contas, não é um grande filme, mas é um digno representante do gênero.
terça-feira
A CELA
A
CELA (The cell, 2000, New Line Cinema, 107min) Direção: Tarsem Singh.
Roteiro: Mark Protosevich. Fotografia: Paul Laufer. Montagem: Robert
Duffy, Paul Rubell. Música: Howard Shore. Figurino: Eiko Ishioka, April
Napier. Direção de arte/cenários: Tom Foden/Tessa Posnansky. Produção
executiva: Donna Langley, Carolyn Manetti. Produção: Julio Caro, Eric
McLeod. Elenco: Jennifer Lopez, Vince Vaughn, Vincent D'Onofrio, Dylan
Baker, Marianne Jean-Baptiste, Gerry Becker, Patrick Bauchau, Musetta
Vander. Estreia: 17/8/00
Indicado ao Oscar de Maquiagem
Como seria a visão da mente de um psicopata através dos olhos de um diretor de videoclipes que tem como seu trabalho mais conhecido o bizarro e genial "Losing my religion", da banda R.E.M.? A resposta é o filme "A cela", ficção de suspense estrelada por Jennifer Lopez, que a despeito de por vezes descuidar-se do roteiro para concentrar-se em seu visual deslumbrante, é um exemplar dos mais interessantes do gênero a surgir no normalmente engessado mercado hollywoodiano. Angustiante, tenso e fascinante, o filme do indiano Tarsem Singh é uma viagem sensorial que explora a beleza de Lopez em contraste com os cenários surreais e o figurino criativo da premiada Eiko Ishioka (de "Drácula de Bram Stoker"), que refletem o tortuoso raciocínio de uma personalidade doentia. Indicado ao Oscar de maquiagem - merecia também nas categorias de direção de arte e figurino - o filme também é uma mostra da coragem de Lopez em investir em produções que não a explorassem unicamente como símbolo sexual.
Não exatamente uma Meryl Streep, Jennifer Lopez é uma atriz decente e esforçada - além de saber escolher com quem trabalha, haja visto que em seus anos iniciais em Hollywood ela foi dirigida por nomes consagrados como Francis Ford Coppola ("Jack"), Steven Soderbergh ("Irresisível paixão") e Oliver Stone ("Reviravolta"). Revelada pela indicação ao Golden Globe por seu desempenho em "Selena" (a história real da cantora de origem latina que foi assassinada pela presidente do seu fã-clube quando estava começando a fazer sucesso), JLo, também uma cantora pop bem-sucedida, nem precisa se esforçar muito no papel principal de "A cela": como a psicoterapeuta Catherine Deane, adepta de um novo tipo de tratamento que consiste em adentrar a mente dos pacientes para tentar livrá-los de seus traumas, ela acaba se tornando coadjuvante de um filme cujo visual acachapante é a maior virtude. Ainda assim, seu carisma e beleza tornam impossível que ela passe despercebida em meio às acrobacias visuais promovidas pelo diretor.
A psicoterapeuta interpretada por Lopez já começa o filme sofrendo um baque na carreira, quando os pais de um menino em coma de que ela vem cuidando há algum tempo resolvem tentar um tratamento mais ortodoxo. Não é pra menos: com a assistência dos doutores Henry West (Dylan Baker) e Miriam Kent (Marianne Jean-Baptiste), ela vem desenvolvendo uma terapia bastante controversa, onde penetra no subconsciente dos pacientes através de um sistema computadorizado que dá acesso aos mais obscuros cantos da mente. Frustrada com a interrupção do tratamento do garoto, ela é procurada por um grupo de agentes do FBI que lhe pedem ajuda em um caso atípico e assustador: responsável pela morte de várias mulheres, o serial killer Carl Stargher (Vincent D'Onofrio) está nas mãos da polícia, mas, por um golpe do destino, é incapaz de apontar a localização de sua última vítima, já que entrou em um coma irreversível no momento de sua captura. Ainda viva segundo os cálculos da polícia, Julia Dickson (Tara Subkof) ainda pode sobreviver, mas para isso é preciso que seu paradeiro seja descoberto o quanto antes. Sendo assim, Catherine aceita o desafio de entrar no mundo do psicopata Stargher - e o que encontra lá é mais do que sinistro: é um pesadelo em tempo integral.
Prejudicado pela presença sempre anódina e aparvalhada de Vince Vaughn - na pele do detetive Peter Novak - "A cela" brilha sempre que apresenta ao espectador a visão toda particular de Tarsem Singh do apavorante mundo de seu psicopata. Em cores fortes e vibrantes que o aproximam perigosamente do kitsch mas ao mesmo tempo seduzem o espectador de forma quase hipnótica, os cenários criados por Tom Folden e Tessa Posnansky são dos mais extraordinários de seu tempo, mesclando uma atmosfera de sonho intenso com um clima claustrofóbico de deixar qualquer um desconfortável na poltrona. Uma pena, porém, que o roteiro não siga o mesmo tom criativo, apelando para todos os clichês psicanalíticos possíveis e imagináveis para explicar o comportamento violento do vilão - aliás, interpretado com gosto pelo excêntrico Vincent D'Onofrio. Esse senão é o que fragiliza o resultado final, impedindo que o primeiro longa-metragem de Tarsem se torne a pequena obra-prima que poderia ser. Ainda assim, é um filme que merece ser conhecido e aplaudido por suas inúmeras qualidades.
Indicado ao Oscar de Maquiagem
Como seria a visão da mente de um psicopata através dos olhos de um diretor de videoclipes que tem como seu trabalho mais conhecido o bizarro e genial "Losing my religion", da banda R.E.M.? A resposta é o filme "A cela", ficção de suspense estrelada por Jennifer Lopez, que a despeito de por vezes descuidar-se do roteiro para concentrar-se em seu visual deslumbrante, é um exemplar dos mais interessantes do gênero a surgir no normalmente engessado mercado hollywoodiano. Angustiante, tenso e fascinante, o filme do indiano Tarsem Singh é uma viagem sensorial que explora a beleza de Lopez em contraste com os cenários surreais e o figurino criativo da premiada Eiko Ishioka (de "Drácula de Bram Stoker"), que refletem o tortuoso raciocínio de uma personalidade doentia. Indicado ao Oscar de maquiagem - merecia também nas categorias de direção de arte e figurino - o filme também é uma mostra da coragem de Lopez em investir em produções que não a explorassem unicamente como símbolo sexual.
Não exatamente uma Meryl Streep, Jennifer Lopez é uma atriz decente e esforçada - além de saber escolher com quem trabalha, haja visto que em seus anos iniciais em Hollywood ela foi dirigida por nomes consagrados como Francis Ford Coppola ("Jack"), Steven Soderbergh ("Irresisível paixão") e Oliver Stone ("Reviravolta"). Revelada pela indicação ao Golden Globe por seu desempenho em "Selena" (a história real da cantora de origem latina que foi assassinada pela presidente do seu fã-clube quando estava começando a fazer sucesso), JLo, também uma cantora pop bem-sucedida, nem precisa se esforçar muito no papel principal de "A cela": como a psicoterapeuta Catherine Deane, adepta de um novo tipo de tratamento que consiste em adentrar a mente dos pacientes para tentar livrá-los de seus traumas, ela acaba se tornando coadjuvante de um filme cujo visual acachapante é a maior virtude. Ainda assim, seu carisma e beleza tornam impossível que ela passe despercebida em meio às acrobacias visuais promovidas pelo diretor.
A psicoterapeuta interpretada por Lopez já começa o filme sofrendo um baque na carreira, quando os pais de um menino em coma de que ela vem cuidando há algum tempo resolvem tentar um tratamento mais ortodoxo. Não é pra menos: com a assistência dos doutores Henry West (Dylan Baker) e Miriam Kent (Marianne Jean-Baptiste), ela vem desenvolvendo uma terapia bastante controversa, onde penetra no subconsciente dos pacientes através de um sistema computadorizado que dá acesso aos mais obscuros cantos da mente. Frustrada com a interrupção do tratamento do garoto, ela é procurada por um grupo de agentes do FBI que lhe pedem ajuda em um caso atípico e assustador: responsável pela morte de várias mulheres, o serial killer Carl Stargher (Vincent D'Onofrio) está nas mãos da polícia, mas, por um golpe do destino, é incapaz de apontar a localização de sua última vítima, já que entrou em um coma irreversível no momento de sua captura. Ainda viva segundo os cálculos da polícia, Julia Dickson (Tara Subkof) ainda pode sobreviver, mas para isso é preciso que seu paradeiro seja descoberto o quanto antes. Sendo assim, Catherine aceita o desafio de entrar no mundo do psicopata Stargher - e o que encontra lá é mais do que sinistro: é um pesadelo em tempo integral.
Prejudicado pela presença sempre anódina e aparvalhada de Vince Vaughn - na pele do detetive Peter Novak - "A cela" brilha sempre que apresenta ao espectador a visão toda particular de Tarsem Singh do apavorante mundo de seu psicopata. Em cores fortes e vibrantes que o aproximam perigosamente do kitsch mas ao mesmo tempo seduzem o espectador de forma quase hipnótica, os cenários criados por Tom Folden e Tessa Posnansky são dos mais extraordinários de seu tempo, mesclando uma atmosfera de sonho intenso com um clima claustrofóbico de deixar qualquer um desconfortável na poltrona. Uma pena, porém, que o roteiro não siga o mesmo tom criativo, apelando para todos os clichês psicanalíticos possíveis e imagináveis para explicar o comportamento violento do vilão - aliás, interpretado com gosto pelo excêntrico Vincent D'Onofrio. Esse senão é o que fragiliza o resultado final, impedindo que o primeiro longa-metragem de Tarsem se torne a pequena obra-prima que poderia ser. Ainda assim, é um filme que merece ser conhecido e aplaudido por suas inúmeras qualidades.
sexta-feira
O JOGADOR
O
JOGADOR (The player, 1992, Avenue Pictures Productions/ Spelling Entertainment/Addis Weschler Pictures, 124min) Direção: Robert Altman.
Roteiro: Michael Tolkin, romance de sua autoria. Fotografia: Jean
Lépine. Montagem: Maysie Hoy, Geraldine Peroni. Música: Thomas Newman.
Figurino: Alexander Julian. Direção de arte/cenários: Stephen
Altman/Susan Emshwiller. Produção executiva: Cary Brokaw. Produção:
David Brown, Michael Tolkin, Nick Weschler. Elenco: Tim Robbins, Greta
Schacchi, Fred Ward, Whoopi Goldberg, Peter Gallagher, Brion James,
Cynthia Stevenson, Vincent D'Onofrio, Dean Stockwell, Sydney Pollack,
Lyle Lovett, Jeremy Piven, Gina Gershon. Estreia: 03/4/92 (Festival de
Cleveland)
3 indicações ao Oscar: Diretor (Robert Altman), Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme Comédia/Musical, Ator Comédia/Musical (Tim Robbins)
Vencedor do Festival de Cannes: Diretor (Robert Altman), Ator (Tim Robbins)
Apesar de algumas vezes acertar direto no alvo - ao menos em relação à bilheteria e à crítica - o cineasta Robert Altman dificilmente pode ser considerado um filho exemplar da indústria cinematográfica norte-americana. Quase como um estranho no ninho, ele construiu uma carreira atípica, onde sucessos comerciais e artísticos como "M.A.S.H" (70) e "Nashville" (76) conviviam com furos n'água gigantescos, como "Quando os homens são homens" (71) e a tenebrosa versão para o cinema de "Popeye" (80), estrelada por Robin Williams. Tendo conhecido os dois lados da moeda - e visto as mesmas mãos que lhe davam tapinhas nas costas diante do sucesso se recusando a assinar os cheques para a realização de novos filmes quando deparavam com o fracasso - foi a pessoa certa para comandar "O jogador", uma comédia - ainda que disfarçada de thriller policial - ácida, cínica e iconoclasta sobre os bastidores de Hollywood. O que Altman oferece ao espectador, porém, não são os bastidores glamourosos de tapetes vermelhos e festas badaladas (ainda que elas inevitavelmente apareçam) mas sim o que se esconde por trás dos sorrisos falsos e das negociações frequentemente sujas que fazem parte do mundo aparentemente maravilhoso da sétima arte. Ironia suprema, esse "retorno" de Altman ao primeiro time dos realizadores americanos saiu ovacionado do Festival de Cannes de 1992 - onde conquistou os prêmios de direção e ator (Tim Robbins) - e o colocou na disputa pelo Oscar ao lado de Clint Eastwood.
No melhor ano de sua carreira até então, Tim Robbins - que ainda em 1992 lançou sua estreia como diretor, a sátira política "Bob Roberts" e ganhou ainda o Golden Globe de melhor ator em comédia/musical - interpreta Griffin Mill, executivo de um estúdio de Hollywood que tem o poder de decidir quais, dentre as dezenas que chegam a seu escritório, quais as ideias de histórias serão ou não transformadas em filme. Um tanto arrogante e autocentrado, Mill começa a receber ameaçadores cartões-postais de um suposto roteirista que não teve a sorte de ser aprovado por ele, justamente em um momento crucial de sua carreira: com a chegada de um novo executivo, Larry Levy (Peter Gallagher), seu cargo pode estar a perigo - e com ele, todas as bajulações, luxos e poder que vem atrelados. Sentindo-se acuado, ele procura David Kahane (Vincent D'Onofrio), a quem julga ser o autor das ameaças e, por acidente, acaba matando-o. Atraído por June (a fraca Greta Scaachi), namorada do morto, ele passa também a ser investigado pela polícia, na figura da detetive Avery (Whoopi Goldberg).
A espinha dorsal de "O jogador" é bastante frágil, servindo apenas como desculpa para Altman criticar de forma mordaz o jogo de aparências e interesses que está por trás da produção de um filme. O roteiro de Michael Tolkin - também autor do romance que lhe deu origem - sublinha com sarcasmo alguns dos mais tradicionais rituais da terra do cinema, como os almoços de negócios (onde por trás de cumprimentos cordiais são disparados comentários maldosos e rancorosos) e os famosos "pitchs", onde roteiristas tentam vender suas estórias para gente como Mill, que não tem o menor interesse em realizar obras de arte e sim vender ingressos. É particularmente engraçada a trajetória de um desses roteiristas, o inglês Tom Oakley (Richard E. Grant), que se recusa a ver seu genial argumento - com conotações sociais fortes e que dispensa astros milionários, diz ele - vendido como puro entretenimento, até que se vê obrigado a mudar de ideia quando percebe como se movimentam as engrenagens escondidas do sistema. Essas finas ironias - e a participação de dezenas de astros hollywoodianos em aparições-relâmpago - acabaram por fazer de "O jogador" o filme mais comentado de 1992 dentro da comunidade cinematográfica (e fora dela, também, afinal que fã de cinema não tem curiosidade de penetrar nas entranhas da sétima arte? Mas, afora esse nocaute de Altman em seus detratores - que foram obrigados a vê-lo indicado ao Oscar também no ano seguinte, com "Short cuts, cenas da vida" - o filme é tão bom quanto foi alardeado?
Sim e não. Robert Altman é um cineasta veterano que sabe exatamente o que faz quando pega uma câmera na mão, e seu brilhante plano-sequência de abertura já seria justificativa o bastante para conferir o filme. Além do mais, como outsider da indústria, ele tem conhecimento de causa para sustentar as afirmações um tanto quanto cínicas da trama de Tolkin a ponto de brincar com elas sem ranço de despeito. Porém, seu estilo aparentemente desleixado de filmar pode incomodar àqueles que procuram um produto mais convencional. Altman frequentemente parece deixar sua câmera bisbilhotar invisível pelos cenários sem maiores preocupações estéticas e sem foco dramático - uma maneira de filmar que lhe é característica e não agrada a todos. Mas mesmo que talvez não seja a obra-prima tão incensada à época de seu lançamento, "O jogador" tem uma inteligência acima da média, diverte com suas surpreendentes participações especiais e mostrou que Tim Robbins merecia mais atenção de Hollywood. Missão mais do que cumprida!
3 indicações ao Oscar: Diretor (Robert Altman), Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme Comédia/Musical, Ator Comédia/Musical (Tim Robbins)
Vencedor do Festival de Cannes: Diretor (Robert Altman), Ator (Tim Robbins)
Apesar de algumas vezes acertar direto no alvo - ao menos em relação à bilheteria e à crítica - o cineasta Robert Altman dificilmente pode ser considerado um filho exemplar da indústria cinematográfica norte-americana. Quase como um estranho no ninho, ele construiu uma carreira atípica, onde sucessos comerciais e artísticos como "M.A.S.H" (70) e "Nashville" (76) conviviam com furos n'água gigantescos, como "Quando os homens são homens" (71) e a tenebrosa versão para o cinema de "Popeye" (80), estrelada por Robin Williams. Tendo conhecido os dois lados da moeda - e visto as mesmas mãos que lhe davam tapinhas nas costas diante do sucesso se recusando a assinar os cheques para a realização de novos filmes quando deparavam com o fracasso - foi a pessoa certa para comandar "O jogador", uma comédia - ainda que disfarçada de thriller policial - ácida, cínica e iconoclasta sobre os bastidores de Hollywood. O que Altman oferece ao espectador, porém, não são os bastidores glamourosos de tapetes vermelhos e festas badaladas (ainda que elas inevitavelmente apareçam) mas sim o que se esconde por trás dos sorrisos falsos e das negociações frequentemente sujas que fazem parte do mundo aparentemente maravilhoso da sétima arte. Ironia suprema, esse "retorno" de Altman ao primeiro time dos realizadores americanos saiu ovacionado do Festival de Cannes de 1992 - onde conquistou os prêmios de direção e ator (Tim Robbins) - e o colocou na disputa pelo Oscar ao lado de Clint Eastwood.
No melhor ano de sua carreira até então, Tim Robbins - que ainda em 1992 lançou sua estreia como diretor, a sátira política "Bob Roberts" e ganhou ainda o Golden Globe de melhor ator em comédia/musical - interpreta Griffin Mill, executivo de um estúdio de Hollywood que tem o poder de decidir quais, dentre as dezenas que chegam a seu escritório, quais as ideias de histórias serão ou não transformadas em filme. Um tanto arrogante e autocentrado, Mill começa a receber ameaçadores cartões-postais de um suposto roteirista que não teve a sorte de ser aprovado por ele, justamente em um momento crucial de sua carreira: com a chegada de um novo executivo, Larry Levy (Peter Gallagher), seu cargo pode estar a perigo - e com ele, todas as bajulações, luxos e poder que vem atrelados. Sentindo-se acuado, ele procura David Kahane (Vincent D'Onofrio), a quem julga ser o autor das ameaças e, por acidente, acaba matando-o. Atraído por June (a fraca Greta Scaachi), namorada do morto, ele passa também a ser investigado pela polícia, na figura da detetive Avery (Whoopi Goldberg).
A espinha dorsal de "O jogador" é bastante frágil, servindo apenas como desculpa para Altman criticar de forma mordaz o jogo de aparências e interesses que está por trás da produção de um filme. O roteiro de Michael Tolkin - também autor do romance que lhe deu origem - sublinha com sarcasmo alguns dos mais tradicionais rituais da terra do cinema, como os almoços de negócios (onde por trás de cumprimentos cordiais são disparados comentários maldosos e rancorosos) e os famosos "pitchs", onde roteiristas tentam vender suas estórias para gente como Mill, que não tem o menor interesse em realizar obras de arte e sim vender ingressos. É particularmente engraçada a trajetória de um desses roteiristas, o inglês Tom Oakley (Richard E. Grant), que se recusa a ver seu genial argumento - com conotações sociais fortes e que dispensa astros milionários, diz ele - vendido como puro entretenimento, até que se vê obrigado a mudar de ideia quando percebe como se movimentam as engrenagens escondidas do sistema. Essas finas ironias - e a participação de dezenas de astros hollywoodianos em aparições-relâmpago - acabaram por fazer de "O jogador" o filme mais comentado de 1992 dentro da comunidade cinematográfica (e fora dela, também, afinal que fã de cinema não tem curiosidade de penetrar nas entranhas da sétima arte? Mas, afora esse nocaute de Altman em seus detratores - que foram obrigados a vê-lo indicado ao Oscar também no ano seguinte, com "Short cuts, cenas da vida" - o filme é tão bom quanto foi alardeado?
Sim e não. Robert Altman é um cineasta veterano que sabe exatamente o que faz quando pega uma câmera na mão, e seu brilhante plano-sequência de abertura já seria justificativa o bastante para conferir o filme. Além do mais, como outsider da indústria, ele tem conhecimento de causa para sustentar as afirmações um tanto quanto cínicas da trama de Tolkin a ponto de brincar com elas sem ranço de despeito. Porém, seu estilo aparentemente desleixado de filmar pode incomodar àqueles que procuram um produto mais convencional. Altman frequentemente parece deixar sua câmera bisbilhotar invisível pelos cenários sem maiores preocupações estéticas e sem foco dramático - uma maneira de filmar que lhe é característica e não agrada a todos. Mas mesmo que talvez não seja a obra-prima tão incensada à época de seu lançamento, "O jogador" tem uma inteligência acima da média, diverte com suas surpreendentes participações especiais e mostrou que Tim Robbins merecia mais atenção de Hollywood. Missão mais do que cumprida!
ED WOOD
ED WOOD (Ed Wood, 1994, Touchstone Pictures, 127min) Direção: Tim Burton. Roteiro: Larry Alexander, Scott Karaszewski, livro "Nightmare of ecstasy", de Rudolph Grey. Fotografia: Stefan Czapsky. Montagem: Chris Lebenzon. Música: Howard Shore. Figurino: Colleen Atwood. Direção de arte/cenários: Tom Duffield/Cricket Rowland. Produção executiva: Michael Lehmann. Produção: Tim Burton, Denise Di Novi. Elenco: Johnny Depp, Martin Landau, Patricia Arquette, Sarah Jessica Parker, Bill Murray, Jeffrey Jones, Lisa Marie, George "The Animal" Steele, Vincent D'Onofrio. Estreia: 28/9/94
Vencedor de 2 Oscar: Ator Coadjuvante (Martin Landau), Maquiagem
Vencedor do Golden Globe de Ator Coadjuvante (Martin Landau)
Edward D. Wood Jr. nasceu em 10 de outubro de 1924 e morreu em 10 de dezembro de 1978. Veterano da II Guerra Mundial, costumava combater vestido com roupas íntimas femininas e, graças a essa particularidade, realizou seu primeiro filme como cineasta, em 1953: "Glen ou Glenda?" A partir daí, pegou gosto pela coisa e, com a ajuda de seu fiel grupo de amigos e do veterano ator Bela Lugosi - em fim de carreira, viciado em morfina e falido - dirigiu alguns dos mais terríveis filmes vistos nas telas, e assumiu, com o passar dos anos, o título de pior diretor da história do cinema. Sem a menor noção de como fazer um filme - e realizando-os com o dinheiro de quem quisesse produzí-los - Wood é uma das personalidades mais fascinantes do lado B de Hollywood, e virou assunto de um dos trabalhos mais pessoais e sensíveis de Tim Burton. Estrelado pelo excêntrico Johnny Depp, "Ed Wood" não encontrou seu público - rendeu menos de 6 milhões de dólares nas bilheterias americanas - mas encantou a crítica e os fãs de bom cinema. Tudo devido à inteligência do roteiro, ao elenco impecável e ao carinho explícito do diretor pelo material.
Levemente inspirado na biografia "Nightmare of ecstasy", escrita pelo músico Rudolph Grey, "Ed Wood" não é exatamente uma cinebiografia, uma vez que concentra-se unicamente na carreira de cineasta do protagonista, deixando de lado sua vida antes de sua chegada ao cinema. Tudo começa em 1953, quando Wood (vivido com gosto por Johnny Depp), arrasado com as críticas negativas feitas a uma peça teatral que ele dirigiu, resolve iniciar uma nova fase em sua vida, realizando filmes para o cinema. O fracasso de seu primeiro filme - que contava a história de um homem em crise de identidade sexual, interpretado por ele mesmo - não o impede de manter-se esperançoso, principalmente quando conhece, por acaso, o ator Bela Lugosi (Martin Landau, impressionante e vencedor do Oscar de coadjuvante). Decadente e considerado ultrapassado, Lugosi se une a Wood em seus absurdos projetos cinematográficos, iniciando um relacionamento de amizade e admiração sinceras. Enquanto o jovem diretor insiste em filmar histórias sem pé nem cabeça - utilizando como atores médicos quiropratas, investidoras sem talento e filhos dos produtores - seu relacionamento com a namorada Dolores Fuller (Sarah Jessica Parker) vai pro brejo e ele inicia um romance com a dedicada Kathy O'Hara (Patricia Arquette).
Extraordinariamente fotografado em preto-e-branco por Stefan Czapsky (vencedor de importantes prêmios da crítica americana por seu trabalho), "Ed Wood" foge do tradicional esquema das cinebiografias também por permitir-se brincar com a personalidade de seu homenageado. Ao narrar com bom-humor e ironia as aventuras de Wood em busca de reconhecimento e sucesso - ele se comparava a Orson Welles - Burton utiliza os elementos a seu dispor com maestria. A trilha sonora de Howard Shore - substituindo pela única vez o parceiro constante do diretor, Danny Elfman - estabelece o clima sombrio/divertido do filme logo nos créditos iniciais (que, dizem, custaram sozinhos mais do que qualquer filme de Ed Wood). A espirituosa maquiagem vencedora do Oscar faz sua parte sem apelar para exageros e o elenco não poderia estar em dias mais inspirados.
Acostumado a papéis de maluquetes, Johnny Depp criou um Ed Wood completamente obcecado por sua carreira, capaz dos atos mais inacreditáveis para transformar suas ideias malucas em filmes, mas ao mesmo tempo consegue humanizar a personagem em suas cenas com Martin Landau, que foge magnificamente das armadilhas de interpretar alguém tão conhecido como Bela Lugosi. O sotaque empregado por Landau convenceu até mesmo o filho de Lugosi e sua cadavérica aparência casa com exatidão com as intenções de Tim Burton em realizar um filme que orgulharia Wood. E seria injusto esquecer um Bill Murray hilariante e um Jeffrey Jones sempre em vias de roubar a cena. Todos os momentos em que a equipe de Ed Wood está reunida são sublimes em sua visão romântica e apaixonada do ato de fazer cinema.
"Ed Wood" é isso! Uma homenagem carinhosa, romântica, sensível, engraçada e comovente a um dos artistas mais originais e apaixonados que o cinema americano produziu. Ed Wood pode ter sido o pior diretor da história, mas inspirou o melhor filme de um cineasta que provavelmente nasceu para contar sua história.
Vencedor de 2 Oscar: Ator Coadjuvante (Martin Landau), Maquiagem
Vencedor do Golden Globe de Ator Coadjuvante (Martin Landau)
Edward D. Wood Jr. nasceu em 10 de outubro de 1924 e morreu em 10 de dezembro de 1978. Veterano da II Guerra Mundial, costumava combater vestido com roupas íntimas femininas e, graças a essa particularidade, realizou seu primeiro filme como cineasta, em 1953: "Glen ou Glenda?" A partir daí, pegou gosto pela coisa e, com a ajuda de seu fiel grupo de amigos e do veterano ator Bela Lugosi - em fim de carreira, viciado em morfina e falido - dirigiu alguns dos mais terríveis filmes vistos nas telas, e assumiu, com o passar dos anos, o título de pior diretor da história do cinema. Sem a menor noção de como fazer um filme - e realizando-os com o dinheiro de quem quisesse produzí-los - Wood é uma das personalidades mais fascinantes do lado B de Hollywood, e virou assunto de um dos trabalhos mais pessoais e sensíveis de Tim Burton. Estrelado pelo excêntrico Johnny Depp, "Ed Wood" não encontrou seu público - rendeu menos de 6 milhões de dólares nas bilheterias americanas - mas encantou a crítica e os fãs de bom cinema. Tudo devido à inteligência do roteiro, ao elenco impecável e ao carinho explícito do diretor pelo material.
Levemente inspirado na biografia "Nightmare of ecstasy", escrita pelo músico Rudolph Grey, "Ed Wood" não é exatamente uma cinebiografia, uma vez que concentra-se unicamente na carreira de cineasta do protagonista, deixando de lado sua vida antes de sua chegada ao cinema. Tudo começa em 1953, quando Wood (vivido com gosto por Johnny Depp), arrasado com as críticas negativas feitas a uma peça teatral que ele dirigiu, resolve iniciar uma nova fase em sua vida, realizando filmes para o cinema. O fracasso de seu primeiro filme - que contava a história de um homem em crise de identidade sexual, interpretado por ele mesmo - não o impede de manter-se esperançoso, principalmente quando conhece, por acaso, o ator Bela Lugosi (Martin Landau, impressionante e vencedor do Oscar de coadjuvante). Decadente e considerado ultrapassado, Lugosi se une a Wood em seus absurdos projetos cinematográficos, iniciando um relacionamento de amizade e admiração sinceras. Enquanto o jovem diretor insiste em filmar histórias sem pé nem cabeça - utilizando como atores médicos quiropratas, investidoras sem talento e filhos dos produtores - seu relacionamento com a namorada Dolores Fuller (Sarah Jessica Parker) vai pro brejo e ele inicia um romance com a dedicada Kathy O'Hara (Patricia Arquette).
Extraordinariamente fotografado em preto-e-branco por Stefan Czapsky (vencedor de importantes prêmios da crítica americana por seu trabalho), "Ed Wood" foge do tradicional esquema das cinebiografias também por permitir-se brincar com a personalidade de seu homenageado. Ao narrar com bom-humor e ironia as aventuras de Wood em busca de reconhecimento e sucesso - ele se comparava a Orson Welles - Burton utiliza os elementos a seu dispor com maestria. A trilha sonora de Howard Shore - substituindo pela única vez o parceiro constante do diretor, Danny Elfman - estabelece o clima sombrio/divertido do filme logo nos créditos iniciais (que, dizem, custaram sozinhos mais do que qualquer filme de Ed Wood). A espirituosa maquiagem vencedora do Oscar faz sua parte sem apelar para exageros e o elenco não poderia estar em dias mais inspirados.
Acostumado a papéis de maluquetes, Johnny Depp criou um Ed Wood completamente obcecado por sua carreira, capaz dos atos mais inacreditáveis para transformar suas ideias malucas em filmes, mas ao mesmo tempo consegue humanizar a personagem em suas cenas com Martin Landau, que foge magnificamente das armadilhas de interpretar alguém tão conhecido como Bela Lugosi. O sotaque empregado por Landau convenceu até mesmo o filho de Lugosi e sua cadavérica aparência casa com exatidão com as intenções de Tim Burton em realizar um filme que orgulharia Wood. E seria injusto esquecer um Bill Murray hilariante e um Jeffrey Jones sempre em vias de roubar a cena. Todos os momentos em que a equipe de Ed Wood está reunida são sublimes em sua visão romântica e apaixonada do ato de fazer cinema.
"Ed Wood" é isso! Uma homenagem carinhosa, romântica, sensível, engraçada e comovente a um dos artistas mais originais e apaixonados que o cinema americano produziu. Ed Wood pode ter sido o pior diretor da história, mas inspirou o melhor filme de um cineasta que provavelmente nasceu para contar sua história.
TUDO POR AMOR
TUDO POR AMOR (Dying young, 1991, 20th Century Fox, 111min) Direção: Joel Schumacher. Roteiro: Richard Friedenberg, romance de Marti Leimbach. Fotografia: Juan Ruiz Anchia. Montagem: Robert Brown, Jim Prior. Música: James Newton Howard. Figurino: Susan Becker. Direção de arte/cenários: Cricket Rowland. Casting: Mary Goldberg. Produção: Sally Field, Kevin McCormick. Elenco: Julia Roberts, Campbell Scott, Vincent D'Onofrio, Colleen Dewhurst, David Selby, Ellen Burstyn. Estreia: 21/6/91
Depois de ter seduzido plateias do mundo inteiro com uma comédia romântica e dois suspenses, Julia Roberts achou que faltava algo para demonstrar sua versatilidade. Nada melhor, portanto, do que investir em um românce ao estilo "Love story". Produzido por sua mãe no choroso "Flores de aço", Sally Field, o drama "Tudo por amor" reuniu a linda mulher ao diretor Joel Schumacher, de "Linha mortal", mas não fez o barulho esperado. Era a primeira mostra de que a estrela de Julia estava começando a apagar-se - o que iria acontecer ainda na primeira metade dos anos 90, para depois ressurgir com força total.
Na verdade a culpa do semi-fracasso de "Tudo por amor" - semi porque o filme tem seus fãs inveterados - é o fato de contar uma história bastante triste e deprimente, que quase anula a maior qualidade de Roberts: sua vivacidade. Ainda que altere consideravelmente o final do livro em que é baseado - na verdade o romance acaba um pouco adiante do que é mostrado nas telas - o filme de Joel Schumacher é suficientemente melancólico para afastar o público que apaixonou-se pelo largo sorriso da atriz. E ter Schumacher, um cineasta não exatamente criativo ou ousado, por trás das câmeras não ajuda muito no resultado final. A maior qualidade de "Tudo por amor" é justamente a tentativa de seu elenco em transformar uma montanha de clichês em algo minimamente interessante.
Julia Roberts - menos bela e sedutora do que o normal - vive Hilary O'Neil, uma jovem que, depois de sair da casa onde vivia com o namorado infiel, atende um anúncio de jornal procurando uma enfermeira. Mesmo sem ter nenhuma experiência no assunto, suas belas pernas e a ajudam a conseguir o emprego como acompanhante 24h de Victor Geddes (Campbell Scott), um rapaz de 28 anos que tem leucemia desde a adolescência. A princípio assustada com as reações adversas do jovem a seu tratamento de quimioterapia, ela aos poucos começa a realmente cuidar dele e ajudá-lo em sua recuperação. Quando eles viajam para a praia para que ele termine sua tese de doutorado, eles se descobrem apaixonados, mas a doença volta a ser uma ameaça à sua felicidade.
Enquanto Roberts não parece à vontade com sua personagem, é Campbell Scott quem se destaca no difícil papel de Victor, um rapaz dividido entre a tentativa de uma vida normal e a cura de sua doença. Sem apelar para a lágrima fácil, o filho do grande ator George C. Scott consegue ser sedutor, agressivo, frágil e apaixonante. Não é à toa que a linda mulher cai de amores por ele...
Depois de ter seduzido plateias do mundo inteiro com uma comédia romântica e dois suspenses, Julia Roberts achou que faltava algo para demonstrar sua versatilidade. Nada melhor, portanto, do que investir em um românce ao estilo "Love story". Produzido por sua mãe no choroso "Flores de aço", Sally Field, o drama "Tudo por amor" reuniu a linda mulher ao diretor Joel Schumacher, de "Linha mortal", mas não fez o barulho esperado. Era a primeira mostra de que a estrela de Julia estava começando a apagar-se - o que iria acontecer ainda na primeira metade dos anos 90, para depois ressurgir com força total.
Na verdade a culpa do semi-fracasso de "Tudo por amor" - semi porque o filme tem seus fãs inveterados - é o fato de contar uma história bastante triste e deprimente, que quase anula a maior qualidade de Roberts: sua vivacidade. Ainda que altere consideravelmente o final do livro em que é baseado - na verdade o romance acaba um pouco adiante do que é mostrado nas telas - o filme de Joel Schumacher é suficientemente melancólico para afastar o público que apaixonou-se pelo largo sorriso da atriz. E ter Schumacher, um cineasta não exatamente criativo ou ousado, por trás das câmeras não ajuda muito no resultado final. A maior qualidade de "Tudo por amor" é justamente a tentativa de seu elenco em transformar uma montanha de clichês em algo minimamente interessante.
Julia Roberts - menos bela e sedutora do que o normal - vive Hilary O'Neil, uma jovem que, depois de sair da casa onde vivia com o namorado infiel, atende um anúncio de jornal procurando uma enfermeira. Mesmo sem ter nenhuma experiência no assunto, suas belas pernas e a ajudam a conseguir o emprego como acompanhante 24h de Victor Geddes (Campbell Scott), um rapaz de 28 anos que tem leucemia desde a adolescência. A princípio assustada com as reações adversas do jovem a seu tratamento de quimioterapia, ela aos poucos começa a realmente cuidar dele e ajudá-lo em sua recuperação. Quando eles viajam para a praia para que ele termine sua tese de doutorado, eles se descobrem apaixonados, mas a doença volta a ser uma ameaça à sua felicidade.
Enquanto Roberts não parece à vontade com sua personagem, é Campbell Scott quem se destaca no difícil papel de Victor, um rapaz dividido entre a tentativa de uma vida normal e a cura de sua doença. Sem apelar para a lágrima fácil, o filho do grande ator George C. Scott consegue ser sedutor, agressivo, frágil e apaixonante. Não é à toa que a linda mulher cai de amores por ele...
Assinar:
Postagens (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...