Em 2004 dois filmes disputavam a primazia de contar a história de Alexandre, O Grande. A versão que seria dirigida por Baz Luhrmann e estrelada por Leonardo DiCaprio e Nicole Kidman, porém, acabou ficando apenas nos planos, enquanto uma outra visão da saga do conquistador macedônio chegou às telas, sob o comando do sempre polêmico Oliver Stone. Sem medo de tocar em assuntos delicados, como a bissexualidade de seu protagonista, Stone assinou um trabalho visualmente espetacular, mas frouxo em suas intenções. Mesmo contando com uma impressionante fotografia de Rodrigo Prieto, uma trilha sonora majestosa do grego Vangelis e uma impecável reconstituição de época, o épico do cineasta que sacudiu Hollywood com sua trilogia sobre a guerra do Vietnã - "Platoon", "Nascido em 4 de julho" e "Entre o céu e a terra" - acabou se tornando um retumbante fracasso de bilheteria.
Depois do assassinato de seu pai, o rei Filipe, o Caolho (em surpreendente atuação de Val Kilmer), o jovem Alexandre (Colin Farrell loiro e menos intenso do que de costume) assume o trono da Grécia e, inspirado pelo mito de Aquiles, decide conquistar todo o mundo então conhecido. Incentivado por sua ambiciosa e vingativa mãe, Olímpia (Angelina Jolie, belíssima mesmo na maturidade de sua personagem), ele utiliza seu fiel exército para dominar inclusive a Babilônia, de onde torna-se rei por direito. Controverso e dado a crises de paranoia, ele surpreende a todos quando, ao contrário do que se esperava, casa-se com Roxana (Rosario Dawson), uma mulher considerada de importância política nula. Cercado de traições e motins por todos os lados, Alexandre conta sempre com a presença de Hefestion (Jared Leto), seu grande amor de infância, para tornar-se o rei do mundo.
O roteiro de "Alexandre", escrito pelo próprio Stone - junto com Christopher Kyle e Laeta Kalogridis - passa ao largo de momentos importantes da história do conquistador e, paradoxalmente, narra algumas situações bastante dispensáveis. Cenas grandiloquentes e bem dirigidas não faltam, cortesia de tomadas aéreas deslumbrantes. O que falta no filme, no entanto, são emoções verdadeiras. O irlandês Colin Farrell tira de letra o desafio de encarar um papel com as dimensões de Alexandre, mesmo que esteja mais contido do que o habitual. Angelina Jolie desfila sua beleza impressionante e sua classe pela tela, mas fala com um sotaque inexplicável que diminiu o impacto de sua Olímpia, quase uma Lady Macbeth, ambiciosa e rancorosa. E é uma pena que atores do quilate de Anthony Hopkins estejam em cena como um mero e luxuoso narrador.
É inegável que "Alexandre" é um superespetáculo, um épico de grandes proporções, e como tal, agrada, impressiona e satisfaz. Como história, no entanto, deixa a desejar, em especial por se estender em demasia sem ter muito o que contar - a julgar pelo roteiro fraco. Ainda assim, é muito melhor do que boa parte da crítica americana - que tem enorme prazer em detonar Oliver Stone - quis fazer acreditar na época de seu lançamento.
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