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O QUARTO DO FILHO

O QUARTO DO FILHO (La stanza del figlio, 2001, Rai Cinemafiction, 99min) Direção: Nanni Moretti. Roteiro: Nanni Moretti, Heidrun Schleef, Linda Ferri. Fotografia: Giuseppe Lanci. Montagem: Esmeralda Calabria. Música: Nicola Piovani. Figurino: Maria Rita Barbera. Direção de arte/cenários: Giancarlo Basili. Produção: Angelo Barbagallo, Federico Fabrizio, Vincenzo Galluzzo, Lorenzo Luccarini, Nanni Moretti. Elenco: Nanni Moretti, Laura Morante, Jasmine Trinca, Giuseppe Sanfelice, Stefano Accorsi. Estreia: 09/3/01

Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes

Quando um filme americano trata de perdas familiares, o público já sabe o que esperar: cenas catárticas, lágrimas em profusão e atores lutando por destaque - e quiçá uma lembrança dos membros da Academia. Quando a produção vem da Europa, porém, a coisa é bastante diferente, ainda que o tema seja o mesmo. Um exemplo claro dessa afirmação é  "O quarto do filho", que saiu de Cannes em 2001 com a Palma de Ouro de Melhor Filme mesmo diferindo radicalmente das obras normalmente laureadas no festival - em outras palavras, é um drama simples e direto, sem firulas estilísticas ou arroubos artificiais de criatividade forçada. Ao investigar as consequências da morte de um adolescente em sua família, o diretor/roteirista/produtor/ator Nanni Moretti criou um singelo estudo sobre a perda que foge do dramalhão simplista e acena com um otimismo comovente.

O psicanalista Giovanni Sermonti (vivido pelo próprio Moretti) leva uma vida feliz e harmoniosa com a mulher Paola (Laura Morante) e o casal de filhos adolescentes, Irene (Jasmine Trinca) e Andrea (Giuseppe Sanfelice) até que, em um acidente de mergulho, o rapaz acaba morrendo - enquanto ele está atendendo um paciente à domicílio. A tragédia acaba empurrando-o em direção a remorsos e questionamentos, prejudicando sua carreira e seu casamento até então inabalável. Tentando lidar com a terrível perda, a família encontra um sopro de esperança quando descobre uma namorada desconhecida do rapaz.


Evitando ao máximo cenas lacrimosas, o filme de Moretti trata com elegância e discrição um tema difícil e compreensivelmente depressivo. Fugindo dos exageros que se poderia esperar de um filme italiano, ele prefere investir em cenas de impacto visual sutil, refletindo o vazio da família Sermonti através de olhares e da bela música de Nicola Piovani. Equilibrando com maestria o drama do protagonista com as consultas dos pacientes de Giovanni - incluindo um viciado em sexo interpretado por Stefano Accorsi em vias de tornar-se um dos atores mais populares do cinema italiano do início do século XXI - o roteiro deixa o espectador respirar diante de tanta dor sem nunca fugir de sua premissa central, um mérito inquestionável que fortalece o drama sem pesar a mão.

E é justamente essa a maior qualidade de "O quarto do filho": nunca pesar a mão. Apesar do assunto não ser nada agradável, Nanni Moretti consegue ser o mais leve possível, optando em mostrar como um lar devastado pela tristeza pode levantar-se e seguir adiante. Com um elenco homogêneo e uma direção firme, ele fez jus a seu prêmio em Cannes com uma obra madura e exemplar que contrapõe a felicidade talvez ignorada do cotidiano ao vazio avassalador de uma perda.

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