Tido como um dos prováveis candidatos ao Oscar 2008 desde que estreou no Festival de Toronto em setembro de 2007, o drama político "O suspeito" viu suas expectativas frustradas quando foi solenemente ignorado quando a lista de indicações foi divulgada, quatro meses mais tarde. Talvez devido a seu tema incendiário e polêmico - os métodos pouco ortodoxos da CIA de interrogar suspeitos de terrorismo mesmo sem evidências sólidas - o filme do sul-africano Gavin Hood tampouco encontrou seu público, passando batido nas bilheterias americanas (seu principal alvo) e sendo pouco comentado no resto do mundo. Seu relativo fracasso, porém, não deixa de ser injusto: na tradição dos thrillers políticos do grego Costa-Gavras, "O suspeito" é um filme forte, inteligente e bem realizado, com muito mais a dizer do que se poderia esperar de uma produção hollywoodiana - mesmo que envolto em um pacote comercialmente atraente.
Apesar de ter seu elenco liderado por Reese Witherspoon em seu primeiro papel pós-Oscar - e de ela ser basicamente uma atriz de filmes menos sérios - "O suspeito" não tem nada de leve ou fácil, ainda que provavelmente tenha retratado de forma bem atenuada muito da crueldade a qual são submetidas as pessoas que tem o azar de cair na suspeita dos paranoicos agentes da CIA pós-11 de setembro. Apesar das cenas de tortura serem dirigidas de maneira a não chocar o grande público, é difícil não se deixar envolver com a angústia transmitida pela direção segura de Hood - que também assinou "Infância roubada", vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2005 - tanto nas sequências fisicamente violentas quanto nas potentes cenas dramáticas, que extraem o melhor de seus atores, todos do mais alto gabarito (a ponto de Meryl Streep ter um papel relativamente pequeno, ainda que crucial à história contada pelo complexo roteiro de Kelley Sane.
A teia de dramas criada por Sane também tem desdobramentos em outro nível que não o familiar e o político, o que lhe dá um sabor extra: no decorrer da busca de Isabella pelo paradeiro do marido - trama que remete imediatamente ao clássico "Missing", estrelado por Sissy Spacek e Jack Lemmon - o público é também testemunha da história de amor entre dois jovens, Fatima (Zineb Oukach), filha de Abasi, e Khalid (Moa Khouas), um rapaz muçulmano com um trágico passado de violência familiar que o faz odiar o pai da namorada. Essa trama paralela - que talvez confunda o espectador em um primeiro momento - se revela de suma importância no desfecho do filme, comprovando o talento de Hood em manipular a atenção de seu público em várias frentes. Sob seu comando, o que poderia parecer um desvio de foco acaba se tornando uma surpresa chocante.
Mesmo que não tenha sido o sucesso que deveria, "O suspeito" é um dos mais interessantes filmes americanos a discutir a política de segurança americana depois dos atentados às Torres Gêmeas. E é também um belo exemplo de como cineastas estrangeiros à Hollywood podem se adequar à indústria sem perder sua sensibilidade e identidade próprias.
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