quarta-feira

A MARCA DA PANTERA


A MARCA DA PANTERA (Cat people, 1982, RKO Pictures/Universal Pictures, 118min) Direção: Paul Schrader. Roteiro: Alan Ormsby, estória de DeWitt Bodeen. Fotografia: John Bailey. Montagem: Jacqueline Cambas, Jere Huggins, Ned Humphreys. Música: Giorgio Moroder. Figurino: Daniel Paredes. Direção de arte/cenários: Edward Richardson/Bruce Weintraub. Produção executiva: Jerry Bruckheimer. Produção: Charles Fries. Elenco: Nastassja Kinski, Malcolm McDowell, John Heard, Ruby Dee, Ed Begley Jr., Annette O'Toole. Estreia: 02/4/82

No começo dos anos 1980, o produtor Wilbur Stark tinha a intenção de refilmar clássicos de terror da RKO Pictures, apresentá-los a novas gerações de espectadores e, é claro, lucrar em cima de projetos já devidamente testados. Logo em sua primeira tentativa, no entanto, deu com os burros n'água, e viu seu "O enigma do outro mundo" (1982) - remake de "O monstro do Ártico" (1951) - fracassar nas bilheterias mesmo com o nome do diretor John Carpenter estampado nos cartazes. Se tal revés não fosse motivo suficiente para desistir da empreitada, logo em seguida outro fiasco comercial nos mesmos moldes colocaria uma pá de cal em suas intenções: releitura livre de "Sangue de pantera" (1942), o mezzo suspense mezzo erótico "A marca da pantera", dirigido por Paul Schrader, foi praticamente ignorado pelo público, apesar do apelo sensual de sua estrela, Nastassja Kinski, e da canção-tema composta e interpretada por David Bowie. Com um custo estimado de 18 milhões de dólares e uma renda de pouco mais de 7 milhões, a produção enterrou todo e qualquer plano de novas revisões - mas, ao contrário do filme de Carpenter, que caprichava na atmosfera de tensão e expandia as qualidades do original, o filme de Schrader mereceu o fracasso.

Escorado basicamente no magnetismo sexual de Kinski - no auge da beleza e da popularidade -, "A marca da pantera" é uma adaptação livre do filme dirigido por Jacques Tourneur e estrelado pos Simone Simon, e, aproveitando-se basicamente do conceito original da trama, deixa de lado toda e qualquer sutileza para apostar na violência gráfica, em efeitos visuais nem sempre eficientes e na tentativa de explorar ao máximo um erotismo muito em voga à época de seu lançamento - antes que o conservadorismo da era Reagan se estabelecesse avassaladoramente em Hollywood. Sem hesitar em mostrar sua protagonista nua em boa parte do filme e apelar para tabus como o incesto, o roteiro de Alan Ormsby (substancialmente alterado pelo diretor) utiliza o sexo como mola propulsora e centra seu foco na relação doentia entre a bela e inocente Irena Gallier e seu dúbio irmão, Paul (Malcolm McDowell) - uma relação cuja origem remete a uma lenda referente a panteras em forma humana e sacrifícios rituais.

O centro de "A marca da pantera" é Irena, uma jovem delicada e sensível que chega a Nova Orleans para morar com o irmão, Paul e sua empregada, Female (Ruby Dee). Virgem e pura, Irena nem sequer desconfia das particularidades de sua linhagem familiar - descendentes de uma mistura de homens e panteras, eles se transformam em animais quando fazem sexo e precisam matar para voltar à forma humana. Tal condição é plenamente conhecida por Paul, que costuma saciar seus desejos sexuais contratando prostitutas - a quem mata sem pestanejar - e deseja convencê-la a manter com ele um relacionamento incestuoso. Irena, por sua vez, foge dos desejos cada vez mais intensos que a aproximam de Oliver Yates (John Heard, em papel oferecido a William Hurt), curador do zoológico da cidade por quem está apaixonada. Ciente de que a entrega a Oliver pode fazer vir à tona seu lado animal (literalmente), a jovem tenta sufocar seus sentimentos - algo cada vez mais difícil, especialmente com a pressão de Paul. Além disso, o ciúme que sente da proximidade de Oliver com sua colega, Alice Perrin (Annette O'Toole), também a empurra em direção a uma situação perigosa em que ela, definitivamente, terá que enfrentar o chamado de seu DNA.

Não deixam de ser interessantes as modificações feitas por Paul Schrader no roteiro original - o clima de sensualidade e mistério misturado ao misticismo e ao suspense muitas vezes casam com perfeição. Porém, é inegável que os muitos furos da história e sua falta de profundidade incomodam muito mais. Nastassja Kinski está linda (a ponto do diretor pensar em casamento ao final das filmagens) e Malcolm McDowell capricha no olhar insano que é sua marca registrada desde "Laranja mecânica" (1971), mas o desenvolvimento capenga da trama e o visual cafona típico dos anos 1980 soam mais alto que suas qualidades. Desde 1978 na mira dos produtores para ganhar uma versão mais moderna, "Sangue de pantera" merecia mais consideração em sua nova roupagem - talvez menos sangue e mais inteligência fossem essenciais para transformar seu remake em algo que se sustentasse além do erotismo e dos fetiches claramente exercitados por Schrader em seu roteiro. É uma produção curiosa, mas muito aquém do que se poderia esperar.

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