A MULHER DO AÇOUGUEIRO (The butcher's wife, 1991, Paramount Pictures, 107min) Direção: Terr Hughes. Roteiro: Ezra Litwak, Marjorie Schwartz. Fotografia: Frank Tidy. Montagem: Donn Cambern. Música: Michael Gore. Figurino: Theadra Van Runkle. Direção de arte/cenários: Charles Rosen/Donald J. Remacle. Produção executiva: Arne Schmidt. Produção: Lauren Lloyd, Wallis Nicita. Elenco: Demi Moore, Jeff Daniels, George Dzunza, Frances McDormand, Mary Steenburgen, Margaret Colin, Max Perlich. Estreia: 25/10/91
Em 1987, quando ainda não era uma estrela de primeira grandeza, Demi Moore tentou convencer a Tri-Star Pictures a comprar um roteiro escrito por Ezra Litak e Marjorie Schwartz, chamado "A mulher do açougueiro". O estúdio não demonstrou entusiasmo e o script acabou nas mãos da Paramount. Em 1990, com o mega-sucesso "Ghost: do outro lado da vida" no currículo, a então sra. Bruce Willis finalmente teve a oportunidade de ver seu desejo atendido. Já considerada um nome em ascensão em Hollywood, porém, Demi já não tinha mais interesse no projeto, mas foi convencida a reconsiderar a decisão diante de um polpudo salário oferecido pelos executivos - que viam no encontro da estrela do filme de Jerry Zucker com uma produção de temática espiritualista a receita para mais um êxito incontestável. Mas logo o que parecia uma aposta sem riscos se mostrou um tiro n'água: atacado pela crítica e com uma bilheteria decepcionante, o primeiro longa-metragem de Terry Hughes acabou sendo um dos inúmeros fracassos comerciais que pavimentaram o caminho de Demi rumo ao limbo sacramentando com fiascos como "Striptease" (1996) e "Até o limite da honra" (1997).
Conhecido na indústria principalmente pelos 108 episódios que dirigiu da série "Super gatas", Terry Hughes assumiu o comando de "A mulher do açougueiro" com a saída do cineasta inicialmente contratado para o projeto, o polonês Yurek Bogayevicz, dispensado por causa das famosas "diferenças artísticas". Sem experiência cinematográfica, Hughes apresenta um tom apropriadamente leve à sua estreia, mas falha em imprimir personalidade à lúdica história criada por Litak e Schwartz em sua única incursão hollywoodiana. Talvez seja o maior defeito de uma produção que, apesar do massacre da imprensa, não é melhor nem pior que boa parte das comédias românticas que lotam as salas de cinema mesmo sem acrescentar nada ao gênero. Dono de uma atmosfera mágica - sublinhada pela bela trilha sonora de Michael Gore - e recheado de personagens encantadores (ainda que não necessariamente aprofundados pelo roteiro), o filme de Hughes se beneficia da beleza de Demi e do talento de seu elenco coadjuvante para disfarçar uma trama quase simplória, cuja ingenuidade tanto pode ser vista como defeito quanto qualidade.
Demi, de peruca loura - e em papel que chegou a ser pensado para Meg Ryan -, interpreta a misteriosa Marina, uma bela clarividente que vê, em seus sonhos a chegada do amor de sua vida à ilha onde vive com sua idosa avó. Quando o açougueiro Leo Lemke (George Dzunza) surge à sua frente, então, ela imediatamente o reconhece como o homem que irá mudar o rumo de sua existência. Casada com ele mesmo sem conhecê-lo direito, ela se muda para Nova York e, com seus poderes, passa a alterar a rotina da pacata vizinhança - quase toda envolvida pessoal ou profissionalmente com o terapeuta Alex Tremor (Jeff Daniels): é graças a seus conselhos, por exemplo, que a tímida Stella Keefover (Mary Steenburgen) cria coragem para dar vazão a seu talento musical; que a vendedora de roupas Grace (Frances McDormand) parte em busca do amor; e que Robyn Graves (Margaret Colin) resolve pressionar o namorado - justamente o indeciso Alex, que, incomodado, confronta a bela esposa de seu vizinho e se apaixona por ela. A ciranda de amores - correspondidos ou não - se completa com a presença de Eugene (Max Perlich), empregado de Leo que vê em Marina a única pessoa capaz de compreendê-lo e aceitar seu passado contraventor.
Não há nada em "A mulher do açougueiro" que seja ofensivamente ruim, como fizeram crer boa parte dos críticos à época de seu lançamento. Se o romance central, entre Marina e Alex, não chega a ser fascinante, tampouco é irritante ou aborrecido. Se os personagens periféricos carecem de profundidade, também não deixam de ser encantadores em sua simplicidade. E se Demi Moore não é exatamente uma atriz de recursos ilimitados, seus colegas compensam o suficiente - e vale lembrar que Demi, carismática ao extremo, foi uma das atrizes mais atacadas dentro da indústria hollywoodiana, talvez pelo sucesso profissional, talvez pelo casamento (até então) bem-sucedido com Bruce Willis, talvez pela beleza irretocável. A má-vontade contra ela talvez explique o fracasso monumental de "A mulher do açougueiro" - menos de dez milhões de dólares arrecadados no total -, mas o fato é que sua carreira ainda emplacaria alguns sucessos de bilheteria ("Questão de honra", em 1992, e "Assédio sexual", em 1993) antes de seus maiores fiascos. "A mulher do açougueiro" é, para o bem ou para o mal, um filme que se sustenta na presença de Demi. Quem é fã não tem do que se queixar. Aos detratores, resta apenas ignorar.
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