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O PLANO PERFEITO


O PLANO PERFEITO (Inside man, 2006, Universal Pictures, 129min) Direção: Spike Lee. Roteiro: Russell Gewirtz. Fotografia: Matthew Libatique. Montagem: Barry Alexander Brown. Música: Terence Blanchard. Figurino: Donna Berwick. Direção de arte/cenários: Wynn Thomas/Geore DeTitta Jr.. Produção executiva: Karen Kehela Sherwood, Jon Kilik, Daniel M. Rosenberg, Kim Roth, Christian Stibbe. Produção: Brian Grazer. Elenco: Denzel Washington, Clive Owen, Jodie Foster, Willem Dafoe, Christopher Plummer, Chiwetel Ejiofor. Estreia: 20/3/2006

Um dos filmes mais populares da carreira de Spike Lee, "O plano perfeito" é, também, um de seus projetos menos pessoais. Assumindo o comando da produção depois da saída do diretor original - Ron Howard abandonou o barco para realizar "A luta pela esperança", com Russell Crowe -, Lee deixou de lado a maioria de suas marcas registradas para assinar uma obra inserida em um subgênero de grande tradição cinematográfica - os filmes de roubo  - e que, com um elenco de nomes conhecidos, não teve dificuldade em encontrar seu público. Com uma renda de mais de 180 milhões de dólares e elogios da maior parte da crítica, o 17º longa-metragem de Lee abraça todas as convenções do estilo e só não se tornou uma pequena obra-prima devido ao roteiro um tanto confuso de Russell Gerwitz, que insiste em reviravoltas por vezes desnecessárias e no desenvolvimento raso de seus personagens - nenhum deles carismático o bastante para despertar a torcida do espectador.

O filme começa com um monólogo de Dalton Russell (Clive Owen), explicando como aconteceu o roubo a banco no qual ele tomou parte. Em um flashback, o público é então jogado ao momento em que Dalton e seus cúmplices entram em uma agência do Manhattan Trust Bank de Nova York. Mascarados e armados, eles dão início à ação criminosa, tomando funcionários e clientes como reféns. Quem é chamado para comandar a resposta ao assalto é o detetive Keith Frazier (Denzel Washington), que não demora a chegar ao local com o parceiro, Bill Mitchell (Chiwetel Ejiofor) e unir-se a outro líder da polícia, o Capitão John Darius (Willem Dafoe). Sem saber ao certo quantas pessoas estão mantidas dentro do banco - e nem ao menos com quantos criminosos estão lidando - Frazier e seus colegas começam a dialogar com Russell, que aparenta não ter a menor pressa em concluir seu roubo e faz exigências surpreendentes para liberar os prisioneiros. A situação fica ainda mais complexa quando entra em cena Madeline White (Jodie Foster), contratada pelo dono do banco, Arthur Case (Christopher Plummer), para impedir que um cofre secreto seja descoberto e tenha seu conteúdo exposto.


 

Dirigindo com inteligência mas sem os rasgos de ironia e fúria de seus trabalhos mais conhecidos, Spike Lee faz de "O plano perfeito" um filme correto mas nunca brilhante. Tudo está em seu devido lugar: a trilha sonora de Terence Blanchard (uma das poucas marcas registradas do cineasta), o elenco acima de qualquer crítica (mais uma colaboração entre Lee e Denzel Washington), a fotografia elegante de Matthew Libatique (que seria indicado ao Oscar alguns anos depois, por "Cisne negro"), que substitui as cores quentes por uma paleta mais sóbria e claustrofóbica. Porém, apesar de suas inúmeras qualidades - devidamente louvadas pela crítica -, o filme falha em conectar-se emocionalmente com o espectador. A opção do roteiro em não aprofundar seus personagens e, com uma pequena exceção ao Keith Frazier vivido por Denzel, não fornecer informações de seu passado ou suas motivações, pode até ser interessante - focar no momento da ação tem prós e contras em uma narrativa -, mas impede o espectador de realmente se importar com os desdobramentos além do que está no centro da trama.  O excesso de questões a serem resolvidas também atrapalha - o que Arthur Case está escondendo em seu cofre pessoal? Por que Dalton Russell escolheu justamente o Manhattan Trust Bank? Quem dentre as pessoas interrogadas por Frazier é cúmplice no assalto? O exagero de perguntas (nem todas respondidas a contento) é o calcanhar de Aquiles de "O plano perfeito".

Com um roteiro que força suas reviravoltas - ingrediente básico do gênero - e não consegue deixar de ser mais confuso do que surpreendente, "O plano perfeito" peca ao negar ao público um elemento crucial: a diversão. Ao contrário de Steven Soderbergh e sua trilogia iniciada com "Onze homens e um segredo" (2000), que aposta no humor e na leveza para seduzir a plateia, Spike Lee prefere se levar a sério demais, optando por conduzir o público em um emaranhado de pistas e personagens dúbios que jamais conquistam o espectador completamente. O clímax frio tampouco ajuda a elevá-lo acima da média e torná-lo o clássico moderno que poderia ser. Mesmo assim, com seu elenco impecável, o filme de Lee agrada ao não subestimar a inteligência de quem se dispõe a passar duas horas envolvido em uma trama que foge do derivativo e do lugar comum. Um filme de adulto, ideal para quem gosta de ter suas células cinzentas desafiadas.

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