segunda-feira

O PODER DO AMOR

 


O PODER DO AMOR (Something to talk about, 1995, Warner Bros, 106min) Direção: Lasse Hallstrom. Roteiro: Callie Khouri. Fotografia: Sven Kykvist. Montagem: Mia Goldman. Música: Graham Preskett, Hans Zimmer. Figurino: Aggie Guerard Rodgers. Direção de arte/cenários: Mel Bourne/Roberta J. Holinko. Produção executiva: Goldie Hawn. Produção: Anthea Sylbert, Paula Weinstein. Elenco: Julia Roberts, Dennis Quaid, Robert Duvall, Kyra Sedgwick, Gena Rowlands, Brett Cullen. Estreia: 20/7/95

Nem sempre o encontro de talento, prestígio e popularidade resulta em um grande sucesso. "O poder do amor" é um exemplo claro dessa afirmação: mesmo com a união do celebrado diretor Lasse Hallstrom (então já indicado ao Oscar por "Minha vida de cachorro", de 1987), da roteirista Callie Khouri (oscarizada por "Thelma & Louise", de 1991) e da atriz Julia Roberts, o filme ficou muito aquém do esperado nas bilheterias e tampouco entusiasmou a crítica. Vendida como uma comédia romântica quando na verdade é um drama familiar quase sonolento, e lançado em um período de crise na carreira de Roberts - que vinha acumulando fracassos comerciais que ameaçavam seu status de grande estrela - a produção da Warner decepcionou tanto o estúdio (que esperava um estouro financeiro) quanto seus fãs, ansiosos por rever seu belo sorriso e seu carisma milionário, o que só voltaria a acontecer com "O casamento do meu melhor amigo", lançado dois anos mais tarde.

Além da direção burocrática de Hallstrom, "O poder do amor" sofre, basicamente, pela absoluta falta de humor de seu roteiro - uma surpresa quando se trata de Khouri - e por personagens que falham em despertar a simpatia do espectador. Até mesmo a protagonista, uma mulher traída e tentando refazer a vida, sofre com um desenvolvimento pouco interessante. Grace Bichon (interpretada no piloto automático por Julia Roberts) administra o haras de seu pai, Wyly King (Robert Duvall), e vive um casamento aparentemente perfeito com o sedutor Eddie (Dennis Quaid). Sua frágil felicidade sofre um baque, no entanto, quando ela descobre que seu marido tem um romance com uma colega de trabalho. Humilhada e ressentida, Grace vai morar com a irmã caçula, Emma Rae (Kyra Sedgwick) e, se recusando a qualquer contato com o ex-marido, passa a questionar o sistema de quase submissão a que as mulheres de sua família se sujeitam em relação aos homens que a cercam. Tal comportamento chega até sua mãe, Georgia (Gena Rowlands), que até então jamais havia percebido tal situação em seu relacionamento.

 

O roteiro de Callie Khouri, como não poderia ser diferente, oferece às personagens femininas um destaque maior do que aos homens da história. Isso não significa, no entanto, que elas sejam capazes de conquistar a plateia. Com diálogos frequentemente enfadonhos e que soam artificiais até mesmo recitados por atrizes do porte de Roberts, Rowlands e Sedgwick, a trama anda em círculos, dá espaço para histórias paralelas pouco atraentes - que envolvem o haras da família e um novo relacionamento pouco crível à protagonista - e sofre com uma indesculpável falta de charme. Nem mesmo os belos cenários, os imponentes cavalos e o elenco carismático são suficientes para disfarçar o ritmo claudicante imposto pela direção - uma surpresa, uma vez que o sueco Hallstrom tem enorme talento para sublinhar as características mais emocionais de seus filmes, como mostrou em "Regras da vida" (1999), que lhe rendeu uma segunda indicação ao Oscar. E se não bastasse o fato do desperdício de suas atrizes, o filme oferece oportunidades ainda menores a seus atores, relegados a segundo plano e com personagens quase patéticos - se tal opção é proposital para enfatizar a força das mulheres há formas menos simplórias de atingir seu objetivo do que fazer dos maridos da família King/Bichon dois babacas machistas e unidimensionais.

É uma pena que "O poder do amor" fique tão aquém das possibilidades de sua equipe de talentos. Seu marketing desastroso - certamente o público esperava uma comédia romântica leve e agradável e encontrou um pretensioso drama com ambições de emular o cinema europeu - foi apenas um dos culpados por fazer dele um dos trabalhos menos marcantes de Julia Roberts. Sem nenhuma cena marcante, uma trama pouco inventiva e uma narrativa cujo ritmo jamais permite o envolvimento do espectador, o filme só não é um desastre completo porque, apesar de tudo, seu elenco esforçado faz valer seus longos 106 minutos de duração - mesmo que a história seja esquecida pouco tempo depois do final da sessão.

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