VAMPIROS DO DESERTO (The forsaken, 2001, Screen Gems/Sandstorm Films, 90min) Direção e roteiro: J. S. Cardone. Fotografia: Steven Bernstein. Montagem: Norman Buckley. Música: Tim Jones, Johnny Lee Schell. Figurino: Ernesto Martinez. Direção de arte/cenários: Martina Buckley/Trevor Murray. Produção: Scott Einbinder, Carol Kottenbrook. Elenco: Kerr Smith, Brendan Fehr, Izabella Misko, Johnathon Schaech, Carrie Snodgress. Estreia: 27/4/2001
Típico produto da geração MTV, com cortes ágeis, visual modernoso e atores fotogênicos, "Vampiros do deserto" chegou às telas com um público-alvo definido. Pode não ter feito um sucesso estrondoso de bilheteria, mas é inegável que, em comparação com uma gama de produções do gênero que abarrotavam as salas de cinema no começo dos anos 2000, tem muito mais a dizer. Mergulhando no universo do vampirismo sem medo de criar uma nova mitologia e apostando na sensualidade e na violência - ainda que moderada pela edição -, o filme de J. S. Cardone (cineasta sem maior expressão e nenhum grande filme no currículo) acerta em se levar a sério mas peca justamente no calcanhar de Aquiles da maioria dos exemplares de terror de sua época: o roteiro superficial, que não permite uma conexão maior entre os personagens e o espectador.
O protagonista do filme é Sean (Kerr Smith), um jovem que trabalha como editor de trailers de cinema enquanto não realiza o sonho de tornar-se diretor. Contratado para dirigir uma Mercedes até a Flórida e entregá-la sem um arranhão à proprietária, ele aproveita a situação para juntar dinheiro para comparecer ao casamento da irmã. No caminho, as coisas não saem exatamente como o previsto e ele se vê quase obrigado a dar carona ao misterioso Nick (Brendan Fehr), que se oferece para pagar a gasolina da viagem. Durante uma parada para comer, a dupla de novos amigos encontra Megan (Izabella Miko), uma garota em nítido sofrimento físico que os aproxima de uma realidade assustadora, revelada por Nick: a presença maligna de um grupo de vampiros, liderados por Kit (Jonathon Schaech) e cuja origem remete às cruzadas religiosas. Há algum tempo na caça de Kit, o corajoso Nick conta com a ajuda de Sean para exterminá-lo e salvar a vida tanto de Megan quanto do próprio motorista - em vias de transformar-se também em morto-vivo.
A escolha de Kerr Smith para o papel central de "Vampiros do deserto" tem certa razão de ser: sucesso na série juvenil "Dawson's Creek" - que também revelou Katie Holmes e Michelle Williams -, Smith também fez parte do elenco do bem-sucedido "Premonição" (2000) e parecia uma aposta certeira junto ao público-alvo, com sua imagem de galã e moço de família. Seu colega de elenco, Jonathon Schaech, já tinha um currículo maior, dividindo a carreira entre produções comerciais - como "Colcha de retalhos" (1995) e "The Wonders: o sonho não acabou" (1996) - e incursões ao cinema independente - "Geração maldita" (1995), normalmente enfatizando uma persona sexy e marginal. O encontro dos dois opostos - com o simpático Brendan Fehr no meio de campo - é uma das camadas mais interessantes do filme de Cardone, que foi apontado, anos depois de seu lançamento, como um conto de descoberta da sexualidade homoerotica entre os dois protagonistas. Tal ideia soa um tanto deslocada diante da trama, que não encontra espaço para qualquer romance exceto a atração de Sean por Megan - algo pouco desenvolvido em um roteiro que se concentra em sangue (muito), ação (razoável) e a tentativa de criar um histórico cultural aos sanguessugas. Cardone se sai relativamente bem ao disfarçar um orçamento modesto (cerca de 15 milhões de dólares) com soluções criativas e uma direção que enfatiza os pontos positivos do roteiro.
Sim, o roteiro escrito pelo próprio diretor tem seus méritos. Por mais que falhe em não aprofundar seus personagens centrais e até mesmo sua relação, Cardone oferece ao espectador sequências bastante interessantes, em que explora a sede de sangue das plateias mais jovens da forma mais elegante possível. Mesmo não sendo uma produção inesquecível ou capaz de revitalizar os filmes do gênero, "Vampiros do deserto" não decepciona a quem procura um passatempo digno e que, por incrível que pareça, diverte sua plateia. Não chega a ser um "Garotos perdidos" - que marcou uma geração inteira desde seu lançamento, em 1987 - mas tampouco desrespeita os cânones clássicos, ainda que modernizados e pasteurizados para uma juventude acostumada a banhos de sangue.
Um comentário:
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