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MEU QUERIDO PRESIDENTE

 


MEU QUERIDO PRESIDENTE (The American president, 1995, Universal Pictures/Castle Rock Entertainment, 114min) Direção: Rob Reiner. Roteiro: Aaron Sorkin. Fotografia: John Seale. Montagem: Robert Leighton. Música: Marc Shaiman. Figurino: Gloria Gresham. Direção de arte/cenários: Lillu Kilvert/Karen O'Hara. Produção executiva: Charles Newirth, Jeffrey Stott. Produção: Rob Reiner. Elenco: Michael Douglas, Annette Bening, Michael J. Fox, Martin Sheen, Richard Dreyfuss, Samantha Mathis, Anna Deavere Smith, Shawna Waldron. Estreia: 08/11/95

Indicado ao Oscar de Trilha Sonora Original (Comédia ou Musical)

Às vezes tudo que um diretor de cinema precisa é de uma comédia romântica para demonstrar que também tem um lado menos denso - e de quebra deixar para trás um fiasco homérico. Depois que seu "O anjo da guarda" (1994) fracassou gigantescamente nas bilheterias e foi massacrado pela crítica, Rob Reiner percebeu que a forma de fazer as pazes com o público e com o sucesso seria retornar ao gênero que já havia lhe dado a oportunidade de criar um clássico contemporâneo. Sendo assim, seis anos depois que Meg Ryan entrou para a história fingindo um orgasmo em pleno restaurante lotado - em "Harry & Sally: feitos um para o outro" - uma nova história de amor inofensiva e elegante chegava às telas com sua assinatura, mas dessa vez, com um pequeno upgrade em relação a seus protagonistas: em vez de um casal normal no começo dos trinta anos e vivendo em uma fotogênica Nova York, os personagens principais de "Meu querido presidente" são uma lobista ambiental e um quarentão viúvo que é ninguém menos que o presidente dos EUA.

Andrew Sheperd (interpretado com charme por Michael Douglas) está chegando à segunda metade de seu mandato como presidente, com alto índice de aprovação do eleitorado e sem causar maiores problemas junto a seus correligionários do Partido Democrata. Eleito logo após a morte da esposa, vítima de câncer, Sheperd é visto como um pai dedicado (de uma filha pré-adolescente) e de uma integridade a toda prova - para desgosto de seu maior rival, o republicano Bob Rumson (Richard Dreyfuss), à espera de qualquer deslize para tentar suplantá-lo em uma nova e próxima eleição. A chance de ouro de Rumson chega quando entra em cena Sydney Ellen Wade (Annette Bening), uma competente e conhecida lobista lutando pela aprovação de uma lei a favor do meio-ambiente. Encantado pela inteligência e pela sensibilidade de Sydney, o presidente se deixa seduzir pela possibilidade de um novo romance - até que seus oponentes resolvem apelar para táticas pouco elogiáveis com o intuito de destruir suas chances de reeleição. Resta a ele decidir-se, então, pelo amor ou pelo poder.

Escrito por Aaron Sorkin - criador e roteirista da bem-sucedida série "The West Wing", que também trata dos bastidores da política norte-americana -, "Meu querido presidente" não tenta ser um retrato fiel dos meandros da Casa Branca e seus adendos. Pelo contrário, o filme de Reiner apresenta uma visão romântica e idealizada, quase a ponto de tornar-se maniqueísta: enquanto Sheperd é retratado como bom moço, honesto e incapaz de qualquer deslize deliberado, seu rival - vivido por Richard Dreyfuss nitidamente à vontade - é a epítome da política como algo venal, sujo e amoral. Entre os dois extremos, está a heroína de Annette Bening, mostrada como uma mulher independente, bem-sucedida e respeitada que, no entanto, não escapa de ser a típica protagonista de histórias de amor direcionadas aos fãs do gênero: mesmo tentando manter a pose de alguém que põe a carreira acima da vida pessoal, basta um encontro regado a belas roupas, boa bebida e uma rodada de dança para que suas prioridades entrem em xeque. São poucos os momentos em que Reiner (que conduz o filme com sobriedade mas nunca a ironia que se poderia esperar) deixa sobressair a argúcia característica da obra mais famosa de Sorkin - somente quando entram em cena os assessores de Sheperd, interpretados por Martin Sheen e Michael J. Fox, é que se pode reconhecer seu texto quase cínico (é de se imaginar como seria seu roteiro original, que contava com 385 páginas).

Indicado ao Oscar de melhor trilha sonora original (comédia ou musical), "Meu querido presidente" é um filme que, mesmo longe de ser brilhante, jamais subestima o espectador. Oferece um casal central extremamente simpático (Bening ficou com o papel para o qual foram consideradas Jessica Lange, Emma Thompson, Michelle Pfeiffer e Susan Sarandon), uma história sem sobressaltos ou ousadias temáticas e narrativas e uma atmosfera romântica e adulta rara em filmes comerciais de sua época - vale lembrar que foi o ano de blockbusters como "Toy story", "Pocahontas", Duro de matar 3" e "Ace Ventura 2", nenhum deles exatamente apropriado para quem desejava apenas sentir-se apaixonado ao entrar em uma sala de exibição. Delicado mas pouco memorável, ao menos serviu para deixar para trás o fracasso de "O anjo da guarda" - pelo menos até o filme seguinte de Reiner, "Fantasmas do passado", que também não foi exatamente um sucesso.

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