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O VIOLINISTA QUE VEIO DO MAR

 


O VIOLINISTA QUE VEIO DO MAR ( Ladies in Lavender, 2004, UK Film Council/Baker Street/Future Films, 104min) Direção: Charles Dance. Roteiro: Charles Dance, conto de William J. Locke. Fotografia: Peter Biziou. Montagem: Michael Parker. Música: Nigel Hess. Figurino: Barbara Kidd. Direção de arte/cenários: Caroline Amies/David Hindle. Produção executiva: Bill Allan, Charles Dance, Emma Hayter, Robert Jones. Produção: Elizabeth Karlsen, Nik Powell. Elenco: Judi Dench, Maggie Smith, Daniel Bruhl, Natascha McElhone, Freddie Jones, Toby Jones, Miriam Margoyles. Estreia: 14/6/2004 (Festival de Taormina)

Conhecido por seu trabalho como intérprete em produções de prestígio como "Assassinato em Gosford Park" (2001) e "O jogo da imitação" (2014) e séries premiadas como "Game of thrones" e "The crown", o ator britânico Charles Dance tem, em seu currículo, uma interessantíssima incursão como diretor. Lançado discretamente em 2004, "O violinista que veio do mar" já seria imperdível por ter seu elenco liderado pelas espetaculares Judi Dench e Maggie Smith, mas, além disso - e de ser o primeiro trabalho em língua inglesa do alemão Daniel Bruhl -, a adaptação do conto de William J. Locke é um filme acima da média, com um ritmo delicado que ecoa as belas paisagens da costa inglesa e brinda o espectador com personagens fascinantes e uma trama que surpreende pelos desdobramentos inusitados (mas nunca inverossímeis ou tirados da manga). Valorizado pelos desempenhos exemplares de Dench e Smith - o que não chega a ser uma surpresa -, o filme de Dance é um deleite para os fãs de histórias contadas com sutileza e sobriedade.

A trama gira em torno de Ursula (Judi Dench) e Janet (Maggie Smith), duas irmãs viúvas que moram juntas em um chalé na costa da Cornualha, poucos anos antes da II Guerra Mundial. Sua rotina pacata e sem grandes acontecimentos é abalada depois de uma violenta tormenta, quando um jovem desacordado é encontrado na praia. A princípio temerosas de colocar um desconhecido dentro de casa, logo elas resolvem cuidar do rapaz, que não fala sua língua e cuja origem é uma incógnita. Aos poucos sua comunicação vai ficando menos complicada: ao aprender noções rudimentares de inglês, o novo hóspede se identifica como Andrea, um polonês que, a caminho dos EUA para tentar a sorte como violonista, sobreviveu a um naufrágio. Enquanto se recupera dos ferimentos, Andrea, sem perceber, despertar sentimentos há muito enterrados nas duas solitárias idosas - que passam a temer sua partida especialmente quando ele inicia uma amizade com a extrovertida Olga (Natasha McElhone), uma bela russa que mora nas proximidades do chalé.

 

Fazendo pequenas alterações na história original - como a transferência para os anos pré-I Guerra Mundial e o desfecho da relação entre os protagonistas -, o roteiro do também diretor se apoia em pequenos momentos, emoções discretas e diálogos curtos (mas repletos de subtextos). Acostumadas a atuações minimalistas e sutis, Judi Dench e Maggie Smith voltam a encantar com desempenhos comoventes, pontuadas pelo bom trabalho do alemão Daniel Bruhl em seu primeiro filme falado em inglês: a interação entre os três personagens principais são o que há de melhor na obra, em uma dinâmica pontuada de mistério, sedução e até um pouco de suspense. Deixando sempre no ar uma série de possibilidades que impedem que o espectador adivinhe os próximos acontecimentos, o filme de Dance imprime uma sensação deliciosa de uma história contada em frente à lareira, com personagens humanos e bem escritos diante de situações que caminham entre o romântico e trágico. Só não é ainda melhor por sua falha em explorar a contento a relação entre o misterioso violinista e Olga - um relacionamento que nunca deixa exatamente claro a que veio (a não ser precipitar o ato final da trama).

Em seu primeiro (e até agora único) trabalho como diretor, Charles Dance mostra-se atento às sutilezas, tanto de sua trama quanto de suas estupendas atrizes. Talvez pelo fato de ser também um intérprete, Dance valoriza a construção paulatina de climas e relações entre seus personagens, enfatizando-as mais do que à própria trama, que serve, na verdade, como uma forma de retrato da solidão e suas vicissitudes. Narrado em um ritmo delicado que não deixa espaço para cortes bruscos e catarses exageradas, "O violinista que veio do mar" é um oásis de paz e sensibilidade - e mais um exemplo do talento dos colaboradores envolvidos.

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