FUGA À MEIA-NOITE (Midnight run, 1988, Universal Pictures, 126min) Direção: Martin Brest.Roteiro: George Gallo. Fotografia: Donald E. Thorin. Montagem: Chris Lebenzon, Michael Tronick, Billy Weber. Música: Danny Elfman. Figurino: Gloria Gresham. Direção de arte/cenários: Angelo Graham/George R. Nelson. Produção executiva: William S. Gilmore. Produção: Martin Brest. Elenco: Robert DeNiro, Charles Grodin, Joe Pantoliano, Yaphet Kotto, Dennis Farina, John Ashton. Estreia: 20/7/88
Jack
Nicholson, Al Pacino, John Travolta, Michael Douglas. Mel Gibson,
Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger. Charles Bronson, Clint
Eastwood, Gene Hackman. Burt Reynolds, Richard Gere, Mickey Rourke, Jeff
Bridges. Dustin Hoffman, Jon Voight, Harrison Ford. Em determinado
período da segunda metade da década de 1980, praticamente todo ator de
razoável visibilidade em Hollywood foi cogitado, sondado ou meramente
imaginado no papel principal de "Fuga à meia-noite", uma comédia de ação
que, explorando o velho clichê das duplas improváveis - que havia sido o
motor do megasucesso "Máquina mortífera" (1987) -, era a principal
aposta da Paramount Pictures para a temporada 1988. Com um roteiro leve,
ágil e engraçado e a direção de Martin Brest - vindo da consagração de
"Um tira da pesada" (1984) -, o projeto surpreendeu ao mudar de mãos
antes do começo das filmagens: por tais famosas "diferenças criativas",
os executivos do estúdio passaram a ideia adiante e, em sua nova casa, a
Universal Pictures, o filme tornou-se um dos maiores êxitos comerciais
do ano, com uma renda superior a 80 milhões de dólares - e agradou em
cheio também à crítica, com duas indicações ao Golden Globe (ator e
filme/comédia ou musical) e a inclusão na lista dos dez melhores do
National Board of Review. E se o perfeito equilíbrio entre os gêneros e a
direção precisa de Brest são ingredientes cruciais ao sucesso da
produção, é inegável que seu maior trunfo é a presença irresistível de
Robert DeNiro - no final das contas a escolha mais acertada para liderar
o elenco, a despeito de sua imagem de ator dramático.
E
foi justamente a vontade de DeNiro em explorar um lado novo de seu
talento que o aproximou do projeto de "Fuga à meia-noite": depois de
perder o papel principal de "Quero ser grande" (1988) para Tom Hanks, o
ator agarrou com unhas e dentes a oportunidade de viver Jack Walsh, um
ex-policial tornado caçador de recompensas envolvido em um jogo de gato e
rato que lembra os melhores momentos do clássico "Acorrentados", que em
1958 uniu Tony Curtis e Sidney Poitier em um road movie dos mais
movimentados e empolgantes. Ao lado de um inspirado Charles Grodin,
DeNiro não abdica de seus trejeitos mais conhecidos, mas os usa de forma
inteligente, como ferramentas para fazer rir como nunca antes em sua
carreira: calcado em diálogos espirituosos e na brincadeira com a
percepção do público a seu respeito, ele prescinde de caretas ou
exageros para alcançar o tom ideal - e quando necessita oferecer emoção,
o faz com a sutileza de que só os grandes são capazes. Mesmo que seja
uma comédia - um gênero tradicionalmente menosprezado pela crítica
considerada séria - o filme de Brest não descuida da direção de atores, e
no fim é isso que faz toda a diferença.
O
roteiro, repleto de reviravoltas e sequências que capricham na ação e
no humor, conta a história da conturbada relação entre Jack Walsh e
Jonathan Mardukas. Walsh saiu da polícia depois de acontecimentos mal
expliados envolvendo criminosos da pesada e seu casamento fracassado.
Mardukas é um contador foragido que deu um golpe em seu patrão mafioso,
Jimmy Serrano (Dennis Farina), distribuiu 15 milhões de dólares a
instituições de caridade e se encontra escondido da polícia. Seus
caminhos se cruzam quando o agente de fianças Eddie Moscone (Joe
Pantoliano) contrata Walsh para localizar Mardukas em Nova York e
entregá-lo em Los Angeles no prazo de quatro dias. O experiente caçador
de recompensas aceita o desafio e tudo parece correr dentro do previsto
apesar da personalidade irritante do contador. Porém, o que Walsh não
sabe é que há mais gente disposta a qualquer coisa para colocar as mãos
em seu companheiro de viagem: a polícia, na figura do agente do FBI
Alonso Mosely (Yaphet Kotto); o competitivo rival de Walsh, Marvin
Dorfler (John Ashton em papel considerado para John Goodman e John
Candy); e o próprio Jimmy Serrano, em busca de vingança por seu dinheiro
roubado. No caminho até Los Angeles - e até o pouco confiável Moscone,
os dois novos parceiros começam a desenvolver uma relação de amizade
(atípica) e respeito (ainda que velado).
Brilhante
em sua forma de equilibrar humor e ação, "Fuga à meia-noite" é um
produto típico de sua época, apresentando uma série de clichês e
explorando-os da maneira mais inteligente possível. A dupla formada por
DeNiro e Charles Grodin - no melhor desempenho de sua carreira - pode
facilmente fazer parte de uma linhagem de parceiros antológicos do
cinema hollywoodiano (uma lista da qual fazem parte Butch Cassidy &
Sundance Kid e Riggs & Murtaugh), e é dela os melhores momentos do
longa, principalmente quando acontecem os divertidos embates de
personalidade, capazes de fazer gargalhar o mais mau-humorado
espectador. E destacar-se em um universo de produções que parecem seguir
sempre a mesma fórmula (ainda que nem sempre de maneira memorável) não
deixa de ser um feito e tanto!
P.S.:
E quanto às "diferenças criativas" que fizeram a Paramount entregar o
filme de bandeja à Universal? Basta dizer que, para aumentar as chances
de sucesso da produção, o estúdio queria alterar o gênero de Mardukas
para criar uma tensão sexual entre os protagonistas - e tinha até o nome
de Cher como possibilidade de estrela. Depois da rejeição peremptória
de Martin Brest, houve a sugestão de Robin Williams - vindo do sucesso
de "Bom dia, Vietnã" (1987) -, mas a insistência do cineasta em manter
Charles Grodin como coprotagonista (a despeito de não ser um grande
nome) acabou por desagradar os engravatados, que acharam por bem
abandonar o barco e deixar o projeto para outros. O tempo mostrou quem
estava enganado...
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