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sábado
A TORTURA DO SILÊNCIO
A TORTURA DO SILÊNCIO (I confess, 1953, Warner Bros., 95min) Direção e produção: Alfred Hithcock. Roteiro: George Tabori, William Archibald, baseado em uma peça teatral de Paul Anthelme. Fotografia: Robert Burks. Montagem: Rudi Fehr. Música: Dimitri Tiomkin. Elenco: Montgomery Clift, Anne Baxter, Karl Malden, O.E. Hasse, Dolly Haas. Estreia: 22/3/53
As primeiras imagens de "A tortura do silêncio" mostram placas sinalizadoras em Quebec. São todas setas indicando um caminho em linha reta. E retidão é a palavra mais correta para definir a personalidade do Padre Michael Logan (Montgomery Clift), protagonista do único filme de Alfred Hitchcock filmado no Canadá. Honesto e íntegro, Logan é mais um dos protagonistas do mestre do suspense que se vê envolvido em situações extremas sem que as tenha chamado para si. No caso do filme em questão, ele é acusado de um crime que não cometeu, correndo o risco de ser condenado à morte.
A primeira cena de "A tortura do silêncio" mostra o corpo de um homem, assassinado em casa, enquanto o culpado, vestido de padre, abandona o local do crime e é visto por duas adolescentes. O assassino é Otto Keller (O.E. Hasse), um refugiado alemão que trabalha como faz-tudo na casa paroquial onde vive Logan. Sentindo-se culpado pelo homicídio, Keller confessa o crime ao padre, que não pode trair um segredo de confissão. Estaria tudo relativamente bem se a vítima do assassinato não fosse, no entanto, um advogado mau-caráter que estava fazendo chantagem com Ruth Grandfort (Anne Baxter), antiga namorada de Logan antes de sua ordenação. Vilette, o chantagista, agora morto, ameaçava contar sobre o relacionamento do padre com uma mulher casada (uma relação que na verdade não mais existia) e quando o Inspetor Larrue (Karl Malden) fica sabendo do detalhe escabroso, junta a pista aos fatos do assassino estar vestindo uma batina e de Logan não ter um álibi concreto e o indicia pelo crime. Para salvar sua pele, Logan tem apenas a opção de revelar um segredo que não pode, por ética, ser revelado.
A bem da verdade é necessário que o público entenda o dilema de Logan, ou seja, é crucial que a audiência acredite que um homem, mesmo na situação extrema do protagonista, seja capaz de manter em segredo o que pode lhe salvar a vida. Talvez esse seja o motivo pelo qual "A tortura" não está entre os mais festejados filmes de Hitchcock. Baseado em uma peça de teatro francesa, de Paul Anthelme (que o próprio diretor considerava ruim), o filme é talvez a obra mais carregada de simbolismos católicos de sua filmografia (cruzes, imagens e principalmente a temática são explícitos sinais de uma religiosidade bastante forte no cineasta, que estudou em colégio jesuíta). Filmado nas montanhas do Canadá - e portanto fugindo de seus tradicionais locais de filmagens - "A tortura do silêncio" apresenta também uma grande atuação - mais uma - de Montgomery Clift, que novamente aproveita sua própria personalidade torturada para criar o angustiante retrato de um homem a caminho de seu calvário pessoal por manter intactos seus ideais religiosos e éticos.
"A tortura do silêncio" não é dos melhores Hitchcocks. Tem um final anti-climático, um par romântico que não tem uma química das melhores (Anne Baxter não era a primeira escolha do cineasta e, por melhor atriz que fosse, não estava em seus melhores dias) e um conflito central que exige do público bem mais do que o corriqueiro. Ainda assim, é dono de belas cenas, tem uma história interessante - apesar de forçar algumas coincidências - e conta com Montgomery Clift no papel principal, o que já lhe confere uma força acima da média.
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