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quinta-feira
SINDICATO DE LADRÕES
SINDICATO DE LADRÕES (On the waterfront, 1954, Columbia Pictures, 108min) Direção: Elia Kazan. Roteiro: Budd Schulberg, história de Malcolm Johnson. Fotografia: Boris Kaufman. Montagem: Gene Milford. Música: Leonard Bernstein. Produção: Sam Spiegel. Elenco: Marlon Brando, Karl Malden, Eva Marie Saint, Lee J. Cobb, Rod Steiger. Estreia: 28/7/54
12 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Elia Kazan), Ator (Marlon Brando), Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Ator Coadjuvante (Lee J. Cobb, Karl Malden, Rod Steiger), História e Roteiro Originais, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Direção de Arte
Vencedor de 8 Oscar: Filme, Diretor (Elia Kazan), Ator (Marlon Brando), Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), História e Roteiro Originais, Fotografia em preto-e-branco, Montagem, Direção de Arte
Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme Drama, Diretor (Elia Kazan), Ator/Drama (Marlon Brando), Fotografia em preto-e-branco
No início dos anos 50, o cineasta Elia Kazan estava em maus-lençóis. Rechaçado pelos colegas que o consideravam um delator por ter citado nomes nos malfadados depoimentos ao senador Joseph McCarthy na chamada "caça às bruxas" anti-comunista cuja paranóia atingia seu ápice nos anos 50, ele dirigiu "Sindicato de ladrões" quase como uma explicação para seus atos. Julgamentos éticos à parte, a única certeza que fica no final dos 108 minutos do filme é a seguinte: se todas as justificativas de atos moralmente dúbios fossem iguais a esta seria muito mais fácil perdoar os erros de quem quer que fosse. Mesmo visto hoje, mais de cinquenta anos depois de seu lançamento, "Sindicato de ladrões" ainda mantém o mesmo vigor estético, a mesma força dramática e continua tão relevante quanto antes.
A história se passa nas docas de Nova York, cujos trabalhadores - escolhidos diariamente, a dedo - são dominados pelo poderoso Johnny Friendly (Lee J. Cobb), que de amigável tem apenas o nome: corrupto, violento e amoral, ele não aceita ser desafiado ou questionado e quem tem a coragem de ir contra suas regras acaba invariavelmente mal. Quando o filme começa uma de suas vítimas acaba de ser jogado do alto de um prédio por ter ido à justiça testemunhar contra seus desmandos. Sentindo-se culpado pela tragédia - por ter virtualmente levado o rapaz ao encontro de seus algozes - o ex-lutador de boxe Terry Malloy (Marlon Brando) passa a questionar os métodos de Friendly, especialmente porque se apaixona por Edie (Eva Marie Saint), a irmã do rapaz assassinado. Incentivado pelo padre Barry (Karl Malden), que pretende ajudar os trabalhadores das docas, pelo amor que sente por Edie e pelo sentimento de culpa, Malloy acaba enfrentando seu irmão Charley (Rod Steiger), braço-direito do chefão, e é obrigado, por sua consciência, a ir ao banco das testemunhas, mesmo arriscando sua vida, suas amizades e suas possibilidades de trabalho.
O que mais impressiona em "Sindicato de ladrões" é a forma apaixonada com que Kazan conta sua história, dando o mesmo peso ao drama político-social que envolve os trabalhadores quanto ao romance entre as personagens de Brando e Marie-Saint (ambos premiados com o Oscar de 1954). Na verdade é o excelente roteiro que contrabalança as duas tramas com equilíbrio magistral, dando estofo a suas personagens, extremamente bem construídas e inteligentemente interpretadas. Nem mesmo as personagens secundárias são deixadas de lado, sendo sempre tratadas com cuidado e verossimilhança. O elenco de apoio escolhido por Kazan também merece louvores: não há um rosto dentre todos os que aparecem em cena que não sejam expressivos, fortes, reais, dando um tom quase documental àquele que é provavelmente seu trabalho mais maduro. As cenas em que os trabalhadores lutam pela possibilidade de um dia de salário são um retrato realista de uma época bastante dura para a economia americana do pós-guerra e são filmadas com uma sobriedade que foge do piegas. A bela fotografia em preto-e-branco de Boris Kaufman (também vencedora de um Oscar) acentua a atmosfera enovoada que circunda as personagens (e provavelmente suas consciências). E nem mesmo a mais dramática das cenas do filme (uma conversa emocionante entre Terry e Charley no banco traseiro de uma limousine onde Brando larga sua famosa "Eu poderia ter sido alguém!") apela para as lágrimas fáceis, comprovando o talento de Kazan de arrancar belas atuações sem cair nas armadilhas de atuações exageradas de seus atores.
A julgar pelos 8 Oscar conquistados por "Sindicato de ladrões" (filme, diretor, ator, atriz coadjuvante, roteiro, fotografia, montagem e direção de arte) a Academia de Hollywood entendeu e perdoou os atos considerados "de traição" do cineasta. No entanto, na cerimônia de entrega dos prêmios em 1999, Kazan foi homenageado pela Academia e arrancou tantos aplausos quanto silêncios de muitos espectadores, ainda ultrajados por suas ações. Se o que ele fez - dar o nome de alguns colegas investigados à comissão de McCarthy - foi certo ou não é uma discussão muito mais séria que merece muito mais espaço e considerações mais elaboradas. O que é inegável é que, tendo bom ou mau caráter, era, sem sombra de dúvida, um cineasta dos maiores de sua época, como bem o comprova a perenidade de boa parte de sua obra.
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